quarta-feira, 29 de julho de 2009

Flexibilização e precarização no novo mundo do trabalho

Semana de 13 a 19 de julho de 2009

Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) decidiu manter a meta para a taxa básica de juros entre zero e 0,25% ao ano. Esta decisão teve como base a constatação de que, embora o ritmo da desaceleração tenha sido suavizado, a economia norte-americana continua fraca e vulnerável. Segundo a ata da referida reunião, houve uma melhora na confiança do consumidor e dos empresários e um aumento do consumo que foi atendido recorrendo-se aos estoques. Entretanto, a debilidade do mercado de força de trabalho, a diminuição da renda e as dificuldades na obtenção de crédito permaneceram como fatores de contração da atividade econômica.
No Brasil, o ministro do trabalho, Carlos Lupi, afirmou que não há hipótese de ser negativa a criação de empregos formais ao final do segundo semestre. A boa perspectiva do ministro em relação ao mercado de força de trabalho brasileiro está fundamentada na idéia da retomada do crescimento ainda este ano, ou seja, num excesso de otimismo que não possui uma base concreta de sustentação. Apesar das tentativas de encobrir a realidade, os números sobre a eliminação de empregos e a precarização das condições de trabalho no Brasil e no mundo continuam incômodos.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o emprego industrial recuou 0,5% na passagem de abril para maio. Esta foi a oitava queda mensal consecutiva. Em relação a maio do ano passado, o indicador registrou uma queda de 6%. No acumulado do ano, o emprego na indústria encolheu 4,7% e, nos últimos 12 meses, a redução foi de 1,1%. No total, 17 dos 18 segmentos pesquisados enxugaram seu quadro de funcionários. Os impactos negativos mais significativos foram: vestuário (queda de 10%), meios de transporte (9,6%), produção de metal (11,3%) e máquinas e equipamentos (9,1%). No campo das previsões, analistas do mercado financeiro consultados pelo banco central brasileiro esperam uma retração menor do PIB do país para este ano. A projeção, apesar de continuar negativa, passou de -0,50% para -0,34%.

Pessoal empregado na indústria: índice(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

Fonte: Dados retirados do http://www.ipeadata.gov.br

Pessoal ocupado assalariado(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

Fonte: IBGE (http://www.ibge.gov.br) - Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário

Neste cenário, observa-se, ao mesmo tempo, que o crescimento do desemprego em nível global só não foi ainda maior devido à grande intervenção dos governos em suas economias, na tentativa de salvar empresas insolventes da falência, e aos acordos realizados entre as empresas e os sindicatos. Esses acordos contemplam medidas "criativas", possibilitando uma flexibilidade ainda maior na utilização da força de trabalho. Um dos exemplos mais notórios foi o da companhia aérea British Airways, uma das maiores da Europa, que solicitou aos seus funcionários que trabalhassem de graça durante um mês, para evitar demissões. No final das negociações, apenas 800 empregados aceitaram a proposta, cerca de 4 milaceitaram licenças não-remuneradas e 1,4 mil concordaram em trabalhar apenas meio período. O fato é que isso originou, mesmo que temporariamente, uma nova categoria de trabalho dentro de uma empresa capitalista: o trabalho voluntário. Até agora, este tipo de trabalho era muito conhecido em organizações não-governamentais e outras instituições sem fins lucrativos, mas não, pelo menos que se tenha tido notícias, em grandes corporações capitalistas.
Atualmente, por todo o mundo, o medo do desemprego preocupa os trabalhadores que ainda continuam empregados, pressionando-os a aceitar acordos que dão maior "flexibilidade" ao mercado de força de trabalho. Por outro lado, precarizam e degradam as condições de vida do trabalhador desrespeitando completamente alguns dos seus principais direitos, como as férias remuneradas. Para tornar ainda mais grave a situação, o quadro adverso apresentado pela realidade econômica contemporânea, paralisa os movimentos sociais e os deixa com uma capacidade de reação muito pequena.
Na tentativa de influir na situação, foi elaborada uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC 231/95) que, depois de ser aprovada recentemente na Câmara dos Deputados, atualmente tramita no Congresso Nacional. Esta proposta trata da redução da carga de trabalho semanal, de 44, para 40 horas semanais, sem diminuição dos salários. Estipula ainda o aumento do adicional de hora extra, de 50%, para 75%. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), teoricamente, a redução da carga em 10% teria o potencial de criar até 2,57 milhões de postos de trabalho, mas, na prática, pode ter efeito nulo sobre o mercado de força de trabalho. Conforme a entidade, em média, a folha de pagamentos representa 22% dos custos industriais totais. Isto significa que a redução da carga horária implicaria um aumento médio no custo final de produção de 1,99%. Nas atuais condições, mesmo que a PEC seja aprovada, nada garante que o nível de emprego irá crescer e, por outro lado, as empresas continuarão tendo a sua disposição brechas na lei para reduzir os custos com o trabalho.
Outra medida adotada pelo governo, cujos efeitos já estão sendo sentidos, foi a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que tem aumentado as vendas de carros. A fábrica da General Motors (GM) de São Caetano do Sul, em São Paulo, anunciou a abertura de 50 vagas de trabalho, três dias após ter saído a concordata da GM nos Estados Unidos. A montadora irá chamar um grupo de empregados que havia dispensado no início do ano. Ainda não se sabe por quanto tempo será o contrato desses novos trabalhadores, mas terão preferência os empregados que já trabalharam na empresa com contrato temporário.
No que se refere à indústria nacional em seu conjunto, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) registrou que, em grande parte, a produção local substituiu os insumos importados por insumos domésticos, devido ao câmbio mais desvalorizado em relação ao mesmo período do ano passado. No primeiro semestre, a compra de insumos no exterior, como aço e borracha, caiu 22%.
Para conseguir sobreviver na crise, dentro das empresas a palavra de ordem é, cada vez mais, a redução de custos. Parece, portanto, que a discussão da redução da jornada de trabalho veio à tona em um momento inadequado, fase em que a atividade econômica está contraída, já que, como sabemos, a economia não pode ser controlada pela criação de emendas constitucionais ou decretos impossíveis de serem cumpridos por não serem coerentes com a realidade e, assim, se distanciarem dela.
A realidade econômica é objetiva e regida por leis que independem da vontade dos homens. A política econômica, no máximo, pode contribuir para reduzir impactos mas nunca para aboli-los.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nem queda livre, nem recuperação

