Semana de 09 a 15 de março de 2009
A divulgação das estatísticas, do quarto trimestre de 2008, causou espanto geral nas autoridades do governo. Os dados são aterradores. O Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu 3,6%, o que significa que, no quarto trimestre do ano passado, o país produziu 3,6% menos do que no trimestre anterior. Esta queda foi a maior desde 1996. A produção industrial despencou 7,4%. Só não foi pior por que a agropecuária caiu 0,5%. Constata o IBGE que todos os setores tiveram uma redução da produção. Considere-se que nos três trimestres anteriores a economia vinha crescendo aceleradamente o que fez que a taxa anual, para todo o ano de 2008, ficasse em 5,1%, apesar do tombo do final do ano.
Todos se mostraram surpreendidos. Onde está a blindagem dos países em desenvolvimento? E os BRIC's? Onde estão os sólidos fundamentos macroeconômicos e as reservas do país? Ninguém sabia que o desastre estava em marcha?
Eu sabia, juntamente com todos os leitores que acompanham as análises publicadas em nosso blog e na coluna Análise de Conjuntura Econômica no jornal Contraponto. E não temos bola de cristal.
Há uma exceção. Desta vez o Presidente Lula sabia. O decrescimento “já era esperado pela equipe econômica”, disse ele.
E por que não avisaram? E por que mentiram e enganaram a população? Diante da dura realidade, quem falava em crescimento de 5%, em 2009, agora baixou a mira para “próximo de zero” e, mesmo assim, ainda contando vantagem: “Mesmo que ele (o PIB) seja próximo de zero, o Brasil será um dos poucos países do mundo, dos emergentes e dos grandes, que não terá uma recessão”,disse o presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Por seu lado, a Ministra Dilma foi obrigada a reconhecer que “o impacto foi violento” e que oprimeiro semestre de 2009 será difícil. O otimista Ministro Mantega, finalmente reconheceu que está “difícil atingir a meta de 4%”, mas acredita que o país crescerá mais de 1,5%, como pensa o mercado e que o primeiro trimestre deste ano já será de recuperação. O Ministro Paulo Bernardo tem outra opinião e considera que o trimestre pode ainda ser negativo o que enquadraria o país na definição de “recessão técnica”, o famoso decreto de que já falamos em outras análises anteriores.
Mais otimista está o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), MarcioPorchman. Para ele, em 2009, não haverá recessão e mesmo, o primeiro trimestre do ano, dificilmente será negativo. Ele justifica sua posição alegando que o mau resultado observado foi conseqüência de “fatores pontuais” e do efeito retardado da alta taxa de juros. Disse ainda que estes fatores agora não existem mais.
Bela teoria econômica a que inspira a declaração do presidente do Ipea e que norteia a atividade de acessória econômica do Instituto. Em pouco tempo ela será posta à prova.
Os dados que continuam a ser divulgados não apóiam estas conclusões otimistas. Em 5 meses, de outubro a fevereiro, a indústria de São Paulo demitiu 237 mil trabalhadores, o que nos coloca no nível de fevereiro de 2007. Só em fevereiro desapareceram 43 mil empregos. O seguro-desemprego bateu recordes de requerimentos, em Janeiro, e de pagamentos, em fevereiro. Nos dois meses o volume de pagamentos foi 25% maior que no mesmo período do ano passado. O número de horas pagas, em janeiro, caiu 1,8%, em relação à dezembro. No mesmo período, a ocupação na indústria reduziu-se 1,3%, o pior desempenho desde o começo da série histórica.
O faturamento da indústria caiu pelo terceiro mês consecutivo. Em comparação com dezembro, a queda foi de 4,3%. Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 80% dos empresários consideram que a situação vai piorar, no primeiro trimestre deste ano. Para todo o ano, o gerente-executivo da unidade de política econômica da CNI pensa que “A tendência é que o crescimento do PIB fique próximo de zero”. A pesquisa do IBGE observou ainda que, no último trimestre de 2008, após 21 trimestres de expansão, o consumo das famílias recuou 2% somando-se negativamente ao setor externo. A resposta dos investimentos foi imediata. Eles caíram 9,8%. Por seu lado a Serasa divulgou que no primeiro bimestre deste ano a inadimplência dos consumidores cresceu 8,6%, ótimo pretexto para que os bancos mantenham os altos spreads que praticam.
