Semana de 16 a 22 de fevereiro de 2009
A economia do Japão está a ser considerada a mais afetada pela crise do sistema econômicomundial. Nota-se isso através da observação dos principais indicadores econômicos. O Produto Interno Bruto - PIB do Japão sofreu queda de 12,7%, no quarto trimestre de 2008, em comparação com 2007 e de 3,3%, face ao trimestre anterior. Esse retrocesso do PIB na segunda economia mundial, que é a primeira da Ásia, foi o mais forte, desde a retração em ritmo anual ocorrida no primeiro trimestre de 1974, na “crise mundial do petróleo”. O recuo do PIB tem correspondência no setor industrial, que caiu de 9,8% em dezembro, após um recuo de 8,5% em novembro. Com a desaceleração do setor industrial, a taxa de desemprego atingiu os 4,4% e o índice de confiança do consumidor que, em novembro, era de 28,4 pontos, caiu para 26,2, em dezembro de 2008.
Já a zona do euro experimentou, no quarto trimestre do ano passado, a maior contração dos últimos 13 anos, e o PIB caiu 1,5%, face aos tres meses anteriores, e 1,25%, em relação ao ano passado, crescendo a pressão, para a baixa da taxa de juros.
Consequentemente, as filas de desempregados também vêm crescendo por todo o globo. Dosadvogados em Paris, aos operários na China, passando pelos guarda-costas na Colômbia, acentuam-se as altas taxas de desemprego. Desemprego, que atinge principalmente trabalhadores jovens, acarretando por sua vez muitas consequências para a sociedade, que num clima de extrema instabilidade, produz um aquecimento dos movimentos de protestos em diversos países do globo, como Letônia, Chile, Grécia, Bulgária e Islândia e mesmo movimentos grevistas, como foram os casos na Grã Bretanha e da França.
Enquanto nisso acontece, um pouco por todo o mundo, nos Estados Unidos, o Presidente Obama,prosseguindo com a política anti-crise, promete agir com celeridade após aprovação do pacote. Segundo ele, um mês após a data da aprovação, o dinheiro começará a ser injetado na economia e, num prazo de dois anos, ele espera que o seu plano salve ou crie mais 3,5 milhões de empregos e assentará as bases de uma nova economia, que será alimentada pelo desenvolvimento sustentável. O grande pacote de incentivo econômico já foi aprovado na sexta-feira 13, pelo Congresso norte-americano, e foi de US$ 787 bilhões, que deverá ser todo usado no combate a recessão.
Mais, uma consequência da crise que se processa a nível mundial, cairá diretamente nas economias menos dinâmicas. Fala-se na imprensa “que ela pode gerar um tsunami de imigrantes voltando para casa”, com todas as implicações nefastas desse regresso em massa, como a pressão sobre o mercado de trabalho e o fim das simpáticas remessas, por eles efetuadas, para seus países de origem.
O empresariado ressente-se no mundo todo. O etanol perde força nos Estados Unidos, a Vera Sun Energy, uma das maiores produtoras americanas de etanol, suspendeu a produção em 12 das 16 plantas e planeja vender algumas das suas instalações.
Da indústria automobilística chega-nos a notícia de que a General Motors e a Chrysler, quetentaram obter ajuda adicional do governo americano, no montante de US$ 21,6 bilhões, estão em vias de concordata, o que custará seis vezes mais aos Estados Unidos.
A Fiat, a maior montadora da Itália, está sondando bancos sobre planos para emissão de ações com direito preferencial de subscrição no valor de US$ 2,5 bilhões, em meio a uma queda acentuada da demanda por veículos.
Segundo o Presidente da General Motors do Brasil, Jaime Ardila, a perspectiva, para 2009, é daqueda de até 15% nas vendas de veículos daquela marca.
Na Alemanha a THYSSENKRUPP prevê mais cortes na produção do aço. A empresa informouque as encomendas caíram em 3%.
A companhia de serviços financeiros holandeses, ING, sócia da Sul América, no Brasil, registrouum prejuízo de € 729 milhões em 2008. Em 2007 a organização tinha obtido um lucro de € 9,2 bilhões.
