Afinal, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou oficialmente a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em 2010: 7,5%. É um crescimento notável que não se via há muitos anos. De tão extraordinário, a presidenta Dilma não conteve a exclamação: é um “PIBÃO”. Comemoremos, pois, o grande feito já previsto e comentado antecipadamente nesta coluna, em análises anteriores. O ministro Mantega está de parabéns.
O que parece paradoxal é que em vez de exultar, o governo arranca os cabelos e anuncia medidas para conter o crescimento considerado insustentável. O governo Lula, atendendo aos anseios populares, no justo empenho em combater a pobreza, distribuiu renda, elevou os salários, em particular o mínimo, estimulou o consumo, aumentou o crédito, reduziu os impostos, etc. Conseguiu o que pretendia: o consumo das famílias cresceu 7% em todo o ano, em relação a 2009, número inferior ao do crescimento da indústria que foi de 10,1%. Mas, o resultado em vez de ser comemorado, provocou uma onda de fúria recessiva. O país não pode crescer neste ritmo. Segundo o ministro Mantega, estamos “visando o ajuste anticíclico da economia. É para desacelerar a economia sem derrubá-la. É sair de um patamar de 7,5% de crescimento para 5%.” Isto é, crescer a 7,5% a China pode, a Índia pode, até a Rússia pode, mas o Brasil, não.
É preciso frear o crescimento, conter o consumo, reduzir os investimentos e a produção. As armas já estão preparadas e testadas. Elas compõem a santíssima trindade da política econômica: juros, medidas macroprudenciais, redução de gastos públicos. O Conselho de Política Monetária (Copom) deu sua contribuição aumentando os juros básicos em 0,5%, como era previsível, fixando a taxa Selic em 11,75%. Além de tomar uma decisão por unanimidade, o Copom deixou claro que outras elevações se seguirão. As medidas macroprudenciais já estão em pleno vigor, e há quem estime que o seu efeito corresponde a uma elevação dos juros de 0,75%, o que, do ponto de vista de um aperto monetário, equivaleria a uma Selic de 12,5%. O ministro Mantega já começou a dar indicações de onde e como vai cortar os R$ 50 bilhões das despesas. Até o programa “Minha Casa Minha Vida” será atingido com uma perda de R$ 5,1 bilhões.
Já se comenta que toda esta bateria de medidas está surtindo efeito. No quarto trimestre de 2010, a economia desacelerava e não acompanhava o consumo das famílias. Estimam os analistas que este ritmo aproximava-se dos 3%. O PIB da indústria de transformação caiu 0,4%. A demanda doméstica foi atendida pelas importações que cresceram 3,9%. Mesmo quando consideramos os dados para todo o ano, a situação não parece melhorar, já que, para o crescimento de 10,1% da indústria, a maior contribuição foi dada por setores industriais como o setor extrativo, que cresceu 15,7% (graças às exportações), e a construção civil, que cresceu 11,6%, (graças à ajuda do governo para ganhar as eleições). O segmento de transformação contribuiu apenas com 9,7%.
Embora a desaceleração já esteja sendo sentida e, para 2011, alguns economistas estejam corrigindo as estimativas, dos 5% desejados, para 4% ou mesmo 3,7%, o pânico continua e é causado pelo velho fantasma: a inflação. O fenômeno preocupa o mundo e é considerado global, chamando a atenção do Banco Central Europeu, que também se prepara para o aumento dos juros. No Brasil, neste momento, o centro da meta de 4,5% já está perdido e a luta deslocou-se para o extremo de 6,5%, que é o teto. E as notícias não são muito boas. A começar com os preços administrados, que insensatamente o próprio governo aumenta, e pelas perspectivas do exterior que apontam para a manutenção do crescimento dos preços das commodities. Isto se a crise dos países árabes não estourar com o preço do petróleo. Caso isto ocorra, será um Deus nos acuda. Neste clima de terror, o arrocho vai prosseguir e as famílias serão impedidas de consumir. Este é o preço a pagar pelos 7,5% eleitoreiros.
Assim, com Mantega ou sem Mantega, neste ano de 2011, a poupança do povo brasileiro terá de sofrer as conseqüências do PIBÃO do presidente Lula em seu último ano de governo.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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