quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Um 2016 sombrio

Semana de 21 a 27 de dezembro de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Neste último dia do ano, com toda a sinceridade, desejamos a todos os nossos leitores as maiores felicidades e sucessos no ano que se inicia.
Como analistas de conjuntura o rigor científico nos obriga, no entanto, a prevenir e avisar a todos que 2016 não será um ano fácil. As dificuldades que caracterizaram 2015 devem continuar e o quadro econômico deve se agravar, nesse novo ano.
O panorama internacional não apresenta boas expectativas, com a economia da União Europeia (UE) ainda sem definição e importantes mudanças políticas ocorrendo em vários países. De fato, governos de centro direita vem sendo derrotados em sucessivas eleições. É o caso da Grécia, Polônia, Portugal e Espanha, onde os partidos antiausteridade ganharam a maioria dos parlamentos e teme-se que o fenômeno se propague.
Nos EUA, o sinal para o aumento dos juros pelo Federal Reserve (Fed) continua aceso, mas a recuperação segue a ritmos muito lentos. O gigante chinês desacelera e suspeita-se que sua taxa de crescimento não atingirá os 7% almejados, sendo a menor taxa em 25 anos. Além disso, o país é abalado pelo desemprego, fechamento de empresas, etc. o que tem provocado fortes convulsões sociais.
A ameaça do terrorismo do Estado Islâmico (EI) continua a pesar sobre todo o mundo ocidental desafiando as grandes potências militares que lançam toneladas de bombas na Síria e no Iraque, mas, por baixo do pano, financiam os fanáticos através de seus fieis aliados como a Arábia Saudita e a Turquia, a grande compradora do petróleo sírio extraído pelo EI, e contrabandeado através de suas fronteiras. Neste clima não se pode esperar nenhum alento vindo da economia mundial.
Internamente, a situação é ainda pior. Todos os indicadores econômicos apontam para uma deterioração da conjuntura. Estamos pagando o preço da canhestra política econômica anticíclica que transformou o tsunami, iniciado em 2008, em “marolinha”, por alguns anos. A atual política econômica, que tem por base a austeridade fiscal e monetária, sendo uma política pró-cíclica, agrava ainda mais a situação. Tudo indica que a substituição do ministro Levy pelo Nelson Barbosa não provocará grandes alterações. A ideologia econômica dominante não encontra outro remédio senão o aumento dos juros e a austeridade fiscal. Continuamos na contramão do mundo. O pior é que o fanatismo ideológico assume foros de verdade única e natural e as receitas passam a serem repetidas pelos comentaristas e jornalistas econômicos, políticos, TVs, jornais, rádios, etc. O país ajoelha-se diante de dois grandes problemas: a inflação e o equilíbrio do orçamento da nação. A inflação (que não é inflação, mas estagflação) está fora de controle e o Banco Central (BC) já prepara sua carta ao congresso com desculpas esfarrapadas para justificar o seu fracasso e, certamente, ameaçará com o único remédio que a sua primária teoria conhece, “o instrumento clássico de combate à inflação”: a elevação da taxa de juros, que deverá ser mais rigorosa. Isso depois de ter apontado como fatores fundamentais para a perda de controle, o reajuste de 18% nos preços administrados e a depreciação cambial de 30%, fatores que não são atingidos pela taxa de juros.
O equilíbrio do orçamento, pelo lado da receita volta-se contra os menos favorecidos com o aumento de taxas e impostos. Pelo lado da despesa também cai sobre a população ao atingir os orçamentos da saúde, educação, previdência e programas sociais. Ninguém fala no aumento dos impostos sobre os ricos, nem na cobrança dos débitos fiscais das grandes empresas, nem nas taxas de juros que enriquecem o capital financeiro. Para agravar a situação continua o massacre político da presidente Dilma com a ameaça de impeachment a qualquer custo e a utilização de todo tipo de recursos, os mais escusos, visando sabotar qualquer iniciativa do governo para tentar a retomada do crescimento.
Aliando-se à crise, a histeria da direita mais reacionária, que atinge até o nosso Chico Buarque, prenuncia um 2016 de conflitos e ódio.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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sábado, 26 de dezembro de 2015

Mudança na Fazenda

Semana de 14 a 20 de dezembro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

A notícia de maior relevância para a economia foi a substituição do ministro da Fazenda. Sai Joaquim Levy e assume Nelson Barbosa. A primeira vista não representa uma guinada na política econômica, mas, de certa forma, um abrandamento do que teria sido proposto por aquele que deixou o ministério. O ajuste continua sendo o foco da política econômica, no entanto, acredita-se que haverá um maior grau de flexibilidade em sua condução. A gota d’água foi a redução da meta de superávit primário que, em função da manutenção integral do programa Bolsa Família, foi abatida, caindo de 0,7% para 0,5% do PIB, o que contrariou o ex-ministro. Com a proximidade das eleições de 2016 e o enfrentamento do processo de impeachment, um corte no programa de transferência de renda seria um tiro no pé nos planos do governo.
Já no plano político, as sucessivas derrotas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi o ponto marcante. Iniciou-se com o cumprimento de mandados de buscas nas casas do presidente da Câmara dos Deputados após a deflagração da operação Catilinárias pela Polícia Federal. Logo em seguida, o Conselho de Ética da Câmara, resolveu pela admissão da representação contra sua pessoa. Depois, o STF pôs um limite à sua conduta autoritária, revogando as decisões de Cunha que embasaram a votação da comissão especial e fazendo com que o processo de impeachment retornasse à estaca zero. Por fim, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao próprio STF que ele seja afastado do mandato parlamentar.
A agência de risco Fitch Ratings rebaixou a nota brasileira fazendo com que o país perdesse o status de grau de investimento e se tornasse grau especulativo. O maior temor seria uma fuga de capitais do país, algo que, até agora, é visto com certo ceticismo pelos analistas do mercado financeiro. Como tal situação já estava prevista por aqueles que atuam na área, não houve uma forte flutuação do câmbio.
Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, mostra que, depois de sucessivas quedas, o volume de vendas no varejo restrito apresentou uma leve alta de 0,6%, na comparação de outubro com setembro. A expectativa dos analistas era de um recuo de cerca de 1%. O segmento que apresentou maior destaque foi o de hipermercados e supermercados que registrou alta de 2%, no mesmo período. Mesmo com a quebra da sequência negativa, é pouco provável que a recuperação do varejo venha a se concretizar, em 2016. As expectativas em relação ao próximo ano é de deterioração do setor, bem como do restante da economia. No setor de serviços a crise segue seu curso normal, sem nenhuma surpresa. O volume de serviços prestados no país recuou 5,8% em outubro, na comparação com igual período de 2014.
A principal notícia internacional ficou por conta do Fed, banco central norte-americano, que elevou sua taxa de juros de referência. A decisão pode levar a uma redução do fluxo de dólar para os países emergentes, entre eles o Brasil. Até agora, não houve uma repentina inversão, no entanto, as expectativas giram em torno das próximas elevações que virão no ano de 2016, mais precisamente, da magnitude do afrouxamento monetário que pode ter influência direta no câmbio brasileiro, provocando uma desvalorização da moeda nacional e, consequentemente, tendo um reflexo negativo na taxa de inflação.
Enquanto o cenário econômico se apresenta de forma cada vez mais deteriorada, os políticos continuam a tratar de seus problemas, enquanto o resto do país espera impacientemente. Os jornalistas especializados em política, apontam que Cunha e seus aliados, vale lembrar que entres eles encontra-se o vice-presidente Michel Temer (PMDB), buscam atrasar o início do processo de impeachment para março de 2016, período em que eles consideram que o país se encontraria num verdadeiro caos econômico. A ideia é encontrar a tempestade perfeita para que o afastamento da presidente se concretize. Dentro do próprio PMDB a briga está cada vez mais evidente, Renan Calheiros (PMDB-AL) de um lado e Cunha e Temer do outro.
As eleições de 2016 estão chegando e a briga pelo poder se acirrando. Só com a ajuda de Papai Noel poderá a economia dar algum sinal de melhora, até outubro.
É hora da presidente escrever sua carta ao bom velhinho e torcer para que seja atendida.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Mudança na Fazenda

Semana de 14 a 20 de dezembro de 2015


Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

               A notícia de maior relevância para a econômica foi a substituição do ministro da Fazenda. Sai Joaquim Levy e assume Nelson Barbosa. A primeira vista não representa uma guinada na política econômica, mas, de certa forma, um abrandamento do que teria sido proposto por aquele que deixou o ministério. O ajuste continua sendo o foco da política econômica, no entanto, acredita-se que haverá um maior grau de flexibilidade em sua condução. A gota d’água foi a redução da meta de superávit primário que, em função da manutenção integral do programa Bolsa Família, foi abatida, caindo de 0,7% para 0,5% do PIB, o que contrariou o ex-ministro. Com a proximidade das eleições de 2016 e o enfrentamento do processo de impeachment, um corte no programa de transferência de renda seria um tiro no pé nos planos do governo.
            Já no plano político, as sucessivas derrotas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi o ponto marcante. Iniciou-se com o cumprimento de mandados de buscas nas casas do presidente da Câmara dos Deputados após a deflagração da operação Catilinárias pela Polícia Federal. Logo em seguida, o Conselho de Ética da Câmara, resolveu pela admissão da representação contra sua pessoa. Depois, o STF pôs um limite à sua conduta autoritária, revogando as decisões de Cunha que embasaram a votação da comissão especial e fazendo com que o processo de impeachment retornasse à estaca zero. Por fim, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao próprio STF que ele seja afastado do mandato parlamentar.
            A agência de risco Fitch Ratings rebaixou a nota brasileira fazendo com que o país perdesse o status de grau de investimento e se tornasse grau especulativo. O maior temor seria uma fuga de capitais do país, algo que, até agora, é visto com certo ceticismo pelos analistas do mercado financeiro. Como tal situação já estava prevista por aqueles que atuam na área, não houve uma forte flutuação do câmbio.
            Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, mostra que, depois de sucessivas quedas, o volume de vendas no varejo restrito apresentou uma leve alta de 0,6%, na comparação de outubro com setembro. A expectativa dos analistas era de um recuo de cerca de 1%. O segmento que apresentou maior destaque foi o de hipermercados e supermercados que registrou alta de 2%, no mesmo período. Mesmo com a quebra da sequência negativa, é pouco provável que a recuperação do varejo venha a se concretizar, em 2016. As expectativas em relação ao próximo ano é de deterioração do setor, bem como do restante da economia. No setor de serviços a crise segue seu curso normal, sem nenhuma surpresa. O volume de serviços prestados no país recuou 5,8% em outubro, na comparação com igual período de 2014.
            A principal notícia internacional ficou por conta do Fed, banco central norte-americano, que elevou sua taxa de juros de referência. A decisão pode levar a uma redução do fluxo de dólar para os países emergentes, entre eles o Brasil. Até agora, não houve uma repentina inversão, no entanto, as expectativas giram em torno das próximas elevações que virão no ano de 2016, mais precisamente, da magnitude do afrouxamento monetário que pode ter influencia direta no câmbio brasileiro, provocando uma desvalorização da moeda nacional e, consequentemente, tendo um reflexo negativo na taxa de inflação.
            Enquanto o cenário econômico se apresenta de forma, cada vez mais, deteriorada, os políticos continuam a tratar de seus problemas, enquanto o resto do país espera impacientemente. Os jornalistas especializados em política, apontam que Cunha e seus aliados, vale lembrar que entres eles encontra-se o vice-presidente Michel Temer (PMDB), buscam atrasar o início do processo de impeachment para março de 2016, período em que eles consideram que o país se encontraria num verdadeiro caos econômico. A ideia é encontrar a tempestade perfeita para que o afastamento da presidente se concretize. Dentro do próprio PMDB a briga está cada vez mais evidente, Renan Calheiros (PMDB-AL) de um lado e Cunha e Temer do outro.
            As eleições de 2016 estão chegando e a briga pelo poder se acirrando. Só com a ajuda de Papai Noel poderá a economia dar algum sinal de melhora, até outubro.
            É hora da presidente escrever sua carta ao bom velhinho e torcer para que seja atendida.