Aliás, dentro de toda a desgraça, o sistema bancário continua a apresentar elevados lucros o que justifica a denominação do governo Lula como o governo dos banqueiros. Com efeito, afirma com orgulho, a Gazeta Mercantil, que 2008 foi o ano dos bancos públicos. “Os ganhos do ano mostram a solidez do sistema financeiro brasileiro”. Os cinco maiores bancos públicos do país (BB, Caixa Econômica Federal, Nossa Caixa, Banco do Estado do Rio Grande do Sul e Banco do Nordeste), juntos tiveram um lucro líquido de R$ 14,34 bilhões, 61,9% maior que o de 2007. Até o Banco Central, apenas no segundo semestre, transferiu para o Tesouro Nacional R$ 185,35 bilhões, resultado obtido com as suas operações o que incluiu um lucro de R$ 10,2 bilhões.
No resto do mundo, porém, a situação continua a se deteriorar. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) considera que todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, estão sofrendo uma forte desaceleração e inclui na lista o Brasil. O desemprego nos EUA atingiu 8,1%, o maior nível em 25 anos. Entre dezembro e fevereiro, desapareceram no país 4,4 milhões de empregos. Estima-se que as famílias americanas já perderam US$ 16,5 trilhões, o que corresponde a um PIB dos EUA. Em 2009, o Banco Mundial prevê que serão atirados ao desemprego, na América Latina, 6 milhões de pessoas. O diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que “O FMI prevê um crescimento mundial abaixo de zero para este ano, o pior resultado na maior parte de nossasvidas”. O Banco Mundial (BIRD) também prevê que, este ano, a economia mundial se contrairá pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Depois da Hungria e da Letônia agora a Romênia apela à União Européia pedindo ajuda para suportar a crise. O Banco da Inglaterra, por seu lado teme que o Reino Unido entre em uma grave depressão com a paralisação da economia.
Todos se mostraram surpreendidos. Onde está a blindagem dos países em desenvolvimento? E os BRIC's? Onde estão os sólidos fundamentos macroeconômicos e as reservas do país? Ninguém sabia que o desastre estava em marcha?
Eu sabia, juntamente com todos os leitores que acompanham as análises publicadas em nosso blog e na coluna Análise de Conjuntura Econômica no jornal Contraponto. E não temos bola de cristal.
Há uma exceção. Desta vez o Presidente Lula sabia. O decrescimento “já era esperado pela equipe econômica”, disse ele.
E por que não avisaram? E por que mentiram e enganaram a população? Diante da dura realidade, quem falava em crescimento de 5%, em 2009, agora baixou a mira para “próximo de zero” e, mesmo assim, ainda contando vantagem: “Mesmo que ele (o PIB) seja próximo de zero, o Brasil será um dos poucos países do mundo, dos emergentes e dos grandes, que não terá uma recessão”,disse o presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Por seu lado, a Ministra Dilma foi obrigada a reconhecer que “o impacto foi violento” e que oprimeiro semestre de 2009 será difícil. O otimista Ministro Mantega, finalmente reconheceu que está “difícil atingir a meta de 4%”, mas acredita que o país crescerá mais de 1,5%, como pensa o mercado e que o primeiro trimestre deste ano já será de recuperação. O Ministro Paulo Bernardo tem outra opinião e considera que o trimestre pode ainda ser negativo o que enquadraria o país na definição de “recessão técnica”, o famoso decreto de que já falamos em outras análises anteriores.
Mais otimista está o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), MarcioPorchman. Para ele, em 2009, não haverá recessão e mesmo, o primeiro trimestre do ano, dificilmente será negativo. Ele justifica sua posição alegando que o mau resultado observado foi conseqüência de “fatores pontuais” e do efeito retardado da alta taxa de juros. Disse ainda que estes fatores agora não existem mais.
Bela teoria econômica a que inspira a declaração do presidente do Ipea e que norteia a atividade de acessória econômica do Instituto. Em pouco tempo ela será posta à prova.
Os dados que continuam a ser divulgados não apóiam estas conclusões otimistas. Em 5 meses, de outubro a fevereiro, a indústria de São Paulo demitiu 237 mil trabalhadores, o que nos coloca no nível de fevereiro de 2007. Só em fevereiro desapareceram 43 mil empregos. O seguro-desemprego bateu recordes de requerimentos, em Janeiro, e de pagamentos, em fevereiro. Nos dois meses o volume de pagamentos foi 25% maior que no mesmo período do ano passado. O número de horas pagas, em janeiro, caiu 1,8%, em relação à dezembro. No mesmo período, a ocupação na indústria reduziu-se 1,3%, o pior desempenho desde o começo da série histórica.