No Brasil, a evolução da crise segue o seu curso inexorável. O desemprego em Janeiro deu o seumaior salto desde 2002. A taxa divulgada, no dia 20 de Fevereiro, subiu para 7,8%, em relação a Dezembro do ano passado, quando foi de 6,8%. Segundo o economista chefe do BNP Paribas, para o Brasil, o congelamento das contratações continuará e o desemprego atingirá o seu pico de 10,5%, em Março de 2010. O setor automotivo lidera os cortes. O desemprego, convenientemente apelidado de “ajustes”, vai se prolongar e aprofundar durante o ano de 2009. A indústria do Estado de São Paulo, somente durante o mês de Janeiro, fechou mais de 32,5 mil postos de trabalho. Nos últimos 12 meses, o setor já acumula 54,5 mil postos fechados.
Apesar de toda a turbulência e desestabilização provocadas pela crise, a oferta de crédito no Brasil ainda se mantêm com alguma normalidade. Prevê-se que o desemprego caminha em direção à sua maior alta, desde 2002.
Os dados anuais ainda escondem a gravidade da crise, no comércio de automóveis, no últimotrimestre do ano passado. Em milhões de unidades, os licenciamentos de autos passaram de 2,46 em 2007 para 2,82 em 2008. No entanto, por todos os lados, os ajustes estão sendo feitos através da eliminação de postos de trabalhos, de férias coletivas para os trabalhadores e outras modalidades ainda em negociação, entre as entidades patronais e laborais. Contraditórios com esses movimentos são os comportamentos ascendentes da carga tributária, no Brasil, que cresceu de 36,58% do PIB em 2007, para 37,8%, em 2998 e o lucro do Banco do Brasil, que de 2007 para 2008 cresceu em 74%, ficando em R$ 8,8 bilhões. Aqui é interessante notar, que no BNDES, que financia as grandes empresas, a crise provocou perdas de R$28 bilhões em valor de ativos. Por seu lado, com excessivo otimismo, o IPEA avalia que “o pior da crise da indústria já passou”.Marcio Wohlers, diretor de Estudos Sociais daquela instituição, afirmou com todas as letras que “o péssimo desempenho em Dezembro passado ocorreu devido a uma conjugação de fatores que dificilmente se repetirá nos próximos meses”… (Gazeta Mercantil,19.02.2009). À sua maneira, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, partilha do otimismo ao descartar a idéia de PIB negativo e reiterar a meta do governo para crescer 4%, nesse ano.
O Presidente mais que otimista, mostra-se confiante na superação da crise, pois, admitindo ou não, ele aborda o fenômeno com uma forte subjetividade como se dependesse das vontades do governo e dos empresários brasileiros.
Nas suas compungentes palavras, na reunião com empresários da indústria automobilística, eleafirmou que eles, os empresários, “brecaram rápido demais quando,na verdade, deveria ter sido uma paralisada muito paulatina, com férias coletivas, tentativas de acordo com movimento sindical. Exageraram nas demissões.”… “Quase todas as empresas estão muito capitalizadas, todos ganharam muito dinheiro em 2008. Não era possível que no primeiro mês depois da quebra dos bancos americanos mandassem os trabalhadores embora”. (Gazeta Mercantil 16.02.2009)
Visto dessa forma, tudo levaria a crer que a crise não seria um fenômeno objetivo, necessário e incontornável.
Infelizmente, para os otimistas ingênuos, nada se passa dessa forma. A crise é uma necessidade do sistema e ainda bem que é assim. Ela é um momento de saneamento da economia, uma espécie de pecado original do sistema de mercado, sem o qual não se podem alcançar níveis mais elevados de desempenho econômico. A crise apesar de dolorosa, é reguladora, pois o sistema não tem coração, nem conhece a compaixão e os sentimentos humanos. Não se pode esquecer a sua lógica, nem esperar que, os empresários, mesmo diante dos encarecidos pedidos, vão poder deixar de lutar pelo que constitui a própria essência do sistema: minimização de custos e maximização de lucros. Mesmo que o pedido do Presidente seja feito com as melhores intenções. Seria de desejar que Lula, e seus principais colaboradores na área econômica, soubessem dessas coisas simples da economia como oferta e procura, maximização de lucros e minimização de custos, custos benefícios, etc. Infelizmente parece que o discurso do Presidente é retórica,traduzindo desejos pouco elaborados e mal contidos em momento de exaltação.
