Semana de 10 a 16 de dezembro de 2012
Lucas Milanez de Lima Almeida[i]
Ao longo dos últimos meses, as notícias do cenário econômico não são muito promissoras. A crise continua a assolar a economia global. As medidas contra cíclicas já esgotaram o vocabulário economês: medidas macroprudenciais, afrouxamentos monetários, operações de swaps cambias reversos, isenção fiscal e política expansionista, dentre muitos outros termos. Este consistente pirão, que já deixou de ser uma mera sopa de letrinhas, vem sendo utilizado para reanimar a enferma produção e distribuição capitalista da riqueza. Os mestres-cucas, que se reúnem bimestralmente para jantar num “edifício cilíndrico com vista para o rio Reno”, são mais de dez presidentes dos Bancos Centrais de países que, juntos, representam 75% do PIB mundial. Esta refeição, que chega a durar mais de 3 horas (a comilança dura muito mais), serve para eles discutirem as futuras ações contra a crise.
Mas a crise, apesar dos U$ 11 trilhões despejados no “mercado”, desde 2007, não acabou. Por incrível que pareça, nesta semana que passou, as “novas” notícias servem para diagnosticar o velho problema.
O Japão, por exemplo, que, em 15 anos, havia sofrido quatro recessões, entrou em sua 5ª, com o PIB decrescendo a uma taxa anualizada de 3,5%, no terceiro trimestre de 2012. Junta-se, portanto, aos PIGS. Por falar nisso, após a tarraxada dada pelo governo, a Grécia conseguiu reduzir em 40% seu déficit orçamentário, ou seja, dos 21,5 bilhões de euros que o país gastava a mais do que arrecadava, entre janeiro e novembro de 2011, agora, no mesmo período de 2012, o governo gasta “apenas” 12,9 bilhões a mais. A toda poderosa Alemanha, que é a maior exportadora da Europa, reduziu seu superávit comercial em 9,5%, no último mês de setembro. Na Zona do Euro, a produção industrial caiu 1,4%, entre setembro e outubro de 2012. Na União Europeia o número foi menos ruim: 1%.
Já na Itália, o que se aproxima são as eleições. O tecnocrata Mario Monti foi colocado como premiê há exatamente um ano. Na ocasião, prometeu curar as mazelas do país e deixar o poder assim que as coisas melhorassem. Não melhoraram tanto quanto queria, mas é hora de partir. Ou não? Até pouco tempo a intenção do atual primeiro-ministro era de sair do cargo após a votação do orçamento de 2013. O problema é que, talvez, ele se candidate ao pleito. O favorito nas pesquisas de intenção de votos é Luigi Bersani, da centro-esquerda. Ele já prometeu que irá manter o programa de austeridade e cumprir os acordos firmados por Monti. Além destes, pasmem, “corre por fora” aquele que tem todas as credenciais para ser um típico político brasileiro: Silvio Berlusconi.
Os EUA, por sua vez, ainda discutem o que eles chamam de abismo fiscal: aumentar os impostos (receitas) e reduzir os gastos (despesas) de maneira drástica a partir de janeiro de 2013. Republicanos e Democratas ainda não entraram num consenso, se irão manter, ou não, esta proposta.
Até os Tigres Asiáticos estão sofrendo. Diante da “reestruturação” que está sendo realizada pela empresa Avon, 1,5 mil funcionários, de todos os níveis hierárquicos, serão demitidos no mundo. Os mais prejudicados serão os da Coréia do Sul e do Vietnã, já que a empresa não tem mais planos de manter a produção nestes locais.
Por outro lado, a China tem dado sinais controversos. O fato isolado de que o superávit comercial deste país tenha recuado 39% poderia causar pânico. Mas, olhando outros elementos, podemos ver que a política econômica chinesa está se voltando para o mercado interno, como tentativa de melhorar a distribuição de renda. Os meios para chegar a tal é que não são muito claros. Graças à antiga estrutura rural e a nova estrutura urbana, por exemplo, o país incluiu na sua pauta de importações, produtos como milho, cevada, arroz e trigo, além da soja. O novo premiê já começou a falar em abertura comercial, que, dependendo de como seja feita, pode acabar com boa parte da produção interna. O fato é que, em novembro de 2012, a produção industrial do país teve seu maior crescimento desde março.
Até aqui tudo igual. A novidade, não tão nova assim, vem do Brasil. Primeiro, a aparente mudança na política econômica, que deverá dar mais prioridade ao setor produtivo do que ao financeiro. Segundo, o mal estar latente nos setores menos beneficiados pelos programas do governo. E, por fim, a redução dos dias de férias coletivas dados por algumas empresas dos setores beneficiados pelos estímulos. Estes sinais, porém, ainda não podem confirmar a chegada de novos tempos ou apenas inflexões de uma conjuntura.
[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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