Semana de 25 de setembro a 01 de outubro de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Tem
sido recorrente a nossa discussão sobre as mudanças na forma como os países se
inserem no comércio mundial. Temos dito que a atual divisão internacional do
trabalho, aquela que caracterizou o capitalismo a partir dos anos 1970, está
mudando de cara. Desde esta década, aumentou a participação de países asiáticos
nas exportações mundiais de manufaturados. Para isso, esses países receberam
volumosos investimentos originados nos países mais avançados. Foi nesse
contexto que surgiu o termo “Tigres Asiáticos”, os de velha e os de nova
geração.
O
ponto alto desse movimento aconteceu nos anos 2010, quando a Ásia se tornou o
continente que mais recebeu investimento estrangeiro direto (IED), superando a
Europa ou mesmo as Américas do Norte e do Sul juntas. Contudo, nos primeiros
anos de 2020, ocorreu uma mudança no lado de cá do Atlântico.
Em
2020, os países em desenvolvimento da Ásia receberam 53,7% dos fluxos de
investimentos estrangeiros que circularam no mundo, valor que ficou em 51,1% em
2022. Nas Américas, o percentual de entrada do IED mundial em 2020 foi de
22,1%, sendo 12,8% nos EUA e Canadá e 9,3% na América Latina e Caribe. Por sua
vez, em 2022 a entrada de IED nas Américas correspondeu a 42,2% do total
mundial, sendo que 26,1% foram para os EUA e Canadá e 16,1% vieram para a
América Latina e Caribe.
Isto é
reflexo de um movimento que tem sido chamado de “desglobalização”. Ele é
liderado pelos EUA e tem como objetivo trazer para perto do seu território
aquilo que hoje é produzido por países sobre os quais as potências ocidentais
não têm controle, em especial os asiáticos. Uma parte da produção é repatriada,
a outra vai para países vizinhos.
Mais
do que “teorizar” sobre o assunto, hoje o objetivo é mostrar como o comércio
está mudando e como o Brasil ainda não entrou nesse movimento.
É de
conhecimento geral que nosso país se destaca no comércio mundial como
fornecedor de produtos primários. Com base nessa pauta, nosso saldo na balança
comercial já está batendo recordes históricos: entre janeiro e agosto de 2023,
as exportações superaram as importações em US$ 62,4 bilhões. A expectativa
menos otimista é a de que esse saldo encerre o ano em US$ 70 bi.
Contudo,
levando em consideração que o IED está mudando nas Américas, vemos que isto não
se tem refletido no destino das nossas exportações. Nos primeiros oito meses de
2023, 30,2% das vendas externas brasileiras foram para China. No ano passado, o
percentual foi de 26,8%. As vendas para os EUA correspondiam a 11,2% do total
brasileiro em 2022, sendo que neste ano o percentual está em 10,5%. Por aqui,
aumentou um pouco a participação da Argentina nas nossas exportações. Já o
percentual vendido para México, Canadá, Chile, Colômbia, Peru e Bolívia ficou
praticamente estável entre 2022 e 2023.
Enquanto isso, vemos os EUA reduzir (um pouco)
sua exposição à China. No ano passado, o país asiático foi o principal vendedor
aos EUA, seguido de México e Canadá. No acumulado entre janeiro e julho de
2023, a China caiu para terceiro lugar, enquanto o México foi para primeiro e o
Canadá para o segundo. Em 2022 o Brasil era o 17º no ranque e, atualmente,
ocupa a 18ª posição.
Como a
realidade sempre se impõe, isso tem se refletido na opinião de economistas e da
mídia nacionais. Em 25/09/2023, o jornal Valor Econômico trouxe um editorial
que reconhece as mudanças que já estão ocorrendo no mundo e fez um tímido aceno
à possibilidade de o governo brasileiro adotar políticas que estimulem a vinda
do IED para cá. Por sua vez, em 01/10/2023, Samuel Pessôa, um notório liberal e
defensor do fim dos “privilégios” dados pelo Estado, escreveu um texto na Folha
de São Paulo, no qual defende a adoção de políticas que beneficiem determinadas
atividades industriais no Brasil.
Longe de querer que o Brasil se integre mais aos EUA, a coluna de hoje só veio para reforçar o que temos dito: como economia inserida no capitalismo mundial, vamos jogar esse jogo e buscar o melhor possível em cada janela de oportunidade. O importante é reduzir nossa vulnerabilidade e aumentar a soberania do país em benefício do povo. Sem esse passo, outros jamais serão possíveis.
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula,
Valentine de Moura, Helen Tomaz, Gustavo Figueiredo e Raquel Lima.
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