quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ainda não se vê a luz do fim do túnel

Semana de 01 a 07 de junho de 2009


Entre janeiro e meados de abril de 2008, os calotes com bônus alcançaram US$ 674 bilhões o quemostra a deterioração da capacidade das empresas para pagamento de dívidas. Se comparados ao valor dos calotes em 2007, US$ 8 bilhões, a cifra parece-nos astronômica. Isso foi revelado num estudo do Credit Suisse, onde se prevê também um agravamento da situação, nos próximos 12 meses.
Os déficits públicos nos Estados Unidos, por sua vez, também cresceram prevendo-se quealcançarão o montante de US$ 1,85 trilhão, equivalendo a 13% da economia americana o que, segundo Bem Bernanke, presidente do Federal Reserve - Fed, o banco central dos EUA, ameaça à estabilidade financeira do país.
No mundo empresarial, as notícias de grandes desastres continuam. Finalmente concretizou-se o pedido de concordata da maior montadora americana, a General Motors, gigante equivalente à soma da Microsoft, Apple e Toyota, transformando-se no maior caso de moratória industrial da história americana. O custo para os contribuintes ultrapassou os US$ 62 bilhões passando o governo a dominar 60% do capital da empresa. Os sindicatos, credores de US$ 20,5 bilhões, ficarão com 17,5% das ações da companhia.
A concordata vai fechar 11 fábricas. Tudo indica que apenas quatro das oito marcas da GMpermanecerão. São elas, as Chevrolet, Cadillac, Buick e GMC. A marca Saturn, está sendo negociada com o grupo de Roger Penskes, proprietário da equipe da fórmula Indy. Segundo o presidente da GM, Fritz Henderson, a concordata não terá nenhum impacto na Europa, América do Sul ou Ásia. Os efeitos serão nos Estados Unidos e Canadá, sendo que, no México, a multinacional será afetada pela redução da demanda em território americano.
Em relação ao mundo do trabalho, nos EUA, desde o começo de 2007, foram eliminados setemilhões de empregos. O contingente dos sem trabalho atinge hoje 14,5 milhões, o que equivale a uma taxa de desemprego de 9,4%, a maior dos últimos 26 anos.
Os trabalhadores em regime temporário perderam 7.000 empregos, em maio, ante uma médiamensal de 73 mil, nos últimos seis meses. Estima-se que o setor de autopeças, que perdeu 30 mil vagas no mês passado, com as reestruturações da General Motors e Crysler, venha a cortar mais 75 mil empregos, até o final do ano.
Outras estatísticas mostram que o total de crédito disponível para o consumo, caiu US$ 15,7bilhões, o segundo maior recuo já registrado num item que representa 70% do PIB americano. O único setor da economia que está gastando como um todo é o governo, que tem feito isso mediante um aumento enorme no seu endividamento.
Apesar desses dados nada animadores, já se debate o fim da recessão, debate onde os economistas participantes parecem ter a clareza de que o meio do túnel ainda não foi alcançado e deitam um olhar de esperanças, à possível saída da crise.
Os mais otimistas, porém, começam a afirmar que já se aproxima o fim da crise, como é o caso do economista-chefe do Credit Suisse, Nela Chus, que disse: “O patamar mais baixo da recessão é iminente, se já não ficou para trás.” Outro otimista é Marca Prado, estrategista da Cantor Fitzgerald que afirmou: “Declarei a recessão oficialmente terminada”. Mas essa opinião não é generalizada e o bom senso tem prevalecido, apesar de tudo.
Mas realista, Paul Krugman, Nobel de Economia, em uma conferência realizada em Dublinafirmou que a economia mundial não está a dar o menor sinal de recuperação, ela apenas está a estabilizarse e não a se recuperar e que ainda se encontra na fase em que a situação piora, embora mais lentamente.
