Semana de 27 de fevereiro a 05 de março de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Na
última sexta-feira saiu o resultado do PIB brasileiro de 2022. Essa conta
mostra o total de riqueza produzida no território nacional ao longo de todo o
ano passado. De acordo com os dados oficiais do IBGE, o PIB de 2022 cresceu
2,9% sobre o que tinha sido o PIB de 2021. Pelo nosso histórico recente, isto
parece bom.
Tirando
o momento excepcional da abertura pós flexibilização das regras de isolamento
da pandemia, estamos (mal) acostumados com um pífio crescimento econômico desde
o governo Temer. Entre 2015 e 2020, o Brasil cresceu a uma taxa máxima de 1,8%.
Não por acaso, esse é o período em que as reformas neoliberais (chamadas de
“modernizantes”) foram recolocadas na agenda política brasileira (reforma
trabalhista, reforma previdenciária, abertura comercial, redução do papel do
Estado na economia, privatizações, etc.).
Porém,
analisando o movimento da economia brasileira ao longo de todo o ano passado,
vê-se que a coisa foi piorando rapidamente. De fato, nos três primeiros meses
de 2022 tivemos um forte crescimento, subindo 1,3% em relação ao bom último
trimestre de 2021. Se esse ritmo tivesse se mantido, o crescimento do Brasil no
ano passado seria pra mais de 5%. O que explica esse alto percentual são os
resquícios da recuperação pós abertura (em 2021) e as medidas eleitoreiras
tomadas por Bolsonaro já no começo de 2022, ano do pleito presidencial.
Já no
segundo trimestre de 2022, vimos uma desaceleração do crescimento, que ficou em
0,9% sobre o trimestre anterior. Nesse momento, já preocupado, Bolsonaro
anunciou novas medidas eleitoreiras. Por sua vez, no terceiro trimestre de 2022
a coisa piorou ainda mais. O crescimento desacelerou para míseros 0,3%, mesmo
Bolsonaro adotando medidas desesperadas (até ilegais) para se reeleger. Por
fim, nos três últimos meses de 2022 a economia brasileira encolheu, decresceu,
reduziu de tamanho em 0,2% quando comparada com o trimestre anterior.
A
análise setorial mostra que houve uma grande contribuição dos Serviços no PIB
total brasileiro. No conjunto, o setor cresceu 4,2% entre 2021 e 2022. No caso
da Indústria Geral, o crescimento foi de 1,6%. Entretanto, recortando por tipo
de indústria, vemos comportamentos divergentes. As atividades extrativas e da
indústria de transformação decresceram 1,7% e 0,3% no período, respectivamente.
O que puxou a indústria geral para cima foram as atividades de Eletricidade e
gás, água e esgoto (10,1%) e a Construção civil (6,9%). Outro grande setor que
freou o crescimento do Brasil foi a Agropecuária, que viu seu PIB diminuir 1,7%
entre 2021 e 2022.
Pelo
lado do consumo, as maiores contribuições para o PIB de 2022 vieram do Consumo
das Famílias (aumento de 4,3% em relação a 2021) e do comércio externo, com o
forte aumento das Exportações (5,5%) e o fraco crescimento das Importações
(0,8%). Já o Consumo do Governo cresceu apenas 1,5% em 2022, sendo os
Investimentos a conta de pior desempenho, crescendo míseros 0,9% no período.
Como
afirmei no título da análise, esse era um resultado já esperado pelos analistas
do “mercado”. Todos sabiam que as medidas de Bolsonaro teriam efeito positivo
rápido, mas de curto prazo. De longo prazo essas medidas deixaram apenas o
custo, que está sendo pago pelo atual governo.
Para
além do óbvio, feito aqui nesta análise e que sempre é feito nos noticiários
oficiais, certamente o caro leitor está esperando uma análise mais aprofundada
desses dados apresentados. Garanto que isto será feito nas próximas semanas,
pois o espaço aqui é limitado. Mas, posso adiantar alguns elementos que devem
ser levados em conta: em que fase do seu movimento cíclico a economia mundial
está? Em que fase do ciclo o Brasil está? Quais foram os gatilhos para a crise
que agora já atinge a economia mundial e a brasileira? Por que as medidas de
Bolsonaro no ano passado não tiveram um impacto maior? E, a partir das
respostas, o que esperar para o Brasil em 2023?
Aguardem as cenas dos próximos capítulos...
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Cecília Fernandes
e Nertan Gonçalves.
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