Semana de 20 a 26 de janeiro de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Estamos vivendo a ressaca do Fórum
Econômico Mundial em Davos na Suíça. As duas grandes questões que se destacaram
foram a desigualdade na distribuição da riqueza e os problemas ambientais. Para
ambos os temas o Brasil chegou com a mala vazia.
O fundador do Fórum, o alemão Klaus Schwab,
apresentou um novo manifesto, o “Manifesto de Davos 2020” em que propôs uma
reforma do capitalismo, pois o modelo atual não é mais sustentável. O novo
modelo deveria partir das premissas seguintes: pagamento justo dos impostos,
tolerância zero com a corrupção, proteção do meio ambiente, qualificação dos
empregados, uso ético das informações, vigilância dos direitos humanos,
remuneração responsável dos executivos. Tudo que o Brasil não faz. Para
aumentar a vergonha, o Brasil não se fez representar na sessão “Assegurar um
Futuro Sustentável para a Amazônia”.
Causou grande impacto o relatório da Oxfam,
rede de organizações não governamentais. O relatório mostrou que a desigualdade
está fora de controle. Apenas 2.153 bilionários possuem mais riqueza que 60% da
população mundial (4,5 bilhões de pessoas). 22 desses bilionários possuem mais
dinheiro que todas as mulheres da África
O Fundo Monetário Internacional (FMI)
também não foi otimista sobre a situação mundial. Reduziu todas as suas
previsões. A economia foi fraca em 2019 e continuará pelo menos até 2021. O
crescimento será inferior aos 3,6% registrados em 2018. As reduções foram: de
3% para 2,9%, em 2019; de 3,4% para 3,3% em 2020; de 3,6% para 3,4% em 2021.
Todos os ajustamentos foram negativos. O FMI classificou a situação como de
“estabilidade provisória e recuperação lenta”.
Estes dados confirmam as afirmações que
temos feito sobre a situação da economia mundial e como a recuperação da
economia interna não poderá contar com nenhum apoio externo.
Claro que esta situação econômica geral tem
consequências para o emprego e a situação dos trabalhadores. Coincidindo com o
início do Fórum, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou um
relatório com dados assustadores. O relatório constata que em 7 das 11 regiões
do mundo fracassaram as tentativas de conseguir um crescimento sustentável.
Como consequência, se espalharam as turbulências sociais. Por outro lado, a
proporção da renda do trabalho em relação à renda do capital caiu de 54%, em
2004, para 51%, em 2017. Para a OIT a “desigualdade é inaceitável e
insustentável”. No mundo há 180 milhões de desempregados, 165 milhões de
subempregados e 120 milhões marginalmente empregados. No total 470 milhões de
pessoas não conseguem trabalho digno. Além disso, 630 milhões de trabalhadores
vivem na pobreza extrema.
As más notícias não pararam por aí. A
consultoria Pricewaterhouse Copers (PwC) entrevistou 1.581 CEOs de 83 países e
divulgou seu termômetro do humor empresarial, o que faz sempre em Davos. A
percentagem dos CEOs que achavam que a economia mundial vai melhorar caiu de
42%, em 2019, para 22%, em 2020. Os que achavam que a economia vai piorar subiu
de 29% para 53% nos mesmos anos. Contribuindo para o pessimismo geral, a
diretora-gerente do FMI, Kristina Georgieva afirmou que os países devem ficar
com o dedo no gatilho para reagir a uma eventual desaceleração: “Estejam
preparados para agir”.
Este é o panorama mundial após Davos.
Enquanto isso, o nosso sinistro da economia
Guedes voltou de mãos abanando, mas confirmando a “desaceleração sincronizada
da economia mundial” e que a América Latina está estagnada. A preocupação do
presidente do Banco Central foi outra. Passou a admitir que mesmo os fluxos
financeiros estão se ligando aos problemas ambientais. Grandes investidores
internacionais começam a exigir dos países uma espécie de “selo ambiental”,
como por exemplo a gestora americana Black Rock. Mais essa: com desmatamento
não há investimento estrangeiro. Que tristeza!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).