sábado, 20 de dezembro de 2008

Agora Parece Ser Oficial!

Semana de 01 a 07 de dezembro de 2008


Mais do que uma simples contração da atividade econômica, a crise, caracterizada pela redução do nível de produção, pelas falências e pela elevação do nível de desemprego, denominada eufemisticamente de recessão, se transformou numa questão de reconhecimento oficial por parte das autoridades e órgãos governamentais de cada país. Estes órgãos, com “definições técnicas” e, na maioria das vezes, utilizando um “economês” de difícil compreensão para a maior parte da população, baseiam-se em critérios cujas razões não são explicadas e atestam se a economia está ou não em recessão.
Depois de vários países já terem admitido, com “certificado oficial”, estarem passando por umarecessão, no início deste mês, o respeitável National Bureau of Economic Research, grupo privado
americano, anunciou, por meio do seu comitê de “ciclo econômico” que, desde dezembro de 2007, a economia dos Estados Unidos está em recessão. Segundo o relatório divulgado pela entidade, que é a responsável pelo registro dos dados sobre a atividade econômica do país nos livros de história, esta é a primeira recessão nos EUA desde 2001, tendo o período de expansão durado 73 meses, de novembro de 2001 a dezembro de 2007.
Oficialmente, portanto, está declarado e constará nos registros da história econômica dos EUA que, a partir do final de 2007, a economia americana entrou em recessão. Com isto, o que nós já havíamos previsto, quando ainda nem sequer se cogitava a hipótese de uma redução do nível da atividade econômica mundial, recebeu uma certificação oficial. Uma breve consulta às Análises de Conjuntura nos arquivos do jornal Contraponto permite localizar frases, como a que foi publicada no dia 24 de dezembro de 2007: “todos os dados continuam a confirmar que estamos, novamente, prestes a assistir a um quadro de desaceleração do crescimento econômico mundial”. Hoje em dia isto parece óbvio, entretanto, naquela ocasião, a opinião predominante era a de que a crise estava relacionada apenas ao setor imobiliário americano.
Com o reconhecimento oficial da crise econômica, que já não era mais possível esconder, este tema se tornou comum ao jornalismo econômico, que vem divulgando um volume crescente de notícias indicando o agravamento do cenário internacional. Somente para citar alguns dados, nos Estados Unidos, centro das atenções, foram fechadas 533 mil vagas de trabalho, somente em novembro. Este foi o 11º mês consecutivo de retração do nível de emprego no país, fazendo com que a taxa de desemprego já chegue a 6,7%, a pior em 15 anos.
Na China, de acordo com Hu Jintao, presidente do país, a desaceleração está claramente reduzindo a demanda externa e exercendo pressão para enfraquecer as tradicionais vantagens competitivas chinesas. Com a redução das exportações, a produção da indústria vem diminuindo e os protestos de trabalhadores chineses contra o fechamento de fábricas não para de crescer. O Banco Mundial já revisou para baixo a sua previsão de crescimento para a China, de 9,2% para 7,5%, o que, se confirmado, seria a menor expansão em quase duas décadas.
No Brasil as fábricas estão ampliando as paralisações e a produção industrial registrou queda de1,7% entre setembro e outubro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 27 ramos de indústrias pesquisados, 15 cortaram a produção e a indústria de petroquímica foi a que mais se retraiu, com um corte de 11,6%. A indústria automobilística fechou o mês de novembro com 305.660 carros encalhados nos pátios das montadoras, o que, conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), representa um custo de R$ 12 bilhões. Como resultado, além das demissões, a quantidade de trabalhadores colocados em férias coletivas, na indústria brasileira, não para de crescer. Somente a Companhia Vale do Rio Doce já demitiu 1300 operários e concedeu férias coletivas a mais 5500 empregados. No setor imobiliário, mais de R$ 7 bilhões em projetos de investimento já foram cancelados e a euforia do início do ano, que prometia volumes recordes de vendas e lançamentos de imóveis, nos fazendo lembrar do período do milagre econômico brasileiro, foi apagada. Com isso, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo já calcula que cerca de 100 mil funcionários do setor poderão perder o emprego até o final do ano.
Desta maneira, a economia brasileira, da mesma forma que entrou, com certo grau de defasagem, no movimento de expansão da economia global, continua atrasada em relação ao seu movimento de contração. No entanto, cada vez mais, não só empresários, mas entidades empresariais e sindicais, e mesmo autoridades do governo, vão sendo forçados a reconhecer a entrada na crise.
Enquanto aguardamos a expedição do nosso certificado oficial de recessão, a economia mundialprossegue em sua trajetória de queda, esta sim já reconhecida pelos certificados oficiais emitidos pelas autoridades e órgãos governamentais dos mais diversos países do mundo.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)


