Semana de 22 a 28 de março de 2010
Em análises anteriores, estivemos acompanhando o surgimento de forças capazes de gerar uma crise complementar que, mesmo sendo deflagrada na Zona do Euro, afetaria todo o mundo, com diferenças de intensidade nos impactos causados em cada país. Até agora, entretanto, não surgiu o agente deflagrador do “novo mergulho”, o que não significa dizer que a situação de instabilidade foi ultrapassada.
A situação da Grécia continua má, com os agentes dos mercados de títulos perdendo gradualmente a confiança no país. Isto por que ela tem pouco tempo e muitos recursos para captar: € 11 bilhões até o fim de abril, para financiar dívidas vencidas e o déficit orçamentário. Neste cenário, o banco central grego prevê uma retração de 2% de seu Produto Interno Bruto este ano, mesmo nível de retração que se prevê para 2009. Tudo isto acabou refletindo, na bolsa de valores do país, que caiu 3% na segunda-feira passada.
Na Itália, por sua vez, a situação também preocupa. A Fiat, por exemplo, planeja demitir mais do que o esperado, eliminando 5 mil postos de trabalho no país, segundo a imprensa italiana. Além disso, o Banco da Itália estima que as autoridades locais possam estar expostas a perdas de € 1 bilhão em virtude de fraudes na emissão de derivativos complexos. Tal situação da economia italiana não é nada animadora, sabendo-se que sua razão Dívida/PIB é estimada em 116,9% pelo seu Ministério das Finanças. Ou seja, nem todo Produto Interno Bruto anual deste país é suficiente para o pagamento de suas dívidas.
Todavia, apesar de tudo o que foi exposto, como já dissemos, a crise complementar não foi deflagrada. E, sem esta restrição externa, o caminho da recuperação está livre para a economia brasileira. Com isto, os sinais desta recuperação, para a qual o país já se encaminhava, tornam-se cada vez mais claros.
Em janeiro deste ano, o crédito na economia brasileira teve uma expansão de 16,8% em relação a janeiro do ano passado. Em destaque está o crédito para pessoa física. Para se ter uma idéia, no Banco do Brasil, por exemplo, esta linha de crédito foi elevada em R$ 8,2 bilhões para atender à procura, que já atingiu os níveis do período pré-crise. Corroborando com o estímulo do crédito ao consumo, as taxas de juros para o consumidor atingiram o menor patamar desde o início da série histórica em 1994, 41,9% ao ano. Neste cenário, o Banco Central do Brasil prevê um crescimento de 18% do crédito este ano, sendo puxado por um crescimento de 21% do crédito à pessoa física.
No cenário produtivo, o consumo de energia da indústria, em fevereiro, cresceu 14,4% em relação ao mesmo mês do ano passado, atingindo um consumo de 14,438 GW/h, patamar de consumo do período pré-crise. Em virtude da recuperação da atividade econômica nos últimos meses, os pedidos de seguro desemprego caíram 33%, de agosto de 2009 a janeiro deste ano, mostrando que as demissões estão reduzindo seu ritmo. Não é a toa que, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional das Indústrias, CNI, o medo de perder o emprego por parte dos brasileiros teve queda de 4,1%, no primeiro trimestre do ano, em comparação com o último do ano anterior.
Ao que tudo indica, portanto, estão se preparando as condições necessárias para a retomada dos investimentos. Confirmando esta idéia, uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira pela Fundação Getúlio Vargas, FGV, mostra que o setor industrial planeja investimentos, contratações e reorganizações produtivas capazes de ampliar seu potencial produtivo em 14,6%, em média, tratando-se do maior percentual apurado nos últimos anos, segundo a instituição.
Concluímos, em virtude disto, que a retomada de confiança do setor financeiro, o aumento da produção e o vislumbre do início da retomada dos investimentos da economia brasileira indicam que o ciclo econômico desta economia encontra-se, atualmente, no limiar que divide a fase de depressão da fase de reanimação. Só a concretização dos planos de investimento poderá nos dar a certeza desta transição. Contudo, chamamos a atenção para o fato de que não só é possível que o aparecimento de um agente deflagrador de um novo mergulho deforme a fase de reanimação do ciclo econômico brasileiro, como também é possível o impedimento da transição, embora a probabilidade de ocorrência deste último seja, ao nosso ver, bastante reduzida.
