Semana 24 a 30 de julho de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A Câmara continua moendo a reforma tributária enquanto alguns partidos do centrão negociam com o governo mudanças nos ministérios. É preciso abrir espaço para alguns que representam mais apoio efetivo. O nosso sistema presidencialista é uma aberração. Melhor seria se adotássemos o parlamentarismo. A negociação entre os partidos existe e é obrigatória, mas, ao assumir um ministério, o partido fica comprometido com o governo e deve defendê-lo, ou sai. Se o seu ministro faz besteira o partido é responsabilizado. No nosso sistema torto tudo cai nas costas do presidente e os partidos lavam as mãos como se nada tivessem a ver. Ficam os bonos, mas os honos são do Lula. Enquanto rolam os entendimentos o Banco Central (BC) prepara a reunião do Copom para discutir a nova taxa de juros Selic. E desta, participarão os dois novos diretores indicados pelo presidente Lula. Embora seja assunto a ser tratado na Análise da próxima semana, ao escrevermos esta, já saiu o resultado da reunião: a Selic baixou 0,5% ficando agora em 13,25%, ainda a maior taxa de juros reais do mundo. A decisão foi apertada, 5x4 tendo o Campos Neto votado pela queda. A alternativa era de uma queda de 0,25% Foi um alívio geral e provocou notas de apoio de várias Federações empresariais.
Embora a queda
seja pequena sem dúvida será um estímulo para a recuperação que terá o apoio da
safra recorde que está sendo anunciada na agricultura. Houve na semana outro
fato positivo para animar os analistas. A agência de classificação de riscos Fitch
elevou o “rating soberano“ do Brasil de “BB-“para “BB*” Ficamos agora a dois
graus para atingirmos o tão desejado “grau de investimento” saindo da área de
“grau de especulação” onde estamos atualmente. Para os capitais estrangeiros
isto é muito importante pois mostra a confiabilidade do país no pagamento de
seus compromissos e dívidas. A confiabilidade permite o lançamento de títulos
da dívida pública negociados a juros mais baixos.
O somatório
destes fatos contribuiu para o Fundo Monetário Internacional (FMI) alterar suas
estimativas para o crescimento do PIB do Brasil. Em seu relatório Panorama
Econômico Mundial (WEO) o FMI elevou sua estimativa de 0,9% para 2,1%.
Apesar destes
dados positivos a maioria dos analistas e agências de consultoria espera uma
desaceleração da economia para o segundo trimestre. Isto condiz com nossas
análises pois a reação da economia a estímulos é lenta e o aumento da demanda
ainda não foi suficiente para influir na atitude dos empresários.
Além disso,
estamos integrados no ciclo mundial e este ciclo continua em sua fase de crise
agravada pelas complicações da guerra Rússia Ucrânia e com a saída da Rússia do
acordo que permitia a exportação de grãos pelos portos do mar Negro. Com a
declaração de que os navios que por aí navegam passam a ser considerados alvos
de guerra, as exportações serão suspensas. A atitude russa é justificada pelos
ataques que estão sendo conduzidos contra seu território e as áreas ocupadas. As
novas armas fornecidas pelos países aliados dos EUA têm permitido estas ações.
Outro fato
negativo tem sido a elevação das taxas de juros nos países da UE e nos EUA. Na
tentativa de combater a inflação que ameaça suas economias e com base nas
mesmas cartilhas usadas por cá, os Bancos Centrais vem tomando esta atitude. O
Federal Reserve (Fed), banco central americano, subiu sua taxa de referência de
5,25% para 5,5%, o mais elevado nível em 22 anos o que terá repercussões para
sua economia.
Na zona do euro,
onde a inflação atingiu quase o triplo da meta do Banco Central Europeu (BCE), assiste-se
a um aperto monetário sem precedentes que já leva a uma crise de crédito que
ameaça atirar a economia em mais uma recessão depois dos dois trimestres
consecutivos de estagnação. Os dados preliminares já apontam para uma forte
desaceleração nas encomendas e nas contratações das empresas de toda a zona. A
situação tende ao agravamento.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Thomaz Cisneros, Gustavo Figueiredo, Lucas Santos, e Valentine de Moura.
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