De qualquer forma, é carnaval e ninguém leva a mal!
Texto escrito por:
Elivan G. Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br
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Já a zona do euro experimentou, no quarto trimestre do ano passado, a maior contração dos últimos 13 anos, e o PIB caiu 1,5%, face aos tres meses anteriores, e 1,25%, em relação ao ano passado, crescendo a pressão, para a baixa da taxa de juros.
Consequentemente, as filas de desempregados também vêm crescendo por todo o globo. Dosadvogados em Paris, aos operários na China, passando pelos guarda-costas na Colômbia, acentuam-se as altas taxas de desemprego. Desemprego, que atinge principalmente trabalhadores jovens, acarretando por sua vez muitas consequências para a sociedade, que num clima de extrema instabilidade, produz um aquecimento dos movimentos de protestos em diversos países do globo, como Letônia, Chile, Grécia, Bulgária e Islândia e mesmo movimentos grevistas, como foram os casos na Grã Bretanha e da França.
Enquanto nisso acontece, um pouco por todo o mundo, nos Estados Unidos, o Presidente Obama,prosseguindo com a política anti-crise, promete agir com celeridade após aprovação do pacote. Segundo ele, um mês após a data da aprovação, o dinheiro começará a ser injetado na economia e, num prazo de dois anos, ele espera que o seu plano salve ou crie mais 3,5 milhões de empregos e assentará as bases de uma nova economia, que será alimentada pelo desenvolvimento sustentável. O grande pacote de incentivo econômico já foi aprovado na sexta-feira 13, pelo Congresso norte-americano, e foi de US$ 787 bilhões, que deverá ser todo usado no combate a recessão.
Mais, uma consequência da crise que se processa a nível mundial, cairá diretamente nas economias menos dinâmicas. Fala-se na imprensa “que ela pode gerar um tsunami de imigrantes voltando para casa”, com todas as implicações nefastas desse regresso em massa, como a pressão sobre o mercado de trabalho e o fim das simpáticas remessas, por eles efetuadas, para seus países de origem.
O empresariado ressente-se no mundo todo. O etanol perde força nos Estados Unidos, a Vera Sun Energy, uma das maiores produtoras americanas de etanol, suspendeu a produção em 12 das 16 plantas e planeja vender algumas das suas instalações.
Da indústria automobilística chega-nos a notícia de que a General Motors e a Chrysler, quetentaram obter ajuda adicional do governo americano, no montante de US$ 21,6 bilhões, estão em vias de concordata, o que custará seis vezes mais aos Estados Unidos.
A Fiat, a maior montadora da Itália, está sondando bancos sobre planos para emissão de ações com direito preferencial de subscrição no valor de US$ 2,5 bilhões, em meio a uma queda acentuada da demanda por veículos.
Segundo o Presidente da General Motors do Brasil, Jaime Ardila, a perspectiva, para 2009, é daqueda de até 15% nas vendas de veículos daquela marca.
Na Alemanha a THYSSENKRUPP prevê mais cortes na produção do aço. A empresa informouque as encomendas caíram em 3%.
A companhia de serviços financeiros holandeses, ING, sócia da Sul América, no Brasil, registrouum prejuízo de € 729 milhões em 2008. Em 2007 a organização tinha obtido um lucro de € 9,2 bilhões.
No Brasil, a evolução da crise segue o seu curso inexorável. O desemprego em Janeiro deu o seumaior salto desde 2002. A taxa divulgada, no dia 20 de Fevereiro, subiu para 7,8%, em relação a Dezembro do ano passado, quando foi de 6,8%. Segundo o economista chefe do BNP Paribas, para o Brasil, o congelamento das contratações continuará e o desemprego atingirá o seu pico de 10,5%, em Março de 2010. O setor automotivo lidera os cortes. O desemprego, convenientemente apelidado de “ajustes”, vai se prolongar e aprofundar durante o ano de 2009. A indústria do Estado de São Paulo, somente durante o mês de Janeiro, fechou mais de 32,5 mil postos de trabalho. Nos últimos 12 meses, o setor já acumula 54,5 mil postos fechados.