Semana de 06 a 12 de julho de 2009

Como um enfermo em um leito de hospital, todos os dias somos informados sobre a condição econômica mundial, em especial, a das grandes nações, como Estados Unidos e o bloco europeu, e sobre os possíveis impactos nas demais nações. A grande questão é saber o que realmente está por trás de boa parte dos dados divulgados: se ainda estamos na fase de queda livre, se chegamos ao fundo do poço, ou se os sinais observados já são de recuperação.
A divulgação dos balanços das instituições financeiras, por exemplo, indica que os bancos norteamericanos ainda se encontram em situação difícil. Os lucros operacionais das empresas que fazem parte do índice da Standard and Poor´s caíram 17%, no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2008. A previsão dos analistas para a queda era maior.
Segundo dados da Bloomberg, no final de junho último, 336 instituições financeiras nos Estados Unidos, entre as quais estavam o Citigroup, o Suntrust Bank e o Marshall&IlsleyCorp, estavam sendo negociadas por menos de 60% dos valores contábeis. Há casos de bancos em que o valor de mercado não chega a 10% do valor contábil. É o caso do Colonial Bancgroup do estado do Alabama, que apresenta 26,4 bilhões de dólares em ativos, mas está com valor de mercado estimado em 126 milhões de dólares. É semelhante à situação do Citizens Republic Bancorp, de Flint, Michigan, cidade que já abrigou uma das mais poderosas montadoras de veículos da história, a GM. Em conseqüência da crise imobiliária, algumas partes da cidade estão sendo demolidas e o banco, com 13 bilhões de dólares em ativos, está com valor de mercado de 91 milhões de dólares, ou seja, 7% do valor contábil.
A recuperação do setor financeiro, como se sabe, vem sendo realizada com a colaboração direta do governo. O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, possui um programa que oferece aos investidores empréstimos em condições favoráveis, para quem use o dinheiro na compra de títulos de dívida tóxica, como os atrelados aos cartões de crédito e às hipotecas.
O número de trabalhadores norte-americanos desempregados continua a aumentar, embora o ritmo desse aumento esteja se reduzindo. Os novos pedidos de seguro desemprego atingiram o menor nível desde o início do ano.
Já as taxas de inadimplência sobre as hipotecas residenciais do tipo prime mais que dobraram em 12 meses. De 1,1% no primeiro trimestre de 2008, passaram para 2,9% no mesmo período do ano corrente.
A polêmica sobre o real diagnóstico da economia norte-americana foi ampliada através da divulgação de opiniões como do mega-investidor Warren Buffet. Ele considera que o pacote de estímulos econômicos do governo de US$ 787 bilhões realizado a poucos dias foi equivalente a apenas “meio Viagra”. Para Buffet, outra rodada de investimentos seria bem vinda para ajudar a economia a sair por completo da crise. E alerta: “Não estamos em queda livre, mas não estamos em recuperação.”
Para Paul Krugman, atual Prêmio Nobel de Economia, um novo plano será necessário para evitar um problema social maior causado pelo alto desemprego. Uma pesquisa realizada pelo jornal Wall Street mostrou a opinião de economistas que alertam para a necessidade de esperar os resultados das ações deste pacote antes de se realizarem outros.
O presidente Barack Obama, em um encontro com o presidente Lula na semana passada, informou que a economia americana “não terá tão cedo os níveis de consumo do passado” e que os países que mais dependem de exportações para os Estados Unidos vão precisar recorrer a outros mercados como o interno.
Já no Brasil, foi bastante divulgado no noticiário nacional o impacto da redução ocorrida na taxa Selic. A queda da taxa básica de juros, de 13,75%, para 9,25% ao ano, no primeiro trimestre, ocasionará uma economia de quase R$ 40 bilhões, com juros da dívida, em 12 meses. Com a taxa de juros real (o juro básico descontado a inflação) em torno de 4,64 pontos percentuais ao ano, o país se aproxima das taxas de juros reais apresentadas em países desenvolvidos, apesar de continuar a ser a quinta maior do mundo.
A interrogação dos economistas é se tal nível de juro será permanente, em razão dos “sólidos fundamentos macroeconômicos”, ou se é uma eventual conseqüência da crise mundial financeira. Para André Modenesi, pesquisador do IPEA, as mudanças ocorridas na economia brasileira não indicam que o atual nível da taxa de juros permanecerá definitivamente. Modenesi ainda explica: “Continuo tendo razões para crer que a inflação é pouco sensível à Selic e que, portanto, haverá uma correção na política monetária, quando retornarmos a uma situação de normalidade”.
Já o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros questiona a demora das taxas bancárias em cair, apesar da redução do juro de referência. Para ele, “o crédito continua tão caro quanto antes.” De fato, a análise das instituições financeiras mostra que, desde novembro do ano passado, houve uma redução de 11 pontos percentuais do juro bancário, mas o spread médio para empréstimos às empresas já subiu quatro pontos percentuais e os juros encontram-se atualmente em 47,3% ao ano. Além disso, desde o último trimestre de 2008, os prazos destes empréstimos caíram, em média, 40 dias, reduzindo-se para 270.
Enquanto os bancos estatais estão concentrando suas atividades no crédito pessoal, os bancos privados operam com atividades consideradas de maior garantia, como o financiamento de veículos ou de imóveis.
A situação de incerteza continua em relação ao desempenho da produção industrial e da balança comercial no próximo semestre deste ano.
O uso da capacidade instalada da indústria aumentou de abril para maio, encontrando-se em 79,8%, conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Apesar dos sinais de recuperação), o nível atual está 83,1% abaixo do verificado em maio de 2008.

Utillização da capacidade instalada na indústria - Jul./09(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
Fonte: Dados retirados do http://www.ipeadata.gov.br


Entre os setores que apresentaram utilização da capacidade acima da média estavam incluídos àqueles voltados para o mercado interno, como vestuário (83,1%) e o refino de álcool (89,6%). Os que tiveram menores resultados foram os setores madeireiro (63,1%) e de metalurgia básica (70,8%), com tradição exportadora. Para Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de Política Econômica da CNI, “o consumo doméstico tem dado sustentação à atividade econômica, mas por si só não é suficiente para levál-a de volta aos patamares registrados em 2008.”
Nos primeiros 125 dias úteis do ano, o comércio externo tem sofrido as conseqüências da crise financeira internacional. As exportações caíram 22,1% e as importações, 29,1%, em relação ao mesmo período do ano passado. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior está preocupado com a substituição dos bens de capital e de consumo nacionais por importados, pois se verificou que, no semestre, as importações de manufaturados registraram quedas inferiores à retração ocorrida na produção dos mesmos itens no país. Alem disso, a participação dos produtos brasileiros no mercado externo é dificultada pela concorrência, pelas barreiras comerciais e pela retração do consumo em países como Estados Unidos e Argentina, principais destinos das exportações brasileiras.

Exportações, importações e saldo da Balança Comercial - Brasil(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
Fonte: Dados retirados do http://www.ipeadata.gov.br

Se, por um lado, tem sido comemorado o bom desempenho da venda de veículos novos em razão do incentivo concedido pelo governo através da redução do IPI, as exportações apresentaram resultados nada animadores: as vendas de automóveis e de caminhões para o exterior tiveram queda de 46,3% e 67,5% no primeiro semestre.
A existência de filas para a aquisição de alguns modelos de veículos não pode ser motivo de euforia. Para Paulo Butori, o presidente do Sindipeças, entidade que reúne os fabricantes de autopeças, estas filas de espera ocorrem pelo “pé no freio” das montadoras e não pela falta de capacidade de atender à demanda, do setor de autopeças. Os fabricantes deste setor amargaram uma queda de 26,8% no faturamento nos primeiros cinco meses do ano. Enquanto o corte de funcionários das montadoras foi de 12 mil vagas nos últimos nove meses, no setor de autopeças foi de quase 40 mil.
As siderúrgicas também vivem momento de profunda crise e, sem demanda suficiente, paralisam as usinas. Foi o caso do pólo da Companhia Siderúrgica do Pará (Cosipar), no município de Marabá, que reduziu a produção de ferro-gusa, e da usina da Gerdau, em Charqueadas, Rio Grande do Sul, que demitiu 25% de seus funcionários ou “colaboradores”. Uma das principais causas para isto foi a queda das exportações.
Diante desta realidade, aqueles que continuam a acreditar em uma recuperação rápida dos emergentes, como alternativa para a melhora do atual panorama, terão que repensar os seus conceitos. Segundo o vice-diretor do FMI, Murilo Portugal, seria ilógico pensar que, com a atual integração da economia no mundo, o que ocorre nos blocos europeu e estadunidense, que representam mais de 50% do produto mundial, não tenha repercussão no resto dos países. Opinião similar é de um dos dirigentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Santiago Levy. Este explica que, se a recuperação das economias desenvolvidas for em V, o crescimento da América Latina será em torno de 3,5%, nos próximos anos, mas se a recuperação for em L, o impacto negativo será maior para a região.
Por incrível que pareça, como vêem os leitores, nosso destino está ligado a uma questão alfabética!

Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Arremeter ou encher o tanque?

Semana de 29 de junho a 05 de julho de 2009

Nas últimas semanas, temos chamado a atenção do leitor para os sinais que a economia mundial está emitindo. É cada vez mais evidente que uma nova fase do ciclo econômico se aproxima, nos levando ao chamado “fundo do poço”. Entretanto, algumas medidas tomadas pelos governos podem fazer com que esta fase seja, talvez, menos dolorosa, mas, com certeza, duradoura.
A primeira forma que a atual crise assumiu foi a financeira. Instituições de fomento, como o Lehman Brothes e Bear Stearns, que, em janeiro de 2007, eram avaliadas em US$ 1,4 trilhão, em abril de 2009, não passavam de pouco mais de US$ 400 bilhões. Para salvar o setor, os Bancos Centrais de todo o mundo despejaram trilhões de dólares no chamado “lado financeiro da economia”. Até certa medida, tais ações contribuíram para a salvação de alguns bancos, mas apenas adiaram o sofrimento de outros. Com efeito, em 2007, três bancos americanos foram à falência; em 2008 esse número chegou à casa dos 25; e até julho de 2009, o número de bancos norte-americanos que fecharam suas portas atingiu a marca de 52. Por sua vez, o Programa de Investimento Público-Privado, ou PPIP (na sigla em inglês), que visa a “limpeza” do sistema financeiro estadunidense, já perdeu impulso. Os bancos não estão confiantes de que obterão bons negócios e, principalmente, se irão se livrar dos chamados ativos “tóxicos”.
Porém, o lado financeiro de uma economia é apenas a ponta do iceberg, embora seja o que mais rápido responde aos estímulos e projeções dos governos. Isso é visto nas oscilações diárias das bolsas de valores de todo mundo, as quais reagem ao lançamento de novos planos de reestruturação ou ao anúncio de novos dados macroeconômicos instantaneamente.
No entanto, os dados do lado real nos mostram quem desempenha efetivamente o principal papel. E estes dados indicam que, em todo o mundo, as taxas de desemprego continuam aumentando, a produção industrial caindo, o comércio internacional se reduzindo, etc.
Nos EUA o desemprego atingiu 9,5%, em junho, após o fechamento de 467 mil postos de trabalho. O mesmo percentual é encontrado na zona do Euro. Na União Européia, no Reino Unido e na América Latina tem-se 8,9%, 7,2% e 8,5% de desemprego respectivamente. São estes dados, em conjunto com outros, que levam os analistas a preverem uma retração na economia mundial este ano.

Taxa de desemprego para países selcionados - Dezembro/2007 - Junho/2009(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
Fonte:http://www.bls.gov/

Tentando enfrentar a situação, os governos das maiores potências vêm adotando medidas para incentivar a retomada da produção. Só o presidente Barack Obama lançou um pacote de US$ 787 bilhões, o que ajudou a diminuir o ritmo de crescimento do desemprego. Em maio, o número de desempregados caiu para 332 mil, bem abaixo da média mensal do primeiro trimestre que era de 600 mil. Os gastos previstos para todo o ano, para estimular a economia nos EUA, equivalerão à 2% do PIB, atrás apenas da China (mais de 3%) e Japão (mais de 2%). Já a Alemanha, pretende tomar medidas fiscais que totalizam 3,6% do PIB, até 2010. A premiê deste país, Angela Merkel, defende que a economia e os mercados deveriam ter maior controle, de tal forma que “nós tenhamos o cuidado de não criar imediatamente as condições para a próxima crise”. Ao propor um desenvolvimento sustentável, ela diz “Não podemos entrar numa crise a cada cinco ou sete anos”.
No caso brasileiro, o governo se assemelha à justiça: “anda devagar senão escorrega”. Desde setembro de 2008, e durante sete meses consecutivos, a produção de bens de capital vem caindo. Esta queda acumulada já atinge 31,4%, o que, finalmente, levou o presidente Lula e sua equipe econômica a reagir.

Produção industrial total e utilização da capacidade instalada(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
Fonte: http://www.cni.org.br

Após a queda da taxa Selic para 9,25%, o governo decidiu baixar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para 6%, enquanto quatro linhas de crédito do BNDES tiveram seus juros reduzidos, de 10,25%, para 4,5% ao ano. Além disso, 17 grupos de bens de capital tiveram suas alíquotas de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializado) reduzidas à zero. Tais ações, juntamente com as adotadas para a chamada linha branca e para a construção civil, irão vigorar até o fim do ano.
O caso mais notável (e mais citado nos discursos oficiais) é o do setor de automóveis. Após prever uma retração nas vendas deste ano, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) espera que o crescimento das vendas no primeiro semestre desse ano supere em 1% ou até 2% as vendas recordes de 2008. Isto graças ao sacrifício de aproximadamente R$ 1,4 bilhão em arrecadação, ocasionado pela redução do IPI dos automóveis. Com isso, as empresas ligadas à cadeia automotiva “normalizaram” a produção.
Outro elemento que evitou uma maior redução na produção e no emprego foram os acordos entre sindicatos e empresas. Os sindicatos do setor automotivo conseguiram manter as carteiras de seus membros assinadas graças às férias coletivas, à redução da jornada de trabalho, às licenças remuneradas ou à suspensão temporária dos contratos.
Menos sorte teve o setor exportador. Por não ter como se beneficiar diretamente da redução do IPI (muito menos da taxa de câmbio), não houve como manter o nível de produção. Como não poderia deixar de ser, tivemos como conseqüência direta o aumento no número de demissões.
Os incentivos, entretanto, não podem surtir muito efeito, pois as empresas só investem em novos meios de produção quando estão próximas do limite de sua capacidade instalada. Na indústria de transformação, por exemplo, esta capacidade ociosa varia entre 30% e 40%. Na indústria de materiais de construção ela é de 22%. Soma-se a isso a expectativa de retorno do investimento, inata ao empresário. Assim, diante da crise mundial, da queda nas exportações, de um mercado interno saturado e de um nível de estoque acima do ideal, nenhum empresário se dispõe a investir.
Estes são os motivos que nos levam a afirmar que a retomada do crescimento não está acontecendo. A manutenção de empresas à beira da falência dificulta o saneamento da economia, criando entraves à reanimação produtiva. Um possível aumento das vendas virá da redução dos estoques, enquanto o aumento da produção virá da redução da capacidade ociosa.
O que fazer em tal situação? Arremeter com pouco combustível ou pousar para encher o tanque?
Eis o dilema.

