quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os Primeiros Reflexos da Crise no Brasil

Semana de 13 a 19 de outubro de 2008


Quando a tese do descolamento da economia brasileira, em relação à crise econômica internacional, ainda era amplamente defendida, já tínhamos alertado que o Brasil não escaparia ileso, nem estaria imune aos efeitos globais desta crise. Também já havíamos chamado a atenção para os primeiros reflexos da turbulência internacional, na economia brasileira, que agora, estão bem mais visíveis, começando a preocupar empresários e consumidores e fazendo até mesmo o presidente Lula mudar de opinião. Ele que, até poucos dias atrás, insistia em dizer que a crise era um problema dos Estados Unidos, cabendo, portanto, a eles resolvê-la, foi obrigado a reconhecer que “ela é tão profunda que nós ainda não sabemos o que vai ser amanhã”.
Parece que a extensão e a profundidade da atual crise são realmente bem maiores do que todos imaginavam, e, no caso do Brasil, que parecia protegido, essa percepção é ainda mais notória. Alguns exemplos são bem ilustrativos: a) A fabricante de aviões Embraer anunciou recentemente que adiará a entrega de cinco jatos, encomendados por companhias americanas, européias e australianas, por não encontrar financiamento. Há riscos de que o negócio não seja realizado, o que significará uma perda de mais de US$ 160 milhões para a empresa; b) O crédito para o custeio dos produtores brasileiros de grãos foi fortemente reduzido, colocando em risco a próxima safra; c) Os bancos e as montadoras começaram a reduzir os prazos de financiamento, que, para automóveis, já baixaram de 99 para 72 meses; d) Fabricantes de autopeças, que estavam investindo no país para atender o mercado interno aquecido, já estão refazendo seus planos, preparando férias coletivas diante dos cortes de pedidos e da previsão de que a produção de veículos registrará uma queda de 10% a 15% este ano.
Neste quadro, a perspectiva é de que a situação ainda está longe de melhorar. De acordo com pesquisa elaborada pela Quorum Brasil, as empresas brasileiras e multinacionais instaladas no país acreditam que a crise irá durar dois anos e terá um impacto médio sobre a economia. Foram entrevistados 80 presidentes e diretores de companhias de capital nacional e estrangeiro.
No clima de incerteza, com relação à manutenção do nível de investimentos, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), considerado pela ministra Dilma Rousseff como um programa anticíclico capaz de assegurar o nível de investimentos no Brasil, se torna cada vez mais incerto – diga-se de passagem, que o programa já não andava bem das pernas, com projetos que nem saíram do papel – pois boa parte dos recursos depende da iniciativa privada, que já não encontra mais fontes de financiamento como antes.
Para responder à falta de crédito que começa a ser observada, o Banco Central informou que vai liberar mais de R$ 100 bilhões do depósito compulsório para “irrigar o mercado”. Permanece, porém, a seguinte dúvida: com essa medida os bancos vão voltar a conceder crédito para as empresas e os consumidores, ou vão aplicar esses recursos no próprio mercado interbancário, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos, onde o governo teve de conceder crédito diretamente para as empresas?
Enquanto aguardamos essa resposta, na Europa, a intervenção dos governos já está ocorrendo de
forma conjunta. Numa operação global de resgate, na segunda-feira (13 de outubro), os governos dos principais países europeus anunciaram que irão comprar ativos e conceder empréstimos multimilionários, para os bancos em dificuldades, no valor de US$ 2,2 trilhões. Somente para citar alguns exemplos, no Reino Unido, o governo anunciou um pacote de US$ 64 bilhões; na França, de US$ 487 bilhões; na Espanha, de US$ 135 bilhões e na Alemanha, de US$ 650 bilhões.
Ou seja, já não se tem mais a noção de qual é o tamanho real do rombo financeiro existente na economia global, e o governo brasileiro, que iniciou a sua intervenção apenas recentemente, parece ainda ter muito a enfrentar. Que se preparem, então, as robustas reservas internacionais.
A Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), já prevê que a atividade econômica da região será significativamente afetada pela escassez de crédito e instrumentos de financiamento. Segundo Osvaldo Luis Kacef, diretor da divisão de desenvolvimento econômico do órgão, a América do Sul tende a ser menos afetada que os países da América Central, pois estes, além da falta de crédito, sofrerão devido à proximidade física com os Estados Unidos e a maior dependência comercial.
E os reflexos da crise já se fazem presentes também no plano político: é o que se observa com a volta a evidencia do Partido Comunista dos Estados Unidos. Cada vez mais pessoas buscam informações sobre o Partido, graças à crise econômica, que sempre acaba por colocar em dúvida a capacidade da economia de mercado em alocar, de forma racional e eficiente, os recursos sociais. Assistimos, portanto, o ressurgimento da tese de “crise do capitalismo”, tal como ocorreu em 1929. Mas não se deve concluir, a partir daí, que esse será o fim do sistema, pois, se trata apenas, de mais uma de suas etapas.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira.
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Depois da crise do “subprime”, a Grande Depressão de 1929 deixará saudade...

