Semana de 21 a 27 de abril de 2025
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As guerras da Ucrânia e de Gaza estão
saindo das manchetes. Parece que o mundo já se acostumou com a matança e a
destruição. Tudo se reduz a números. São “x” mortos, “n” drones e mísseis
explodidos, “m” edifícios demolidos. Tudo normal. Não causa nenhum espanto ou
revolta. Na falta de melhor assunto, Trump passou a ocupar os espaços na mídia.
E não é sem razão. O irresponsável diabo ruivo continua com suas aventuras
tresloucadas. Primeiro age e depois verifica quais são as consequências. O tarifaço
está conseguindo alterar toda a economia mundial. A incerteza instalada é a principal
causa da paralisação dos negócios. Tornou-se impossível saber como ficará o
comércio, a demanda, os custos de produção, os preços, a produção, o que
acarreta a suspensão de qualquer investimento. O mundo fica à espera da próxima
canetada trumpista. Nada é previsível.
Para a nossa felicidade, a onda ainda não
chegou à nossa economia, mas já provoca grande nervosismo e serve de pretexto
para as aves agourentas iniciarem seu berreiro, e ressuscitarem suas propostas
reacionárias de reformas contra os pobres. O FMI, em seu relatório World
Economic Outlook (WEO), estima que crescimento do PIB no Brasil vai desacelerar
para 2%, neste ano, a mesma taxa prevista para a América Latina e Caribe. O
IGE, no seu Boletim Macro, estima um crescimento de 1,9%. A CNI reduziu suas
estimativas de 2,4% para 2,3%. Como se não bastassem as dificuldades externas,
a Confederação prevê, que o Banco Central (BC) elevará a Selic, atualmente em
14,25%, para 14,75%, até o final do ano. O crescimento real das concessões de
crédito, que no ano passado foi de 10,6%, cairá para 6,5%. O mercado de
trabalho terá uma expansão menor, e os investimentos, que no ano passado
cresceram 7,3%, crescerão apenas 2,8%. O crescimento do PIB, já vinha
desacelerando desde o 4º trimestre de 2024, com um crescimento de 0,2%. O menor
crescimento da demanda e o aumento das importações, graças ao tarifaço de Trump,
prejudicarão a produção da indústria nacional.
Uma notícia melhorou o humor geral e trouxe
algumas esperanças ao mercado. Nas reuniões de primavera do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), e em reuniões fechadas em
Washington, os discursos de diretores do BC causaram a impressão de que há uma
tendência para encerrar o ciclo de aperto monetário, ou seja, as decisões tenderiam
a ser mais “dovish” (suaves), se bem que, diante das incertezas, os movimentos
não podem ser bruscos. Apesar dessas esperanças, as expectativas gerais não são
boas e as consequências do tarifaço são aguardadas. No entanto o ministro
Haddad está otimista e afirmou que não há risco de recessão no Brasil.
Nos EUA, os custos da guerra comercial do
Trump começam a ser sentidos, no aumento das despesas, nas interrupções das
cadeias de suprimentos de matérias primas e componentes. Os CEOs de várias
empresas já começaram a calcular os prejuízos e pressionar o governo. E são
empresas de vários setores. No comércio Walmart e Target tiveram reuniões na
Casa Branca. Há protestos da Boeing, que perdeu a venda de aviões para a China,
da NextEra Energy, da fabricante de turbinas a gás GE Vernova, das empresas de
serviços petrolíferos Halliburton e Baker Hughes, das operadoras de
telecomunicações AT&T e Verizon, das farmacêuticas Boston Scientific e
Johnson & Johnson, da construtora PulteGroup, da aeroespacial e de defesa
RTX e GE Aerospace, para citar algumas.
Voltando ao Brasil e ao ambiente político,
as tensões têm aumentado, em torno do projeto da anistia aos golpistas. O PL,
partido do Bolsonaro, faz todo tipo de chantagem para que o projeto seja posto
em votação no plenário da Câmara, ameaçando iniciar um processo de obstrução
nas reuniões do parlamento e impedir a aprovação de qualquer projeto. Um
deputado do PL chegou mesmo a afirmar em discurso que, usaria a liberação das
emendas de bancada, apenas para os parlamentares que votassem favoravelmente à
anistia, ou seja, montou um balcão público de compra descarada de votos. O
desespero aumenta na tentativa de salvar o Bolsonaro das condenações, e anular
as decisões judiciais que o impedem de participar das próximas eleições.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os
pesquisadores: Antonio Queirós, Jessica Brito, Julia Dayane, Maria Julia
Alencar e Paola Arruda.
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