[i] Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira rclas@hotmail.com; (www.progeb.blogspot)
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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

PIB cai, inflação sobe... BACEN tem a solução

Semana de 07 a 13 de dezembro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor, a economia mundial e a brasileira continuam sem rumo. A crise se alastra e qualquer sinal de recuperação suscita dúvidas. Todas as soluções mágicas dos economistas para resolver os problemas econômicos atuais continuam sem provocar os efeitos esperados. O Banco Central Europeu lançou mais uma: reduziu de -0,2% para -0,3% a taxa de juros das reservas que os bancos comerciais guardam em seu cofre. É uma tentativa desesperada para que as instituições lancem o dinheiro em circulação.
No Brasil, o PIB do terceiro trimestre caiu 1,7%, comparado ao segundo trimestre. A atividade agropecuária recuou 2,4%, a industrial caiu 1,3% e os serviços, 1%. O consumo das famílias desabou em 1,5% e a formação bruta de capital fixo caiu em 4%. Os indicadores mais importantes da atividade econômica mostram queda da demanda e da oferta, com os consumidores adquirindo menos e as empresas ofertando menos. Por mais incrível que possa parecer, muitos tratam a queda generalizada como uma surpresa. Mas em meio a um ajuste fiscal, taxas de juros altas e crise política que só se agrava, há apenas uma certeza, a de que a situação ainda vai piorar muito.
Não há sinal de retomada dos investimentos. O Indicador de Intenção de Investimentos da Indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV) apurou queda de sete pontos, no quarto trimestre de 2015, comparado ao trimestre anterior. O Indicador de Custos Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aumentou 2,9%, no terceiro trimestre, em relação ao segundo. De acordo com a instituição, a alta dos custos tem sido superior ao aumento dos preços dos produtos, o que sugere um menor lucro para as empresas.
O final de ano para o setor industrial será negro. A Mitsubishi, que já havia dado férias coletivas em julho e outubro, resolveu parar por cinco semanas, a partir de 14 de dezembro, em virtude da queda das vendas de automóveis. A Honda, que domina o mercado brasileiro de motocicletas, dará férias coletivas de 18 dias a partir de 21 de dezembro. No acumulado do ano, a produção de motos caiu 15%. A LG demitiu 453 trabalhadores na fábrica de Taubaté. O número soma-se as 285 vagas que já foram cortadas este ano pela empresa por causa da queda da demanda.
O indicador de inflação piorou. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou de 0,82%, em outubro, para 1,01%, em novembro. Foi maior que o esperado, com destaque para a alta do preço dos alimentos. Segundo o IBGE, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 10,48%, em novembro, e o IPCA deve encerrar o ano com alta superior a 10,5%. Para as famílias que recebem até 2,5 salários mínimos, a alta da inflação, em novembro, foi de 1,06%. No acumulado, estas famílias, afetadas pelo aumento das tarifas e dos preços dos alimentos, pagaram 11,2% a mais em seu consumo. Mas o Banco Central tem a “solução perfeita” para o problema. As recentes declarações de seus dirigentes indicam que na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), a taxa de juros irá aumentar, mesmo com a atividade econômica e o consumo descendo ladeira abaixo.
Com o agravamento da situação econômica e política, o governo agora teme que as onipotentes agências de risco rebaixem a nota de investimento do Brasil. A Fitch pode retirar o selo de bom pagador do país até o próximo mês e a Moody’s decidirá em três meses.
E assim, o governo deve encerrar 2015. Refém da falta de crescimento interno e mundial, refém da alta inflação, das agências de risco e o pior, refém de um Congresso Nacional altamente corrompido.
Pior vai ficar!

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Economia e política

Semana de 30 de novembro a 06 de dezembro

Nelson Rosas Ribeiro[i]


Enquanto a crise econômica segue seu curso normal, agravando-se cada vez mais, os acontecimentos políticos desencadeiam-se a uma velocidade espantosa, roubando a cena. Não se consegue prever o que poderá ocorrer no momento seguinte, após a prisão do senador Delcídio, da abertura do processo de impeachment da presidente, por um dos deputados mais corruptos do país, que continua, apesar disso, na presidência da Câmara, sendo, portanto a terceira pessoa na linha da sucessão. E continua ele mesmo, a comandar o processo que implica na sua própria cassação. É um paradoxo digno de um país desmoralizado. E nós apenas podemos assistir impotentes as manobras mais escusas utilizadas por este bandido para impedir sua queda e derrubar a presidente.
A histeria antipetista, alimentada pela total ignorância sobre os processos econômicos, atinge o nível da irracionalidade e coloca no mesmo saco partidos que se dizem democráticos, como os tucanos e o PPS e animais como os bolsonaros da vida e todos os tipos de torturadores e militares saudosos da ditadura. E não me venham com esta conversa fiada de luta contra a corrupção, pois “se gritar pega ladrão... ”.  
O circo está montado e o congresso dirigido por dois processados pela justiça virou um balcão de compra e venda de votos. A política domina a economia e neste ambiente, o país está paralisado. A situação econômica deve deteriorar-se ainda mais. Não é por outra razão que o PSDB tenta a manobra suja de manter o impasse até fevereiro apelando para o recesso do legislativo.
A situação internacional não traz grandes novidades. Apenas a ameaça de que o Banco Central americano (Fed) provavelmente começará a elevação dos juros nos EUA. Por outro lado o Banco Central Europeu (BCE) decepcionou o “mercado” quando não aumentou sua Quantitative Easing (QE) limitando-se apenas a manter a compra mensal de 60 milhões de euros de títulos até setembro de 2016 e cortar a taxa de depósitos em 10 pontos base.
A elevação dos juros pelo Fed, no entanto, terá consequências para a economia brasileira contribuindo para o agravamento da situação que continua a deteriorar-se. O setor automotivo, depois de perder 25% das vendas em 2015, em comparação com 2014, prevê novos tombos na produção. Caem os empregos e as horas trabalhadas na indústria e no comércio, aumenta a ociosidade da capacidade instalada, em novembro, para 74,6%. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre – FGV) afirma que, em 12 meses, até setembro, os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), caíram 7,3% e os investimentos em máquinas e equipamentos tiveram uma redução de 23%. A situação é ainda mais desanimadora quando se observa que o crédito bancário se reduziu 0,1%, em outubro, confirmando a tendência de desaceleração observada anteriormente e particularmente dos bancos públicos que, de uma taxa anual de expansão de 40%, em 2008, caiu para 12,5% agora, em novembro.
A divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central lançou ainda mais água na fervura ao ameaçar com mais elevação da taxa Selic, na reunião de janeiro. E para não restar dúvidas o diretor de Assuntos Internacionais Tony Volpon, que votou por uma alta da taxa na reunião passada, vociferou em uma declaração que o banco tem de dar uma resposta “contundente e tempestiva” como melhor forma de retomar o “processo de reancoragem das expectativas”.
No meio de toda esta confusão 19 entidades empresariais entre as quais a CNI, Abimaq, Abit, Sindipeças, Sinicon, etc., reuniram-se com as seis centrais sindicais nacionais (CUT, CSB, CTB, NCST, UGT e Força Sindical) e aprovaram um documento com sete diretrizes para promover o desenvolvimento e com críticas a financeirização da economia e à política do ministro Levy. Só a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) não assinou.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

