Semana de 18 a 24 de novembro de 2024
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Prezado leitor, em meio às negociações
sobre o corte dos gastos, o “mercado” amplia a pressão sobre o governo, para
que o aperto monetário continue e seja intensificado com um aumento dos juros
em 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom. O subjetivismo
característico da análise econômica tradicional prevê que, dessa forma, a tal
desancoragem das expectativas de inflação será resolvida. Ou seja, para ancorar
as expectativas apuradas pelo relatório Focus, construído a partir das
expectativas do “mercado”, o “mercado” exige uma dosimetria maior de juros que
remunera, vejam só, os rentistas do próprio “mercado”! A raposa continua a
vigiar o galinheiro. Nunca é demais lembrar que, se lançarmos o olhar para a
realidade concreta e objetiva, as estatísticas reforçam que não há pressão
inflacionária à vista, já que o IPCA acumulado até novembro, segundo o IBGE,
fechou em 3,88%, ainda longe dos 4,5% previstos como limite máximo do regime de
metas de inflação.
Mesmo com o Banco Central se esforçando
para desacelerar a economia e conter ameaças inflacionárias fictícias, a
economia tem apresentado resultados cada vez melhores. Espera-se que 2024 feche
com crescimento de 3,3% do PIB. Esta estimativa é da Secretaria de Política
Econômica, que vem ajustando para cima a previsão que no início do ano era de
2,2%. Assim, aqueles que se empenham em impor suas pautas ao governo, seja para
obter proveito financeiro, seja por questões ideológicas (pessoais, políticas
ou intelectuais), têm recebido consecutivos choques da realidade. O último foi
a queda da taxa de desemprego para 6,4% no terceiro trimestre de 2024, segundo
apuração do IBGE. Em relação ao trimestre anterior houve queda de 0,5 ponto
percentual. O desemprego recuou em todas as faixas etárias, e a queda mais
representativa aconteceu entre os trabalhadores de 25 a 39 anos. Portanto, os
dados conjunturais mostram, de forma cristalina, que 2024 será um ano bom para
a economia o que contraria os arautos do fim do mundo. E ainda: o crescimento
não trará aceleração inflacionária.
No cenário externo, enquanto o mundo e os
americanos assistem, atônitos, a formação da equipe de governo de Donald Trump,
composta até agora por lunáticos, adeptos das mais descabidas teorias da
conspiração e do desejo de desmontar o setor público, o Brasil caminha para
punir aqueles que tramaram contra a nossa democracia. Lá, não só não puniram
Trump pelos crimes cometidos na invasão do Capitólio, em 6 de dezembro de 2021,
como ainda permitiram a sua candidatura. Sua vitória nas eleições produziu um
delírio momentâneo dos golpistas brasileiros que, enganando a si mesmos, viram
naquele resultado uma oportunidade de anistiar os criminosos que, em 8 de
janeiro de 2023, invadiram e depredaram a Praça dos Três Poderes em Brasília, à
espera de uma intervenção militar. Segundo a fantasia coletiva, a eleição de
Trump facilitaria a tramitação da proposta de anistia no Poder Legislativo,
geraria pressão para que o ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes
liberasse o passaporte de Bolsonaro, a fim de que ele pudesse participar da
posse americana em janeiro e, ainda, o ministro poderia até ser impedido de
entrar nos Estados Unidos, simplesmente por estar aplicando a lei àqueles
criminosos de boa intenção.
Ora, se achavam que o resultado eleitoral
americano iria intimidar as investigações em andamento no Brasil estavam
redondamente enganados! Eis que em 19 de novembro foi deflagrada pela Polícia
Federal, a Operação Contragolpe. Quatro militares do Exército e um agente da
Polícia Federal foram presos por planejar um golpe de Estado para impedir a
posse do presidente Lula e o pleno exercício do Poder Judiciário. A estratégia
incluía o assassinato do atual presidente da República, do vice-presidente e do
ministro Alexandre de Moraes do STF. Dois dias depois, ainda no âmbito desta
operação, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general
Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa derrotada nas eleições
de 2022, o general Augusto Heleno, que foi chefe do Gabinete de Segurança
Institucional e outras 34 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado
Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
O resultado das investigações não deixa dúvidas. Não foi algo corriqueiro. Não foi um ato isolado. Foi uma estratégia planejada, com partes executadas e, felizmente, fracassada... O fato de terem fracassado por incompetência e/ou burrice, não os exime do crime, muito menos quer dizer que estes indivíduos não sejam perigosos. São criminosos periculosos e violentos que autointitulados de patriotas, ousaram urdir-se contra as estruturas institucionais do seu próprio país tomando como exemplo o golpe de 1964. Prisão para todos os que tramaram contra a democracia brasileira!
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br,
rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Raquel Lima, Lara
Souza, Guilherme de Paula, Ícaro Formiga e Brenda Tiburtino.