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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A encruzilhada da economia brasileira

Semana de 24 a 30 de novembro de 2008

As opiniões sobre a situação da economia brasileira diante da crise mundial dividem-se em dois blocos antagônicos. De um lado, analistas e empresários constatam a escassez de crédito, a redução dos investimentos e do emprego. De outro lado, a equipe econômica do governo, acreditando na “solidez” da economia brasileira, continua a afirmar que haverá apenas uma “desaceleração” em 2009. Para dar robustez às suas opiniões, veiculam informações positivas sobre a economia. Contudo, tais notícias devem ser lidas com cautela, porque os dados apresentados referem-se às apurações feitas até setembro, quando a crise ainda não se havia manifestado no Brasil.
Um destes dados é o aumento de 2% no consumo de alimentos, bebidas e produtos de limpeza em comparação com o mesmo período do ano passado (dados do instituto de pesquisa Latinpanel). Conforme o presidente da Associação Brasileira de Supermercados, Sussumu Honda, o que colaborou para manter as vendas nos supermercados nos últimos meses foi o fato de que, ao contrário de outros setores que dependem do crédito, o setor supermercadista depende mais da renda do consumidor. Honda, entretanto, demonstra preocupação em relação ao primeiro trimestre de 2009, diante da perspectiva de queda do nível de empregos, que afetará o rendimento dos consumidores.
Outra fonte de preocupação para as famílias brasileiras é o aumento do nível dos preços. A mesma pesquisa da Latinpanel afirma que o preço médio da cesta de produtos subiu 8% entre o terceiro trimestre deste ano e o do ano passado.
A subida dos preços nos últimos 12 meses também foi observada pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que atingiu 6,54% e é considerada uma prévia da inflação oficial do país. Isto significa que a taxa de inflação já supera a meta, estabelecida pelo Banco Central, de no máximo 6,5%. Os responsáveis pela variação do índice foram os alimentos, especialmente a carne, o feijão preto, o arroz e o leite.
Diante disto, a previsão dos analistas é de que o Banco Central, em sua próxima reunião, decidirá manter a taxa básica de juros do país, a Selic, nos atuais 13,75%.
Estatísticas do Banco Central mostram ainda a restrição de crédito atual. Comparando a concessão de empréstimos nos oito primeiros dias úteis de outubro e de setembro, constata-se a redução de 13%. De outubro pra cá, mesmo com todas as medidas tomadas pelo governo para aumentar a liquidez, a concessão de crédito para as empresas teve alta de apenas 1,2% fazendo crescer o risco de quebra em série, especialmente das médias e pequenas empresas. As maiores, não conseguindo financiamento no exterior, voltaram-se para o mercado interno, restringindo ainda mais o espaço das menores.
Isso mostra que grande parte do dinheiro liberado pelo governo continua debaixo do colchão dos grandes bancos. Os bancos privados, por exemplo, aumentaram somente em 2% os financiamentos em outubro e concedem empréstimos com spread elevado (diferença entre o custo de captação do dinheiro e o juro cobrado aos clientes). Mesmo assim, o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Fábio Barbosa, considera que “o sistema bancário não deixou de operar.”
Este cenário leva os empresários a revisarem os seus planos de investimentos. Montadoras de veículos, como a Peugeot-Citroen e a Volkswagen, diante da queda da demanda do mercado nacional e da queda das exportações, antecipam as férias coletivas para o início de dezembro, e a Fiat, General Motors e Renault param, visando reduzir os estoques. Nos primeiros meses do ano, os carros ficavam parados nos pátios das montadoras até 15 dias. Com a restrição de crédito em outubro, as vendas caíram 11% em relação ao mês anterior e nos últimos 38 dias os carros vêm se acumulando nos pátios das revendas e das montadoras. Em valores absolutos, o estoque já atinge 297,7 mil veículos.
