sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Tendência para a estagnação dentro e fora do país

 Semana 24 a 30 de julho de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Câmara continua moendo a reforma tributária enquanto alguns partidos do centrão negociam com o governo mudanças nos ministérios. É preciso abrir espaço para alguns que representam mais apoio efetivo. O nosso sistema presidencialista é uma aberração. Melhor seria se adotássemos o parlamentarismo. A negociação entre os partidos existe e é obrigatória, mas, ao assumir um ministério, o partido fica comprometido com o governo e deve defendê-lo, ou sai. Se o seu ministro faz besteira o partido é responsabilizado. No nosso sistema torto tudo cai nas costas do presidente e os partidos lavam as mãos como se nada tivessem a ver. Ficam os bonos, mas os honos são do Lula. Enquanto rolam os entendimentos o Banco Central (BC) prepara a reunião do Copom para discutir a nova taxa de juros Selic. E desta, participarão os dois novos diretores indicados pelo presidente Lula. Embora seja assunto a ser tratado na Análise da próxima semana, ao escrevermos esta, já saiu o resultado da reunião: a Selic baixou 0,5% ficando agora em 13,25%, ainda a maior taxa de juros reais do mundo. A decisão foi apertada, 5x4 tendo o Campos Neto votado pela queda. A alternativa era de uma queda de 0,25% Foi um alívio geral e provocou notas de apoio de várias Federações empresariais.

Embora a queda seja pequena sem dúvida será um estímulo para a recuperação que terá o apoio da safra recorde que está sendo anunciada na agricultura. Houve na semana outro fato positivo para animar os analistas. A agência de classificação de riscos Fitch elevou o “rating soberano“ do Brasil de “BB-“para “BB*” Ficamos agora a dois graus para atingirmos o tão desejado “grau de investimento” saindo da área de “grau de especulação” onde estamos atualmente. Para os capitais estrangeiros isto é muito importante pois mostra a confiabilidade do país no pagamento de seus compromissos e dívidas. A confiabilidade permite o lançamento de títulos da dívida pública negociados a juros mais baixos.

O somatório destes fatos contribuiu para o Fundo Monetário Internacional (FMI) alterar suas estimativas para o crescimento do PIB do Brasil. Em seu relatório Panorama Econômico Mundial (WEO) o FMI elevou sua estimativa de 0,9% para 2,1%.

Apesar destes dados positivos a maioria dos analistas e agências de consultoria espera uma desaceleração da economia para o segundo trimestre. Isto condiz com nossas análises pois a reação da economia a estímulos é lenta e o aumento da demanda ainda não foi suficiente para influir na atitude dos empresários.

Além disso, estamos integrados no ciclo mundial e este ciclo continua em sua fase de crise agravada pelas complicações da guerra Rússia Ucrânia e com a saída da Rússia do acordo que permitia a exportação de grãos pelos portos do mar Negro. Com a declaração de que os navios que por aí navegam passam a ser considerados alvos de guerra, as exportações serão suspensas. A atitude russa é justificada pelos ataques que estão sendo conduzidos contra seu território e as áreas ocupadas. As novas armas fornecidas pelos países aliados dos EUA têm permitido estas ações.

Outro fato negativo tem sido a elevação das taxas de juros nos países da UE e nos EUA. Na tentativa de combater a inflação que ameaça suas economias e com base nas mesmas cartilhas usadas por cá, os Bancos Centrais vem tomando esta atitude. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, subiu sua taxa de referência de 5,25% para 5,5%, o mais elevado nível em 22 anos o que terá repercussões para sua economia.

Na zona do euro, onde a inflação atingiu quase o triplo da meta do Banco Central Europeu (BCE), assiste-se a um aperto monetário sem precedentes que já leva a uma crise de crédito que ameaça atirar a economia em mais uma recessão depois dos dois trimestres consecutivos de estagnação. Os dados preliminares já apontam para uma forte desaceleração nas encomendas e nas contratações das empresas de toda a zona. A situação tende ao agravamento.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Thomaz Cisneros, Gustavo Figueiredo, Lucas Santos, e Valentine de Moura.

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