‘Plano de fuga’

Semana de 23 a 29 de novembro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Pela segunda vez na história do país, um senador no exercício de suas funções foi preso. E de forma inédita, realizou-se uma sessão no Senado para discutir a manutenção ou relaxamento da pena de congressista preso. O Supremo Tribunal Federal (STF) não teve outra opção a não ser emitir a ordem judicial que determinou a prisão do senador Delcídio do Amaral, líder do governo no Senado, após ouvir a gravação em que o senador citou os nomes de alguns ministros do STF, de importantes políticos, como o vice-presidente da República, Michael Temer (PMDB-SP) e Renan Calheiros (PMBD-AL) comprometendo-os com ações ilícitas. A prisão representa mais um revés para o governo, que perdeu seu principal articulador na casa.
            Ao ritmo das prisões, o governo assistiu o retorno ao caos. Dias antes, a presidente Dilma Rousseff vislumbrava uma melhora no panorama político. As principais votações do ajuste fiscal encaminhavam-se no Senado e parecia que teriam o resultado esperado. No entanto, em menos de vinte e quatro horas o governo viu o retorno da agonia dos últimos meses. A prisão do senador Delcídio (PT-MS) provocou, de quebra, a paralisação política dos trabalhos no Senado. O ajuste ficou mais distante e o clima voltou a ser bastante conturbado.
            Diante do impacto causado pelo evento, a economia passou para o segundo plano. Enquanto a crise política se agrava, a cada nova prisão, a crise econômica continua a sua marcha, sem sinal de que o fundo do poço está próximo. Dados da Pesquisa Mensal de Amostras por Domicílio (Pnad – IBGE) apontam que 11 capitais já apresentam taxa de desemprego maior que 10% e que a média nacional é de 8,9%, no terceiro trimestre. A Ford em Camaçari e a General Motors em Gravataí anunciaram a suspensão do terceiro turno em suas fábricas. A crise passou a atingir até o setor de produtos de beleza, onde houve queda nas vendas reais de 6,7%, de janeiro a dezembro.
            O boletim Focus, publicação do Banco Central, mostrou mais uma rodada de deterioração dos resultados econômicos previstos para esse ano e o próximo. De acordo com os dados, a previsão do IPCA para o final deste ano subiu para 10,33%, e para 6,64%, em 2016, estourando, mais uma vez, o teto da meta. Assim, mesmo com a manutenção da Selic no patamar atual de 14,25%, a perspectiva para o próximo ano é da alta da taxa básica de juros. Os ‘interpretadores das atas’ do Copom notaram a exclusão do termo ‘a manutenção da Selic por período suficientemente prolongado’. Isso significa que o seu aumento no ano que vem passa a fazer parte de um cenário possível.
            Na Europa, a crise dos refugiados e os atentados terroristas do Estado Islâmico continuam a preocupar as principais autoridades econômicas da região enquanto o EI impunemente, se financia com a venda de petróleo no mercado negro. O Iraque não quer ver a destruição de nenhuma refinaria em posse do grupo terrorista. Predomina a esperança de que, após a eliminação dos fundamentalistas, os campos de petróleo retornariam às mãos dos iraquianos. Em Portugal, Antônio Costa, líder socialista, foi nomeado primeiro-ministro. Foi formada uma aliança com três partidos de extrema-esquerda e, da mesma forma como o Syriza na Grécia, o novo governo se apresenta como um oponente das políticas de austeridades. A experiência grega ficou longe de cumprir as promessas de campanha, resta saber agora como se comportará a portuguesa.
            Aqui pelo Brasil, o governo está cada vez mais fraco e debilitado. A série de escândalos envolvendo integrantes do alto escalão do PT não dá trégua. O cerco está cada vez mais perto das principais cabeças do partido. O ex-presidente Lula não deve estar muito ansioso para as próximas fases da operação Lava-Jato. As investigações em torno do seu filho, de seus amigos pessoais e dos líderes do governo estão minando a popularidade do ex-presidente. Pesquisa do Datafolha coloca Aécio Neves (PSDB-MG) em primeiro lugar para as próximas eleições.
            A opinião pública teve força suficiente para obrigar o Senado Federal a uma votação aberta e à manutenção da prisão do senador petista. Entretanto, após o episódio, uma mudez impressionante atingiu os principais líderes da oposição e da situação.
            Quem sabe o que ainda pode vir por ai? Há muito pescoço temeroso da guilhotina.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 24 de novembro de 2015

