quarta-feira, 8 de março de 2023

Saiu o resultado do PIB de 2022. Tudo dentro do esperado...

Semana de 27 de fevereiro a 05 de março de 2023

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Na última sexta-feira saiu o resultado do PIB brasileiro de 2022. Essa conta mostra o total de riqueza produzida no território nacional ao longo de todo o ano passado. De acordo com os dados oficiais do IBGE, o PIB de 2022 cresceu 2,9% sobre o que tinha sido o PIB de 2021. Pelo nosso histórico recente, isto parece bom.

Tirando o momento excepcional da abertura pós flexibilização das regras de isolamento da pandemia, estamos (mal) acostumados com um pífio crescimento econômico desde o governo Temer. Entre 2015 e 2020, o Brasil cresceu a uma taxa máxima de 1,8%. Não por acaso, esse é o período em que as reformas neoliberais (chamadas de “modernizantes”) foram recolocadas na agenda política brasileira (reforma trabalhista, reforma previdenciária, abertura comercial, redução do papel do Estado na economia, privatizações, etc.).

Porém, analisando o movimento da economia brasileira ao longo de todo o ano passado, vê-se que a coisa foi piorando rapidamente. De fato, nos três primeiros meses de 2022 tivemos um forte crescimento, subindo 1,3% em relação ao bom último trimestre de 2021. Se esse ritmo tivesse se mantido, o crescimento do Brasil no ano passado seria pra mais de 5%. O que explica esse alto percentual são os resquícios da recuperação pós abertura (em 2021) e as medidas eleitoreiras tomadas por Bolsonaro já no começo de 2022, ano do pleito presidencial.

Já no segundo trimestre de 2022, vimos uma desaceleração do crescimento, que ficou em 0,9% sobre o trimestre anterior. Nesse momento, já preocupado, Bolsonaro anunciou novas medidas eleitoreiras. Por sua vez, no terceiro trimestre de 2022 a coisa piorou ainda mais. O crescimento desacelerou para míseros 0,3%, mesmo Bolsonaro adotando medidas desesperadas (até ilegais) para se reeleger. Por fim, nos três últimos meses de 2022 a economia brasileira encolheu, decresceu, reduziu de tamanho em 0,2% quando comparada com o trimestre anterior.

A análise setorial mostra que houve uma grande contribuição dos Serviços no PIB total brasileiro. No conjunto, o setor cresceu 4,2% entre 2021 e 2022. No caso da Indústria Geral, o crescimento foi de 1,6%. Entretanto, recortando por tipo de indústria, vemos comportamentos divergentes. As atividades extrativas e da indústria de transformação decresceram 1,7% e 0,3% no período, respectivamente. O que puxou a indústria geral para cima foram as atividades de Eletricidade e gás, água e esgoto (10,1%) e a Construção civil (6,9%). Outro grande setor que freou o crescimento do Brasil foi a Agropecuária, que viu seu PIB diminuir 1,7% entre 2021 e 2022.

Pelo lado do consumo, as maiores contribuições para o PIB de 2022 vieram do Consumo das Famílias (aumento de 4,3% em relação a 2021) e do comércio externo, com o forte aumento das Exportações (5,5%) e o fraco crescimento das Importações (0,8%). Já o Consumo do Governo cresceu apenas 1,5% em 2022, sendo os Investimentos a conta de pior desempenho, crescendo míseros 0,9% no período.

Como afirmei no título da análise, esse era um resultado já esperado pelos analistas do “mercado”. Todos sabiam que as medidas de Bolsonaro teriam efeito positivo rápido, mas de curto prazo. De longo prazo essas medidas deixaram apenas o custo, que está sendo pago pelo atual governo.

Para além do óbvio, feito aqui nesta análise e que sempre é feito nos noticiários oficiais, certamente o caro leitor está esperando uma análise mais aprofundada desses dados apresentados. Garanto que isto será feito nas próximas semanas, pois o espaço aqui é limitado. Mas, posso adiantar alguns elementos que devem ser levados em conta: em que fase do seu movimento cíclico a economia mundial está? Em que fase do ciclo o Brasil está? Quais foram os gatilhos para a crise que agora já atinge a economia mundial e a brasileira? Por que as medidas de Bolsonaro no ano passado não tiveram um impacto maior? E, a partir das respostas, o que esperar para o Brasil em 2023?

Aguardem as cenas dos próximos capítulos...


[i] Professor do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Cecília Fernandes e Nertan Gonçalves.

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