quinta-feira, 30 de junho de 2022

Eleição e economia

Semana de 20 a 26 de junho de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Na semana passada falamos sobre a inflação e mostramos dados que comprovam como ela prejudica os trabalhadores e particularmente os mais pobres. O problema é tão sério, não só internamente como em todo o mundo, que existe uma mobilização internacional para encontrar uma saída capaz de conter o processo. Entre nós, o BC já jogou a toalha e não se fala no horizonte para iniciar a busca da convergência para a meta. No ano passado o presidente do BC foi obrigado a escrever a carta institucional, explicando o fracasso por não ter conseguido cumprir sua função fundamental. Este ano já é garantido que terá de escrever outra carta e no próximo ano provavelmente. A solução apresentada é mudar a meta. Pedem socorro ao Conselho Monetário Nacional, o pomposo CMN, conselho que é uma Troika formada pelo sinistro Paulo Guedes, seu cupincha secretário especial do tesouro e orçamento, Esteves Colnago, e o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, que, como o nome indica, é neto do velho e conhecido Bob Field, dos tempos da ditadura.

O CMN decidiu, para este ano, manter a taxa Selic em 3% com um intervalo de tolerância de 1,5% para mais ou para menos. Para 2023 a taxa foi estabelecida em 3,25%. Para 2024 e 2025, 3% mantendo-se o intervalo de tolerância de 1,5% nos três casos. Para 2023, considerando-se o intervalo de tolerância, a inflação deveria oscilar entre 1,75% e 4,75%. O BC já declarou que ele perseguirá a meta de 4%, ou seja, vai trabalhar acima do centro da meta para começar. Já sai ignorando o centro da meta. Para atingir estes objetivos o BC anunciou que continuará elevando os juros, que subirão dos 13,25% atuais para 13,5% ou mesmo 13,75%. Ora, todos sabemos que taxas de juros elevadas entravam ou dificultam o crescimento ao desestimular os investimentos e o consumo, o que leva a desaceleração da economia, que já se arrasta com as dificuldades internas e externas.

A situação não é confortável para a campanha de reeleição do presidente. A inflação já foi identificada como o grande problema a ser superado e ela é puxada pelos combustíveis e alimentos. Todos os esforços voltam-se nesta direção. A Petrobrás passa assim para o centro dos debates. Não é por outra razão que os presidentes da empresa são indicados e demitidos sucessivamente. Ninguém sabe como controlar os preços dos combustíveis sem violar a política de preços da empresa que se baseia na paridade com os preços internacionais. O caminho que está sendo tentado é o da criação de subsídios ao consumo ou da redução dos impostos que incidem sobre os derivados, mesmo violando a lei. A redução do ICMS foi feita com a criação de um teto unificado de 17% a 18% o que afeta a arrecadação dos Estados. É claro que as aves agourentas se aproveitam para atacar a Petrobrás e pregar a sua privatização. Em relação aos alimentos, discute-se a adoção de subsídios ao consumo. O governo já abandonou a ideia de teto de gastos. Está em discussão a criação de um benefício social para aumentar o Auxílio Brasil de R$400 para R$600, criar um vaucher para os caminhoneiros de R$1.000 por mês, aumentar o vale gás de R$53 para R$106, o que cria um problema legal pois estão proibidas as medidas para a criação de subsídios antes das eleições.

Enquanto isso a situação econômica continua a se deteriorar. O Monitor do PIB da FGV estima para este ano que o PIB ficará entre 0,9% e 1,0% e o máximo estimado é de 2%. O investimento medido pela Formação Bruta de Capital Fixo, em abril, teve uma queda -4,6%. E não é de se esperar nenhuma ajuda vinda de fora, pois, a economia mundial caminha para uma crise sem precedentes. Os EUA e a União Europeia desaceleraram em junho. A recessão se espalha com a guerra, trazendo inflação, desorganização das cadeias de suprimentos, elevação das taxas de juros, queda nos investimentos, crise de combustíveis e energia. Segundo o Financial Times a Europa vive a hora da verdade. Depois de ter cortado o fornecimento de gás para a Polônia, Bulgária, Dinamarca, Finlândia e Holanda a Rússia reduziu o fluxo de gás no gasoduto Nord Stream em 60%. Com isto os países não conseguem nem repor seus estoques. E o inverno se aproxima.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Araújo, Nertan Alves e Ana Isadora Meneguetti.

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