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O faturamento da indústria caiu pelo terceiro mês consecutivo. Em comparação com dezembro, a queda foi de 4,3%. Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 80% dos empresários consideram que a situação vai piorar, no primeiro trimestre deste ano. Para todo o ano, o gerente-executivo da unidade de política econômica da CNI pensa que “A tendência é que o crescimento do PIB fique próximo de zero”. A pesquisa do IBGE observou ainda que, no último trimestre de 2008, após 21 trimestres de expansão, o consumo das famílias recuou 2% somando-se negativamente ao setor externo. A resposta dos investimentos foi imediata. Eles caíram 9,8%. Por seu lado a Serasa divulgou que no primeiro bimestre deste ano a inadimplência dos consumidores cresceu 8,6%, ótimo pretexto para que os bancos mantenham os altos spreads que praticam.
Transações correntes: saldo - Brasil (*)
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Aliás, dentro de toda a desgraça, o sistema bancário continua a apresentar elevados lucros o que justifica a denominação do governo Lula como o governo dos banqueiros. Com efeito, afirma com orgulho, a Gazeta Mercantil, que 2008 foi o ano dos bancos públicos. “Os ganhos do ano mostram a solidez do sistema financeiro brasileiro”. Os cinco maiores bancos públicos do país (BB, Caixa Econômica Federal, Nossa Caixa, Banco do Estado do Rio Grande do Sul e Banco do Nordeste), juntos tiveram um lucro líquido de R$ 14,34 bilhões, 61,9% maior que o de 2007. Até o Banco Central, apenas no segundo semestre, transferiu para o Tesouro Nacional R$ 185,35 bilhões, resultado obtido com as suas operações o que incluiu um lucro de R$ 10,2 bilhões.
No resto do mundo, porém, a situação continua a se deteriorar. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) considera que todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, estão sofrendo uma forte desaceleração e inclui na lista o Brasil. O desemprego nos EUA atingiu 8,1%, o maior nível em 25 anos. Entre dezembro e fevereiro, desapareceram no país 4,4 milhões de empregos. Estima-se que as famílias americanas já perderam US$ 16,5 trilhões, o que corresponde a um PIB dos EUA. Em 2009, o Banco Mundial prevê que serão atirados ao desemprego, na América Latina, 6 milhões de pessoas. O diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que “O FMI prevê um crescimento mundial abaixo de zero para este ano, o pior resultado na maior parte de nossasvidas”. O Banco Mundial (BIRD) também prevê que, este ano, a economia mundial se contrairá pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Depois da Hungria e da Letônia agora a Romênia apela à União Européia pedindo ajuda para suportar a crise. O Banco da Inglaterra, por seu lado teme que o Reino Unido entre em uma grave depressão com a paralisação da economia.
As estimativas globais que surgem são preocupantes. Um relatório do Banco de Desenvolvimento da Ásia (BDA), preparado por Cláudio Loser, ex-diretor do FMI, estimou que o mundo perdeu, em 2008, US$ 50 trilhões, o equivalente a um PIB mundial. A Ásia, excluindo o Japão, perdeu US$ 9,6 trilhões e a América Latina, US$ 2.1 trilhões. As bolsas de todo o mundo perderam US$ 28,7 trilhões. Até os coitados dos bilionários perderam 45% da sua fortuna, ou seja, US$ 2 trilhões, o equivalente a um PIB da Itália.
Como as estimativas anteriores eram de que o dinheiro fictício mundial representava 5 vezes a riqueza material produzida no planeta, para que a crise complete a sua nobre função saneadora torna-se necessário ainda a destruição de mais cerca de US$ 200 trilhões. Isto se os BCs do mundo o permitirem. Caso contrário, a recuperação vai arrastar-se lentamente e será necessária uma crise complementar para concluir o saneamento. Estas são as nossas previsões.
E, por enquanto, continuamos em direção ao fundo do poço. Só não vê quem é teoricamente cego ou charlatão que prepara relatórios por encomenda para servir aos interesses de partidos, políticos ou governos.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)
Arquivo para download em formato pdf.
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Como as estimativas anteriores eram de que o dinheiro fictício mundial representava 5 vezes a riqueza material produzida no planeta, para que a crise complete a sua nobre função saneadora torna-se necessário ainda a destruição de mais cerca de US$ 200 trilhões. Isto se os BCs do mundo o permitirem. Caso contrário, a recuperação vai arrastar-se lentamente e será necessária uma crise complementar para concluir o saneamento. Estas são as nossas previsões.
E, por enquanto, continuamos em direção ao fundo do poço. Só não vê quem é teoricamente cego ou charlatão que prepara relatórios por encomenda para servir aos interesses de partidos, políticos ou governos.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)
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