Semana 19 a 25 de
fevereiro de 2024
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As aves agourentas estão de crista baixa. O
Banco Central (BC) divulgou os números do IBC-Br, Indice de Atividade Econômica
do Banco Central, para o mês de dezembro, em relação a novembro, e para o ano
todo. Mas o que é o IBC-Br?
Todos sabemos o que é o Produto Interno
Bruto (PIB). Ele expressa a soma de tudo que foi produzido no país, ou seja, a
produção industrial, agrícola e os serviços. Apesar das reservas que temos a
este dado, devido à metodologia dos cálculos, ele é o melhor indicador do
estado da economia de um país e serve de comparação entre os países, pois esta
metodologia é utilizada por todos. No Brasil, temos um outro indicador, que
serve de prévia para o PIB: o IBC-Br, que é calculado pelo Banco Central.
Geralmente, há alguma diferença entre os dois indicadores, mas é sempre pequena
e por isso este último serve de indicador antecedente. Para desgosto das aves
agourentas, que previram o caos com o governo Lula, o IBC-Br, para dezembro,
mostrou uma alta de 0,8% e, para o ano de 2023, uma alta de 2,45%. Agora, as
consultorias começam a rever apressadamente suas estimativas. O Banco Inter,
por exemplo, alterou a sua de 2,9%, para 3,1%. O UBS BB, de 2,9% para 3,0%. O
mesmo tem ocorrido com as previsões para 2024. Para este ano, até o Instituto
Fiscal Independente (IFI), órgão do Senado Federal, reviu suas estimativas de
crescimento de 1,2% para 1,6%.
Por outro lado, o Boletim Macro da FGV-Ibre
mostra-se mais cauteloso. Afirma que o mercado está prevendo “um pouso suave e
relativamente rápido” atribuído ao processo de desinflação e ao cenário
externo. A FGV também se mostra preocupada com a meta de déficit zero para as
contas públicas, uma vez que a política fiscal tem sido “expansionista” e este
ano é ano de eleição. Fala ainda em “cenário desafiador” e prevê um
enfraquecimento generalizado da atividade econômica. No entanto, no comércio o
número de estabelecimentos cresceu de 2,33 milhões para 2,52 milhões,
crescimento considerado modesto.
Como se explica este crescimento da
economia? Temos falado que estamos na fase de crise do ciclo econômico e que
isto dificulta os planos do governo de fazer o país crescer. É aqui que temos
de levar em consideração os efeitos da política econômica. A primeira coisa a
destacar é o funcionamento do Estado. Estamos passando de um funcionamento zero
para uma ação permanente dos órgãos do Estado. Isto significa mais compras,
mais pagamentos, mais atividades que lançam dinheiro na economia. Temos ainda a
queda dos juros, que facilita o crédito, e a queda da inadimplência. Os ritmos
da inflação igualmente estão se reduzindo. Lembremos ainda a PEC da transição,
que permitiu o início do governo e a cobertura dos rombos do orçamento deixados
pelo governo anterior. Há ainda um outro fator, que inicialmente era
considerado como desastre, mas agora mostra seu lado positivo: o não pagamento
dos precatórios, adiado pelo desgoverno anterior. R$92,4 bilhões deixaram de
ser pagos em 2023. Desse montante, o governo Lula resolveu pagar R$30,1 bilhões
logo agora em fevereiro. A questão é que este pagamento está fora dos limites
do teto de gastos e torna-se um forte estímulo, ao injetar este volume de
dinheiro na economia. Para irritar ainda mais a aves agourentas do bolsonarismo,
a arrecadação federal de impostos alcançou R$280 bilhões, em janeiro, o que
significa uma alta real de 6,6% em relação a igual mês de 2023. Este aumento é
atribuído à taxação dos fundos exclusivos, ao ajuste das declarações de IRPJ e
CSLL das empresas, ao aumento da massa salarial de 7,2%, que provocou um
aumento das receitas previdenciárias de 7%, e a alta do Imposto de Renda Retido
na Fonte (IRRF) de rendimentos do trabalho, que cresceu 8,7%.
Tudo isto são fatos que os mala-e-feios reunidos aos gritos histéricos na avenida Paulista não conseguem apagar. É lamentável que uma parcela da população ainda se deixe levar por esta histeria ideológica que, apesar de todo o barulho que consegue fazer, não está conseguindo impedir o país de continuar seu caminho para a frente.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Paola
Arruda e Valentine Moura.
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