Semana de 21 a 27 de junho de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
O
noticiário econômico da semana que passou foi bastante informativo. Por
exemplo, saiu o Relatório de Inflação do Banco Central. Nele, confirma-se que o
bicho papão que assusta o BC são as expectativas. Em outras palavras, o que faz
os juros subirem hoje é a promessa de que a inflação de hoje pode “criar”
inflação no futuro. Esta é a terceira semana seguida que falamos do tema. No
campo econômico isto é importante, pois a atuação da nossa autoridade monetária
independente revela muito sobre o que esperar dela no futuro.
No referido Relatório, alguns aspectos merecem
ser destacados. Há o entendimento de que a economia está quase bem. Chegamos ao
mesmo nível de produção de antes da Pandemia (fim de 2019). Mas ainda estamos
abaixo dos valores de 2014.
No
geral, os dados do PIB do primeiro trimestre de 2021 foram positivos: a
produção cresceu 1,2% em relação ao fim de 2020. Mas esses números ainda estão
bastante fracos. A Indústria cresceu apenas 0,7% e os Serviços, 0,4%. Pelo lado
dos gastos, tanto Famílias quanto o Governo reduziram seu Consumo (-0,1% e
-0,8%, respectivamente). Os Investimentos e as Importações foram inflados por
ajustes (manobras) contábeis. O único componente que ficou indiscutivelmente
bem foi o das Exportações. Graças às commodities as vendas externas cresceram
3,7%.
Para
além desses elementos, o Relatório aponta que outros aspectos fazem o BC
acreditar que o PIB do Brasil vá crescer 4,6% em 2021 (antes a previsão era de
3,6%). Os motivos são: a melhora da confiança dos agentes econômicos, a
promessa de que serão efetivadas políticas públicas de manutenção do emprego e
da renda e a promessa de que a vacinação no Brasil vai deslanchar. Deixo ao
caro leitor a dúvida: dá pra acreditar?
Outro
dado que é trazido no Relatório retrata a situação do mercado de força de
trabalho. A situação da população brasileira é crítica. Apesar da discrepância
nos dados, ainda não retornamos ao patamar pré-Pandemia. Na realidade, é
preciso que 8,9 milhões de pessoas voltem a trabalhar para que a ocupação total
retorne ao patamar do fim de 2019, quando tínhamos 94,6 milhões de
trabalhadores ocupados. Inclusive, segundo levantamento do Valor Data com 28
empresas, o desemprego no Brasil deve apresentar um recorde histórico em 2021.
Espera-se que 14,3% da força de trabalho esteja desocupada na média ao longo do
ano. Ou seja, estamos vendo uma recuperação da economia, mas sem uma
consistente inclusão dos trabalhadores nesse processo.
Um
fator considerado positivo no Relatório do BC é a situação fiscal brasileira
entre janeiro e abril de 2021. Se nos 12 meses do ano passado o governo
brasileiro gastou R$ 83 bilhões a mais do que arrecadou (apresentou déficit no
orçamento), nos 4 primeiros meses de 2021 o superávit (saldo positivo) no
orçamento foi de R$ 76 bilhões. Houve tanto aumento nas receitas quanto redução
nas despesas. Mas a previsão é que isto não se perpetue, já que muitos gastos
foram retidos no começo do ano (porque o orçamento demorou para ser aprovado) e
eles devem ser liberados até o fim do ano.
Por
fim, vem a inflação no Relatório do BC. Da variação de 2,08% acumulada entre
março e maio de 2021 no IPCA, mais da metade foi de responsabilidade dos preços
administrados. Desses, os que mais contribuíram para o aumento nos preços foram
produtos do petróleo, farmacêuticos e energia elétrica. Segundo o relatório,
houve uma “surpresa altista” gerada pelo preço das commodities. A redução no
câmbio não trouxe o resultado previsto de melhoria nos preços internos.
Diante
desses e de outros aspectos levantados no Relatório do BC, eles foram
enfáticos: mesmo que retarde o crescimento, mesmo que aumente o desemprego, o
Banco Central vai continuar com a atual política de elevação da Selic. E se as
expectativas piorarem, como eles mesmos disseram, o aperto será ainda maior.
Aguenta,
Brasil!
Ah, lembrando que 3 de julho vai ser maior...
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.