Texto escrito por:
Lucas Milanez de Lima Almeida: Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB, Mestrando em Economia pelo CME-UFPB e pesquisador do Progeb.
progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 14 de julho de 2009

Entre a cruz e a espada

Semana de 22 a 28 de junho de 2009


Nas últimas análises, temos demonstrado que a tendência para a desaceleração da crise continuou a acentuar-se. Na teoria, isto significa a passagem da fase de crise para a fase de depressão do ciclo econômico. Continuamos a caminhada para o fundo do poço, mas a um ritmo mais lento. As insolvências e falências de empresas se reduzem, o desemprego tende a estabilizar-se, a demanda continua em baixa e o crédito, diante da falta geral de confiança que se mantém, apesar de continuarem as injeções violentas de recursos públicos nas instituições financeiras e empresas, continua escasso.
O Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, anunciou mais uma injeção de 442 milhões de euros (US$ 617 bilhões), no sistema bancário europeu, a uma taxa de 1% ao ano. Nos EUA, o mercado imobiliário continua em crise e o Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, continua cauteloso, prevendo uma lenta recuperação da economia apenas em 2010. A carteira de credito de difícil recuperação, nos últimos nove meses, saltou para US$ 2,03 trilhões. O Fed anunciou que gastará mais US$ 1,25 trilhão em papeis hipotecários. Com isto, os créditos duvidosos passarão a representar quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA. Prevê-se que a dívida pública do país saltará, de US$ 6,3 trilhões, para US$ 10 trilhões até o próximo ano, o que equivale a oito PIB’s do Brasil.
O Banco Mundial (Bird) reviu sua previsão do crescimento da economia mundial para este ano de 2009. A queda de 1,7%, prevista anteriormente, foi corrigida para 2,9%. O Fundo Monetário Internacional (FMI), mais otimista, estimou a queda em 1,3%. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) embora admitindo que, em 2010, a economia mundial possa iniciar a sua recuperação, considera que, em 2009, a economia dos países da zona do euro terá uma retração de 5% e que continuará estagnada no próximo ano.
Os sinais de desaceleração da crise, que caracterizam a passagem para a nova fase do ciclo, têm provocado alguma euforia no setor financeiro, o grande responsável pela deflagração do processo. Já se nota certa excitação nos centros financeiros mundiais, abastecidos pela enxurrada de recursos vindos dos bancos centrais dos países desenvolvidos. Entretanto, reunidos na Basiléia, os presidentes e representantes destes bancos alertam que é cedo para declarar a vitória sobre a pior recessão dos últimos 60 anos e continuam a debater as medidas que possam prevenir novos desastres.
No Brasil, o governo finalmente deu fortes demonstrações de preocupação acionando um pacotão
de medidas anticíclicas, mostrando que a equipe do Ministro “Mantega” estudou “direitinho” os manuais keynesianos. Os bancos oficiais (BB e CEF) despejam dinheiro tentando baixar os juros, que nem de longe acompanham os do resto do mundo. A contragosto, também o Banco Central do Brasil (BCB) vai baixando lentamente a taxa Selic, que caiu para o terceiro lugar no ranking mundial das mais elevadas. Por seu lado, o governo reduziu os impostos sobre vários produtos, como os automóveis e a linha branca, ao mesmo tempo em que tenta empurrar o enferrujado PAC (que se arrasta) e lançar o plano da casa própria.
As medidas tomadas para combater a crise, como o aumento das despesas, a liberação de recursos e as desonerações fiscais, em contrapartida, elevaram para R$ 1,388 trilhão o déficit das contas públicas em maio, em relação a abril, o que significou um aumento de 0,31%. Só não foi pior por que a valorização do real fez cair a dívida externa. Os juros não pagos e incorporados ao principal atingiram R$ 10,03 bilhões. Entre abril e maio, o resultado primário das contas públicas apresentou um déficit de R$ 120,2 milhões, o primeiro para este mês desde 1999. De janeiro a maio, as despesas cresceram 18,6% e as receitas caíram 0,85%. Como conseqüência, a tão falada relação Dívida-PIB, que, segundo as autoridades monetárias, deveria dar tranqüilidade aos “investidores”, começou a subir, pondo em dúvida a solvência do setor público. Isto, por sua vez, pode provocar a fuga do “hot money” dos especuladores da bolsa de valores e a desvalorização do real, devido à redução da oferta de dólares. De janeiro até agora, o superávit primário já caiu de 4,7%, para 1,6%, e ainda faltam seis meses para o final do ano.

Eis um novo perigo que surge e coloca as autoridades econômicas entre a cruz e a espada.
Apesar de todo o esforço do governo, as previsões para o crescimento do PIB nacional continuam sendo reduzidas. A Confederação Nacional da Indústria considera que o PIB do país cairá 0,4%. O BC deverá rever sua previsão de crescimento, de 1,2%, para uma taxa entre 0,3% e 0,5%. O Banco Mundial (Bird) estima uma queda de 1,1%. A maior parte das opiniões indica valores em torno de 0%.
Os acontecimentos dividiram os analistas em três grandes grupos. Os otimistas, apressados em defender o sistema, afirmam que a crise já passou e a economia está em recuperação.Os envergonhados atrevem-se a dizer que já chegamos ao fundo do poço. O terceiro grupo constata que a desaceleração se reduziu, mas que ainda não se chegou ao fundo do poço e que a crise, portanto, não acabou. Esta é a opinião do Secretário Geral da OCDE, Angel Gurria. O presidente do BCB, Henrique Meirelles, finalmente admitiu a gravidade da crise e que “a recuperação é lenta, gradual e sujeita ainda a muitas dificuldades”, embora considere que “o pior da crise” já passou, no Brasil.
No entanto, os dados nos levam a prever que a recuperação ainda não começou e, quando se iniciar, será lenta e arrastada. A brutal injeção de recursos que vem sendo feita tem o efeito perverso de não permitir a ação saneadora da crise, que é a destruição de capitais e de forças produtivas. Sem esta destruição, não haverá espaço para investimentos em máquinas e equipamentos e, com isto, o setor produtor de meios de produção, o grande responsável pela recuperação, não será estimulado.