As grandes operadoras de celular, como Vivo e TIM, reduziram suas compras, mesmo com perspectiva de vendas no natal. Na Zona Franca de Manaus, empresas de tecnologia divulgam cortes de 900 postos de trabalho. Tal fato soma-se ao anúncio da Xerox de encerrar a produção no Amazonas. A ação faz parte de um plano mundial de cortes nas despesas, em torno de 400 milhões de dólares, o que tem como conseqüência a eliminação de três mil empregos no mundo.
Enquanto isso, as remessas de lucros de janeiro a novembro já superam todo o ano passado. Até novembro as empresas enviaram para suas matrizes no exterior 29,3 bilhões de dólares, valor que ultrapassa em muito os 17 bilhões remetidos no mesmo período do ano passado.
Ao que tudo indica, na encruzilhada em que se encontra a economia brasileira, o único caminho a ser seguido nos próximos meses é o da crise, e o coro dos que acreditam nos fundamentos sólidos desta economia a cada dia está desafinando e emudecendo.
Na economia mundial, a expansão da crise na economia real, com as falências, queda da demanda, aumento do desemprego, etc., continua a preocupar os governos dos Estados Unidos, dos países europeus, da China e do Japão. Na tentativa de contornar a situação, praticamente todos os dias surgem notícias de
mais pacotes de estímulos econômicos.
Nos Estados Unidos, o último alvo de atuação do governo foi o socorro ao Citigroup em uma operação utilizando quantias inimaginavelmente vultosas: 300 bilhões de dólares na compra de ativos do banco, fazendo com que o governo passe a ter uma grande participação no capital. É interessante informar que o Citigroup é um caso típico de queima de capital fictício: em um intervalo de um ano, o valor do banco decresceu de 237,2 bilhões de dólares para “míseros” 20,5 bilhões. O montante que evaporou decorreu das perdas e prejuízos oriundos da crise do sub-prime.
Já a General Motors corre o risco de ficar sem dinheiro este ano e de atrasar o pagamento para o fundo de saúde dos seus aposentados. A GM, a Ford e a Chrysler negociam ajuda do governo para garantir a sua sobrevivência. Para 2009, o Congresso norte-americano quer enviar para o presidente eleito, Barack Obama, outro pacote de estímulo econômico, voltado para o investimento em obras e para cortes de impostos para a classe média, com valor podendo variar de 500 a 700 bilhões de dólares. O número crescente de demissões e a queda dos gastos dos consumidores fazem parte da herança que o novo líder estadunidense vai receber.
Nos últimos dias, Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Holanda, Alemanha, Hungria e Áustria, além da Comissão Européia (braço executivo da União Européia), criaram planos para restaurar suas economias. Em geral, as ações são voltadas à redução de tributos e outras facilidades fiscais, ajuda aos setores automotivos e de construção e formação de fundos soberanos nacionais. A preocupação com os resultados de 2009 é grande, já que a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) prevê que a economia da zona do Euro vai se contrair por três trimestres consecutivos, deixando a entender que o próximo ano será um ano perdido.
A China, o país que mais contribui para o crescimento mundial, deve ter a menor expansão em quase duas décadas. A razão para isso é a queda da demanda externa pelos produtos chineses. Analistas concordam que o desemprego será o grande drama do país. Para o economista chinês Mao Yushi, diretor do Instituto de Economia Unirule de Pequim, “o governo diz que a China cresce de 8% a 9% em 2009, mas acho que serão 6% ou 7% no máximo”. Com este valor, afirma Yushi, o país não vai ter como empregar os milhões de chineses que buscam emprego, ou porque atingiram a idade de entrada no mercado de trabalho ou porque migraram do campo para as cidades.
Tudo isto demonstra que o pior ainda não passou, a destruição ainda não foi suficiente para a passagem à nova fase da crise, a depressão, e que a economia mundial continuará caminhando em direção ao fundo do poço.

Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Apagão Econômico

Semana de 17 a 23 de novembro de 2008


Talvez, ao cruzar com um pedinte na rua e negar-lhe algumas moedas, o peso na consciência tenha impedido um sono tranqüilo de algum cidadão. O que dizer do governo americano que tem negado apenas US$ 25 bilhões aos pedintes presidentes da General Motors, da Chrysler, e da Ford? Neste caso, o apelo ganhou o coral bastante afinado dos parlamentares do partido do presidente eleito e salvador da pátria, Barack Obama. Os democratas estão pressionando para que parte da verba do plano Paulson, secretário do Tesouro americano, seja utilizada nas medidas de apoio à economia, sobretudo ao setor automobilístico, ameaçado de falência generalizada. “A crise do nosso sistema financeiro já se alastrou para o resto da economia. Vai demorar um pouco antes que o crédito seja reativado e conserte o sistema financeiro, algo essencial para a recuperação da economia”, avisou Paulson em discurso aos parlamentares.
Dos US$ 700 bilhões liberados pelo governo americano através do Plano Paulson já foram gastos US$ 250 bilhões, dos quais US$ 200 bilhões com os bancos e US$ 50 bilhões com a seguradora AIG. Realmente é uma decisão muito difícil para o governo optar entre a ajuda aos necessitados banqueiros ou aos necessitados do setor automobilístico, que fazem o sacrifício de viajar de jatinho particular para pedir uns míseros bilhões de dólares. O pior é que todo esse dinheiro será insuficiente para estimular a economia, pois, para os especialistas, são necessários mais US$ 1,2 trilhões.
O corajoso presidente da Repsol YPF, empresa espanhola, queixou-se, no entanto, da postura intervencionista de alguns países. Sem citar nomes, lamentou que “ainda hoje usam a intervenção do Estado para compensar, para mitigar as forças da livre economia.” Para ele a América Latina continuará sendo uma fonte de crescimento mundial nos próximos anos, em grande parte, devido a sua demografia, formada por uma sociedade jovem, cosmopolita e dinâmica.
O presidente francês foi mais comedido ao criar um fundo estratégico de investimentos de € 20 bilhões (US$ 25 bilhões) para ajudar suas empresas de setores chave a enfrentarem a crise financeira mundial. “Diante da crise há duas estratégias: ou a pessoa fica trancada em casa ou enfrenta o mau tempo de forma ofensiva”, disse Sarkozy. “Reforçamos os meios das empresas, reforçamos as universidades, colocamos dinheiro a serviço do desenvolvimento, em vez de adotar políticas chamadas sociais que só servem para adiar o drama.”
Estes são acontecimentos que mostram que a economia mundial esta no meio de um tornado. A zona do euro mergulhou em sua primeira recessão em 15 anos, abrindo o caminho para maiores reduções na taxa de juros. A economia do Japão, a segunda maior do mundo, entrou em sua primeira recessão desde 2001, e o governo e os economistas dizem que a situação pode piorar. O Japão tem a mais baixa taxa básica de juros entre as 20 maiores economias do mundo e sua dívida pública ultrapassa os 180% do PIB. O maior banco japonês, o Mitsibishi UFJ Financial Group, sofreu uma queda de 61% no lucro do segundo trimestre. Já os americanos, com a atual crise, passaram a sofrer de depressão, perda de apetite, insônia e “compulsão por sandaes com calda de chocolate.” A morte do dinheiro das pessoas deixou-as de luto.