O mundo em frangalhos

Semana de 16 a 22 de novembro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. A novela nacional que trata da troca dos seis por meia dúzia continua. A presidente Dilma Rousseff segue resistindo às pressões do ex-presidente Lula para a substituição do ministro da Fazenda Joaquim Levy por Henrique Meirelles. A demissão do ministro vem sendo cogitada há pelo menos três meses e, na opinião de Lula, só a recuperação econômica será capaz de resgatar a popularidade da presidente, do PT e obviamente, da sua candidatura à presidência da República em 2018. Mas o “candidato” ao cargo é exigente demais. Meirelles, só o aceita, segundo conversas de bastidores, se, sob o seu poder, estiver a indicação de novos nomes para o Ministério do Planejamento e para o Banco Central. Dilma ao que parece, jamais tolerará imposições. Por esta razão, outros nomes são mencionados, como o do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi e Otaviano Canuto, diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Por enquanto, a presidente declara que “o ministro fica onde está” e levou-o a tiracolo para a reunião do G-20.
O quadro de crise continua a se agravar. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) detectou, em 2014, o aumento da desigualdade de renda no Sudeste, embora o indicador nacional tenha apresentado, em relação a 2013, uma leve melhora. O Índice de Gini, medida da desigualdade de renda, caiu de 0,495 para 0,490 (quanto mais próximo de zero menor a desigualdade). A taxa de desemprego aumentou de 6,5% para 6,9%. Estes resultados, segundo os analistas, ainda não refletem os efeitos da recessão.
O grave quadro de crise é perceptível quando se olham os números de 2015. Segundo o Ministério do Trabalho, de janeiro a outubro deste ano, 819 mil empregos formais foram perdidos e segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, a taxa de desemprego subiu de 7,6% em setembro para 7,9% em outubro. O maior patamar de desempregados pertence à indústria. Dados divulgados pela Secretaria da Receita Federal dão a dimensão da crise. A receita com o Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas e com a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) caiu 14,79%, em outubro, quando comparada com outubro de 2014. O adiamento ou não pagamento destes tributos indicam que a crise se alastra.
No resto do mundo, enquanto a França investiga e persegue os responsáveis pelos ataques em Paris, os 20 países mais ricos do mundo se reúnem em Antalya na Turquia para discutir os rumos da economia mundial. Graves problemas roubam a cena do encontro deste ano, desde os econômicos (países emergentes em desaceleração, Europa estagnada e incerteza da recuperação americana) até os políticos e de segurança (crise de refugiados na Europa e terrorismo do Estado Islâmico). Diante dos fatos, o G-20 tem dificuldades em traçar alternativas que restabeleçam o crescimento econômico.
Os atentados de Paris podem, segundo o Banco Central Europeu (BCE), influenciar negativamente os já debilitados investimentos e os gastos do consumidor europeu. Crescem então, as expectativas de que o presidente do BCE, Mario Draghi, permita mais estímulos monetários. Já a indústria americana recuou sua produção em 0,2% em outubro. Um mês antes a queda havia sido a mesma. A utilização da capacidade instalada continua a recuar e registrou em outubro 77,5%.
Com as economias mundiais encalacradas, o sistema capitalista parece ter chegado a um ponto de estrangulamento. Um estudo feito pela firma de pesquisas de mercado YouGov encomendado pelo instituto londrino Legatum, detectou que os mais otimistas em relação ao sistema são os indianos. Metade dos entrevistados acredita que “a próxima geração será provavelmente mais rica, mais segura e mais saudável que a última”. O otimismo é menor entre os tailandeses (42%), indonésios (39%) e brasileiros (29%). Os mais pessimistas estão no Reino Unido (19%), Alemanha (15%) e Estados Unidos (14%).
De onde virá a salvação do sistema?

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Terrorismo e lama

Semana de 09 a 15 de novembro de 2015


Nelson Rosas Ribeiro[i]

Esta semana está difícil falar sobre conjuntura econômica por dois tipos de razões. Primeiro porque não há grandes novidades no panorama econômico, nem no Brasil, nem no mundo. As tendências mantêm-se: a economia mundial continua sua lenta recuperação e a brasileira afunda cada vez mais. A única novidade é o discurso de Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, confirmando que eles começarão uma cautelosa elevação dos juros agora, em dezembro. Segundo, porque a cena foi roubada por dois grandes acontecimentos: os atentados terroristas de Paris e o estouro das barragens de contenção de resíduos da usina de mineração Samarco de propriedade da Vale do Rio Doce e da BHP Billigton que provocou um desastre ecológico de consequências catastróficas.
Na conferência do G-20, realizada na Turquia, Vladimir Putin, presidente da Rússia, denunciou que, entre as nações que financiam o EI há membros do próprio G-20 e mostrou fotografias dos comboios de caminhões pipa que transportavam o petróleo que o EI vende para os países vizinhos. Por que ninguém fala do apoio da Arábia Saudita aos terroristas e do ódio insano dos EUA ao governo Assad na Síria? Não dá para acreditar que, de repente, quem apoiou todo tipo de ditadura sanguinária em todo o mundo resolva, de repente, ter alergia ao “ditador” Assad. Ninguém também questiona onde está o dedo do estado sionista de Israel nisto tudo. Não se ouve nenhuma contestação sobre as causas da desordem social e desestruturação dos países da África que empurra milhões de seres humanos desesperados, para a travessia do Mediterrâneo, em frágeis embarcações. Descontados os milhares que encontram a morte nos naufrágios, os sobreviventes criam o já considerado maior fenômeno migratório, depois da segunda guerra mundial.
O outro acontecimento, o estouro das barragens de contenção de resíduos da mineradora Samarco, já está sendo considerado o maior desastre ecológico no Brasil. Não se consegue calcular o tamanho e o tempo de duração da destruição que provocou. E aí também há perguntas sem resposta a começar pela paralisação, no Congresso, do processo de discussão do novo código de mineração, desde 2013. O próprio relator atribui à “interesses privados”, pois as mineradoras não querem a aprovação das cláusulas que obrigam ao tratamento dos resíduos, à contratação de seguros e ao aumento da fiscalização.
Mas há outras perguntas. As empresas não sabiam do risco de rompimento? Onde estão os órgãos fiscalizadores? Há novas barragens sob ameaça? Quem controlará a recuperação das áreas degradadas? Enquanto isso a mineração continua. É preciso garantir os lucros das mineradoras e, da poderosa Vale do Rio Doce.
Apesar do formidável efeito midiático desses dois acontecimentos sobrou espaço nos noticiários para as intrigas políticas que paralisam o país. Prolonga-se o número de equilibrismo do presidente da câmara, Eduardo Cunha, agora defendido pela cúpula do PT e atacado pelo PSDB, que resolveu deixar cair a peteca. O equilibrista continua a prorrogar indefinidamente a decisão sobre o pedido de impeachment como forma de adiar sua queda em busca de uma alternativa.
Enquanto isso, dentro do governo explodiu uma nova bomba: a substituição do ministro Levy pelo Henrique Meirelles, ex-colaborador do governo Lula que o defende com unhas e dentes. Parece incrível que o velho cacique acredite que o Meirelles, nos dias atuais (tempos de tsunami) conseguiria desempenhar o mesmo papel que desempenhou no seu governo (tempos da marolinha).
A pressão sobre a presidente Dilma vem de todos os lados como se o Meirelles tivesse uma proposta diferente da do Levy, apesar deles dizerem que são unha e carne.
Querem trocar seis por meia dúzia.







