quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Economista não engana capitalista


Semana de 03 a 09 de dezembro de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Aproxima-se o fim do ano e os dados confirmam, mais uma vez, o grotesco erro do ministro Mantega. O Produto Interno Bruto (PIB) do país, que, segundo ele, deveria ter um crescimento de 4,5%, agora está sendo estimado em 1% ou menos. Os cálculos baseiam-se no desastroso terceiro trimestre do ano, que mostrou um crescimento de apenas 0,6%, em comparação com o trimestre anterior. No acumulado de janeiro a setembro, a taxa de crescimento foi de 0,7%, em comparação com o ano anterior. Diante dos dados de outubro e novembro, as perspectivas para 2012 são péssimas.
            E o pior não é isto. Do setor industrial, quem anda salvando a paróquia são os setores extrativos (que exportam as commodities), e o de automóveis, beneficiado pelos grandes estímulos concedidos pelo governo.
            Quando analisamos os investimentos e a indústria de máquinas (bens de capital), o quadro é desolador. Em outubro, a indústria de bens de capital teve a terceira queda consecutiva. Preocupada com a situação, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) preparou um documento “101 Propostas para Modernização Trabalhista”, entregue ao governo, onde se constata que a indústria de transformação, que, em 1985, respondia por 35,8% do PIB, em 2011, contribuiu com apenas 14,6%. A participação nas exportações, que era de 64,5%, foi reduzida para 36%, em 2011. Por outro lado, a situação dos investimentos continua preocupante, pois, em seis trimestres seguidos, eles vêm caindo.
            O debate continua se aquecendo na busca pelos culpados. Todos concordam que a situação internacional está na base de tudo. De fato, como temos demonstrado, a economia mundial se arrasta sem alternativa. O epicentro continua a ser a Europa, onde ninguém encontra uma saída e os prognósticos para uma possível recuperação foram empurrados para 2014. Para a zona do euro, espera-se uma contração de 0,5%, neste ano, e de 0,3%, em 2013, apesar da taxa básica de juros estar no nível mais baixo da história (0,75%).
            Os problemas não se limitam ao mundo desenvolvido. A inquietação social estende-se à Ásia. Em Bangladesh, um incêndio em uma indústria têxtil matou 112 operários, impedidos de fugir, pelos patrões, que fecharam as portas temendo roubo de produtos. O escândalo alertou o mundo para as condições desumanas de trabalho existentes nas empresas que operam sob encomendas de grandes multinacionais como a Wal-Mart, Sears Holdings Corp. e C&A. Como consequência do incêndio, os confrontos com a polícia envolveram 10.000 pessoas e obrigaram ao fechamento de 50 empresas. Na Tailândia, os protestos levaram ao aumento do salário mínimo em sete províncias. A Malásia está sendo obrigada a implementar o seu sistema de salário mínimo em janeiro do próximo ano e em Singapura, que teve a sua primeira greve em 26 anos, os aumentos salariais já inviabilizaram a produção de várias empresas. Na Indonésia, as pressões por aumento salariais provocam o temor da fuga dos investimentos que haviam sido atraídos pelas vantagens da mão de obra barata. Na China, a inquietação social está levando o governo a adotar medidas para melhorar a distribuição de renda interna nas cidades e mesmo no campo com a proibição do confisco de terras pelas autoridades locais, sem indenização aos agricultores.
            No Brasil, o nervosismo aumenta no mercado. A queda dos juros faz cair os lucros dos bancos e o preço das ações. Reduz também a remessa de capitais para as filiais das multinacionais no país, sob a forma de empréstimos, manobra usada para fugir do IOF cobrado sobre operações financeiras de curto prazo.
            Os temores do governo aumentam e novas medidas de estímulo são adotadas. A desoneração das folhas de pagamento é estendida para a construção civil, a TJLP é reduzida de 5,5% para 5,0% e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) foi prorrogado até 2013. A gravidade da situação faz surgir novos comentários sobre possíveis cortes da Selic até o nível de 6,5%.
            O governo está fazendo o impossível para provocar o “instinto animal” dos capitalistas a fim de retomar o crescimento. Conseguirá?


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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