Ora, as preocupações com o setor de bens de capital já vêm de algum tempo. A valorização do real frente ao dólar já colocava, anteriormente, em condições de desvantagem a produção nacional diante do setor externo. Os produtos chineses, por exemplo, favorecidos pelas baixas remunerações da força de trabalho praticadas naquele país e pela inexistência de contribuições sociais que incidem sobre a folha de salários, podiam ser comercializados por preços muito baixos. Isto, aliado às taxas de juros altas, ao reduzido tamanho do mercado interno e ao panorama internacional de crise, vinha desestimulando os investimentos pelos empresários nacionais. Com a crise, a situação agravou-se consideravelmente. Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) citando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, de janeiro a abril, enquanto a indústria registrou uma queda de 14,7%, a produção de bens de capital caiu 22,6%. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), apontando as dificuldades do setor, mostrou que, enquanto a taxa de juros aplicada no Brasil, a TJLP, é de 6,00% ao ano, as empresas estrangeiras operam com taxas de 1,5% a 3,0%. Monteiro Neto afirmou ainda que os sinais de recuperação são tênues e a retomada mostra-se difícil. Se não houver uma
“política dedicada a bens de capital, estará comprometido, não só o crescimento presente, mas também o potencial do PIB dos próximos anos”.
Os demais dados sobre a economia são característicos de uma fase de recessão. No período de janeiro a maio, a inadimplência das empresas cresceu 27%. Entre abril e maio, ela subiu, de 5,2%, para 5,5%, nos empréstimos bancários, o maior percentual desde outubro de 2000. O consumo de energia elétrica, em maio, caiu 4,4% em relação ao mesmo mês do ano passado; a taxa de desemprego manteve-se estacionada em 15,3%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e em 8,8%, segundo o IBGE. Enquanto as empresas de celulose choram a perda de 50% de seu valor, a indústria automotiva, privilegiada pelo corte do IPI, proclama o melhor nível das vendas da história, em junho, embora o calote no pagamento das prestações dos carros seja o mais alto desde 2000. E o governo, apesar do aumento do déficit das contas públicas, continuou a privilegiar a indústria automotiva anunciando a prorrogação da isenção do IPI por mais três meses. Prometeu também outras benesses natentativa de estimular a recuperação econômica.


Emprego industrial(*)
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O fato é que enquanto as leis e as contradições do capitalismo exercem sua ação, o presidente Lula, entre a cruz e a espada, precisa desesperadamente de indicadores econômicos positivos, para a campanha política e, embora com atraso, está disposto a jogar pesado. Depois das eleições, o fardo será carregado por quem o suceder.

Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

A Lei Geral da Acumulação Capitalista

Semana de 15 a 21 de junho de 2009

No volume II do Livro I de “O Capital”, capítulo XXIII, Marx trata da Lei Geral da Acumulação Capitalista. Esta Lei do modo capitalista de produção, assim denominada por Marx, consiste no fato de quanto maiores o produto social, a capacidade de gerar riqueza e a produtividade do trabalho, de um lado, maiores serão os índices de miséria, pobreza e desemprego, do outro lado. Isto ocorre por que, no capitalismo, o objetivo da produção não consiste na satisfação das necessidades humanas, mas na obtenção de lucro. Assim, as empresas concorrem entre si para oferecer o melhor produto ao melhor preço capaz de gerar o maior lucro possível. Esta concorrência se dá por meio do progresso técnico, que eleva substancialmente a produtividade do trabalho humano, fazendo com que cada trabalhador produza um volume crescente de produtos. Desse modo reduz-se a necessidade de força de trabalho para atender a um dado nível de demanda.
Assim, quanto mais cresce a capacidade produtiva do sistema, menos trabalhadores são necessários para tanto. Em conseqüência, menor será o número de pessoas com capacidade de pagamento para consumir. Este é um dos motivos pelos quais o capitalismo não funciona sem crédito e sem crises.
Ao contrapor a Lei Geral da Acumulação Capitalista com a realidade recente vê-se como esta Lei é atual. Após a queda do muro de Berlim, com a derrota do seu inimigo ideológico, o capitalismo pôde mostrar de fato sua “cara”. A Globalização acelerou a destruição das garantias conquistadas pelos trabalhadores dos países desenvolvidos e levou-os a uma situação mais próxima daquela vivida pelos trabalhadores do capitalismo subdesenvolvido.
Uma análise dos mercados de trabalho norte-americano e europeu denota como os capitalistas, com o aparato do Estado, passaram como um “rolo compressor” por cima do já restrito grupo de trabalhadores privilegiados. Com a chantagem de que, ou se aceitava uma piora nas condições de renda e emprego, ou a empresa migraria para um local onde o custo da mão-de-obra fosse mais baixo (leia-se uma miséria), as multinacionais do mundo todo destruíram o “Estado do Bem-Estar Social” que geriu o capitalismo desde os anos 50.
Atualmente, nos países asiáticos, as condições de trabalho se assemelham àquelas registradas no período da Revolução Industrial, isto é, condições sub-humanas. Nos antigos países ditos socialistas, agora em marcha acelerada para o capitalismo, a repressão violenta a qualquer tipo de manifestação de descontentamento dos trabalhadores, vem garantindo uma total submissão às regras impostas pelas empresas aí instaladas.
Nos Estados Unidos a situação dos trabalhadores está tão precária que o economista prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, tem escrito defendendo a volta e o fortalecimento dos sindicatos, como força de resistência à contínua queda dos salários. É importante frisar que Krugman não é filiado a nenhum partido de esquerda, nem tão pouco é defensor dos pobres. Ele simplesmente é dotado de bom senso e, como Keynes, na Grande Depressão, está percebendo que a situação social está se tornando insustentável.
As previsões da CEPAL e da FAO, para 2009, já são de aumento considerável (de milhões, sobre os milhões já existentes) de desnutridos, desempregados e daqueles que passarão a viver abaixo da linha da pobreza (com menos de um dólar por dia).
Segundo a FAO, em 2009, o mundo terá mais de um bilhão de pessoas desnutridas. A instituição considera desnutrida a pessoa que ingere menos de 1.800 calorias por dia. Este número supera em quase 100 milhões o do ano passado e equivale a aproximadamente um sexto da população mundial.
O diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico Agrícola da FAO, Kostas G. Stamoulis, declarou que é a primeira vez na história que o mundo tem tantos famintos. Para ele, isto figura como uma contradição, porque o mundo tem muita riqueza, apesar da crise: “Neste ano, temos quase um recorde da colheita de grãos, então não há falta de comida, há falta de acesso”.
Com a Lei Geral da Acumulação Capitalista, Marx demonstrou que esta contradição não é um acidente, mas ao contrário, é causada pela dinâmica do capitalismo, sendo, portanto inerente a ele.
Como era de se esperar, as estimativas da FAO mostram que a maior parte das pessoas subnutridas vive em países subdesenvolvidos. De acordo com a entidade, no período de 1995 a 1997, o mundo possuía 825 milhões de desnutridos e, entre 2004 e 2006, este número subiu para 873 milhões. É importante lembrar que, no período, o capitalismo não estava em crise; ao contrário, vivia uma fase de forte dinamismo econômico.
Os dados sobre desemprego também não dão trégua e isto vale para o mundo todo. Nos Estados Unidos, já passam de sete milhões os trabalhadores afetados pela crise. No Japão, o Governo busca meios de contornar a situação do emprego, inclusive com estímulo financeiro para que brasileiros descendentes de japoneses, que trabalham no Japão, voltem para o Brasil. Na Espanha, a taxa de desemprego já atingiu mais de 17% da população economicamente ativa.

Taxa de desemprego para a União Européia - Maio 2009(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.