No Brasil, segundo Waldir Quadros, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas, o forte ciclo de consumo, apoiado na expansão do financiamento sujeito a “bolhas”, acabou. “O crescimento de 2004 a 2008 já acabou e esta estrutura já está em crise.” Para o presidente Luís Inácio Lula da Silva, porém, o dinheiro está sobrando tanto que anda pulando das mãos dos brasileiros. Segundo ele, a falta de dinheiro não é problema no Brasil. Aliás, para quem tem dinheiro em caixa, o presidente recomendou gastar. “Esta é a hora das pessoas aprenderem a fazer bons negócios, a comprar o carro, a televisão mais barata, sempre com cuidado de que um ser humano não pode gastar mais do que ganha.” É necessário tirar o “dinheiro do colchão”, para fazer a economia girar.
Quem é mesmo que está torcendo contra o Brasil?
E será preciso, pois 35 empresas do setor metalomecânico, fornecedoras do setor automobilístico de Curitiba e região, vão dar férias coletivas para seus funcionários em dezembro, como reflexo direto da crise econômica que vem provocando paradas para o realinhamento da produção em várias montadoras de
veículos. No Paraná, a Volkswagen já deu férias coletivas para 1,8 mil dos 3,6 mil funcionários a partir deste mês, e a Renault, que tem quatro mil trabalhadores, depois de adotar o banco de horas negativo para dispensar temporariamente alguns trabalhadores, resolveu parar completamente a unidade de veículos de passeio, a partir de 2 de dezembro, até 7 de janeiro.
A General Motors do Brasil afirmou que a manutenção do quadro de empregados nas três fábricas do grupo, duas em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul, vai depender do comportamento do mercado até o final do primeiro trimestre do ano que vem. Se o mercado não reagir, a empresa poderá demitir 1,6 mil trabalhadores.
Com a queda de 20% nas vendas de automóveis e veículos comerciais, os preços dos carros novos deverão reduzir-se. “Com essa parada do setor automotivo um carro que custava R$ 30 mil não vale hoje mais que R$ 24 mil e a tendência é que o preço caia ainda mais”, segundo fontes do mercado.
A crise econômica mundial também afetou a gigante Petrobrás. Diante da queda no preço do barril no mercado internacional, a empresa adiou alguns projetos da carteira de exploração e produção. “Quando o petróleo cai de US$ 140 para US$ 60 você tem impacto na geração de caixa da empresa, que é responsável pela manutenção de projetos de curto prazo. São nesses projetos que temos que fazer ajustes”, disse José Jorge de Moraes, gerente geral de exploração e produção da estatal.
Outra alavanca do crescimento dos últimos anos da economia brasileira, o crédito, está dando sinais de que já foi atingido pela crise mundial. O crédito alcançou 36% do produto nacional. O problema é que a inadimplência passou a apresentar uma escalada preocupante, refletindo o excesso de endividamento dos últimos meses.
Apesar de todas estas evidências, existe ainda quem acredite que o pior da crise já passou...