[i]Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Ponte no papel

Semana de 02 a 08 de novembro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

O projeto desenvolvido pelo PMDB e batizado de “Uma Ponte para o Futuro”, chamado por alguns como “proposta Temer”, marcou o ambiente político da semana. O programa mais ortodoxo dos últimos tempos se apresenta com a cara do partido. Na sua eterna posição de “em cima do muro”, os pemedebistas avistam a necessidade de se afastar da política econômica heterodoxa petista, suposta responsável pela crise em que o país se encontra. O documento que causa inveja até ao próprio PSDB, pela sua maior e mais profunda abordagem ortodoxa, traz em seu corpo pontos como a idade mínima de aposentadoria, privatização e salário-mínimo. Como era de se esperar, o documento recebeu apoio dos economistas mais alinhados à direita.
Enquanto isso, os resultados econômicos mostraram a contínua deterioração da economia brasileira. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,82%, em outubro, segundo o IBGE. É a maior taxa de inflação para outubro desde 2002. No acumulado em 12 meses o indicador já aponta 9,93%, enquanto que o acumulado no ano é de 8,52%. O vilão do mês foram os combustíveis, mais caros 6,09%, o que corresponde a 37% da taxa geral do mês. Outra importante pesquisa divulgada pelo Instituto refere-se à indústria. No mês de setembro, a produção industrial brasileira apresentou recuo de 10,9% em comparação com o mesmo mês do ano passado, sendo o 19º mês consecutivo de queda nesse indicador. O resultado coloca por terra a expectativa aventada pelo governo, no início do ano, de que o segundo semestre seria o início da recuperação. O pior é que a situação se apresenta de forma oposta, indicando que a retração vem ganhando ritmo. Nada que não fosse esperado diante de um ajuste fiscal quando a economia já estava combalida.
O natal da indústria, que ocorre em setembro por conta das encomendas para o fim de ano, já aponta vendas abaixo do previsto. As contratações temporárias praticamente não aconteceram. A venda de papelão ondulado, termômetro para a atividade econômica, apresentou retração de 4,47% no mês, ante igual período do ano passado. As montadoras de veículos continuam batendo recorde negativo mês após mês. O que ainda traz um pequeno alento às indústrias é a depreciação do Real frente ao Dólar, o que incentiva as exportações e diminui as importações, levando a uma redução do saldo negativo da balança comercial.
Diante da irresponsabilidade dos últimos anos, o governo se esforça para saber, pelo menos, qual o valor do déficit desse ano. O Ministério da Fazenda divulgou documento informando que as famosas “pedaladas fiscais” atingem o valor de R$ 57,013 bilhões. Se resolver quitar todo o passivo, há a possibilidade de que o déficit fiscal seja de R$ 119,9 bilhões. Vale salientar que no início do ano a previsão chegou a ser de superávit fiscal de R$ 55,3 bilhões. Erraram por pouco. Já o orçamento de 2016 continua entalado. O ministro Joaquim Levy continua a insistir na criação da CPMF enquanto que o congresso não está muito disposto a ter esse ônus em um ano de eleições municipais. Diante disso, o relator do projeto, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), continua com a ideia de cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família.
As investigações da Polícia Federal continuam atingindo os políticos do alto escalão. O ex-presidente Lula tratou de se defender na TV aberta. Colocou em xeque a credibilidade dos delatores e, apesar de sua boa retórica, não foi muito além de palavras vazias. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também tratou de se defender em TV aberta. Em entrevista, contou uma história que deixaria George Orwell e Franz Kafka impressionados. De um jeito ou de outro, construiu uma tese jurídica que minimizaria os danos que pode sofrer, desde que alguém acredite. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também concedeu diversas entrevistas sobre o lançamento de suas memórias políticas. Obviamente, diante de uma crise econômica e política de grandes proporções, ele tratou de se apresentar como o “Grande Presidente” que fez tudo que é certo e nada de errado.
E no meio de tudo isso se encontra a população brasileira, sem representação e sem perspectiva. Será que uma “Ponte” num papel pode ser a solução para todos os nossos problemas?
Tá difícil de acreditar.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Economia brasileira: Dificuldades em dobro

Semana de 26 de outubro a 01 de novembro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Orçamento público descontrolado, orçamento familiar apertado, inflação nas alturas, juros altos, queda das vendas, baixa atividade industrial e dólar em alta são alguns dos fatos que marcam o cenário atual no Brasil. E sem indicação de reversão.
As projeções para a inflação não param de aumentar. O Boletim Focus apurou alta de 9,95% para o IPCA, em 2015, e de 7,3%, em 2016. O “mercado” culpa o Banco Central pela piora das expectativas já que a instituição parece ter deixado de lado o objetivo da “convergência para a meta”. A depreciação cambial, o aumento dos preços administrados e a situação fiscal têm contribuído para a elevação da inflação, segundo alguns economistas. Números divulgados pelo Banco Central mostram que o crédito às pessoas físicas não cresceu em setembro. Com as famílias evitando se endividar, a oferta de empréstimos pelos bancos caiu 0,9% neste mês. Houve queda nos financiamentos de bens duráveis (0,1%) e de veículos (1,1%). No setor produtivo, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) apurou uma melhora no Índice de Confiança da Indústria que subiu de 66 em setembro para 67,5 em outubro, aumento de 2,3%. Mas, ainda não há o que comemorar, pois este número é um dos menores da série histórica.
Enquanto isso, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu no Congresso Nacional as medidas de política econômica tomadas em sua gestão. Segundo ele, a concessão de subsídios foi usada para estimular a economia. E assumiu finalmente, que o governo não esperava o prolongamento da crise mundial. Esperavam sim, o fim da crise mundial, em 2013. Como isto não aconteceu, teve que admitir o erro. Mantega ainda alfinetou seu sucessor: “O ministro Levy achava que, em seis meses, faria o ajuste da política econômica. A gente se equivoca.” De fato, a situação de Levy é difícil. Com a pressão de parte do PT no sentido de reverter a política econômica ou demiti-lo do cargo, as últimas tentativas do ministro de implementar o ajuste vão minguando, com o passar dos dias. A CPMF provavelmente não será recriada e as demais medidas andam a passos lentos no Congresso Nacional. E embora o principal efeito das primeiras medidas de arrocho tenha sido a intensificação da recessão, Levy, da Fazenda e Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, eximem-se da culpa, afirmando que a queda do crescimento nada tem a ver com o ajuste.
Com ou sem ajuste, espera-se crescimento pífio também em 2016. E, infelizmente, o alento não poderá vir do exterior. A economia americana continua a apresentar dados que dão como incerta a recuperação. Com exceção das empresas do setor de tecnologia, a indústria americana definha. O crescimento esperado de 3% para os próximos trimestres fracassou quando muitas indústrias registraram desaceleração na produção, nas vendas e nas contratações. Empresas como a Caterpillar, 3M, Monsanto, Biogen, United Tecnologies, vêm apresentando queda dos lucros, o que reforça a recessão industrial. O PIB anualizado do terceiro trimestre foi de 1,5%, segundo o Departamento de Comércio norte-americano. O resultado de 3,9% no segundo trimestre trazia boas perspectivas que se frustraram com o novo número.
A desaceleração dos países emergentes e a fraca recuperação da economia europeia também não darão o reforço necessário para que os Estados Unidos cresçam com vigor, o que é mau para a economia interna.
As dificuldades econômicas brasileiras continuam aliadas às dificuldades políticas. A presidente Dilma enfrenta o resultado de mais uma pesquisa de popularidade divulgada pelo instituo MDA. Embora sua aprovação tenha crescido de 7,7% para 8,8%, entre julho e outubro, a sondagem indicou que o ex-presidente Lula perderia as eleições, tanto nas intenções de voto espontâneas, quanto nas estimuladas. Dilma então tem que enfrentar a arrogância do ex-presidente, que ao ver ameaçada sua chance de retornar à presidência, insiste em lhe tomar satisfação, por serem “vítimas”, ele e sua família de investigações que, segundo o próprio, tem como único objetivo atacar o seu legado.
Pode?