Apesar de toda a turbulência e desestabilização provocadas pela crise, a oferta de crédito no Brasil ainda se mantêm com alguma normalidade. Prevê-se que o desemprego caminha em direção à sua maior alta, desde 2002.
Os dados anuais ainda escondem a gravidade da crise, no comércio de automóveis, no últimotrimestre do ano passado. Em milhões de unidades, os licenciamentos de autos passaram de 2,46 em 2007 para 2,82 em 2008. No entanto, por todos os lados, os ajustes estão sendo feitos através da eliminação de postos de trabalhos, de férias coletivas para os trabalhadores e outras modalidades ainda em negociação, entre as entidades patronais e laborais. Contraditórios com esses movimentos são os comportamentos ascendentes da carga tributária, no Brasil, que cresceu de 36,58% do PIB em 2007, para 37,8%, em 2998 e o lucro do Banco do Brasil, que de 2007 para 2008 cresceu em 74%, ficando em R$ 8,8 bilhões. Aqui é interessante notar, que no BNDES, que financia as grandes empresas, a crise provocou perdas de R$28 bilhões em valor de ativos. Por seu lado, com excessivo otimismo, o IPEA avalia que “o pior da crise da indústria já passou”.Marcio Wohlers, diretor de Estudos Sociais daquela instituição, afirmou com todas as letras que “o péssimo desempenho em Dezembro passado ocorreu devido a uma conjugação de fatores que dificilmente se repetirá nos próximos meses”… (Gazeta Mercantil,19.02.2009). À sua maneira, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, partilha do otimismo ao descartar a idéia de PIB negativo e reiterar a meta do governo para crescer 4%, nesse ano.
O Presidente mais que otimista, mostra-se confiante na superação da crise, pois, admitindo ou não, ele aborda o fenômeno com uma forte subjetividade como se dependesse das vontades do governo e dos empresários brasileiros.
Nas suas compungentes palavras, na reunião com empresários da indústria automobilística, eleafirmou que eles, os empresários, “brecaram rápido demais quando,na verdade, deveria ter sido uma paralisada muito paulatina, com férias coletivas, tentativas de acordo com movimento sindical. Exageraram nas demissões.”… “Quase todas as empresas estão muito capitalizadas, todos ganharam muito dinheiro em 2008. Não era possível que no primeiro mês depois da quebra dos bancos americanos mandassem os trabalhadores embora”. (Gazeta Mercantil 16.02.2009)
Visto dessa forma, tudo levaria a crer que a crise não seria um fenômeno objetivo, necessário e incontornável.
Infelizmente, para os otimistas ingênuos, nada se passa dessa forma. A crise é uma necessidade do sistema e ainda bem que é assim. Ela é um momento de saneamento da economia, uma espécie de pecado original do sistema de mercado, sem o qual não se podem alcançar níveis mais elevados de desempenho econômico. A crise apesar de dolorosa, é reguladora, pois o sistema não tem coração, nem conhece a compaixão e os sentimentos humanos. Não se pode esquecer a sua lógica, nem esperar que, os empresários, mesmo diante dos encarecidos pedidos, vão poder deixar de lutar pelo que constitui a própria essência do sistema: minimização de custos e maximização de lucros. Mesmo que o pedido do Presidente seja feito com as melhores intenções. Seria de desejar que Lula, e seus principais colaboradores na área econômica, soubessem dessas coisas simples da economia como oferta e procura, maximização de lucros e minimização de custos, custos benefícios, etc. Infelizmente parece que o discurso do Presidente é retórica,traduzindo desejos pouco elaborados e mal contidos em momento de exaltação.
De qualquer forma, é carnaval e ninguém leva a mal!
Texto escrito por:
Elivan G. Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br
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