Semana de 06 a 12 de outubro de 2008


O Modo Capitalista de Produção tem como característica principal a divisão da sociedade em duas classes sociais: proprietários dos meios de produção (denominados de capitalistas ou “empresários”) e aqueles que, por não possuírem os meios de produção, são obrigados a vender sua força de trabalho por um salário, para garantir sua sobrevivência (os trabalhadores).
A decisão do que vai ser produzido é tomada por aqueles que detêm os meios de produção. Assim, quem possui dinheiro para aplicar como capital (comprando máquinas, matérias-primas e contratando trabalhadores) decide não só o que se vai produzir, como em que quantidade. Esta é uma das várias contradições do capitalismo, pois, se a decisão de produzir é individual, do empresário, a realização dos lucros necessita do mercado, já que, se não houver compradores para as mercadorias, o objetivo da produção (a obtenção de lucros) não é alcançado.
O desenvolvimento do capitalismo aprofundou ainda mais esta contradição com o surgimento dos      
sistemas financeiros, cuja função primordial era gerar meios para financiar os investimentos, libertando-os das limitações da acumulação dos lucros obtidos por cada empresa. As instituições financeiras, porém, adquiriram o poder de criar meios de pagamento, independentemente das decisões dos Bancos Centrais. Surgiu com elas uma nova camada social, denominada de capitalistas financeiros.
A questão é que o surgimento de sistemas financeiros gerou uma ilusão nos agentes, já que o processo no sistema financeiro figura aparentemente como compra e venda de papéis que “tem o poder de aumentarem de valor” sem que nenhum esforço tenha sido feito para tanto (parece mágico!). Este mecanismo leva muitos a acreditarem que, para acumular, não é mais necessário comprar máquinas, contratar trabalhadores, administrar um complexo processo de produção e depois ir ao mercado vender os produtos. É mais simples: basta apenas aplicar em mercados financeiros, que inclusive são “líquidos”, ou seja, no momento em que se desejar ter o dinheiro de volta, vende-se os papéis, o que é diferente de uma fábrica.
Em virtude disto, o sistema financeiro afastou-se da função que lhe deu origem, que era a de financiar a produção (fruto da dissociação do capital função x capital propriedade ), e passou a gerar um volume de riqueza fictícia (com as operações no sistema financeiro) que tende a ser muito maior que a soma da riqueza real resultante dos processos produtivos.
Contudo, a questão não é tão simples como parece, tendo em vista que a riqueza fictícia, como não possui valor intrínseco, precisa de algo que lhe confira valor, isto é, a riqueza real, material. Além disso, ela não pode crescer numa proporção muito maior do que a capacidade produtiva do país (já que é valorada por esta), caso contrário provoca o que está ocorrendo agora, uma crise.
Muito mais grave é saber que a decisão de produzir é tomada por agentes que comparam se é mais rentável investir na “produção de arroz”, por exemplo, comprar “ações do Banco Bradesco” ou “comprar títulos de dívida do governo”, ou seja, o surgimento e desenvolvimento dos sistemas financeiros e dos mecanismos de especulação desvincularam a geração do excedente do processo de produção, uma vez que se pode ter “lucro” comprando uma ação, um título ou investindo na produção de arroz, etc. Quando a crise chega, mostra que isto é uma tremenda ilusão, e todos entram em desespero por não entenderem por que os mesmos papéis, que hoje representam a riqueza, amanhã valem tanto quanto as notas de dinheiro do famoso jogo infantil “Banco Imobiliário”.
O economista John Maynard Keynes, em sua análise (que não faz qualquer menção, nem ao conflito das classes sociais existentes, nem ao caráter histórico dos sistemas econômicos), destacou o grau de irracionalidade que norteia as transações nos mercados financeiros. Keynes afirmou, em sua Teoria Geral, que “os especuladores podem não causar dano quando são apenas bolhas num fluxo constante de empreendimento; mas a situação torna-se séria quando o empreendimento se converte em bolhas no turbilhão especulativo. Quando o desenvolvimento do capital em um país se converte em subproduto das atividades de um cassino, o trabalho tende a ser mal feito”.
Na Teoria Geral, são várias as passagens em que Keynes descreve o comportamento dos agentes no mercado financeiro e, o que impressiona, é o grau de irracionalidade que ele confere a estes. Keynes diz que a ilusão de que o mercado financeiro é líquido tende a criar um comportamento especulativo nos agentes. Destaca que, para que o mercado financeiro funcione “normalmente”, é necessário que haja divergência de pensamentos, isto é, é necessário que alguns achem que a taxa de juros irá subir (ou o preço dos títulos cair) e que outros agentes achem que a taxa de juros irá cair (ou o preço dos títulos subir), de modo que os primeiros desejarão vender títulos e os segundos comprar. Quando este comportamento não se concretiza, ocorre o que Keynes denominou de efeito manada ou psicologia das massas (exatamente o que vem ocorrendo nas Bolsas do mundo todo), isto é, como há uma idéia quase unânime de que o preço dos ativos financeiros irá cair, todos querem vender ao mesmo tempo, e aí, neste momento, todos descobrem que a “liquidez” não existe de forma absoluta, mas apenas relativa.
É a partir deste comportamento irracional que o investimento de uma economia é determinado. Em outra passagem da Teoria Geral, onde Keynes descreve o comportamento dos agentes no mercado financeiro, ele diz: “Tratam-se, por assim dizer, de brincadeiras como o jogo do anel, a cabra-cega, as cadeiras musicais. É preciso passar o anel ao vizinho antes do jogo acabar, agarrar o outro para ser por este substituído, encontrar uma cadeira vaga antes que a música pare. Estes passatempos podem constituir agradáveis distrações e despertar muito entusiasmo, embora todos os participantes saibam que é a cabra-cega que está dando voltas a esmo ou que, quando a música pára, alguém ficará sem assento.”
É impressionante, em um momento como este, como os discursos e as previsões mais otimistas e
tranqüilizadoras viram piada em questão de horas ou dias. Seis dias antes do Lehman Brothers (o quarto maior banco de investimento do mundo) ir à falência e duas semanas antes do Wachovia (quarto maior banco de varejo dos Estados Unidos) ser vendido ao Citi, o presidente deste último, Robert K. Steel, numa palestra na Conferência Lehman Brothers de Finanças Globais, afirmou: “estou tremendamente confiante de que estamos indo na direção certa porque temos a força necessária para seguir progredindo”. Quanta decepção e frustração não sentiram aqueles que saíram confiantes desta conferência por acreditarem nas previsões de todos aqueles que discursaram seguindo as previsões do senhor Robert!