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Recessão e inflação: a tragédia do Copom

Semana de 19 a 25 de outubro de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

O Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC) responsável pela política monetária, em sua reunião da quarta feira da semana passada, resolveu não elevar a taxa de juros de referência Selic, mantendo-a nos atuais 14,25% anuais (a maior do mundo). Segundo os tradutores do coponês, o BC mudou sua política adiando o plano de fazer convergir a inflação para a meta de 4,5% ao ano, já em 2016. O comunicado divulgando a notícia informou que a taxa será mantida “por um período suficientemente prolongado” e que este é o caminho para “a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política monetária”. Dizem os entendidos em “coponês” que isto significa cerca de dois anos. Comenta-se que o BC está preocupado com a desaceleração da economia, o aumento do desemprego, a queda na produção e nas vendas, ou seja, não há excesso de demanda, mas sim excesso de produção o que torna a inflação observada um mistério e insensível ao aumento dos juros. A elevação dos preços observada é estranha e inexplicável. Para este problema a teoria econômica oficial e o BC não têm solução. Não querem admitir que estamos novamente diante da estagflação, inflação com estagnação.
Nestas circunstâncias, a ação do Levy com sua austeridade fiscal, sacrificando os programas sociais e os direitos dos trabalhadores, só contribui ainda mais para o quadro recessivo além de ampliar o descrédito do governo.
Com efeito, os dados continuam revelando o caminho para o fundo do poço. A Ford divulgou um relatório mostrando que, nos últimos quatro anos a indústria de veículos perdeu R$41,9 bilhões no faturamento, cortou US$3,6 bilhões de remessas para suas matrizes e deixou de vender 1,1 milhão de veículos. Roberto Cortes, presidente da MAN, afirmou que a indústria de veículos comerciais pesados opera com ociosidade superior a 70%. Segundo a Confederação Nacional da |Indústria (CNI), o uso da capacidade instalada na indústria em geral, em agosto, foi de 77,9%, o mais baixo desde janeiro de 2003. Entre janeiro e agosto, o numero de horas trabalhadas caiu 9,2%. A renda média do trabalhador, nos últimos 12 meses, caiu 3,5%. Também de janeiro a agosto o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) calcula que o emprego industrial caiu 5,6% e a produção 6,9%.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimac), o setor terá, em 2015, o terceiro ano de queda no faturamento. No ano passado foram cortados 13 mil empregos, ou seja, 3,3% do pessoal ocupado e, em 2015 já perderam o emprego 7% do total dos empregados.
A Sondagem Econômica Industrial do Rio de Janeiro feita pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostrou que o Índice de confiança do Empresário Industrial (Icei-RJ) chegou a 34 pontos, em outubro (Índice de 0 a 100. Abaixo de 50 indica pessimismo), o pior valor desde 2005.
Não há nenhum dado que aponte a possibilidade de reversão da tendência de crise. E não podia ser diferente. O Brasil entrou atrasado na crise mundial (a marolinha do Lula), depois de serem esgotados todos os recursos da política econômica anticíclica do ex-ministro Mantega. Agora pagamos o preço. O problema é que com a ocorrência da inflação, em simultâneo com a desaceleração e levando de quebra a política de austeridade fiscal do Levy, tudo se agrava.
Com o desemprego e a redução da renda e do consumo não parece que a reversão do ciclo possa originar-se no mercado interno. E para nossa infelicidade há uma nova ameaça de crise pairando sobre o mundo.
Se acrescentarmos a corrupção descoberta a cada nova investigação, o descrédito do PT e do governo, a fúria histérica e golpista da oposição de direita e a canalhice dos políticos encastelados no congresso nacional, comandados por um gangster, teremos o quadro em que a presidente Dilma é obrigada a mover-se, apanhando de todos os lados e incapaz de extirpar o germe da roubalheira que rói as entranhas do seu governo.
Difícil o destino da presidente!