Texto escrito por:
A situação da Grécia continua má, com os agentes dos mercados de títulos perdendo gradualmente a confiança no país. Isto por que ela tem pouco tempo e muitos recursos para captar: € 11 bilhões até o fim de abril, para financiar dívidas vencidas e o déficit orçamentário. Neste cenário, o banco central grego prevê uma retração de 2% de seu Produto Interno Bruto este ano, mesmo nível de retração que se prevê para 2009. Tudo isto acabou refletindo, na bolsa de valores do país, que caiu 3% na segunda-feira passada.
Na Itália, por sua vez, a situação também preocupa. A Fiat, por exemplo, planeja demitir mais do que o esperado, eliminando 5 mil postos de trabalho no país, segundo a imprensa italiana. Além disso, o Banco da Itália estima que as autoridades locais possam estar expostas a perdas de € 1 bilhão em virtude de fraudes na emissão de derivativos complexos. Tal situação da economia italiana não é nada animadora, sabendo-se que sua razão Dívida/PIB é estimada em 116,9% pelo seu Ministério das Finanças. Ou seja, nem todo Produto Interno Bruto anual deste país é suficiente para o pagamento de suas dívidas.
Todavia, apesar de tudo o que foi exposto, como já dissemos, a crise complementar não foi deflagrada. E, sem esta restrição externa, o caminho da recuperação está livre para a economia brasileira. Com isto, os sinais desta recuperação, para a qual o país já se encaminhava, tornam-se cada vez mais claros.
Em janeiro deste ano, o crédito na economia brasileira teve uma expansão de 16,8% em relação a janeiro do ano passado. Em destaque está o crédito para pessoa física. Para se ter uma idéia, no Banco do Brasil, por exemplo, esta linha de crédito foi elevada em R$ 8,2 bilhões para atender à procura, que já atingiu os níveis do período pré-crise. Corroborando com o estímulo do crédito ao consumo, as taxas de juros para o consumidor atingiram o menor patamar desde o início da série histórica em 1994, 41,9% ao ano. Neste cenário, o Banco Central do Brasil prevê um crescimento de 18% do crédito este ano, sendo puxado por um crescimento de 21% do crédito à pessoa física.
No cenário produtivo, o consumo de energia da indústria, em fevereiro, cresceu 14,4% em relação ao mesmo mês do ano passado, atingindo um consumo de 14,438 GW/h, patamar de consumo do período pré-crise. Em virtude da recuperação da atividade econômica nos últimos meses, os pedidos de seguro desemprego caíram 33%, de agosto de 2009 a janeiro deste ano, mostrando que as demissões estão reduzindo seu ritmo. Não é a toa que, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional das Indústrias, CNI, o medo de perder o emprego por parte dos brasileiros teve queda de 4,1%, no primeiro trimestre do ano, em comparação com o último do ano anterior.
Ao que tudo indica, portanto, estão se preparando as condições necessárias para a retomada dos investimentos. Confirmando esta idéia, uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira pela Fundação Getúlio Vargas, FGV, mostra que o setor industrial planeja investimentos, contratações e reorganizações produtivas capazes de ampliar seu potencial produtivo em 14,6%, em média, tratando-se do maior percentual apurado nos últimos anos, segundo a instituição.
Concluímos, em virtude disto, que a retomada de confiança do setor financeiro, o aumento da produção e o vislumbre do início da retomada dos investimentos da economia brasileira indicam que o ciclo econômico desta economia encontra-se, atualmente, no limiar que divide a fase de depressão da fase de reanimação. Só a concretização dos planos de investimento poderá nos dar a certeza desta transição. Contudo, chamamos a atenção para o fato de que não só é possível que o aparecimento de um agente deflagrador de um novo mergulho deforme a fase de reanimação do ciclo econômico brasileiro, como também é possível o impedimento da transição, embora a probabilidade de ocorrência deste último seja, ao nosso ver, bastante reduzida.
Texto escrito por:
Antonio Carneiro de Almeida Júnior: Economista, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR, PPGDE/UFPR, e pesquisador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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