Nos EUA, o pacote de US$ 850 bilhões para a salvação dos bancos já foi aprovado e posto em prática. Os principais Bancos Centrais do mundo continuam a baixar as taxas de juros (inclusive fizeram uma operação conjunta, nesta semana) e a garantir liquidez do sistema financeiro (emprestando sem limites, a custo quase zero, e aceitando como garantia os títulos que não possuem nenhum valor de mercado). Os governos têm estatizado uma série de empresas, e o que se tem visto é só a piora do cenário. O lado real da economia já está claramente contaminado pela crise financeira, basta observar os dados de emprego e produção. As 15 economias, que adotam o euro como moeda, ficaram estagnadas no terceiro trimestre, e a expectativa é de que, nos próximos meses, elas se contraiam. Os empréstimos tomados por empresas norte-americanas caíram 60%, no segundo trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado.
As justificativas para o fracasso das intervenções estatais são diversas: alguns acham que não houve tempo suficiente para que elas surtam o devido efeito, outros afirmam que as medidas tomadas ainda não são suficientes, os neoliberais atribuem a catástrofe à própria intervenção (já que, segundo eles, o mercado é eficiente e autoregulável, pois os agentes são racionais e trabalham com expectativas racionais). Em nossa opinião as medidas não surtem o efeito esperado, porque elas não são capazes de salvar o sistema desta crise, isto é, a crise é necessária para restabelecer a dinâmica de acumulação capitalista e o quadro não será revertido antes que ela tenha cumprido o seu papel saneador.
Diferentemente de crises anteriores, o que tem impressionado são a forma como a atual se tem espalhado pelo mundo e a rapidez dos acontecimentos. A Europa é um exemplo. Ela vinha se mantendo razoavelmente à margem dos problemas e, de repente, se viu mergulhada na crise. O banco Dexia, com sede em Bruxelas, recebeu uma injeção de US$ 9 bilhões de dólares de dinheiro público; o maior banco da Bélgica, o Fortis, foi socorrido às pressas, com US$ 16 bilhões, pelos governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo; e, na Alemanha, um consórcio de bancos e o governo salvaram da falência o Hypo Real Estate Group (voltado à concessão de crédito imobiliário).
Segundo o professor de economia da Universidade da Califórnia, Roger Farmer, “a magnitude do
colapso só é comparável ao que se seguiu à crise de 1929”.
No Brasil, a tese de descolamento não tem sido mais mencionada, e o presidente Lula, que vinha insistindo que a crise era dos Estados Unidos, agora admite que ela é séria e torna o amanhã totalmente imprevisto. A crise de liquidez já chegou ao país: o teto de prazo para a compra de carros caiu de 84 para 72 meses e se espera que chegará a 60 meses; as empresas que financiam a safra (denominadas tradings) devem reduzir sua participação no financiamento, de 30% para 20%, na safra que começa a ser plantada agora; as linhas de antecipação de contrato de câmbio de 90 dias, que financiam as exportações, subiram de 3,5% ao ano, no começo de setembro, para 9% no começo de outubro, além de terem se tornado raras no mercado; os mercados de capitais se fecharam nas últimas semanas e as companhias que ainda desejam investir estão buscando outras fontes de financiamento (agências de crédito à exportação e os organismos multilaterais); e, por fim, as taxas de juros para capital de giro subiram, de 20%, para 25%.
A Bovespa, que já chegou a operar próxima dos 70.000 mil pontos, está derretendo e tendo que interromper as atividades no meio dos pregões para não quebrar de uma vez, tendo chegado próximo dos 35.000 pontos. A Embraer, produtora de aviões, já adiou a entrega de jatos, com receio de que o negócio não se concretize (o que geraria uma perda de US$ 160 milhões), tendo em vista que as companhias devedoras, americanas, européias e australianas, não encontraram liquidez no mercado para honrar o pagamento.
O dólar tem disparado em função do grande aumento da procura para enviar capitais ao exterior
como remessa de lucros e dividendos ou como repatriamento. Até agosto, as multinacionais instaladas no país já haviam enviado US$ 24,7 bilhões para suas matrizes, conforme dados do Banco Central. Este valor já supera o valor enviado durante todo o ano de 2007. Os investidores estrangeiros, responsáveis por 35% da movimentação da Bovespa, sacaram US$ 9,1 bilhões de dólares do mercado acionário até o final de setembro.
Esta disparada do dólar levou empresas, que especulam com o câmbio, a registrarem prejuízos milionários. A valorização do dólar gerou um prejuízo de US$ 760 milhões à Sadia (mais do que o seu lucro líquido de todo o ano passado) e de US$ 300 milhões à Aracruz. Sobrou para os diretores financeiros, que foram afastados, e para as ações, que despencaram.
O governo está fazendo o que pode para manter a liquidez da economia, pois não se pode esquecer que o presidente Lula tem pretensões de eleger um sucessor em 2010, e sabe ele que, se o país estiver em crise, se tornará muito mais difícil alcançar esta meta. Várias medidas têm sido tomadas neste sentido. Foi retomada a venda de dólares, por meio de leilões, fato que não ocorria desde 2003. No final de setembro passado, o montante leiloado já tinha alcançado US$ 1 bilhão. Foi reduzido o nível de depósito compulsório dos bancos no BC, o que representou mais R$ 5,2 bilhões em circulação na economia até o final de setembro. Até o final do ano, o ministro Guido Mantega promete disponibilizar, para as empresas exportadoras, R$ 15 bilhões, por meio do BNDES, para atender a demanda de financiamento. Apenas nos últimos 12 meses, o volume de empréstimos para estas empresas caiu 19,6% e as taxas médias subiram, de 11,1%, para 17,4%. No caso de um agravamento da crise internacional, já está em debate a utilização de uma parte das reservas cambiais para criar fundos de emergência de financiamento às empresas.
Diante do exposto, o que se pode concluir é que uma crise muito maior do que a temida Grande Depressão de 1929 está em cena e que a duração e os danos que ela pode provocar ainda não são dimensionáveis. Se o capitalismo foi capaz de produzir crises terríveis, com grandes dimensões e longos períodos de duração, sem que a irracional dinâmica do sistema financeiro existisse (ou existisse em pequena escala), que dirá agora, numa situação onde as operações financeiras deram origem a um volume de riqueza fictícia tão grande que nem o Estado indo à falência conseguiria absorver.
Depois desta crise, o capitalismo nunca mais será o mesmo! Viva e confira!

Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O mundo à beira do abismo

Semana de 29 de setembro a 05 de outubro de 2008



“O mundo está à beira do abismo.” Esta foi a declaração do premiê francês François Fillon antes da reunião dos presidentes dos principais países da União Européia (UE). Afinal, a máscara cai, e o capitalismo apresenta a sua verdadeira face de crise. Já ninguém duvida (exceto Mantega e Meirelles), e todos se apressam em afirmar que a crise se estende à economia real (com todas as características já há muito conhecidas dos economistas) e que o pior ainda está por vir: falências, desemprego, queda no consumo, fome, etc. Fábricas fecham ou reduzem a produção, o crédito some, os bancos, sem dinheiro, vão à falência, os pedidos de seguro desemprego crescem com o aumento das demissões e, agora, característica do capitalismo atual, os poderosos empresários e banqueiros, de sacola na mão, exigem os recursos bilionários, muitas vezes superiores aos que antes eram reservados, sob protestos, à caixa dos pobres.
Ao passar à economia real, a crise não abandona a esfera financeira. Pelo contrário, ela se expande cada vez mais, levando os governos a proporem operações desesperadas de salvamento. O Wachovia, quinto maior banco em ativos dos EUA, foi comprado pelo Citigroup, que passou a assumir a posição de segundo maior banco, logo a seguir ao Bank of América, que conquistou a primeira posição depois de comprar o Merrill Lynch. O JP Morgan ficou com o terceiro lugar, mesmo depois de ter comprado o Bear Stearn e o Washington Mutual. Quando não se encontram compradores, os governos nacionalizam os bancos. Este é o caso do Bradford and Bingley, cujos ativos saudáveis serão vendidos ao Santander e a parte podre ficará com o tesouro britânico. Os espanhóis do Santander também comprarão o Alliance and Leicester. O belgo-holandes Fortis foi nacionalizado pelos governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo, e o alemão Hypo Real Estate (HRE) foi salvo da falência pela intervenção do governo deste país que lhe garantiu 25 bilhões de euros. O maior banco japonês, o Mitsubishi UFJ, comprou 21% de participação no Morgan Stanley por US$ 9 bilhões. E os bancos centrais da Europa prometem continuar a intervir ainda mais. O Banco da Inglaterra, o Banco Nacional da Suíça e o BC europeu, juntos, destinaram mais US$ 74 bilhões para isto, e as notícias se multiplicam. O desemprego aumenta no setor bancário e, aos 80 já demitidos na economia americana, juntaram-se agora mais 1.100 novos desempregados do setor de investimentos do HSBC. Comentando a situação, o diretor de pesquisa e estudos econômicos do Bradesco, Otavio de Barros, afirmou: “É uma crise sistêmica e a pior desde os anos 1930.”
Mas, contrariando a opinião geral de que a crise é financeira, a economia real teima em pedir passagem na passarela. A Bill Heard Enterprises, a maior revendedora de veículos Chevrolet nos EUA, pediu concordata, tendo fechado 14 lojas e demitido 3.200 empregados. Além disso, 23 de suas filiadas também entraram com o mesmo pedido. As vendas no varejo, nos EUA, em novembro e dezembro, serão as piores nos últimos 30 anos, segundo o consultor norte-americano Britt Beemer, do Américas Research Group, que há 16 anos acerta as suas previsões. As montadoras do mundo inteiro contabilizam os prejuízos e reduzem a produção. Concorrendo com as americanas, que obtiveram uma ajuda de US$ 25 bilhões, as européias, argumentando que são maiores, candidatam-se a 40 bilhões de euros, enquanto os preços das commodities caem, incluindo os preços do petróleo, diante da queda da procura. A Pilgrim’s Pride, empresa que trabalha com ovos e carne de frango e emprega 53.000 pessoas, informou que se encontra em dificuldades e romperá contratos. O Hard Rock Park, parque temático, entrou com um pedido de concordata. Dezenas de restaurantes e lojas de pequeno e médio portes encontram-se em situação semelhante. Até o império da Playboy, a conhecida revista erótica, teve suas ações desvalorizadas em 60%, encontrando-se em situação financeira difícil e sendo obrigada a cortar gastos com suas tão apreciadas coelhinhas.
Os governos e seus prepostos rebolam a procura de explicações capazes de enganar seus cidadãos na tentativa de manutenção dos seus bem remunerados empregos.
Este é o quadro presente onde começa a surgir novo tipo de decreto: o “decreto de recessão”. O ministro do orçamento francês, Eric Woerth, já reconheceu que “houve dois trimestres de crescimento negativo, isso se chama recessão técnica”. A Irlanda, porém, foi o primeiro país a considerar-se oficialmente em recessão, para não falar na Dinamarca, Letônia e Estônia. A Inglaterra, embora não tenha publicado o reconhecimento oficial, já afirma que o setor produtivo está tendo o pior desempenho nos últimos 17 anos, seguida de perto pela poderosa Alemanha.
É o salve-se quem puder, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, pela boca de seu assessor Henri Guaino, já confirmou sua preferência: “A prioridade é salvar o sistema bancário.” Aliás, este está sendo o objetivo geral. Na UE, a reunião dos presidentes dos principais países aprovou a ação conjunta resumida na frase: “não deixaremos nenhum banco ir à falência.” O ponto alto da semana foi, porém, o pacotão de 700 bilhões proposto pelo governo Bush ao parlamento dos EUA. Depois de alguns dias de terrível tensão e entendimentos, finalmente, chegou-se a um precário acordo que não foi suficiente para aplacar a sede insaciável do mercado e não trouxe paz às bolsas de valores. O desabamento foi geral, atingindo em cheio a Bovespa.
No Brasil, o presidente Lula, revoltado, conclamou o governo Bush a assumir sua responsabilidade pela crise: “Eles criaram este rombo no sistema financeiro e agora têm de tapá-lo, para poder deixar o mundo tranqüilo.” E, manifestando-se sobre a situação, bem assessorado pelo Presidente do BC, Henrique Meirelles, e pelos ministros Guido Mantega e Miguel Jorge (Indústria e Comércio), para quem a crise não chegou ao Brasil, ele completou: “Sobre a situação brasileira, posso dizer que nós estamos tranqüilos”.
Enquanto o presidente desfila sua tranqüilidade, a economia brasileira acelera sua marcha para a
crise com a ajuda do próprio Banco Central, o que já é reconhecido por muitos. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) afirmou: “o alastramento da crise financeira pode paralisar parte dos investimentos brasileiros.” O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) alertou: “a economia brasileira vai sofrer os impactos.” As ações da Sadia desabaram 43%, e os analistas do Santander prevêem que ela poderá ter prejuízos de US$ 267 milhões no terceiro trimestre. As ações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) perderam R$ 3 bilhões devido à queda de 15,36% de seu valor. A produção industrial caiu 1,3% em agosto, afirma o IBGE, e as vendas da indústria fluminense, neste mês, caíram 32,25% em relação a julho, segundo dados da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Altamente endividados, os grupos sucroalcooleiros estão com dificuldades para renegociar suas dívidas diante das restrições do crédito. As vendas de veículos já estão caindo diante da redução dos prazos, do aumento das taxas de juros e da suspensão de vendas sem entrada. As montadoras já programam redução da produção. A produção industrial desacelera e, segundo a economista do Banco Real Tatiana Pinheiro “a produção industrial deverá piorar também nos próximos meses do ano.” O setor imobiliário começa a rever os planos de novos lançamentos, suspendendo-os. As incorporadoras estão encontrando crédito mais caro, e os que têm ações na bolsa sofrem perdas que chegam a 20%.
A explicação para tamanha catástrofe que se pretende impingir às pessoas pode ser resumida na
estória que me contou um amigo português e que passo a reproduzir.
“O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Ao decidir vender a crédito, ele aumenta um pouquinho o preço da dose da branquinha (para compensar os juros que os pinguços terão de pagar pelo crédito).
O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um activo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, tendo o pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exactamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu).
Esses derivativos passam a ser negociados, como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países, até que alguém descobre que os bêbados da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifu!”
Viu...? É muito simples...!!!
Por traz da comicidade, se esconde a ignorância ou a má fé, quando, no noticiário de uma certa rede de televisão, entrevistam um engravatado economista em conversa com sua engravatada família, durante quase 3 minutos, e a explicação é exatamente deste tipo.
Como é difícil a tarefa de justificar o sistema nos momentos em que ele se apresenta em total ruptura?
Preparemo-nos para sofrer os anos das vacas magras e curtir o capitalismo em crise, porque o presidente Bush, apesar de todos os apelos, é inteiramente impotente diante dela.


Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na EconomiaBrasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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sábado, 11 de outubro de 2008

Fundamentalismo de Mercado: naufrágios e fim de festa

Semana de 22 a 28 de setembro de 2007

Acerca de um mês, em uma de nossas análises, divulgamos as falas “proféticas” do ex-economistachefe do FMI, Kenneth Rogoff, afirmando que a crise financeira estaria apenas no meio do caminho, já que o pior ainda estaria por vir. Conforme Rogoff, não apenas bancos de médio porte afundariam, mas também os grandes bancos, especialmente os de investimentos. O que vimos nos últimos dias foi exatamente a concretização de tais previsões, com o naufrágio dos titanics Merrill Linch e Lehman Brothers (dia 15 de setembro, a segunda-feira maldita), a liberação de 200 milhões de dólares para salvar a vida das maiores companhias hipotecárias dos Estados Unidos, os famosos Fannie Mae e Freddie Mac, e o socorro do Fed (banco central norte-americano) à seguradora AIG.
A tábua de salvação, anunciada pelo Tesouro dos Estados Unidos, foi o pacote de ajuda de US$ 700 bilhões às instituições bancárias. Instantaneamente, os agentes financeiros tentaram passar a idéia de que o pior já havia acontecido. No Brasil, o diretor de gestão de recursos do HSBC, Pedro Bastos, por exemplo, afirmou que a recuperação da Bovespa seria “robusta e rápida”. Mas com a negação, pelo Congresso, da aprovação do pacote, na primeira votação, realizada na segunda-feira, 29, a reação em cadeia, das bolsas de valores mundo a fora também foi instantânea. Na bolsa de Nova York, por exemplo, o índice Daw Jones sofreu uma queda histórica de 770.078 pontos, a maior desde o ataque às torres gêmeas em 2001. A recuperação robusta e rápida da Bovespa transformou-se na interrupção das atividades do pregão, após atingir uma variação negativa de 10 pontos percentuais, algo que não ocorria há 10 anos.
Para tentar matar “a sede monetária que parece não ter fim”, foi realizada uma ação conjunta dos bancos centrais, que injetaram 630 bilhões de dólares. Foi a segunda injeção de liquidez em menos de uma semana, já que, em 18 de setembro, os mesmo bancos centrais haviam liberado, juntamente com a Rússia, 380 bilhões de dólares para as instituições bancárias.
Além dos volumes inimagináveis de recursos despendidos, os Bancos Centrais, das economias desenvolvidas, têm recorrido à estatização de instituições bancárias. Foi exatamente o que o Reino Unido fez ao comprar o principal banco do país, o Bradford and Bringley, e Bélgica, Luxembugo e Holanda fizeram, conjuntamente, ao adquirirem (por ironia, quem sabe) o banco Fortis.
Concomitantemente, tentando assegurar a sua sobrevivência, os grandes bancos fundem-se. Só para citar os principais casos, o banco alemão Deutsche Bank vai assumir o controle do seu rival Deutsche Postbank, e o Wachovia (quarto maior banco norte-americano) foi comprado pelo Citigroup. Entre osbancos de investimentos, os sobreviventes Morgan Stanley e Goldman Sachs irão se tornar um holding bancário.
Com o aprofundamento da crise, os economistas, tentando ensinar padre nosso à vigário, isto é, dar normas de comportamento aos capitalistas, em vez de aprender com eles, tentam encontrar as razões e os “culpados” pela situação. O megainvestidor George Soros, não se deixa iludir e afirma que não foi só a bolha imobiliária que estourou, pois o mundo vive com uma “superbolha” há 25 anos. Além de considerar os ciclos econômicos inevitáveis, Soros afirma que esta “superbolha” foi criada durante os governos de Thatcher-Reagan, quando se iniciou o “fundamentalismo de mercado”. Segundo ele, trata-se de um dogma ideológico, o qual prega que os mercados devem ser deixados aos seus próprios cuidados e que quanto menos regulações, melhor. Para Soros, a crise atual demonstra que as premissas deste fundamentalismo não funcionam e devem ser abandonadas. Eis uma sábia lição que os economistas ainda não aprenderam.
Quanto ao plano de socorro do Tesouro para as instituições bancárias falidas, as negociações devem continuar, pelos próximos dias, sob grande tensão. A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelozi, já declarou, com grande irritação, que: “The party is over!” (A festa acabou). Formadores de opinião como Paul Krugman concordam que o plano de resgate para o sistema financeiro é dar “dinheiro em troca de lixo”. O que se espera é que o plano, mesmo que aprovado, não tenha o mesmo formato original proposto por Henry Paulson, Secretário do Tesouro dos EUA, e que sofra profundas alterações. Preparemo-nos para uma semana de tensão e nervosismo nos mercados financeiros, enquanto a crise se expande.
De fato, as turbulências econômicas internacionais já afetam setores comerciais, como o da aviação comercial, e causam apreensão aos “descolados” países em desenvolvimento. Conforme a Organização Internacional da Aviação Civil (Icao), os prejuízos para as companhias aéreas neste ano giram em torno 5,2 bilhões de dólares e a previsão para 2009 é de que as perdas alcancem 4,1 bilhões de dólares. Para o ex-presidente da Icao, o consultor Assad Kotaite, a situação das empresas é desafiadora, porque haverá restrição de crédito e as pessoas passarão a voar menos. O consultor ainda argumenta que os governos terão de regular a atual desregulamentação existente no setor. Enquanto isso, a terceira e a sexta maiores companhias aéreas norte-americanas, a Delta Air Lines e Northwest Airlines, se preparam para uma fusão até o final do ano.
Na China, a pressão aumenta sobre os bancos. Uma multidão de depositantes do Bank of East Asia, terceiro maior banco do país, formaram filas para sacar o seu dinheiro. Tal fato pode indicar que as dificuldades passadas em Wall Sstreet podem atravessar o oceano Pacífico. O Banco afirmou que rumores maliciosos foram divulgados, via mensagens eletrônicas, e que a polícia de Hong Kong investigará o caso.
No Brasil, já se reconhece que a imunidade da economia brasileira ao turbilhão econômico mundial não é tão absoluta. Henrique Meireles, presidente do Banco Central, comentou que a crise vai desacelerar o crescimento da economia mundial, e a economia brasileira acompanhará esta desaceleração.Provavelmente o pronunciamento de Meireles já é conseqüência do conhecimento dos dados do déficit em conta corrente. Conforme o próprio BC, no acumulado entre janeiro e agosto, o déficit já soma US$ 20,602 bilhões, um recorde em sua série histórica. Entre os motivos causadores deste déficit estão a redução da entrada de recursos e, principalmente, a expansão da remessa de rendas para o exterior. Segundo a Gazeta Mercantil, nos sete primeiros meses de 2008, as montadoras e os bancos enviaram, respectivamente, 240% e 144% a mais de recursos que no mesmo período do ano passado.
E a “solidez dos fundamentos da economia brasileira” parece estar sendo corroída pelos acontecimentos dos últimos dias:
1 - A balança comercial apresentou, no acumulado do ano, até a terceira semana de setembro, um saldo positivo de 19,298 bilhões de dólares, o que corresponde a uma queda de 65,3% em relação ao mesmo período no ano passado. Um dos motivos para explicar tal queda é a redução dos preços das commodities, após do estouro da bolha dos alimentos;
2 - A dívida pública federal apresentou aumento de 1,6%, atingindo, no mês de agosto, o valor de R$ 1,391 trilhão. Já a dívida pública federal externa chegou à marca dos R$ 96,32 bilhões no final de agosto, segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda. O Tesouro informou que a elevação de 3% no estoque da dívida externa deu-se pela valorização do dólar em relação ao real;
3 - A projeção de crescimento da economia, porém, foi mantida em 3,60%, para 2009, apesar do aumento em 6,1% do PIB nos últimos 12 meses.
Apesar disto, o governo continua a proclamar a solidez da economia do país, orgulhando-se inclusive da redução dos índices de desigualdade. Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou sua pesquisa Pobreza e Mudança Social que mostra o aumento da população considerada classe média e a redução da extrema pobreza e da desigualdade no Brasil. Conforme esta pesquisa, entre 2001 e 2007, a população que vivia com renda per capita inferior a 87 reais caiu, de 17,3%, para 10,2% da população total, e o índice de Gini (que mede o grau de desigualdade de renda) caiu 7% no mesmo período.
Para o pesquisador do IPEA, Ricardo Paes de Barros, embora, nos últimos tempos, haja uma redução dos níveis de desigualdade de renda no país, seriam necessários, aos ritmos atuais, mais 18 anos para o Brasil se alinhar à média da desigualdade mundial. Conforme Barros, para se reduzir a desigualdade social é preciso elevar a renda obtida pelos mais pobres por meio do trabalho, pois “programas assistenciais como o Bolsa Família, além dos benefícios da Previdência, não são saídas capazes de dar fim ao problema.”


Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda de economia e pesquisadora do Progeb.
progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 30 de setembro de 2008

A “estatização” das empresas americanas

Semana de 15 a 21 de setembro de 2008



Até pouco tempo atrás, ninguém sequer imaginava que o Governo dos Estados Unidos da América passaria a intervir de maneira tão direta e contundente no rumo de sua economia, violando todos os princípios do liberalismo econômico e transformando a sagrada propriedade privada em propriedade estatal. Pois é, apesar de ser impensável há menos de um ano, é exatamente o que está ocorrendo agora.
A operação de salvamento da seguradora American International Group (AIG) é mais um exemplo disto. Na terça feira, dia 16, as ações da referida empresa caíram 61%, e, após o encerramento dos negócios, o Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) comprou 80% da seguradora por US$ 85 bilhões. Isto para não falar no resgate das companhias hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mack, no qual cada uma custou US$ 100 bilhões aos cofres públicos do país, e na ajuda financeira concedida aos credores do banco Bear Stearns, que atingiu a cifra de US$ 29 bilhões.
Segundo analistas de mercado, desde o início da atual crise financeira, o Federal Reserve já gastou entre US$ 900 bilhões e US$ 1,5 trilhão, o que representa cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano. Assim, de operação em operação, o Fed tenta salvar instituições financeiras falidas, injetando dinheiro nos mercados e socializando os prejuízos destas empresas com todos os contribuintes dos países envolvidos, que, mais cedo ou mais tarde, arcarão com o custo fiscal de tais medidas.
Resta-nos saber, porém, qual é o tamanho das reservas do Fed e da sua capacidade de socorrer as empresas que estão em processo de falência. Por enquanto, surpreende, até certo ponto, a inovação e a utilização de ações inéditas, como a efetuada na quarta feira, dia 17, quando o Departamento do Tesouro anunciou que passará a vender títulos públicos para ajudar o Fed a recompor os recursos gastos para socorrer instituições financeiras em. Estaria então o Fed ficando sem dinheiro? Em comunicado, o Tesouro afirma que não, e que se trata apenas de uma forma de o Governo administrar melhor as suas necessidades. O fato é que, na primeira emissão, foram negociados US$ 40 bilhões em títulos com prazo de vencimento de 35 dias. No primeiro dia de operações, o retorno desses papéis não ultrapassou sequer a marca de 0,4%, o que demonstra o elevado grau de desespero dos investidores, que em épocas de crise, procuram aplicar o seu dinheiro em ativos mais “seguros”, mesmo que estes lhes proporcionem muito pouco, ou quase nenhum rendimento.
Mas, todo esse esforço por parte do Governo e da autoridade monetária do país não foi capaz de evitar a quebradeira generalizada de alguns dos principais bancos de investimentos do mercado norteamericano. Dos cinco maiores bancos de investimentos do país, três já sucumbiram em meio à crise. O Bear Stearns, que era o quinto no ranking, foi vendido, em março, para o JP Morgan. O Merrill Lynch, terceiro maior banco, foi vendido para o Bank of America. Já Lehman Brothers, quarto no ranking, entrou com pedido de recuperação judicial. O mais impressionante é que este último banco havia registrado faturamento e lucro recordes em 2006 pelo terceiro ano consecutivo, sendo eleita a corretora número 1 da bolsa de Londres em volume negociado e escolhido pela revista Forbes como a empresa mais admirada em 2007.
Os dois gigantes que conseguiram sobreviver, Goldman Sachs e JP Morgan, tentam se reestruturar, agindo com mais cautela nos empréstimos, para não terem o mesmo destino que os seus pares. Em meio a este cenário de elevada incerteza e alto grau de instabilidade, parece que a derrocada dos paradigmas do capitalismo financeiro, declarada simbolicamente neste setembro de 2008, abalou ainda mais o mundo do que os ataques às torres gêmeas ocorridos em setembro de 2001, provocando não só a desconfiança com relação ao futuro, mas colocando abaixo, ou pelo menos em xeque, as velhas concepções acerca daeconomia de mercado e a sua capacidade de organização da sociedade.
Enquanto isto acontece, no Brasil, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuou a afirmar que a situação no país está sob controle e que “o Brasil já estaria de quatro” se a crise internacional ocorresse em anos anteriores, voltando a ressaltar os fundamentos macroeconômicos mais sólidos e usando como exemplo, como sempre, as reservas cambiais na casa de US$ 200 bilhões.
Entretanto, começa-se a observar um aumento da saída de capitais do mercado brasileiro. Desde junho, os “investidores” têm vendido ações nos pregões da Bovespa, que, de lá para cá, já despencou 38%, passando de 73.516 pontos para 45.908 pontos. Somente neste ano, a saída de capital externo do mercado acionário brasileiro já alcança a marca de R$ 17,02 bilhões, o que faz de 2008 o pior ano da história nesse quesito.
Do lado real da economia, o setor exportador já vislumbra um déficit comercial no próximo ano. A probabilidade de que isto ocorra é cada vez maior, com os preços das commodities em queda e o agravamento do quadro de recessão econômica, que terá como conseqüência a redução da demanda por produtos em todo o mundo.Isto significa que, com o aprofundamento da crise mundial em marcha, este quadro de saída de capitais do país e de transição de uma balança comercial superavitária para uma balança comercial deficitária pode, de uma hora pra outra, dissolver os R$ 200 bilhões de reservas que o Brasil possui, fragilizando, assim, um fundamento que nunca esteve sólido, ou, em outras palavras, solidificando a fragilidade da economia brasileira.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ainda não há luz no fundo do túnel

