Semana de 23 a 29 de outubro de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Alternando
as análises semanais entre denúncias do genocídio em Gaza e observações do que
tem acontecido no Brasil, hoje esta coluna vai falar sobre um fenômeno que foi
badalado no século passado, esquecido na “virada do milênio”, mas que retornou
aos debates públicos no Brasil e no mundo: a industrialização.
Quando
pensamos em indústria, normalmente nos vem à cabeça uma mega estrutura composta
por grandes prédios, cheios de máquinas, equipamentos, insumos e operários.
Juntos, esse capital produtivo cria a maior parte das mercadorias que chegam às
nossas casas. Não à toa, também associamos à indústria um conjunto de elementos
ligados à pesquisa, desenvolvimento e inovação. É dela que irradiam novos
materiais e produtos e novas formas de consumo e de produção. Ou seja, a
indústria é uma das grandes responsáveis pela produção da riqueza social na
forma de produtos que satisfazem nossas necessidades mais peculiares. Elas
produzem os chamados bens de consumo.
Imaginemos
a situação na qual um país dispõe de um grande número de indústrias atuantes
neste departamento produtor de bens de consumo. Naturalmente, as pessoas de lá
teriam boa parte de suas necessidades atendidas domesticamente. É o caso da
indústria automobilística instalada no Brasil, que nos fornece a maior parte
dos carros e motos que transitam por aqui. Também é o caso da maioria das
montadoras de eletrodomésticos e fabricantes de produtos plásticos.
Contudo,
essa é apenas uma parte da história. Como se diz, é só a ponta do iceberg. E é
aí que a coisa complica. Para produzir automóveis, por exemplo, é preciso de
insumos de diversos tipos e formatos: plástico, borracha, vidro, metal,
elétricos, eletrônicos, etc. Sem isso o carro não existe. O mesmo pode ser dito
dos eletrodomésticos e até dos utensílios plásticos. Ou seja, para a indústria
de bens de consumo existir, é necessária a indústria produtora de
matérias-primas.
Mas
esse ainda não é o fim. Seja para a produção bens de consumo ou de insumos,
outro tipo de capital produtivo estritamente necessário é o chamado capital
fixo. Essa é a parte da fábrica que corresponde às instalações duradouras, ou
seja, aquela parte do capital produtivo que permanece funcionando diariamente
por anos. Alguns exemplos são: máquinas e equipamentos, edificações, vias de
comunicação e transporte, armazenamento de materiais, etc. Ou seja, para as
indústrias de bens de consumo e de insumos existirem, é necessária a indústria
produtora de capital fixo.
Por
isso mesmo, não podemos chamar a mera produção industrial de industrialização,
pois elas não são palavras sinônimas. A produção industrial nada mais é do que
a soma de tudo o que as plantas fabris de um país produziram, em um período
determinado de tempo, não importando a conexão entre as mais diferentes
atividades que produzem bens manufaturados. Por sua vez, a industrialização
corresponde ao processo de criação de fábricas, que formam os elos produtivos
que conectam as mais diversas atividades industriais, tanto as produtoras de
bens de consumo, quanto aquelas que produzem insumos e capital fixo. É
exatamente isto que o Brasil vem perdendo, desde a década de 1980.
Por
mais que as tecnologias que lideraram a industrialização tenham mudado ao longo
da história (carvão, vapor, combustão, química pesada, aço e, hoje, tecnologias
da informação e comunicação), elas vão se assentando umas sobre as outras.
Nesse processo, os paradigmas mais novos vão repaginando os antigos e, por isso
mesmo, eles se complementam em maior ou menor grau. Por exemplo, o aço surge na
virada do século XIX para o século XX. Porém, sem ele não teríamos as máquinas
que produzem os microprocessadores.
No governo atual, o Brasil discute o que chamou de neoindustrialização, uma tentativa de renovar o tecido industrial nacional. Isto é absolutamente necessário, pois a indústria é a locomotiva da renda na esmagadora maioria dos países avançados. O problema é que algumas questões precisam ser respondidas: quais elos das cadeias produtivas mais avançadas será necessário implementar? Quem deve liderar esse processo, nossa burguesia, que é majoritariamente agrária e subalterna, o capital estrangeiro, que pouco ou nada tem a ver com os interesses nacionais, ou o Estado, que sequer pode fazer um déficit orçamentário? E essa é só uma parte do dilema.
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula,
Valentine de Moura, Helen Tomaz, Gustavo Figueiredo e Letícia Rocha.
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