Semana de 20 a 26 de junho de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na semana passada falamos sobre a inflação
e mostramos dados que comprovam como ela prejudica os trabalhadores e
particularmente os mais pobres. O problema é tão sério, não só internamente
como em todo o mundo, que existe uma mobilização internacional para encontrar
uma saída capaz de conter o processo. Entre nós, o BC já jogou a toalha e não
se fala no horizonte para iniciar a busca da convergência para a meta. No ano
passado o presidente do BC foi obrigado a escrever a carta institucional,
explicando o fracasso por não ter conseguido cumprir sua função fundamental.
Este ano já é garantido que terá de escrever outra carta e no próximo ano
provavelmente. A solução apresentada é mudar a meta. Pedem socorro ao Conselho
Monetário Nacional, o pomposo CMN, conselho que é uma Troika formada pelo
sinistro Paulo Guedes, seu cupincha secretário especial do tesouro e orçamento,
Esteves Colnago, e o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, que, como o
nome indica, é neto do velho e conhecido Bob Field, dos tempos da ditadura.
O CMN decidiu, para este ano, manter a taxa
Selic em 3% com um intervalo de tolerância de 1,5% para mais ou para menos.
Para 2023 a taxa foi estabelecida em 3,25%. Para 2024 e 2025, 3% mantendo-se o
intervalo de tolerância de 1,5% nos três casos. Para 2023, considerando-se o
intervalo de tolerância, a inflação deveria oscilar entre 1,75% e 4,75%. O BC
já declarou que ele perseguirá a meta de 4%, ou seja, vai trabalhar acima do
centro da meta para começar. Já sai ignorando o centro da meta. Para atingir
estes objetivos o BC anunciou que continuará elevando os juros, que subirão dos
13,25% atuais para 13,5% ou mesmo 13,75%. Ora, todos sabemos que taxas de juros
elevadas entravam ou dificultam o crescimento ao desestimular os investimentos
e o consumo, o que leva a desaceleração da economia, que já se arrasta com as
dificuldades internas e externas.
A situação não é confortável para a
campanha de reeleição do presidente. A inflação já foi identificada como o
grande problema a ser superado e ela é puxada pelos combustíveis e alimentos.
Todos os esforços voltam-se nesta direção. A Petrobrás passa assim para o
centro dos debates. Não é por outra razão que os presidentes da empresa são
indicados e demitidos sucessivamente. Ninguém sabe como controlar os preços dos
combustíveis sem violar a política de preços da empresa que se baseia na
paridade com os preços internacionais. O caminho que está sendo tentado é o da
criação de subsídios ao consumo ou da redução dos impostos que incidem sobre os
derivados, mesmo violando a lei. A redução do ICMS foi feita com a criação de
um teto unificado de 17% a 18% o que afeta a arrecadação dos Estados. É claro
que as aves agourentas se aproveitam para atacar a Petrobrás e pregar a sua
privatização. Em relação aos alimentos, discute-se a adoção de subsídios ao
consumo. O governo já abandonou a ideia de teto de gastos. Está em discussão a
criação de um benefício social para aumentar o Auxílio Brasil de R$400 para
R$600, criar um vaucher para os caminhoneiros de R$1.000 por mês, aumentar o
vale gás de R$53 para R$106, o que cria um problema legal pois estão proibidas
as medidas para a criação de subsídios antes das eleições.
Enquanto isso a situação econômica continua a se deteriorar. O Monitor do PIB da FGV estima para este ano que o PIB ficará entre 0,9% e 1,0% e o máximo estimado é de 2%. O investimento medido pela Formação Bruta de Capital Fixo, em abril, teve uma queda -4,6%. E não é de se esperar nenhuma ajuda vinda de fora, pois, a economia mundial caminha para uma crise sem precedentes. Os EUA e a União Europeia desaceleraram em junho. A recessão se espalha com a guerra, trazendo inflação, desorganização das cadeias de suprimentos, elevação das taxas de juros, queda nos investimentos, crise de combustíveis e energia. Segundo o Financial Times a Europa vive a hora da verdade. Depois de ter cortado o fornecimento de gás para a Polônia, Bulgária, Dinamarca, Finlândia e Holanda a Rússia reduziu o fluxo de gás no gasoduto Nord Stream em 60%. Com isto os países não conseguem nem repor seus estoques. E o inverno se aproxima.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Araújo, Nertan Alves e Ana
Isadora Meneguetti.
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