Ainda continuamos vivendo sob o impacto dos bons ventos que sopraram em 2010, em boa parte estimulados pela política econômica do governo Lula, para ganhar a eleição. As estimativas continuam a ser divulgadas enquanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não apresenta os dados oficiais. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é estimado em 7,8% pelo Índice do Banco Central (BC), embora ele próprio trabalhe com uma taxa mais modesta de 7,3%. A maior parte dos analistas sugere taxas em torno dos 7,5%. Estes valores, considerados muito elevados quando comparados com o resto do mundo (excetuando-se Índia e China), são secundados por notícias sobre a redução da pobreza e do desemprego, sobre a elevação dos salários e melhoria na distribuição de renda.
Mas, conforme havíamos previsto, a fatura da orgia seria paga em 2011, o que já está acontecendo, ou seja, mais uma vez confirma-se a teoria do “ciclo político”. Aperto no início do governo e esbanjamento no final, para ganhar as eleições, confiando na ingenuidade e na fraqueza da memória do povão. A grande desculpa foi a necessidade de melhorar as condições de consumo das camadas mais desfavorecidas da população.
Ganhas as eleições e empossado o novo governo, a conversa mudou. A equipe econômica do governo Dilma desespera-se agora para reverter o quadro. É preciso conter o consumo, reduzir os gastos do governo, deter os investimentos, comprimir os salários, etc. As medidas recessivas se sucedem como sempre sob a batuta do BC, agora com o presidente Tombini ameaçando com a “trombada” dos juros, que já subiram para 11,25% ao ano. E isto, reforçado pelas medidas “macroprudenciais”: recolhimento compulsório (que já retirou R$ 65 bilhões do mercado), exigências de capital adicional para financiamentos com mais de 24 meses (que já fez as taxas de juros do crédito pessoal subirem, de 40,3% para 49,3% ao ano, na última semana de janeiro, provocando a queda de 19% na média diária dos novos financiamentos. No setor de automóveis, as taxas de juros subiram entre 4% a 5%, e a média diária de créditos concedidos caiu 45% para os bancos comerciais e 35% para os bancos das montadoras.
As notícias sobre a desaceleração da economia espalham-se por todo o lado. O próprio ministro da fazenda, Guido Mantega, sempre muito otimista, estima que a desaceleração fará a taxa de crescimento do PIB cair para 5%. Muitos analistas do mercado reduzem este número para 4,5% e, cada vez mais, os rumores afirmam que este valor terá de ser corrigido para baixo. Como já dissemos anteriormente, a saída da crise, no Brasil, está se configurando como uma saída em W.
Ainda não satisfeito com a situação, o governo resolveu dar mais uma contribuição ordenando um corte de R$ 50 bilhões no orçamento já aprovado. Como explicar tamanha incoerência? Tomam-se medidas para aumentar os níveis de consumo da população e agora se usam todos os meios para impedir este consumo. Quais seriam as razões para explicar tal insensatez? Por incrível que possa parecer a razão é uma só: o medo do fantasma da inflação. Na verdade, a inflação é um monstro que ninguém quer encontrar no seu caminho. Em relação a isto, há unanimidade. As divergências surgem quando tentamos caracterizar, descrever, explicar o fenômeno e desvendar as suas causas, passo necessário para que o combate tenha sucesso. É aí que o bicho pega. A equipe do governo, contaminada pela ideologia dominante na teoria econômica, transformou em lei absoluta e eterna a formulação primária de que a inflação é provocada pelo excesso de procura em relação à oferta. Tomando isto como verdade eterna, desencadeiam todos os mecanismos possíveis para conter, comprimir, esmagar o consumo, quer seja das pessoas, do estado ou das empresas. Esta aberração teórica está por traz da ação do governo Dilma e o inspira.
Preparemo-nos, pois o arrocho chegou. E com o agravante de ter que enfrentar simultaneamente a enxurrada dos dólares especulativos internacionais, com a consequente valorização do real que vem impossibilitando a indústria nacional de exportar e levando o país a um processo de desindustrialização acelerado que urge deter.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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