No Brasil, só no mês de maio, a indústria paulista fechou 3,5 mil vagas, conforme dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp. Paulo Francini, diretor do departamento de pesquisas econômicas desta entidade, aposta que o fim das demissões ocorrerá em julho e que as contratações serão retomadas gradualmente no segundo semestre. Esta mesma aposta de retomada já havia sido prevista para maio!
No entanto, a política monetária, ao insistir em manter os juros nos níveis mais elevados do ranking mundial (apesar das quedas registradas), provocou uma valorização excessiva do real e, em contrapartida, a indústria brasileira, já afetada pela crise, potencializou as perdas. Para se ter uma idéia do efeito do juro
sobre o câmbio basta comparar a valorização da moeda brasileira e de outras moedas, frente ao dólar. Uma avaliação de Roberto Gianneti da Fonseca, vice-presidente de comércio exterior da Fiesp, mostrou que, enquanto o real se valorizou 16% sobre o dólar, de janeiro a maio deste ano; a média de valorização de 22 moedas pesquisadas foi de 3%. Todos os outros BRIC´s tiveram valorização abaixo de 1% no mesmo período.
Gianneti mostrou que, junto com a mudança cambial, a redução dos preços internacionais das commodities prejudica ainda mais os exportadores brasileiros. Por outro lado, no mercado interno a alta do real deixa a indústria vulnerável a produtos importados. Segundo Gianneti, “É verdade que o dólar está se desvalorizando no mundo inteiro, mas no Brasil, esse movimento vai muito além da média. Assim, não tem indústria que sobreviva e haverá uma nova onda de demissões no setor”.
Como era de se esperar o juro é apontado como o principal causador da excessiva valorização da moeda brasileira, tendo sido insuficientes, os cortes na Selic: “A Selic caiu, mas o diferencial com o juro americano, não”.
Apesar dos estragos que causa, a crise é importante no sentido de desmistificar uma série de “mitos” criados e propagados como verdades absolutas, para praticamente todas as pessoas, independentemente da classe social a que pertencem.
Um destes mitos diz respeito àquela mentira, que foi vendida e tão bem comprada, de que a causa do desemprego é a falta de qualificação da força de trabalho. Veja que, com esta idéia, se responsabiliza o desgraçado pela sua desgraça e, pior do que isto, convence-o a defender esta tese.
Um estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos - Dieese, Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro - Contraf e Central Única dos Trabalhadores - CUT mostrou que, no primeiro trimestre do ano, os bancos brasileiros demitiram trabalhadores com salário maior (porém, mais qualificados) e admitiram outros com remuneração menor. Enquanto os desligados recebiam renda média de R$ 3.939, os contratados passaram a ter remuneração média de R$ 1.794, ou seja, uma diferença de 54,45%. Isto ocorre pelo fato das demissões terem ocorrido principalmente nos escalões hierárquicos superiores e as admissões terem sido nos cargos iniciais de carreira.
Outro indicador da perversidade dos bancos brasileiros, que, no primeiro trimestre do ano, tiveram lucro líquido de R$ 7 bilhões (os 50 maiores bancos), é demonstrado pela idade dos demitidos versus contratados. Enquanto os demitidos possuem idade superior a 30 anos, a maioria dos admitidos tem entre 18 e 24 anos, isto é, sujeitam-se a qualquer situação para ingressar no mercado de trabalho.
Outro mito desmontado (mais uma vez) na atual crise é sobre o papel do Estado na economia. Há quem acredite e defenda que o Estado existe para diminuir a distância entre ricos e pobres, promovendo a justiça e o bem-estar social. Pois bem, não é para isto que o Estado existe, mas para manter os “pobres distantes dos ricos”, quando estes vão bem e, para auxiliar os ricos quando sofrem perdas nos seus ativos.
Há vários dias as bolsas de valores do mundo inteiro, à revelia do lado real da economia, registram ganhos. Em três meses o índice Dow Jones sofreu recuperação de 34%. A pergunta que não calava era: qual a nova fonte de recursos dos mercados financeiros? A resposta é muito simples: os mercados financeiros estão inundados de dinheiro dos governos.
Para se ter uma idéia, só o Governo dos Estados Unidos alocou US$ 11,4 trilhões para estímulo direto e indireto, nos últimos dois anos. A maior parte do dinheiro foi dada no ano passado. O dinheiro está jorrando como doações diretas, crédito ao Banco Central, incentivos fiscais, garantias e outros itens.

De acordo com a Strategas, de Nova York, a China anunciou planos para gastos de US$ 600 bilhões; a Rússia, de US$ 290 bilhões; o Reino Unido, de US$ 147 bilhões; e o Japão, de US$ 155 bilhões. Alguns investidores já começaram a falar numa “bolha do socorro governamental” que estaria sendo criada em certos mercados, e sobre um aumento artificial da demanda, alimentado pela crescente oferta de liquidez.
Para Jim O´Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, “essa liquidez vai impactar, desde títulos de renda fixa de curto prazo, passando por cotações de ações e imóveis e chegando até as fortunas pessoais”.
Já é possível notar que esta massa de liquidez está afetando as ações, os títulos e o preço das commodities. A prata no mercado futuro, já subiu 59%, desde dezembro; o cobre, 90%; o milho, 45%, e o petróleo, 113%. A bolsa da Ucrânia já subiu 125%, a do Vietnã, 116%, a da Indonésia, 76%; e a da Índia, 87%, em relação a seus níveis mais baixos, entre dezembro e março.
A expectativa é de que as dívidas dos Governos cresçam de forma estratosférica num curto período de tempo, o que exigirá um forte plano de contenção de gastos. Até lá, se espera que a economia mundial entre num quadro de endividamento explosivo dos governos com conseqüências para a inflação, que deve voltar a aumentar.
É impressionante como um exército de famintos não provoca nenhuma ação importante por parte dos governos. No entanto, para “salvar” os grandes capitais, eles já aumentaram seus déficits de forma significativa, desde que a crise começou. Agora, nunca esteve tão claro, para que serve o Estado e a serviço de quem ele é utilizado.
Contudo, passada esta fase, o discurso será que os Governos não são competentes, pois se endividam de forma irresponsável, pondo em risco a estabilidade macroeconômica das nações. Aí mais uma vez os pobres pagarão a conta, pois, certamente, os cortes nos gastos afetarão principalmente os setores sociais (educação, saúde, saneamento, habitação entre outros).
Como se sabe, num momento de crise, as condições sociais tendem a piorar substancialmente. Angustiante é verificar que elas já haviam atingido um nível muito baixo antes da crise eclodir.
Sem inimigo ideológico e sem reflexões sobre alternativas ao modelo atual, o que será do futuro no curto e médio prazos? Será a barbárie? Será o derrame de sangue de uma parcela da humanidade que não encontra mais espaço no processo de acumulação capitalista?
Infelizmente, as possibilidades levantadas não são fruto de pessimismo, mas do discernimento de quem vem acompanhando, desde muito tempo, a trajetória do capitalismo. Entre as várias considerações possíveis uma afirmação pode ser feita sem nenhuma dúvida: depois desta crise nada será como antes. Muita coisa terá que mudar, pois o atual modelo de acumulação está em vias de esgotamento.
Resta saber o tamanho do preço a ser pago e quem o pagará!

Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ainda é cedo demais para tamanho otimismo

Semana de 08 a 14 de junho de 2009

Notícias e dados divulgados por alguns órgãos ligados ao governo, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), parecem demonstrar que a contração da economia brasileira está ocorrendo a taxas menores, ou, em outras palavras, que o ritmo de redução da atividade econômica no país está diminuindo. Segundo o IBGE, nos três primeiros meses do ano, o PIB caiu 0,8% na comparação com o quarto trimestre de 2008 e 1,8% em relação à igual período do ano passado. O consumo das famílias, um dos principais componentes do PIB, cresceu 0,7%, no primeiro trimestre do ano, em relação ao último trimestre do ano passado, puxado pelo reajuste de 12% no salário mínimo e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), de uma série de bens duráveis como os automóveis. O resultado foi considerado menos negativo que o esperado e, portanto, bom o suficiente para reacender o discurso de retomada do crescimento por parte de autoridades da área econômica do governo, como o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mantega declarou acreditar em um crescimento positivo, no segundo trimestre, e em uma expansão de 1% do PIB, em 2009. Já o Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao anunciar que, em maio, o Brasil criou mais de 106 mil vagas formais de trabalho, afirmou que todos os setores da economia dão sinais de recuperação do emprego, apesar da Organização Internacional do Trabalho (OIT), projetar uma elevação, na taxa de desemprego brasileira, de 8,4% para 8,6%.
Mas, ainda é muito cedo para tamanho otimismo. O mesmo IBGE publicou outros números que mostram que a formação bruta de capital fixo, indicador dos investimentos em máquinas, equipamentos e na construção civil, registrou uma queda de 12,6%, no primeiro trimestre, o pior resultado da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Como atualmente o índice de utilização da capacidade instalada na indústria é, em média, de 79%, no caso de um aumento da demanda há uma grande margem para o aumento da produção com base na utilização desta capacidade ociosa. Só quanto a capacidade se esgotar as decisões sobre novos investimentos serão tomadas pelos empresários. Ora, em um cenário de recessão mundial, certamente os investimentos em bens de capital não serão realizados num volume suficientemente grande, para garantir a retomada do crescimento. A teoria nos ensina que sem estes investimentos a recuperação da economia será inevitavelmente lenta e de pouca duração.
Além disso, o Ministro do Trabalho, não referiu que a indústria automotiva continua demitindo, mesmo com o incentivo da redução do IPI, dado pelo governo. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, as montadoras cortaram 5.500 vagas de trabalho, entre janeiro e maio. Desde o início da crise, já são 11,3 mil demissões no setor. Em outubro, a indústria automotivaempregava 131,7 mil pessoas. Hoje ela emprega 120,4 mil. Segundo a entidade, a redução do IPI contribuiu para a recuperação das vendas, mas o incentivo não foi suficiente para aquecer a procura por caminhões e ônibus. Os exportadores, por sua vez, continuam prejudicados pela fraca demanda mundial e agora, pela valorização do real frente ao dólar. Este ano, além da continuação das dificuldades de financiamento, a rentabilidade das exportações brasileiras já diminui 12%. Um levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mostrou que apenas 49,6% das exportações do país contaram com crédito pré-embarque, no primeiro trimestre.
Desta vez, nem mesmo as “sólidas instituições financeiras” escaparam. Segundo pesquisa do Banco Central, o lucro dos bancos que atuam no Brasil caiu 39%, no primeiro trimestre, comparado com o mesmo período do ano anterior. No país onde os banqueiros possuem uma das maiores rentabilidades do mundo, este é um dado emblemático e indica que a recuperação da atividade econômica não será assim tão rápida como pressupõem os discursos oficiais.
Assim como o Brasil, a China também vem enfrentando dificuldades nas suas exportações. Pelo sétimo mês consecutivo as vendas externas chinesas registraram queda. Em maio, as exportações caíram 26,4%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Seguindo a mesma tendência, as importações também caíram quase que no mesmo ritmo. As compras do país, no mercado externo, recuaram 25,2%, conforme informou a Administração Geral de Alfândegas da China.
Nos Estados Unidos, o número de trabalhadores recém demitidos que solicitaram seguro desemprego, diminuiu pela terceira vez, nas últimas quatro semanas, o que indica que as empresas estão demitindo menos, fato que confirma a redução na velocidade de contração da atividade econômica, mas, por si só, não permite concluir que a economia já está em processo de recuperação. Por outro lado, o patrimônio dos norte-americanos encolheu em US$ 1,3 trilhão, segundo relatório divulgado pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Este resultado representa uma queda de 2,6%, em relação ao final do ano passado, e é uma conseqüência direta da desvalorização dos imóveis e dos ativos financeiros ocorrida durante a crise.
Na zona do euro, a produção industrial teve queda recorde em abril. A produção dos países que fazem parte do bloco caiu 12,6%, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o pior resultado dos últimos 23 anos. A economia da zona do euro já acumula doze meses de contração e, entre janeiro e março, registrou retração de 2,5%. No mesmo movimento se encontra a economia da Rússia, que no
primeiro trimestre registrou uma retração de 9,8% no PIB. De acordo com as previsões do Ministério da Economia, o PIB russo cairá entre 6% e 8% este ano. Já o Banco Mundial prevê, em relatório, que a economia mundial deve contrair-se 3% este ano (a previsão anterior era de 1,3%).
A atual crise mundial, apesar de assumir inicialmente a forma de crise financeira, vem ampliando a cada dia os seus impactos sobre o lado real da economia. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e a OIT, cerca de um milhão de pessoas perderam seus empregos no continente latino-americano, somente no primeiro trimestre deste ano. Conforme relatório divulgado pelos dois órgãos, a taxa de desemprego passou de 7,9%, no ano passado, para 8,5% este ano, isto significa que cerca de 2 a 3 milhões de pessoas podem se somar aos 15,9 milhões de desempregados existentes em 2008 nos centros urbanos.
Em meio a este cenário, algumas empresas continuam buscando dominar maiores fatias de mercado e as operações de fusão e aquisição não param de crescer. No Brasil, o Pão de Açúcar comprou o Ponto Frio. A aquisição envolveu R$ 1,16 bilhão. Com isso a rede varejista espera conquistar 10% de participação no varejo de eletroeletrônicos e pretende voltar à liderança do segmento, no país. Em contrapartida, as Casas Bahia também anunciaram, no mesmo dia, a aquisição da rede Romelsa, com 17 lojas em Salvador e cidades vizinhas e que pretendem ainda realizar novas compras na região Nordeste. O processo de concentração do capital tem um outro exemplo na compra, pela fabricante suíça de bens de capital - ABB, da italiana Comem, especializada na produção de componentes para transformadores utilizados na distribuição de energia. Com a aquisição a multinacional amplia a sua atuação no mercado brasileiro.
As informações sobre o panorama econômico mundial, portanto, ainda não permitem concluir que o processo de recuperação da economia já está em marcha, nem no Brasil, nem nos demais países. Pode-se apenas concluir que o ritmo de redução da atividade econômica está diminuindo e que a retomada do crescimento ainda irá levará algum tempo. Uma coisa, porém, está certa. Esta nova fase irá ocorrer com um grau de concentração e centralização de capital ainda maior que o atual, isto é, com um número menor de empresas, controlando e dominando parcelas maiores de mercado, acentuando esta tendência do capitalismo monopolista.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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Ainda não se vê a luz do fim do túnel

