Semana 07 a 13 de agosto de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na análise da semana passada o Prof. Lucas
Milanez fez considerações sobre o processo de industrialização do Brasil e a
construção de um parque industrial bastante complexo, até o início dos anos 80.
A partir desta data começou uma mudança de rumo na direção oposta e começamos a
sofrer um processo de desindustrialização. Assistimos agora à continuação deste
processo e o retorno do país a condição de exportador de matérias-primas
minerais e produtos agropecuários. Até nos orgulhamos da condição de celeiro do
mundo. Paradoxalmente, enquanto nosso povo morre de fome alimentamos os
famintos do planeta.
Isto traz graves consequência para o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e apara o emprego. Sofremos com a
desaceleração do crescimento e da produção industrial, o que pode ser
verificado pelas estatísticas divulgadas pelo IBGE. A situação não é pior por
causa do crescimento do agronegócio e das exportações das chamadas commodities.
O processo de desindustrialização tem como maior consequência a perda da indústria
de máquinas e equipamentos, os chamados meios de produção. É este o setor
industrial responsável pela arrancada da economia quando se inicia a entrada do
ciclo na fase de reanimação. Quando a fase de crise é ultrapassada, as
empresas, diante do aumento da demanda, e não tendo mais condições para ampliar
a produção por ter utilizado toda sua capacidade ociosa, tomam as decisões de
fazer novos investimentos que se materializam na compra de máquinas e
equipamentos. Esta demanda por equipamentos põe em movimento este outro setor
que começa a contratar novos trabalhadores e, por isto, aumenta a demanda por
meios de consumo, o que se reflete sobre o setor de bens de consumo. Aí está a
razão da retomada da economia e entrada na fase de reanimação do ciclo.
Como não temos mais o setor produtor de
meios de produção toda esta demanda por máquinas transfere-se para o exterior.
O estímulo que deveria ser interno é deslocado para fora e vai beneficiar as
economias de outros países.
Aí está a razão para que a nossa economia
tenha atualmente retomadas lentas e não mais atinja as taxas elevadas que
conseguimos no passado. Passamos a depender da importação de máquinas e
equipamentos importados principalmente da China, Rússia, EUA e Alemanha, países
que se beneficiam dos impulsos da nossa recuperação.
A única maneira de alterarmos este
movimento é adotando uma política industrial correta, hoje chamada de
neoindustrialização, que possa beneficiar os setores que mais são necessários e
são responsáveis pelo dinamismo da economia. Claro que estes setores são os de
mais alta tecnologia. Daí a necessidade de investimentos também nos programas
de formação científica e pesquisa que permitam a retenção dos cérebros que são
aqui formados e atualmente são obrigados a emigrar para o exterior em busca de
melhores condições de trabalho.
Um bom exemplo dos efeitos de política
deste tipo pode ser obtido na chamada “bidenomics” agora adotada pelo governo
Biden nos EUA. Por razões de geoestratégia o governo americano está estimulando
o retorno ao país de empresas que se deslocaram ao exterior em busca de
melhores condições para a produção. Estão sendo feitos pesados investimentos em
infraestrutura, na economia verde e na produção de semicondutores. Os gastos
ultrapassam mais de US$ 1 trilhão. O resultado é que os analistas esperam que a
economia sofra apenas uma desaceleração lenta que está sendo chamada de “pouso
suave”. Graças aos subsídios que estão sendo oferecidos a construção de
fábricas dobrou no último ano aumentando o emprego.
Como contrapartida é sentido um aumento da
inflação, que o Fed tenta frear, e um aumento do déficit fiscal que somou
US$1,4 trilhão, o triplo do mesmo período do ano anterior. Ao que parece isto
não causa preocupação às autoridades do país.
Será que o que é bom para os EUA não é bom para o Brasil?
[i] Economista,
Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Helen Tomaz, Letícia
Rocha e Raquel Lima.
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