quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ainda é cedo demais para tamanho otimismo

Semana de 08 a 14 de junho de 2009

Notícias e dados divulgados por alguns órgãos ligados ao governo, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), parecem demonstrar que a contração da economia brasileira está ocorrendo a taxas menores, ou, em outras palavras, que o ritmo de redução da atividade econômica no país está diminuindo. Segundo o IBGE, nos três primeiros meses do ano, o PIB caiu 0,8% na comparação com o quarto trimestre de 2008 e 1,8% em relação à igual período do ano passado. O consumo das famílias, um dos principais componentes do PIB, cresceu 0,7%, no primeiro trimestre do ano, em relação ao último trimestre do ano passado, puxado pelo reajuste de 12% no salário mínimo e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), de uma série de bens duráveis como os automóveis. O resultado foi considerado menos negativo que o esperado e, portanto, bom o suficiente para reacender o discurso de retomada do crescimento por parte de autoridades da área econômica do governo, como o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mantega declarou acreditar em um crescimento positivo, no segundo trimestre, e em uma expansão de 1% do PIB, em 2009. Já o Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao anunciar que, em maio, o Brasil criou mais de 106 mil vagas formais de trabalho, afirmou que todos os setores da economia dão sinais de recuperação do emprego, apesar da Organização Internacional do Trabalho (OIT), projetar uma elevação, na taxa de desemprego brasileira, de 8,4% para 8,6%.
Mas, ainda é muito cedo para tamanho otimismo. O mesmo IBGE publicou outros números que mostram que a formação bruta de capital fixo, indicador dos investimentos em máquinas, equipamentos e na construção civil, registrou uma queda de 12,6%, no primeiro trimestre, o pior resultado da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Como atualmente o índice de utilização da capacidade instalada na indústria é, em média, de 79%, no caso de um aumento da demanda há uma grande margem para o aumento da produção com base na utilização desta capacidade ociosa. Só quanto a capacidade se esgotar as decisões sobre novos investimentos serão tomadas pelos empresários. Ora, em um cenário de recessão mundial, certamente os investimentos em bens de capital não serão realizados num volume suficientemente grande, para garantir a retomada do crescimento. A teoria nos ensina que sem estes investimentos a recuperação da economia será inevitavelmente lenta e de pouca duração.
Além disso, o Ministro do Trabalho, não referiu que a indústria automotiva continua demitindo, mesmo com o incentivo da redução do IPI, dado pelo governo. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, as montadoras cortaram 5.500 vagas de trabalho, entre janeiro e maio. Desde o início da crise, já são 11,3 mil demissões no setor. Em outubro, a indústria automotivaempregava 131,7 mil pessoas. Hoje ela emprega 120,4 mil. Segundo a entidade, a redução do IPI contribuiu para a recuperação das vendas, mas o incentivo não foi suficiente para aquecer a procura por caminhões e ônibus. Os exportadores, por sua vez, continuam prejudicados pela fraca demanda mundial e agora, pela valorização do real frente ao dólar. Este ano, além da continuação das dificuldades de financiamento, a rentabilidade das exportações brasileiras já diminui 12%. Um levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mostrou que apenas 49,6% das exportações do país contaram com crédito pré-embarque, no primeiro trimestre.
Desta vez, nem mesmo as “sólidas instituições financeiras” escaparam. Segundo pesquisa do Banco Central, o lucro dos bancos que atuam no Brasil caiu 39%, no primeiro trimestre, comparado com o mesmo período do ano anterior. No país onde os banqueiros possuem uma das maiores rentabilidades do mundo, este é um dado emblemático e indica que a recuperação da atividade econômica não será assim tão rápida como pressupõem os discursos oficiais.
Assim como o Brasil, a China também vem enfrentando dificuldades nas suas exportações. Pelo sétimo mês consecutivo as vendas externas chinesas registraram queda. Em maio, as exportações caíram 26,4%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Seguindo a mesma tendência, as importações também caíram quase que no mesmo ritmo. As compras do país, no mercado externo, recuaram 25,2%, conforme informou a Administração Geral de Alfândegas da China.
Nos Estados Unidos, o número de trabalhadores recém demitidos que solicitaram seguro desemprego, diminuiu pela terceira vez, nas últimas quatro semanas, o que indica que as empresas estão demitindo menos, fato que confirma a redução na velocidade de contração da atividade econômica, mas, por si só, não permite concluir que a economia já está em processo de recuperação. Por outro lado, o patrimônio dos norte-americanos encolheu em US$ 1,3 trilhão, segundo relatório divulgado pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Este resultado representa uma queda de 2,6%, em relação ao final do ano passado, e é uma conseqüência direta da desvalorização dos imóveis e dos ativos financeiros ocorrida durante a crise.
Na zona do euro, a produção industrial teve queda recorde em abril. A produção dos países que fazem parte do bloco caiu 12,6%, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o pior resultado dos últimos 23 anos. A economia da zona do euro já acumula doze meses de contração e, entre janeiro e março, registrou retração de 2,5%. No mesmo movimento se encontra a economia da Rússia, que no
primeiro trimestre registrou uma retração de 9,8% no PIB. De acordo com as previsões do Ministério da Economia, o PIB russo cairá entre 6% e 8% este ano. Já o Banco Mundial prevê, em relatório, que a economia mundial deve contrair-se 3% este ano (a previsão anterior era de 1,3%).
A atual crise mundial, apesar de assumir inicialmente a forma de crise financeira, vem ampliando a cada dia os seus impactos sobre o lado real da economia. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e a OIT, cerca de um milhão de pessoas perderam seus empregos no continente latino-americano, somente no primeiro trimestre deste ano. Conforme relatório divulgado pelos dois órgãos, a taxa de desemprego passou de 7,9%, no ano passado, para 8,5% este ano, isto significa que cerca de 2 a 3 milhões de pessoas podem se somar aos 15,9 milhões de desempregados existentes em 2008 nos centros urbanos.
Em meio a este cenário, algumas empresas continuam buscando dominar maiores fatias de mercado e as operações de fusão e aquisição não param de crescer. No Brasil, o Pão de Açúcar comprou o Ponto Frio. A aquisição envolveu R$ 1,16 bilhão. Com isso a rede varejista espera conquistar 10% de participação no varejo de eletroeletrônicos e pretende voltar à liderança do segmento, no país. Em contrapartida, as Casas Bahia também anunciaram, no mesmo dia, a aquisição da rede Romelsa, com 17 lojas em Salvador e cidades vizinhas e que pretendem ainda realizar novas compras na região Nordeste. O processo de concentração do capital tem um outro exemplo na compra, pela fabricante suíça de bens de capital - ABB, da italiana Comem, especializada na produção de componentes para transformadores utilizados na distribuição de energia. Com a aquisição a multinacional amplia a sua atuação no mercado brasileiro.
As informações sobre o panorama econômico mundial, portanto, ainda não permitem concluir que o processo de recuperação da economia já está em marcha, nem no Brasil, nem nos demais países. Pode-se apenas concluir que o ritmo de redução da atividade econômica está diminuindo e que a retomada do crescimento ainda irá levará algum tempo. Uma coisa, porém, está certa. Esta nova fase irá ocorrer com um grau de concentração e centralização de capital ainda maior que o atual, isto é, com um número menor de empresas, controlando e dominando parcelas maiores de mercado, acentuando esta tendência do capitalismo monopolista.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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