Semana de 30 de maio a 05 de junho de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O IBGE publicou os dados sobre a situação
da economia no primeiro trimestre. O governo comemorou o crescimento de 1% do
Produto Interno Bruto (PIB). Quando analisamos a desagregação por setores
descobrimos os motivos para tal crescimento e vemos que não há muito a
comemorar. Ele foi puxado pelo setor de serviços (1%), pelo lado da oferta, e
pelo consumo das famílias (0,7%) e comércio exterior, pelo lado da demanda. O
setor externo teve um saldo positivo pois as exportações cresceram 5% e as
importações decresceram -4,6%. O consumo do governo pouco contribuiu (0,1%). O
crescimento da indústria foi também de 0,1% e o Agro decresceu -0,9%. Outra
decepção foi a retração (-2,6%) da indústria de bens de capital, fundamental
para os investimentos. Correspondendo a
esta queda, os investimentos decresceram -3,5%. O setor de extração mineral foi
outra grande decepção com uma queda de -3,4%.
Nestas circunstância não há muito o que
comemorar. A aceleração do crescimento dos serviços era previsível. O controle
da pandemia graças à vacinação efetuada (contra a vontade do governo e do
sinistro da saúde) levou ao relaxamento das medidas restritivas o que serviu
como forte estímulo à reabertura dos negócios no comércio e no turismo (hotéis
e restaurantes), com o consequente aumento do emprego. Some-se a isto o começo
do pagamento do Auxílio Brasil, o aumento do salário-mínimo, o corte dos
impostos, a queda nas tarifas de importação, os saques no FGTS, os subsídios
para o gás e o diesel, além do aumento dos salários dos funcionários de estados
e municípios. Todos são fatores extraordinários que não se repetirão nos
próximos trimestres. As estimativas de crescimento já estão sendo reduzidas
para valores inferiores a 0,4%. Há ainda fatores adversos vindos do exterior
como a guerra na Europa, a inflação no mundo, o aumento dos juros pelo Fed e
outros BCs, a crise de alimentos e energia, agravando a desorganização das
cadeias produtivas, do comércio e do transporte marítimo.
A inflação continua fora de controle
assumindo a forma de estagflação que os Bancos Centrais (BCs) tentam combater
loucamente com a elevação dos juros, única receita que eles conhecem. É exatamente
esta elevação que contribuirá para agravar a desaceleração da economia mundial
nos próximos períodos.
No Brasil os dados sobre o desemprego
melhoraram. A taxa de desemprego caiu de 11,1% para 10,5%, mas ainda há 11,349
milhões de desempregados. Acrescendo os 4,451 milhões de desalentados (os
desempregados que não mais procuram emprego) e os subutilizados (os que
gostariam de trabalhar mais, mas não encontram trabalho) o excedente de
trabalhadores chega a 22,5% do total, ou seja, 26,096 milhões de pessoas com o
agravante de que entre os empregados 40,1% são informais.
Somando-se os fatores estagflação, baixos
salários, juros elevados, informalidade, inadimplência crescente, incerteza,
turbulência política e social, certamente não se tem um bom ambiente para o
crescimento da economia nos próximos trimestres.
Estes são os dados objetivos que a realidade nos impõe. Sobre eles age o governo com sua política econômica e aí aumenta o desastre. A política interfere na economia e no nosso caso, piorando a situação. Temos um desgoverno incompetente e inescrupuloso, acossado pelos números apresentados pelas agências de pesquisa, e disposto a qualquer coisa para se reeleger nas próximas eleições. Com o suporte de um congresso formado em sua maioria pelo lixo político do “Centrão”, como um aprendiz de feiticeiro, o desgoverno engendra as artimanhas mais absurdas na tentativa de melhorar sua avaliação. O BC pode não poder mais ajudar pois jogou a toalha desistindo de fazer a inflação de 12,13% convergir para a meta de 3,5%, mesmo no próximo ano. No vale tudo tenta aprovar um teto para o ICMS e planeja até um decreto de calamidade pública para adotar medidas de emergência. Já decretou contingenciamentos de despesas do orçamento aprovado que atingirão educação, saúde, ciência, setores sem importância, para dar aumento de salários de servidores e militares. E prevendo o fracasso eleitoral continua a preparar o golpe como temos denunciado nesta coluna.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Ana Isadora Maneguetti, Mariana Araújo e
Nertan Alves.
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