segunda-feira, 6 de março de 2023

Para o BC, contra a crise... os juros

Semana 20 a 26 de fevereiro de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Começo desculpando-me pela ausência durante estas semanas. Embora não tenha escrito as Análises acompanhei à distância as reuniões do Grupo de Análise de Conjuntura, graças à internet. Estive fora do país por razões familiares. Acabando de chegar integro-me totalmente às atividades.

De fora pude observar o desgaste que o desastroso governo passado causou à imagem do país. Tive muita vergonha e dificuldade para explicar como foi possível a eleição de tal monstruosidade e como ele conseguiu manter-se no poder durante os quatro anos. Todos esperam agora, com ansiedade, que o novo presidente consiga conduzir o país de volta aos trilhos e recupere o prestígio que já havia conseguido.

De volta ao batente e restabelecendo o contato com a dura realidade começo constatando a justeza de nossas análises anteriores. As últimas Análises do Professor Lucas Milanez discutiram muito bem o problema dos juros no país e a independência do Banco Central (BC). Este é o assunto da atualidade e certamente ainda voltaremos a abordá-lo. A semana passada, foi pobre de notícias. Afinal os analistas e jornalistas também gostam do carnaval. Apesar disto não se pode omitir alguns sintomas da crise que, como temos afirmado aqui, aproxima-se apesar de todos os esforços eleitoreiros que resultaram em derrame de bilhões de reais na economia, na vã tentativa de ganhar as eleições. Na verdade, serviu para adiar um pouco o avanço do fenômeno empurrando-o para depois do pleito. Mas, como sabemos, as medidas de política econômica não podem abolir as leis econômicas, mas apenas interferir na sua ação acelerando ou retardando seus efeitos. Agora temos o resultado.

O Boletim Macro da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), na sua edição de fevereiro, aponta que a atividade econômica vem desacelerando e a economia está perdendo fôlego. O Boletim aponta como causas a política monetária restritiva do BC e a desaceleração global. Novamente a questão dos juros. Observam-se o arrefecimento da demanda, o aumento dos estoques e a falta de insumos. Os índices de confiança empresarial (ICE) e do consumidor (ICC) continuam em queda. As famílias reprimem o consumo diante do endividamento e insegurança e, sem a pressão da demanda, os empresários reduzem os investimentos e as contratações. As sondagens da FGV Ibre sobre o mercado de trabalho mostram que 41,3% da população maior de 14 anos admitia insegurança sobre o trabalho no final de 2022.

Confirmando estas preocupações o IBGE divulgou os dados para a economia em 2022. Segundo este instituto o Produto Interno Bruto (PIB) teve um crescimento real de 2,2%, com os serviços crescendo 4,2%, a Indústria apenas 1,6% e a agropecuária encolhendo -1,7%. A queda da indústria de transformação foi de -0,3%. Quando se observa a evolução ao longo dos trimestres a situação torna-se mais preocupante pois fica evidente a progressiva desaceleração da economia. No quarto trimestre do ano, o PIB decresceu -0,2% e a Indústria -0,3%. O PIB vinha caindo desde o começo do ano passando de 1,3% de crescimento, no primeiro trimestre, para 0,9% no segundo e 0,3% no terceiro. O quarto foi finalmente negativo, ou seja, a economia encolheu. Começamos o ano com a economia em desaceleração contrariando todas as declarações do então sinistro da economia, o boquirroto Paulo Guedes, agora recolhido a sua insignificância e certamente fazendo render o milhões que ele surripiou utilizando-se de sua posição privilegiada de ministro.

 Mesmo com este quadro de desaceleração e pessimismo o BC manteve-se irredutível com sua política de juros altos. Este é o remédio utilizado para uma inflação provocada por um excesso de demanda. O raciocínio é elementar: quando muita gente compra os preços sobem. Esta é a única teoria que o BC e seus economistas conhecem. Para estes diretores esta é a única causa da inflação. Eles rezam pela mesma bíblia que é a adotada pelas escolas de economias.  É uma questão de demência ideológica fanática. E vão continuar a assim proceder mesmo indo a economia para o brejo.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Nertan Alves, Maria Cecília Fernandes.

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