Como reação natural à crise mundial há uma certa busca de protecionismo. Na imprensa especulase sobre a política de Obama, relativamente às importações americanas de pneus da China. Os sindicatos americanos querem restringir a quantidade de pneus com esta origem, apelando para a seção 421 da lei comercial, que exige, em última instância, aprovação ou rejeição, pelo presidente, mesmo contra as recomendações do ITC. A regra 421 foi criada quando da entrada de China na Organização Mundial de Comércio (OMC), em 2001.
É nesse clima que a Organização Mundial do Comércio (OMC), revoga a exclusão de Cuba queesteve fora dessa organização por 47 anos. A revogação foi uma resolução da 39ª Assembléia Geral da OEA, que se realizou em Honduras. Em resposta, tanto Raul quanto Fidel Castro anunciaram a sua recusa em voltar a fazer parte daquela organização. Os países caribenhos foram fortemente afetados pela crise mundial, principalmente por via da sua faceta financeira. Cuba foi particularmente atingida por causa do bloqueio econômico a que está submetida. Em outros países da América Latina, também estão sendo tomadas medidas anti-crise. Na Venezuela, o governo impôs a redução das remessas de dólares para o exterior. Anteriormente cada venezuelano podia remeter até US$ 1.800, por mês, quantia que ficou.
No geral as bolsas dos países emergentes têm sido apontadas como o motor das bolsas de valores em nível mundial. O índice MSCI subiu 34,4% no ano, até o fim de maio, e têm atraído fortemente os capitais para ações e títulos. Na América Latina, o Brasil e o México têm sido os preferidos.
No Brasil, o BNDES vai analisar como fica a situação da subsidiária brasileira da General Motors, que já encaminhara cartas consultas, à instituição, com pedido de financiamento de valor superior a R$ 700 milhões. Estes novos empréstimos serão repensados, muito embora pareça líquido que as linhas de crédito, já aprovadas anteriormente pelos Bancos, para a GM, não deverão ser afetadas pela situação da matriz nos Estados Unidos.
Na economia real, apesar da queda nos ritmos, continuam os movimentos de fusões e aquisições.As vendas de máquinas agrícolas caíram 7,3%, neste ano, com relação a igual período, em 2008. A venda de cimento caiu 2,0%, relativamente ao ano passado; a produção nacional de veículos “segue ladeira abaixo”, em 2009, com queda de 14,2%, em relação a 2008 e o consumo nacional de energia caiu 1,4%. A alta do real que, no dia 02 deste mês, atingiu uma valorização de 25,03%, aumentou ainda mais as preocupações do governo.
No meio disso tudo, o único indicador positivo relativo à indústria é a redução de 0,5% dacapacidade ociosa instalada, permanecendo mesmo assim, 4,7% abaixo do patamar alcançado no mesmo período do ano anterior. A expectativa, para o ano em curso, quanto ao crescimento do PIB Brasil é de queda de 2% com relação ao ano passado.
No Seminário, “Comércio e Finanças: os desafios da crise mundial”, organizado pela FundaçãoGetúlio Vargas (FGV), ouviram-se pronunciamentos de vários economistas. O Ministro Guido Mantega, garantiu que o governo já tem dados que mostram sinais de recuperação da economia nacional e, na sua perspectiva,… ”fomos o último a entrar na crise” e “seremos os primeiros a sair”. O economista Carlos Geraldo Langoni, acredita que o Brasil está à beira do pós-crise, onde o “pior já passou”, tendo a economia brasileira passado “muito bem pelo teste do estresse da economia mundial”; Eduardo Loyo, do Banco UBB Pactual e ex-diretor do Banco Central, referindo-se a crise, disse: “Estamos, de fato, experimentando um pouquinho de um amanhecer, seja ele verdadeiro, ou não”.
Dá para acreditar?
Em que pese o otimismo dos “economistas tupiniquins”, penso, e muito bem acompanhada, queainda “não se vê a luz do fim do túnel”.

Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

Arquivo para download em formato pdf.
Download

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog