Semana 21 a 27 de agosto de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Temos analisado os movimentos da economia
brasileira sempre à luz da teoria dos ciclos econômicos. Temos falado nas
dificuldades que atualmente existem para tal análise, em virtude da ação de
fatores não econômicos que têm alterado a ação das leis que regem a economia,
como a guerra na Ucrânia e a pandemia do covid-19. Antes de começar a ação do
vírus, o ciclo econômico estava entrando em sua fase de crise. A pandemia
acelerou este movimento e levou a economia em direção ao fundo do poço.
Seguiram-se, então, os fenômenos conhecidos de desorganização do comércio
mundial, das cadeias de valor, dos transportes marítimos e terrestres com
sérias consequências para a produção e fornecimento de matérias primas,
componentes etc.
Mal começava o controle da pandemia e
estoura a guerra na Ucrânia provocando a necessidade de nova reestruturação das
redes mundiais e uma reorientação do processo de globalização. Atualmente,
embora se tenha conseguido um certo controle da pandemia, a guerra continua
provocando um grande esgotamento das forças em choque, exceto dos setores
produtores de armamento, ou seja, do complexo industrial militar, que está
nadando em ouro. Somente o desespero e a demência dos setores mais reacionários
e belicistas da burguesia americana e europeia podem justificar tamanha
insanidade que é contra os interesses do capitalismo em sua totalidade.
Toda a pregação pseudo liberal de livre
empresa, de Estado mínimo e de desregulamentação do mercado foi por terra,
diante das intervenções de todos os Estados e mesmo de organizações
internacionais como a OTAN, organização militar sob o controle dos EUA. Os
americanos ditam as ordens e, através da OTAN e da União Europeia (UE), impõem
sua vontade às nações mais desenvolvidas, com a intenção de bloquear a Rússia e
exaurir sua economia. Por conta disso, eles têm violado todos os princípios das
relações entre capitalistas com os bloqueios comerciais e financeiros às
empresas russas e aos recursos do país depositados nos bancos internacionais.
O resultado tem sido desastroso. Os russos
reagiram pagando na mesma moeda. Abriram suas relações para o resto do mundo,
aproximando-se da China, Índia, Oriente Médio, África etc. encontrando aí
consumidores para seus produtos. As relações sul-sul se intensificaram e a
suspeita contra os bancos americanos, europeus e internacionais aumentaram. O
movimento de fuga ao dólar americano, como moeda de referência, que, desde o
início dos anos 2000, já se vinha intensificando, fortaleceu-se.
As restrições impostas pelos EUA prejudicam
os interesses das próprias empresas do país e, particularmente, das empresas
europeias, obrigadas a pagar mais caro pelos combustíveis e energia. A
proibição da venda de chips para a China, por exemplo, provocou, em julho, o
protesto da Associação da Indústria de Semicondutores, com sede nos EUA,
afirmando que estas medidas “...correm o risco de diminuir a competitividade da
indústria de semicondutores dos Estados Unidos, ... causando incerteza
significativa no mercado e provocando retaliação crescente e contínua por parte
da China, ...”. A estupidez das tais medidas torna-se evidente, pois quase um
terço da venda de semicondutores no mundo saiu da China. Diante dos protestos,
os americanos suspenderam a proibição para Taiwan e Coreia do Sul.
Outra consequência das ações ocidentais ocorreu na recente reunião dos BRICS, realizada na África do Sul. Além do seu fortalecimento o grupo foi ampliado com a admissão de mais seis novos membros: Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia. E existe uma fila de quase 40 outros desejosos de entrar no grupo. Outra prova evidente da ampliação das relações sul-sul é o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (banco dos BRICS), que se apresenta como alternativa ao FMI e Banco Mundial. Além disso, a perda da confiança no dólar tem levado à busca de alternativas para a criação de outra moeda de referência para as relações comerciais internacionais. A decadência do império continua.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Helen
Tomaz, Letícia Rocha, Raquel Lima e Valentine Moura.
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