Semana de 05 a 11 de outubro de 2009
A previsão que fizemos acerca da recuperação da economia vai cada vez mais sendo confirmada. Podemos afirmar que a fase de crise do ciclo econômico já foi ultrapassada e estamos em plena fase de depressão. Como se sabe, o ciclo econômico é composto por quatro fases: crise, depressão, reanimação e auge. Com certeza, dentro de algum tempo, passaremos para a fase de reanimação, mas, segundo nossa opinião, ela ainda não começou. Talvez já tenhamos ultrapassado o fundo do poço, mas isso não significa que tenhamos entrado na fase seguinte. Os dados que surgem confirmam estas previsões.
O mercado já alterou suas estimativas para o crescimento do PIB, no ano, sugerindo o número muito preciso de 0,001%. Há informações sobre alguma recuperação da produção do setor de máquinas e equipamentos, mas os analistas atribuem isto a necessidade de reposição de equipamentos. Segundo Thaís Marzola Zara, economista sócia da Rosemberg & Associados, o fato se deve à “reposição de peças”. “A retomada de investimentos deve ocorrer mesmo em 2010.” Para Mário Bernardini, diretor de economia da Abimaq entidade que representa a indústria de máquinas, o movimento “está longe do que pode ser considerado uma retomada”. A indústria de bens de consumo duráveis também dá alguns sinais positivos, apoiada pela redução do IPI que o governo já pensa em prorrogar.
Classes e gêneros de indústrias selecionados - Set. 09
Variação acumulada no ano(*)
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Indicadores conjunturais do setor de bens de capital - Set. 09(*)
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Com efeito, a recuperação é observada nos estados ligados à produção de automóveis e eletrodomésticos. No setor exportador, a Vale tem se mostrado otimista com o volume de suas vendas. No mês de setembro, em comparação com agosto, as exportações de aços planos aumentaram 69,5%, e as de fio-máquina, 36,6%. As exportações de celulares cresceram 32% e, no total, o volume de produtos manufaturados teve um aumento de 10,3% em setembro, em relação a agosto, embora ainda esteja 30,5% abaixo dos valores de setembro do ano passado.
No resto do mundo, a situação segue no mesmo ritmo. Os indicadores publicados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) mostram que a retomada do setor produtivo é lenta e difícil. Na zona do euro, apenas a Itália e a França vêm apresentando uma recuperação mais forte. Nos EUA, a situação ainda é preocupante. Não há sinais de recuperação do volume de crédito para os consumidores. Em julho, por exemplo, a queda do crédito atingiu uma taxa anualizada de 10,4%, a maior desde o começo da crise. A Delphi, a maior fabricante de autopeças americana, conseguiu sair da concordata em que se encontrava, mas teve de encerrar 21 das 29 fábricas que possuía, cortar 50% da mão de obra empregada e 40% dos trabalhadores administrativos. O desemprego subiu para 9,8%, a maior taxa desde 1983. Além disso, os pacotes de ajuda às empresas falidas estão contribuindo para atingir o recorde do déficit público federal, que é de US$ 1,6 trilhão. Em relação aos outros países capitalistas desenvolvidos, o desemprego é também o problema para o qual não se encontra solução, e o máximo que se tem conseguido é uma certa estabilização.
Brasil e países selecionados: variação da produção industrial
Variação no mês em relação ao mês anterior - com ajuste sazonal - %(*)
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Brasil e países selecionados: produção da indústria de transformação
Variação em relação ao mesmo período do ano anterior(*)
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Fonte: IBGE-PIM (Brasil) e OCDE - Main Economic Indicator, disponível em http://www.iedi.org.br
Ao que parece, todo o berreiro dos dirigentes mundiais nas diversas reuniões para encontrar uma saída para a situação não se está transformando em medidas práticas minimamente credíveis, o que tem provocado protestos e desabafos. Em Istambul, por ocasião da reunião do FMI e do Banco Mundial, o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz propôs a criação de um imposto sobre transações financeiras para cobrir os danos causados aos países pobres, “vítimas inocentes”, culpando o setor financeiro pela catástrofe. Segundo ele, “o setor financeiro contaminou a economia global com ativos podres e agora precisa limpa-la”. Ele lembrou que, no começo do ano, em uma hora, Washington aprovou uma ajuda, aos banqueiros, de US$ 700 bilhões, o equivalente a toda ajuda externa global, de uma década, aos países atrasados, o que invalida o argumento de que não há dinheiro para o desenvolvimento.
Diante da situação de indefinição geral, causou impacto a notícia de que o banco central da Austrália subiu suas taxas de juros para 3,25%, com um aumento de 0,25%. A repercussão foi imediata nas bolsas de valores e mercadorias, provocando o nervosismo do sobe e desce.
No Brasil, a notícia também teve repercussões. Enquanto o presidente do Banco Central, HenriqueMeirelles, prepara aceleradamente a sua sucessão, na iminência de sua candidatura nas próximas eleições,procura garantir as bases que permitam a continuação da política de taxas de juros altas, por ele defendida.Diferentemente do que se poderia pensar, a escolha não é feita pelo presidente da República, mas por ele.Os jornais já especulam com o nome do diretor de normas, Alexandre Tombini, como o possível sucessor.Em relação a política monetária do banco, temos que a análise do último boletim do BC deixa insinuações de elevação da Selic para o próximo ano, além de fazer críticas às medidas tomadas pelo governo de aumento dos gastos públicos. O nervosismo do Meirelles provocou a desconfiança do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Aterrorizado com a possibilidade de elevação da Selic, apressou-se a afirmar que a economia não está aquecida e o crescimento no próximo ano não ultrapassará os 5%. Também presente na reunião do FMI de Istambul, continuou a contar bravatas sobre o empréstimo de US$ 10 bilhões que o Brasil fará a essa instituição, empréstimo que renderá juros de 0,25% ao ano. O negócio feito pelo BC é um pouco mais “inteligente”, pois, na atual situação, os dólares das reservas ou nada rendem, ou têm rendimentos próximos de zero, que são os juros pagos pelos títulos do tesouro dos EUA, onde eles estão aplicados. Não disse, porém, uma única palavra sobre a dívida pública interna, que já bateu todos os recordes.
Para tornar mais complicada a situação do país, a semana assistiu ao disparo do real, frente às principais moedas. No ano, a moeda nacional já se valorizou 34,42% em relação ao dólar, 29,10%, em relação ao euro, 49,35% em relação ao peso argentino e 33,73% em relação ao iene. Embora isto represente um sinal positivo para a economia, traz péssimas conseqüências para o setor exportador de produtos industrializados, que já se encontra em grandes dificuldades. Com certeza, teremos grandes novidades nos próximos meses de um ano pré-eleitoral.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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