quinta-feira, 16 de março de 2023

Tensão internacional e calma interna

Semana de 06 a 12 de março de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Enquanto a tensão continua a agravar-se pelo mundo no país a crise prossegue com a economia em desaceleração. Apesar disto o Banco Central (BC) bate no peito e declara sua intenção de manter a taxa Selic em alta e mesmo aumentar mais ainda. Para conter o aumento dos preços o BC teimosamente tenta desacelerar a economia, e já está conseguindo. O BC rema contra a maré e age contra as intenções do governo que pretende relançar a economia. Aliás, este é o seu grande desafio.

As promessas de campanha, de melhorar a vida das pessoas, obrigam a tomada de decisões neste sentido. Vão nesta direção o aumento do salário-mínimo, a retomada das obras públicas e, em particular, do “Minha casa minha vida”, a ação dos bancos públicos para a redução dos juros e, enfim, a retomada do funcionamento de todos os serviços prestados pelos ministérios, ou seja, a restauração do funcionamento do aparelho de Estado desativado pelo desgoverno anterior que nunca governou.

A elevação dos juros, consequências da política do BC, tem provocado restrições no crédito e dificultado a situação das empresas que, com a queda nas vendas não conseguem repor os caixas. A quebra das Americanas é um exemplo. As empresas de avaliação de riscos Moody’s e Fitch já rebaixaram a classificação de várias empresas brasileiras, o que as coloca em situação mais difícil para conseguir recursos para suas operações. Esta situação vem provocando manifestações e protestos de entidades representativas dos setores industriais e comerciais e mesmo dos bancos. Com juros altos desestimula-se o consumo e a produção, o que, na opinião do BC, é o caminho para combater a inflação. Os diretores do banco, liderados pelo seu badalado presidente Roberto Campos Neto, e fiéis à sua fanática ideologia econômica, pensam que podem acabar com a guerra na Ucrânia, impulsionar a economia da China, reconstruir as cadeias de valor globais, restaurar o comércio mundial e as linhas de comunicação internacionais com a elevação da Selic. Grande Roberto!

Apesar das “boas intenções” do nosso badalado Bob Fields, a economia mundial não vem se comportando bem como se poderia desejar.  Para tristeza geral a China propõe como meta de seu crescimento uma taxa considerada “mixuruca” de 5%. Para fúria dos EUA, no entanto, ela propõe para o seu orçamento da defesa, uma taxa de crescimento de 7,2% de seu PIB. Eis o resultado do aumento das tensões provocado pela guerra da Ucrânia e pelas manobras em torno da ilha de Taiwan. A aproximação e o estreitamento da aliança entre China e Rússia, agravado pela possibilidade do fornecimento de armas chinesas para a guerra, tem provocado crises de pelanca entre os caquéticos generais da OTAN e seus patrões americanos. Curiosamente ninguém condena o fornecimento de armas por todos os países da União Europeia às forças ucranianas. Os EUA pressionam mesmo todos os seus amigos mundo afora para a colaboração na guerra e até o Brasil já foi sondado e felizmente teve a sensatez de se recusar.

Durante a semana as tensões aumentaram com uma severa advertência feita pela China aos EUA e com a derrubada de um drone americano pelos caças russos sobre o Mar Negro. Aliás, a economia americana não anda muito bem das pernas. Apesar dos sinais de crescimento e queda do desemprego a inflação continua a ser uma ameaça. Lendo pela mesma cartilha do nosso BC o Federal Reserve (Fed), BC americano, está declarando que pretende aumentar os juros, hoje no intervalo entre 4,5% e 4,75%, para 5,75% a 6%.

  O panorama político parece ter encontrado uma certa estabilidade. Pelo menos isto. Apesar das tensões criadas pela criação de uma CPI dos acontecimentos de Brasília, as duas casas voltaram a funcionar normalmente. Até a situação com os militares atravessa um período de calmaria. O governo conseguiu encontrar algumas dezenas deles que merecem a farda que vestem. Assiste-se um retorno organizado aos quarteis. Esperemos que esta tendência se mantenha e que as punições que virão, como consequência da apuração de sua participação nas bandalhas do desgoverno Bolsonaro, não os assanhem novamente.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula e Maria Cecília Fernandes.

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