Semana de 08 a 15 de setembro de 2008



Continua a repercutir a grande operação de salvamento do casal Fannie-Freddie. E as dimensões do caso tornam-se cada vez mais visíveis. Para se ter uma idéia, as duas empresas Fannie Mãe e Freddie Mac, que atuam no setor imobiliário americano, são responsáveis por 68% do mercado, o que significa algo como US$ 5,3 trilhões de dólares em garantias a empréstimos concedidos para a aquisição de imóveis. Este montante representa mais de quatro vezes o valor do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (somatório de toda a riqueza produzida no país) que foi estimado em US$ 1,3 trilhão de dólares em 2007. Isto quer dizer que, somados, Fannie e Freddie valem mais de quatro Brasis.
Mas não é só isso. Os US$ 200 bilhões de dólares que foram injetados apenas nas duas empresas (US$ 100 bilhões para cada uma) equivalem ao total das reservas do Brasil que tão orgulhosamente o ministro Guido Mantega exibe como prova da nossa superioridade. No entanto, este montante é considerado por todos como insuficiente. Além disso, parece evidente que ele não resolverá a crise e que novas intervenções serão necessárias. O secretário do tesouro dos EUA, Henry Paulson, que assumiu o comando da intervenção, justificou as medidas afirmando que a quebra de qualquer uma das agências “causaria grande turbulência ao redor do mundo”. A situação, no entanto,continua se agravando, pois a inadimplência e as execuções de hipotecas nos EUA continuam, ultrapassando os valores máximos atingidos nos últimos 29 anos.
Mas a crise ultrapassa em muito os limites do mercado imobiliário. Já afirmamos, em análises anteriores, que o estouro financeiro era apenas a ponta do iceberg. O pior ainda está vindo por aí. O rastilho de pólvora já atingiu outros paióis. Repercute agora a notícia de que o banco de investimentos Lehman Brothres, o quarto maior dos Estados Unidos, e que atuava há 158 anos, se declarou em quebra. As tentativas para salvá-lo estão em marcha, pois, desta vez, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, resolveu não dar cobertura às operações de salvamento. Varias instituições financeiras do porte do Bank of América, Barclay, Citibank, Credit Suisse, Deutsche Bank, J.P.Morgan, UBS e Morgan Stanley, entre outros, reuniram-se para tentar inutilmente uma solução. Mais sorte teve o Merrill Lynch, que, diante da ameaça de falência, conseguiu ser comprado pelo Bank of América por cerca de US$ 50 bilhões de dólares, consolidando ainda mais sua posição de gigante, reforçada já por uma série de compras anteriores que incluem o banco hipotecário Countrywide Financial.
O estouro em cadeia, porém, não dá tréguas e se estende para as seguradoras. Agora foi a AIG que solicitou, ao Fed, um empréstimo de US$ 40 bilhões de dólares.
Observando as repercussões em cascata para toda a economia, Gary Thayer, economista sênior do Wachovia Securities, afirmou que “a economia está claramente se deteriorando”. O presidente do Conference Board, empresa especializada em pesquisa sobre confiança do consumidor, Gail Fosler, comentou que “a economia dos Estados Unidos está estagnada” e deve desacelerar significativamente nos próximos trimestres. Com efeito, a crise se expande ao mercado de trabalho. A taxa de desemprego nos EUA subiu para 6,1% em agosto, o maior nível desde setembro de 2003. O departamento de trabalho informou que, neste mês, foram eliminados 84 mil postos de trabalho, além dos 60 mil, em julho, e os 100 mil, em junho.
As explosivas notícias da semana não podiam deixar de repercutir nas bolsas de valores de todo o mundo. Assistiu-se a quebradeira geral e a nossa Bovespa, apesar dos sólidos fundamentos da economia, não ficou imune. Se, em todo o mês de agosto, ela caiu 6,4%, só no dia 10 de setembro o Ibovespa (índice que mede as atividades da bolsa) caiu 4,5% e no mês de setembro as perdas acumuladas atingiram 13%. No total do ano, as perdas já são de 24,18%. Com isto, o valor de mercado das empresas brasileiras, de maio até agora, caiu 30,8%, o que significa a perda de US$ 432 bilhões de dólares. As ações de empresas como a Vale e a Petrobrás perderam 33,74% e 34,45% de seu valor, respectivamente.
Agora se apressam os analistas a declarar que não são partidários da tese do “descolamento” dos emergentes. O economista Ramón Aracena, especialista em Brasil do Instituto de Finanças Internacionais, por exemplo, declarou que “nunca acreditei na tese do descolamento” e que, apesar dos bons fundamentos, o país “não está imune”.
E cada vez mais o efeito manada empurra os especuladores na direção de maior segurança. Os capitais estrangeiros fogem do país e os pequenos “investidores”, desencantados com o emudecimento da sereia, procuram salvar o que podem. A bolsa oscila e continuará no sobe e desce ao sabor das notícias sobre falências que certamente virão.
Isto é apenas o começo. Quem tinha ações da Petrobrás, por exemplo, já perdeu 34,45% do valor. Somados os prejuízos, a destruição de capitais já está em marcha e pode ser estimada em trilhões de dólares. Continuamos ainda em direção ao fundo do poço.
Mas, imune a tudo isto, como um gigantesco avestruz que esconde a cabeça no solo diante do perigo, o Banco Central do Brasil decidiu aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75%, mais uma vez garantindo a rentabilidade do capital financeiro sob a alegação da ameaça da inflação que parece só existir na cabeça do Henrique Meirelles, seu presidente.

Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

E o poço parece sem fundo

Semana de 01 a 07 de setembro de 2008

A cirurgia foi confirmada: o Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, abriu a tesouraria e transplantou US$ 200 bilhões (US$ 100 bilhões para cada um) para salvar os agonizantes enfermos Fannie e Freddie. Como se sabe, Fannie Mae e Freddie Mac, apesar de terem nomes de gente, são duas gigantescas empresas privadas que operam no mercado de crédito hipotecário nos EUA e são responsáveis pelo financiamento de quase US$ 6 trilhões do total de US$ 12 trilhões do mercado americano de hipotecas. Há meses que estes dois monstros se arrastavam em lenta agonia e já tinham sido alvo de pequenas cirurgias paliativas de apoio, por parte do Fed. Agora o perigo iminente de morte levou-os à intervenção total: foram estatizados. Para espanto geral, isso ocorre no coração do neoliberalismo.
A capacidade do Fed de socorrer instituições financeiras falidas, porém, não é infinita. Já se fala que a metade das suas reservas estão comprometidas com títulos podres. A situação vem se agravando e as principais fontes de receitas da instituição continuam as mesmas: o dinheiro dos contribuintes e a máquina de produzir dinheiro, ambos em situação precária. A desculpa apresentada é notável: o Fed está agindo para salvar o país e a economia mundial das conseqüências catastróficas que resultariam da falência do Freddie e da Fannie.
A situação é tão escandalosa que, na terça feira, dia 9, dois dias a seguir da semana objeto desta análise, a Senadora Ideli Salvati, líder do PT, apresentou na sessão ordinária do Senado uma “comunicação inadiável”, transmitida pela TV Senado. A Senadora, com razão, mostrou o jogo de dois pesos e duas medidas dos neoliberais, que criticam a intervenção do estado, quando é em defesa dos pobres, mas o utilizam descaradamente quando é para salvar capitalistas. Mas, no seu discurso, ela apontou o estouro do setor imobiliário dos EUA como o causador da crise financeira mundial. Tudo indicaque a sua assessoria econômica ainda não aprendeu o que significa crise cíclica de superprodução ou ciclo econômico e por isso não sabe que o fenômeno que assistimos representa a fase de crise do ciclo econômico mundial. O mercado imobiliário americano contribuiu apenas com o impulso inicial, a centelha que deflagrou a explosão.
Na Europa, a crise britânica vem se acentuando rapidamente, parecendo inevitável que o banco da Inglaterra venha a cortar sua taxa de juros já na próxima reunião. Alem disso, na zona do euro, as preocupações com a aceleração da inflação e o desaquecimento da atividade também continuam crescentes.
Neste ambiente, a Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) aconselha os principais bancos centrais do mundo a manterem suas taxas básicas de juros nos níveis atuais. A decisão do Federal Reserve de deixar a sua taxa básica em 2% foi justificada pela expectativa de que o aperto no crédito e a provável desaceleração do crescimento econômico restrinjam a pressão inflacionária. O Banco Central Europeu (BCE) deve manter sua taxa básica em 4,5%, com o objetivo de restringir as pressões subjacentes nos preços, e o Banco Central do Japão foi aconselhado a manter a sua taxa em 0,5%, como uma proteção contra o perigo da inflação.
Diante deste quadro, felizes são o Brasil e o Banco Central (BC) que não precisam salvar nenhuma instituição financeira. Elas já estão salvas e blindadas contra as crises por antecipação devido à política do governo do Presidente Lula. Esta política, executada pelo BC, tem transformado o pais no paraíso dos bancos. No primeiro semestre deste ano, a rentabilidade dos bancos brasileiros foi de 21,7%, mais do dobro dos bancos americanos, que foi de 8,9%. Se considerarmos apenas os quatro maiores bancos no Brasil, ela é de 28,5%, quatro vezes maior que nos EUA (7,1%). Mas isto ainda não é o mais escandaloso. Em todo o período do governo Lula, de 2002 até junho de 2008 (cinco anos e meio), a rentabilidade dos bancos brasileiros saltou de 12,4% para 21,7%, enquanto nos EUA, para os bancos americanos, ela caiu de 15,7% para 9,9%. Com isto, o Brasil tornou-se um dos países com a maior concentração bancária do mundo.
Com efeito, a política de elevação da taxa de juros praticada pelo BC, que já nos tornou campeões mundiais (Selic a 13%) e o descontrole na entrada e saída de capitais têm provocado a supervalorização do real (com prejuízos para o setor exportador e para as indústrias), a queda acelerada dos saldos da balançacomercial (com o conseqüente agravamento da balança de transações correntes) além do aumento da dívida pública.
Em relação a esta, o governo se orgulha de ter conseguido ultrapassar a meta anual de 4,3% do PIB para o superávit primário apenas nos sete primeiros meses do ano, com a economia de R$ 98,225 bilhões, que já representa 6,01% do PIB. Mas, o resultado é desesperador. O custo do endividamento do país, em 2008, já atingiu R$ 106,8 bilhões (6,54% do PIB), constituindo um record histórico para o período, sendo 14,9% superior ao custo do mesmo período do ano passado. Todo o esforço não foi suficiente sequer para pagar os juros da dívida, restando um déficit de R$ 8,578 bilhões.
O panorama global atual sinaliza para recuos mais fortes no crescimento de diversas economias. Os que pensam que a economia mundial já chegou ao fundo do poço, e que a economia brasileira vai passar por essa crise ilesa estão redondamente enganados. Os sinais de que a crise ainda não acabou, e que aindanão chegamos ao fundo do poço estão claros nas notícias das ultimas semanas.
A atividade industrial brasileira deu sinal de arrefecimento em agosto, segundo o Índice Gerentes de Compras (PMI) divulgado pelo banco Real. “As expectativas de que a economia, tanto no Brasil, quanto no mundo, vai desacelerar já está refletindo na economia brasileira”, afirma o economista-chefe da instituição, Cristiano Souza. Para o ministro da Fazenda, Guido Mântega, a economia brasileira desacelera para um ritmo sustentável. Isso quer dizer que vamos continuar caindo, até atingir um ritmo sustentável? Ainda bem que não vamos desacelerar de forma “robusta”, senão o fundo do poço seria mais fundo ainda do que se prevê para a economia brasileira.
Para Mântega essa desaceleração da economia é resultado do aperto monetário que se iniciou em abril e que já começou a surtir efeito, levando a inflação para o centro da meta, 4,5%. Só esqueceu-se de dizer que também está levando o PIB para o fundo do poço.
Dois dos carros chefes do crescimento da economia brasileira dos últimos anos apresentaram resultados ruins no ultimo mês. A balança comercial fechou agosto com saldo de US$ 2,269 bilhões, ficando 35,9% abaixo do apurado em igual período do ano passado e 31,3% menor que o registrado no mês anterior. O arrefecimento foi causado pela queda no ritmo das exportações. O superávit da balançacomercial manteve a trajetória de queda no acumulado do ano, refletindo um ritmo de crescimento das importações mais rápido do que das expor tações, mesmo que ainda apresentem cifras recordes em decorrência do aumento dos preços, principalmente das commodities. E a indústria automobilística, emagosto, não registrou o crescimento vertiginoso de venda de veículos, verificado nos últimos meses. Para os especialistas do setor, o dado é uma confirmação de que o mercado vai desacelerar, crescendo num ritmo menor daqui para frente, principalmente em razão do aumento da carga de juros.
Assim, a política econômica do governo continua empurrando o país para a crise, destruindo a indústria nacional e servindo apenas para garantir a alta rentabilidade do sistema financeiro nacional e internacional, enquanto distribui algumas esmolas às camadas mais empobrecidas da população.


Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo
: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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