Semana de 01 a 07 de junho de 2009


Entre janeiro e meados de abril de 2008, os calotes com bônus alcançaram US$ 674 bilhões o quemostra a deterioração da capacidade das empresas para pagamento de dívidas. Se comparados ao valor dos calotes em 2007, US$ 8 bilhões, a cifra parece-nos astronômica. Isso foi revelado num estudo do Credit Suisse, onde se prevê também um agravamento da situação, nos próximos 12 meses.
Os déficits públicos nos Estados Unidos, por sua vez, também cresceram prevendo-se quealcançarão o montante de US$ 1,85 trilhão, equivalendo a 13% da economia americana o que, segundo Bem Bernanke, presidente do Federal Reserve - Fed, o banco central dos EUA, ameaça à estabilidade financeira do país.
No mundo empresarial, as notícias de grandes desastres continuam. Finalmente concretizou-se o pedido de concordata da maior montadora americana, a General Motors, gigante equivalente à soma da Microsoft, Apple e Toyota, transformando-se no maior caso de moratória industrial da história americana. O custo para os contribuintes ultrapassou os US$ 62 bilhões passando o governo a dominar 60% do capital da empresa. Os sindicatos, credores de US$ 20,5 bilhões, ficarão com 17,5% das ações da companhia.
A concordata vai fechar 11 fábricas. Tudo indica que apenas quatro das oito marcas da GMpermanecerão. São elas, as Chevrolet, Cadillac, Buick e GMC. A marca Saturn, está sendo negociada com o grupo de Roger Penskes, proprietário da equipe da fórmula Indy. Segundo o presidente da GM, Fritz Henderson, a concordata não terá nenhum impacto na Europa, América do Sul ou Ásia. Os efeitos serão nos Estados Unidos e Canadá, sendo que, no México, a multinacional será afetada pela redução da demanda em território americano.
Em relação ao mundo do trabalho, nos EUA, desde o começo de 2007, foram eliminados setemilhões de empregos. O contingente dos sem trabalho atinge hoje 14,5 milhões, o que equivale a uma taxa de desemprego de 9,4%, a maior dos últimos 26 anos.
Os trabalhadores em regime temporário perderam 7.000 empregos, em maio, ante uma médiamensal de 73 mil, nos últimos seis meses. Estima-se que o setor de autopeças, que perdeu 30 mil vagas no mês passado, com as reestruturações da General Motors e Crysler, venha a cortar mais 75 mil empregos, até o final do ano.
Outras estatísticas mostram que o total de crédito disponível para o consumo, caiu US$ 15,7bilhões, o segundo maior recuo já registrado num item que representa 70% do PIB americano. O único setor da economia que está gastando como um todo é o governo, que tem feito isso mediante um aumento enorme no seu endividamento.
Apesar desses dados nada animadores, já se debate o fim da recessão, debate onde os economistas participantes parecem ter a clareza de que o meio do túnel ainda não foi alcançado e deitam um olhar de esperanças, à possível saída da crise.
Os mais otimistas, porém, começam a afirmar que já se aproxima o fim da crise, como é o caso do economista-chefe do Credit Suisse, Nela Chus, que disse: “O patamar mais baixo da recessão é iminente, se já não ficou para trás.” Outro otimista é Marca Prado, estrategista da Cantor Fitzgerald que afirmou: “Declarei a recessão oficialmente terminada”. Mas essa opinião não é generalizada e o bom senso tem prevalecido, apesar de tudo.
Mas realista, Paul Krugman, Nobel de Economia, em uma conferência realizada em Dublinafirmou que a economia mundial não está a dar o menor sinal de recuperação, ela apenas está a estabilizarse e não a se recuperar e que ainda se encontra na fase em que a situação piora, embora mais lentamente.
Como reação natural à crise mundial há uma certa busca de protecionismo. Na imprensa especulase sobre a política de Obama, relativamente às importações americanas de pneus da China. Os sindicatos americanos querem restringir a quantidade de pneus com esta origem, apelando para a seção 421 da lei comercial, que exige, em última instância, aprovação ou rejeição, pelo presidente, mesmo contra as recomendações do ITC. A regra 421 foi criada quando da entrada de China na Organização Mundial de Comércio (OMC), em 2001.
É nesse clima que a Organização Mundial do Comércio (OMC), revoga a exclusão de Cuba queesteve fora dessa organização por 47 anos. A revogação foi uma resolução da 39ª Assembléia Geral da OEA, que se realizou em Honduras. Em resposta, tanto Raul quanto Fidel Castro anunciaram a sua recusa em voltar a fazer parte daquela organização. Os países caribenhos foram fortemente afetados pela crise mundial, principalmente por via da sua faceta financeira. Cuba foi particularmente atingida por causa do bloqueio econômico a que está submetida. Em outros países da América Latina, também estão sendo tomadas medidas anti-crise. Na Venezuela, o governo impôs a redução das remessas de dólares para o exterior. Anteriormente cada venezuelano podia remeter até US$ 1.800, por mês, quantia que ficou.
No geral as bolsas dos países emergentes têm sido apontadas como o motor das bolsas de valores em nível mundial. O índice MSCI subiu 34,4% no ano, até o fim de maio, e têm atraído fortemente os capitais para ações e títulos. Na América Latina, o Brasil e o México têm sido os preferidos.
No Brasil, o BNDES vai analisar como fica a situação da subsidiária brasileira da General Motors, que já encaminhara cartas consultas, à instituição, com pedido de financiamento de valor superior a R$ 700 milhões. Estes novos empréstimos serão repensados, muito embora pareça líquido que as linhas de crédito, já aprovadas anteriormente pelos Bancos, para a GM, não deverão ser afetadas pela situação da matriz nos Estados Unidos.
Na economia real, apesar da queda nos ritmos, continuam os movimentos de fusões e aquisições.As vendas de máquinas agrícolas caíram 7,3%, neste ano, com relação a igual período, em 2008. A venda de cimento caiu 2,0%, relativamente ao ano passado; a produção nacional de veículos “segue ladeira abaixo”, em 2009, com queda de 14,2%, em relação a 2008 e o consumo nacional de energia caiu 1,4%. A alta do real que, no dia 02 deste mês, atingiu uma valorização de 25,03%, aumentou ainda mais as preocupações do governo.
No meio disso tudo, o único indicador positivo relativo à indústria é a redução de 0,5% dacapacidade ociosa instalada, permanecendo mesmo assim, 4,7% abaixo do patamar alcançado no mesmo período do ano anterior. A expectativa, para o ano em curso, quanto ao crescimento do PIB Brasil é de queda de 2% com relação ao ano passado.
No Seminário, “Comércio e Finanças: os desafios da crise mundial”, organizado pela FundaçãoGetúlio Vargas (FGV), ouviram-se pronunciamentos de vários economistas. O Ministro Guido Mantega, garantiu que o governo já tem dados que mostram sinais de recuperação da economia nacional e, na sua perspectiva,… ”fomos o último a entrar na crise” e “seremos os primeiros a sair”. O economista Carlos Geraldo Langoni, acredita que o Brasil está à beira do pós-crise, onde o “pior já passou”, tendo a economia brasileira passado “muito bem pelo teste do estresse da economia mundial”; Eduardo Loyo, do Banco UBB Pactual e ex-diretor do Banco Central, referindo-se a crise, disse: “Estamos, de fato, experimentando um pouquinho de um amanhecer, seja ele verdadeiro, ou não”.
Dá para acreditar?
Em que pese o otimismo dos “economistas tupiniquins”, penso, e muito bem acompanhada, queainda “não se vê a luz do fim do túnel”.

Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
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