domingo, 25 de abril de 2010

Será?

Semana de 12 a 18 de abril de 2010


Caro leitor, os números não mentem. O país está se recuperando da crise. A taxa de desemprego já é menor do que no pré-crise (7,1%), a produção industrial atingiu um índice de 126,57 pontos (2002=100) e as vendas no varejo alcançaram 167,36 pontos (2003=100).Dados como estes fazem analistas acreditarem que a economia crescerá em torno de 2%, do último trimestre de 2009, para o primeiro trimestre de 2010, o que corresponderia a uma taxa anualizada de 8,4%. Há quem diga, como o economista chefe da consultora Convenção, Fernando Monteiro, que o PIB vai crescer 7,1%. Já o economista chefe do J. P. Morgan, Fábio Akira, argumenta que, se confirmada essa variação positiva de 2%, o crescimento será de 6,5%. Este é o teto previsto pelo IPEA, que aponta como piso o mesmo valor, o que é também referendado pelo projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias. Um dos diretores do IPEA, João Sicsú, afirmou que o consumo das famílias e o aumento do emprego, da renda e do crédito servirão como motor deste crescimento. Sicsú apresentou esta previsão ao justificar o erro de previsão cometido pelo Instituto, em 2009, quando previu uma taxa de crescimento do PIB entre 0,2% e 1,2%. Na verdade esta taxa mostrou um decrescimento de -0,2%).
Tudo isso é reflexo das condições de produção e circulação dos produtos no mercado interno, visto que neste ano o saldo comercial já é 65,7% menor do que no ano passado. A média diária de exportações e importações, entre janeiro e abril de 2010, ante o mesmo período de 2009, cresceu 25,4% e 38,1%, respectivamente.
Apesar do fim da redução do IPI, o levantamento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica afirma que 82% das empresas aumentaram suas vendas e o número de empregos atingiu 165,2 mil postos (nível pré-crise). A expectativa é de que o crescimento seja 11% maior do que o de 2009. Já a Associação Nacional dos Fabricantes de Eletroeletrônicos prevê que, mesmo com o fim do estímulo fiscal, ocorrerá um crescimento de 20% de encomendas no varejo, sendo que na linha branca esse aumento será de 25%, no primeiro trimestre de 2010, quando comparado com 2009. Já o Instituto Nacional de Distribuição de Aço, registrou um crescimento de 34% nas vendas de aço plano, no primeiro trimestre de 2010, quando comparado com o mesmo período de 2009. No setor têxtil a aposta é de crescimento de 4% a 5% em 2010.
Em conjunto com isso temos o aumento do número de horas pagas na indústria, que cresceu 1,5%, entre fevereiro e janeiro de 2010. No bimestre a alta foi de 0,7%. Isto denota que, antes de investir em expansão da capacidade produtiva, os empresários preferem aumentar a jornada, diante das perspectivas incertas quanto à robustez da atual recuperação. A Fiat, por exemplo, bateu o recorde de vendas de automóveis no início deste ano, com um total de 167,5 mil veículos, ante a cifra de 155 mil, em 2008. Mas, a produção da montadora até aqui ficou longe dos 190,3 mil carros produzidos em 2008, com um total de 171,8 mil em 2010. Isso é atribuído à antecipação do consumo, causada pelo IPI zero. "Para diminuir o uso de horas extras, que chegou a 52 horas semanais, segundo avaliação do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, a Fiat fechou no mês passado um acordo para admitir mil empregados definitivos até o fim de maio" (Valor Econômico, 13/04/2010).
O que dizem alguns é que esta cautela tem fundamento. O National Bureau of Economic Analysis (NBER), responsável pela datação do ciclo econômico norte americano, afirma que é muito cedo para comemorar o fim da depressão naquele país. Para ele "embora muitos indicadores tenham melhorado, ... seria prematuro afirmar que os dados já chegaram ao fundo do poço". O NBER define recessão como "uma redução significativa na atividade econômica por um período sustentável. O declínio seria visível no PIB, no mercado de trabalho, na produção industrial, no comércio e nos salários". São visíveis os motivos dessa preocupação: a economia conseguirá andar sem segurar a mão do governo? Lembremos que o BNDES aumentou em 37% o desembolso de recursos, atingindo R$25,497 bilhões, sendo que destes, R$9,9 bilhões (40%) foram para a infraestrutura (PAC) e R$7,7 bilhões para a indústria (30%).
Diante dos fatos, o que dizer da superação da crise? Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que tudo isso é fogo de palha?
Nos próximos meses saberemos as respostas.


Texto escrito por:

Lucas Milanez de Lima Almeida: Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB, Mestrando em Economia pelo CME-UFPB e membro do Progeb.
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