Semana de 13 a 19 de junho de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A novidade econômica da semana é a
aprovação pelo Copom, órgão do Banco Central (BC) da nova Selic (Sistema
Especial de Liquidação e Custódia), taxa de juros paga pelo governo como
remuneração dos títulos que emite e que serve de base para todas as demais
taxas cobradas pelos agentes econômicos. O Copom elevou a taxa para 13,25%, um
aumento de 0,5%. Mais uma vez a decisão foi tomada na tentativa de conter a
inflação que continua fora de controle. Este é o remédio recomendado pela
bíblia da teoria (ideologia) econômica oficial. E o Brasil não está só. Pelo
mundo, os BCs estão agindo no mesmo sentido. Dos 38 maiores bancos centrais 60%
subiram os juros e em 80% dos países do G20 foram introduzidas restrições
monetárias, apesar da desaceleração global das economias e das consequências
que isto vai provocar. Todos rezam pela mesma cartilha na tentativa de dar uma
resposta à explosão da inflação. Para nós, o pior foi a elevação dos juros do
Federal Reserve (Fed.) banco central dos EUA, de 0,75% para 1,5% a 1,75%. Isto
pode contribuir para a saída de capitais a procura de segurança, diante da
instabilidade da situação local.
Não resta dúvida que a inflação interna vem
atingindo níveis preocupantes. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
que é o indicador oficial da inflação no país, anualizado até maio, atingiu
11,73% e, para a alimentação em domicílio, foi de 16,35%. Esta inflação atinge
de forma diferente as pessoas dependendo do nível de renda. Como a política do
governo em relação ao salário-mínimo (SM) não pretende aumentar ou mesmo repor
o poder de compra dos trabalhadores, a situação tem sido desastrosa. Em 1º de
janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu o governo, a cesta abrasmercado,
cesta com 35 produtos calculada pela Associação Brasileira de Supermercados
(Abras) e pela empresa alemã GfK, custava R$465,57 e o SM R$998,00
representando 46,6% deste. Em abril de 2022, a mesma cesta custava R$758,72 e o
SM R$1.212,00, 62,6% deste. A cesta subiu 67,38% e o SM 21,44%. O poder de
compra do trabalhador foi assim reduzido.
Segundo o Procon de São Pulo, em dezembro
de 2021, a cesta básica custava R$1.088,00 e o salário-mínimo R$1.100,00.
Sobrava R$12,00. Em maio de 2022, a cesta passou a R$1.226,12 e o mínimo
R$1.212,00 faltando, portanto, R$14,12. Lembremos que em 2019 a cesta custava
R$739,07 e o salário era de R$998,00, com uma sobra de R$258,93. Ocorre que
38,22% dos trabalhadores ganham até 1 salário-mínimo, ou seja, 36,4 milhões de
pessoas. Além destes, dos 36,5 milhões de pensionistas e aposentados, 24,4
milhões também ganham até 1 mínimo. Temos, portanto, 60,8 milhões de pessoas
que dependem de 1 salário-mínimo e tem sua renda corroída pela inflação.
Uma das consequências disto é que 125,2
milhões de pessoas sofrem com insegurança alimentar dos quais 33,1 milhões
passam fome de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e
Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), apurado em Inquérito Nacional
sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19. Isto significa
58,7% da população. De acordo com o IBGE, a renda média do país caiu 4,3% em
2020 e 6,9% em 2021. De acordo com o Índice de Gini, usado para medir a
desigualdade social, esta desigualdade aumentou. A queda dos rendimentos afeta
desigualmente as diferentes classes. Para os 5% mais pobres esta queda foi de
33,9%. Para os que estão entre os 10% e 20%, foi de 19,7%. Para o 1% mais rico,
a queda foi de apenas 6,4%.
É preciso considerar ainda que dos 96,5
milhões de empregados 38,7 milhões são informais, ou seja, há grande
insegurança e remunerações baixas.
A situação econômica tende a se deteriorar. Os estímulos que o setor de serviços teve não vão se repetir. Em abril o crescimento dos serviços foi de apenas 0,2%. Analistas apresentam um quadro pessimista para os dois próximos trimestres e particularmente para o segundo semestre. Aí está o desespero do governo e a justificação do resultado das pesquisas. Na tentativa de impedir a derrota iminente vale tudo. E, por via das dúvidas, prepare-se o golpe que pode ser preventivo.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Araújo e Nertan Alves.
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