Semana 18 a 24 de março
de 2024
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Continua ainda o berreiro com a
desvalorização da Petrobrás. Tudo é culpa do governo que está interferindo nas
antigas estatais, que foram privatizadas e transformadas em S.A. (s), com
maioria de ações nas mãos do Estado. É curioso que ninguém faz qualquer
referência a todas as S.A (s) do país quando seus sócios controladores tomam as
mais diferentes decisões. Todos sabem que o sócio controlador tem o direito de
mandar na empresa. Isto só causa aflição quando é o Estado o sócio controlador.
O Estado deve gerir as estatais em função dos sócios minoritários, para lhes
garantir o maior volume de dividendos possível. No momento, o descontentamento
do mercado estende-se a outras empresas. O tal “mercado” está nervoso.
Comenta-se que, dos 403 conselheiros a serem indicados para empresas estatais
de capital aberto e fechado, o governo deve indicar 320 nomes, ou seja, 79,4%.
Que horror! Apenas 72 conselheiros são indicados por acionistas minoritários e
preferenciais. Há 11 indicados por entidades e conselhos nacionais. Dos
conselheiros atuais, alguns foram indicados ainda pelo governo Bolsonaro.
Naqueles tempos ninguém protestou. Há cerca de 45 conselheiros indicados por
ministérios de governos anteriores e que ainda continuam nos cargos. Ao tentar
regularizar esta anomalia, o governo atual provoca agora o berreiro. Então, o
acionista majoritário não pode indicar os seus dirigentes de confiança?
Mas, na semana ocorreram outras notícias
desagradáveis, imediatamente transformadas em manchetes e repetidas pela mídia.
Foram divulgados os resultados de pesquisas sobre a aprovação do governo e,
para desalento, todas mostraram queda nas avaliações positivas e aumento nas
avaliações negativas. O fato curioso é que a queda das avaliações positivas se
dá quando, ao mesmo tempo, são divulgadas notícias positivas sobre a economia.
O PIB cresce, e as estimativas das diferentes consultorias são revisadas para
cima, o desemprego cai, aumenta o emprego com carteiras assinadas, os salários
elevam-se, as vendas no varejo aumentam, a arrecadação aumenta, a renda e o
consumo das famílias aumentam. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central (BC), em sua reunião da quarta feira, reduziu a taxa de referência
Selic, de 11,25% para 10,75%, prometendo só mais um corte de 0,5%, para a
próxima reunião. Esta foi a novidade no comunicado chamado de “forward
guidance”, que sinaliza os passos futuros. O Copom manteve ainda sua previsão
de inflação, para 2024, em 3,5%. Esta alteração nos termos do “guidance”
provocou várias reações de nervosismo na bolsa, com a desvalorização de ações e
papeis de empresas brasileiras, pela suspeita de que o Copom pode encerrar mais
cedo o ciclo de baixa da Selic.
Apesar deste ruido o Ministério da Fazenda,
no Boletim Macrofiscal, publicado pela secretaria de Política Econômica,
manteve sua estimativa de crescimento do PIB de 2,2%, para este ano, apontando
um viés de alta. Destacou ainda o aumento do crédito bancário e a redução da
inadimplência, bem como a recuperação da produção manufatureira e da
construção. O Boletim Focus apresentou a estimativa de 1,8% e destacou que
muitas consultorias já estimam em 2% e mesmo 2,5%. As publicações utilizaram os
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), obtidos na
Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e na Pesquisa Mensal dos Serviços (PMS).
Estes dados indicaram que, entre dezembro e janeiro, houve um crescimento, para
os setores, de 2,5% e 0,7%.
Estamos diante de um novo fenômeno a ser
explicado: a economia melhora, as pessoas vivem melhor, mas avaliam pior o
governo. O ministro Hadad é bem avaliado, mas o governo Lula não, como se o
ministro não pertencesse ao governo. Eis o resultado da internet, das redes
sociais e da mídia movidas por razões ideológicas.
Este é o desafio que temos que enfrentar. Como derrubar o paredão das fake News e das redes sociais que não param de alimentar as bolhas ideológicas manipuladas pela ignorância mais grotesca e pelo fanatismo religioso.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Colaboraram os pesquisadores: Paola Arruda, Dulce Emile, Brenda Tiburtino,
Maria Vitória Freitas e Lara Souza.
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