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Rabo preso

Semana de 12 a 18 de outubro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Os escândalos das supostas contas suíças do presidente da Câmara continuam ocupando as manchetes de quase todos os meios de comunicação do país. A iminência de um vergonhoso possível acordo entre o PT e ele, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o intuito de salvar o mandato da presidente Dilma Rousseff, implicaria na completa perda de confiabilidade nas instituições nacionais. Depois da decisão do STF de que o arquivamento ou prosseguimento dos pedidos de impeachment seria decisão monocrática do presidente da Câmara, a maré mudou para Cunha e para a oposição. O impeachment ficou um pouco mais distante, pelo menos num primeiro momento.
Em relação à economia, o índice de atividade econômica do banco central, IBC-BR, recuou 0,76%, em agosto, ante julho, e 2,6% nos últimos 12 meses, colocando por terra o prognóstico do governo, no começo do ano, que chegou a apontar o segundo semestre como o momento inicial da recuperação econômica. A expectativa era de que a confiança dos agentes econômicos seria retomada e que tudo viria de acordo com a receita de bolo: ajuste – retomada da confiança – crescimento.
Neste ponto as críticas são feitas pelo professor da Unicamp, Pedro Rossi, que ao abordar a receita acima exposta, tece o seguinte comentário: “não se trata, contudo, de negar o papel das expectativas no crescimento econômico, mas de questionar seus mecanismos de formação. Um empresário não investe porque o governo fez ajuste fiscal, mas quando há expectativa de demanda e lucratividade. Se o horizonte é de contração da demanda e subida dos juros, não há motivos para investir.” E conclui da seguinte forma: “historicamente, as evidências de sucesso de um ajuste contracionista são muito controversas. O próprio FMI vem questionando a hipótese da "contração fiscal expansionista" e recomenda estratégias de ajuste graduais em detrimento de terapias de choque, como a brasileira”.
A elevada taxa de juros no país parece ter encontrado um limite. Embora não haja consenso de que se tenha atingido ou não a chamada “dominância fiscal” já é disseminado o entendimento de que uma nova alta da taxa Selic traria um impacto negativo cujo efeito seria superior ao controle da inflação corrente, uma vez que pioraria as contas públicas. A elevação dos juros traria um aumento da relação dívida/PIB, o que geraria uma desconfiança, nos investidores estrangeiros, sobre a capacidade de o país honrar com suas dívidas, fazendo com que o real se desvalorizasse. O final seria um efeito negativo sobre a inflação dos anos de 2016 e 2017. Diante desta situação, a expectativa é de que a taxa básica de juros seja mantida no patamar atual. De qualquer forma, a indústria nacional agradece.
Internacionalmente a China continua sendo o centro das atenções. O país, que vinha sendo o motor do crescimento global, coloca em xeque, principalmente, o crescimento de países emergentes, como o Brasil. Cada novo dado negativo divulgado desencadeia revisões no crescimento do próprio país e daqueles com quem possui fortes relações comerciais. O risco maior seria uma queda para abaixo de 6%, o que ainda não aparece no radar das autoridades do país.
Em Brasília, a vergonhosa relação entre a situação, a oposição e Eduardo Cunha, revela a indecente briga de interesses que move a política nacional. O governo não ousa pedir seu afastamento com medo de que ele dê prosseguimento aos pedidos de impeachmentda presidente. A oposição não se atreve a fazer o mesmo porque colocaria todo o esforço de sua campanha pela saída de Dilma Rousseff por água abaixo. E no meio de tudo isso, Cunha usa de seu poder na situação para se manter no cargo.
O mais estranho é a posição tomada pelos diversos grupos que se mobilizaram contra a corrupção e a favor do impeachment da presidente e que tinham como principal palavra de ordem o suposto envolvimento do governo no escândalo da Petrobras. Nas próximas manifestações Cunha será poupado, pelo mesmo motivo que está sendo poupado pela oposição. Parece que a cruzada contra a corrupção não é tão firme assim, e o que realmente importa é o lado onde se encontra o possível corrupto. Se ele defender os nossos interesses, tudo bem, “ele rouba, mas faz”. É dos nossos.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Horizonte sem luz: uma nova recessão mundial se aproxima

Semana de 05 a 11 de outubro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor, enquanto o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, projeta os passos mágicos (1, 2, 3...) para que a economia brasileira volte a crescer, a atividade econômica ruma para o abismo.
A indústria automobilística continua no “porão do fundo do poço”. A queda das vendas em 2015 será de 27,4% e a produção cairá 23,2%, uma estimativa bastante distante da estabilidade das vendas e do crescimento da produção de 4% previstas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no início do ano.
Segundo a Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção da indústria de bens de capital encolheu 7,6%, em agosto, comparada a julho. No acumulado até agosto, a fabricação do setor caiu 22,4%, o que significa retardamento dos investimentos produtivos.
Para a inflação o cenário é tenebroso. O IBGE apurou que a inflação cresceu 0,54% em setembro. No acumulado anual, o índice alcançou 7,64% e ultrapassará 10% ao final de 2015.
Todas as projeções anunciadas para a atividade econômica brasileira preveem queda em torno de 3%. A Confederação Nacional da Indústria em seu Informe Conjuntural prevê queda de 2,9% do PIB em 2015 e de 6,1% da produção industrial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima contração do PIB de 3% e o Banco Mundial prevê queda de 2,58%.
A apreensão em torno dos rumos da economia mundial é crescente. O economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld alertou: “Seis anos depois de o mundo ter saído de sua mais ampla e profunda recessão do pós-guerra, o cálice sagrado de uma expansão global robusta e sincronizada permanece ilusório”.
A desaceleração dos países emergentes, em especial da China, põe o mundo em alerta. A economia chinesa, prevê o FMI, crescerá 6,8% este ano e a queda de sua demanda continuará afetando negativamente o preço das commodities. A enxurrada de dinheiro derivada dos “quantitative easing” americano e europeu, aumentou o endividamento das empresas não financeiras e os riscos de falência, não só no mundo emergente, mas também nos países desenvolvidos, aumentou.
Nem mesmo os melhores exemplos se sustentam. A Alemanha, maior economia da Europa, começa a dar sinais de arrefecimento. As exportações alemãs caíram 5,2% e as importações caíram 3,1%, em setembro, comparado a agosto. As encomendas industriais e a produção interna caíram. A previsão para o crescimento alemão passou de 2,1% para 1,8%.
Maus sinais vêm também da economia americana. A criação de empregos, em setembro, foi de 142 mil postos, abaixo dos 200 mil esperados. O ganho dos trabalhados ficou estável e a inflação continua baixa e não chegará a 2% este ano.
Com sinais tão ruins, a projeção de crescimento do FMI para os países desenvolvidos é de 2% neste ano e 2,2% no ano que vem.
Enquanto isso, os Estados Unidos, Japão e dez outros países que são banhados pelo Oceano Pacífico, lançaram um acordo histórico, com o objetivo de diminuir as barreiras comerciais a bens e serviços e a determinar regras para o comércio.
A Parceria Transpacífico, abrirá mercados agrícolas, endurecerá normas de propriedade intelectual de empresas farmacêuticas e de tecnologia, criando um bloco econômico que desafiará a influência da China. Em seu discurso, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deixou claro: “Não podemos deixar países como a China escreverem as regras da economia global.”
No momento em que os Estados Unidos se protegem da China com a Parceria Transpacífico, a China determina os rumos para uma nova recessão mundial, que poderá ocorrer mesmo antes de termos superado a última.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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