Semana 20 a 26 de fevereiro de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Começo desculpando-me pela ausência durante
estas semanas. Embora não tenha escrito as Análises acompanhei à distância as
reuniões do Grupo de Análise de Conjuntura, graças à internet. Estive fora do
país por razões familiares. Acabando de chegar integro-me totalmente às
atividades.
De fora pude observar o desgaste que o
desastroso governo passado causou à imagem do país. Tive muita vergonha e
dificuldade para explicar como foi possível a eleição de tal monstruosidade e
como ele conseguiu manter-se no poder durante os quatro anos. Todos esperam
agora, com ansiedade, que o novo presidente consiga conduzir o país de volta
aos trilhos e recupere o prestígio que já havia conseguido.
De volta ao batente e restabelecendo o
contato com a dura realidade começo constatando a justeza de nossas análises
anteriores. As últimas Análises do Professor Lucas Milanez discutiram muito bem
o problema dos juros no país e a independência do Banco Central (BC). Este é o
assunto da atualidade e certamente ainda voltaremos a abordá-lo. A semana
passada, foi pobre de notícias. Afinal os analistas e jornalistas também gostam
do carnaval. Apesar disto não se pode omitir alguns sintomas da crise que, como
temos afirmado aqui, aproxima-se apesar de todos os esforços eleitoreiros que
resultaram em derrame de bilhões de reais na economia, na vã tentativa de
ganhar as eleições. Na verdade, serviu para adiar um pouco o avanço do fenômeno
empurrando-o para depois do pleito. Mas, como sabemos, as medidas de política
econômica não podem abolir as leis econômicas, mas apenas interferir na sua
ação acelerando ou retardando seus efeitos. Agora temos o resultado.
O Boletim Macro da Fundação Getúlio Vargas
(FGV Ibre), na sua edição de fevereiro, aponta que a atividade econômica vem
desacelerando e a economia está perdendo fôlego. O Boletim aponta como causas a
política monetária restritiva do BC e a desaceleração global. Novamente a
questão dos juros. Observam-se o arrefecimento da demanda, o aumento dos
estoques e a falta de insumos. Os índices de confiança empresarial (ICE) e do
consumidor (ICC) continuam em queda. As famílias reprimem o consumo diante do
endividamento e insegurança e, sem a pressão da demanda, os empresários reduzem
os investimentos e as contratações. As sondagens da FGV Ibre sobre o mercado de
trabalho mostram que 41,3% da população maior de 14 anos admitia insegurança
sobre o trabalho no final de 2022.
Confirmando estas preocupações o IBGE
divulgou os dados para a economia em 2022. Segundo este instituto o Produto
Interno Bruto (PIB) teve um crescimento real de 2,2%, com os serviços crescendo
4,2%, a Indústria apenas 1,6% e a agropecuária encolhendo -1,7%. A queda da
indústria de transformação foi de -0,3%. Quando se observa a evolução ao longo
dos trimestres a situação torna-se mais preocupante pois fica evidente a
progressiva desaceleração da economia. No quarto trimestre do ano, o PIB
decresceu -0,2% e a Indústria -0,3%. O PIB vinha caindo desde o começo do ano
passando de 1,3% de crescimento, no primeiro trimestre, para 0,9% no segundo e
0,3% no terceiro. O quarto foi finalmente negativo, ou seja, a economia
encolheu. Começamos o ano com a economia em desaceleração contrariando todas as
declarações do então sinistro da economia, o boquirroto Paulo Guedes, agora
recolhido a sua insignificância e certamente fazendo render o milhões que ele
surripiou utilizando-se de sua posição privilegiada de ministro.
Mesmo com este quadro de desaceleração e pessimismo o BC manteve-se irredutível com sua política de juros altos. Este é o remédio utilizado para uma inflação provocada por um excesso de demanda. O raciocínio é elementar: quando muita gente compra os preços sobem. Esta é a única teoria que o BC e seus economistas conhecem. Para estes diretores esta é a única causa da inflação. Eles rezam pela mesma bíblia que é a adotada pelas escolas de economias. É uma questão de demência ideológica fanática. E vão continuar a assim proceder mesmo indo a economia para o brejo.
[i] Economista,
Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Nertan Alves, Maria
Cecília Fernandes.
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