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br.

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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Apenas uma reflexão...

Semana de 10 a 16 de novembro de 2008


É impressionante como a imprensa e os analistas, nos últimos meses e, mais intensamente, dias, têm dedicado suas atenções à atual crise que assola o sistema capitalista global e deixa o futuro cada vez mais nebuloso. De fato, a crise é grave! As perdas já são equivalentes àquelas da Grande Depressão. A única coisa que se sabe até o momento, de forma praticamente unânime, é que a crise é séria e que durará pelo menos dois anos; todo o resto é ainda um grande enigma a ser desvendado. A situação da China diante da crise, o novo desenho do sistema financeiro mundial, a hegemonia da moeda americana (forçando o mundo inteiro a financiar os Estados Unidos, quase de graça) são tidas como questões-chave para compreender os rumos do capitalismo durante e depois da crise.
De forma alguma se objetiva tirar a importância do fenômeno. De fato, esta crise está tomando proporções bem maiores que as últimas registradas. Contudo, existem questões mais complexas e sérias, que, diferentemente da crise, não consistem fenômenos transitórios, mas permanentes, e que sempre estão à margem dos debates e das preocupações.
Primeiramente, se podem destacar as complicações ambientais. Muitos ambientalistas têm ressaltado que a crise será boa e não ruim para o meio-ambiente, já que a desaceleração no ritmo de produção poupará o planeta de uma série de malefícios. Nicholas Georgecus-Rogen, denominado “pai da eco-economia”, enfatiza que a questão da crise é muito mais complexa do que se tem falado, isto porque, até o estouro da crise, a economia norte-americana vinha num ritmo de produção e consumo desenfreado, causando danos irreparáveis ao planeta e em nenhum momento isto foi considerado. Assim, superadas as dificuldades, tudo voltará a ser como antes! E o meio-ambiente? E o planeta?
De acordo com Nicholas: “se cada chinês, indiano ou brasileiro fosse viver como um americano precisaríamos de três planetas”. A presente citação deixa claro que o planeta não suporta mais o ritmo de acumulação capitalista; sendo assim, se os indivíduos não repensarem uma alternativa para produzir e distribuir a riqueza, será o meio-ambiente que determinará uma nova lógica de organização das forças produtivas em substituição ao modo capitalista. “Se não for por bem, será por mal!”
Em segundo lugar, a concentração de renda e a desigualdade social, são problemas ainda mais antigos (por isso crônicos), conseqüências da acumulação capitalista. Inúmeros são os dados que confirmam esta realidade considerada por muitos como sem importância. Dos aproximadamente 200 países do mundo, apenas 10% são considerados desenvolvidos, e, no interior do grupo desenvolvido, existem muitos pobres. Apenas 2% da população mundial detêm 50% da riqueza total e metade da população mundial (três bilhões de pessoas) ganha menos de dois dólares por dia. Embora a produção de alimentos seja maior em cada período, ainda morrem de fome milhares de pessoas.
No momento, acima de todos os dilemas ambientais e sociais, destacam-se como problemas mais
graves a queda no lucro das empresas ou os prejuízos obtidos, o risco de falência e a queda no ritmo de acumulação. Muito pouca ou quase nenhuma atenção é dada à situação dos trabalhadores que perderam e perderão seu emprego, ou seja, sua fonte de sobrevivência e de suas famílias. A questão do desemprego só vem à tona quando afeta negativamente o consumo.
O lamentável é que a grande preocupação atual é como superar a crise, mantendo, por sua vez, a
mesma lógica de antes. O capitalismo, há aproximadamente dois séculos e meio, organiza as relações econômicas e sociais conforme a sua lógica, em parte considerável das nações, à custa de um passivo social, e agora ambiental, impagável. Apesar de tudo isto, é ainda considerado como a melhor alternativa. Como se pode persistir num sistema econômico que necessita periodicamente de crises, guerras e/ou catástrofes climáticas para retomar sua lógica de acumulação?
O economista Thomas Malthus comparou o nascimento a um jogo de loteria ao argumentar que, ao nascer, é como se o indivíduo ganhasse um bilhete de loteria. A questão é que, segundo ele, algumas (a maioria das) pessoas tiram um bilhete em branco, mas isto não é culpa de ninguém, ou seja, conforme Malthus, ser “rico” ou “pobre” é questão de sorte. Infelizmente, é normalmente desta forma que as coisas são tratadas, de modo superficial, ideológico, a-científico. Enquanto isto, parte substancial da população mundial e o planeta pagam o preço para que muito poucos acumulem riqueza. Tão simples quanto isto!
Mas, à revelia de todos estes fatos, entre “sobes e desces”, o capitalismo segue em sua trajetória cíclica, atravessando neste momento mais uma fase recessiva, que, embora figure como acidente, é tão necessária e importante à sobrevivência do sistema, quanto a fase de auge. E, como em toda crise, as más notícias não cessam.
As vendas no comércio norte-americano tiveram, em outubro, a pior queda em 16 anos (recuaram 2,8% em relação a setembro, quando tinham caído 1,3%), e o volume de pessoas que recebem segurodesemprego foi o maior em 25 anos. Os gastos com consumo se retraíram 3,1% no terceiro trimestre. Como o consumo é responsável por 70% do PIB dos Estados Unidos, a queda nos gastos das famílias provocou retração de 0,3% no PIB no mesmo período.
Grandes redes varejistas têm sofrido queda expressiva nas vendas e nos lucros e só têm conseguido vender graças à diminuição nos preços.
A AIG (American International Group) anunciou prejuízo líquido de US$ 25 bilhões no terceiro trimestre. Este resultado levou o governo dos Estados Unidos a ampliar o socorro de US$ 85 bilhões já anunciado, para US$ 150 bilhões. O referido montante terá a seguinte composição: US$ 60 bilhões em empréstimo direto, US$ 40 bilhões em compra de ações preferenciais e US$ 52,5 bilhões em papéis vinculados a financiamentos de imóveis residenciais pertencentes ou garantidos pela AIG Financial Products, braço financeiro e principal responsável pelas perdas bilionárias da gigante do setor de seguros.
Acompanhando o resultado da AIG, a Fannie Mae (uma das maiores instituições de financiamento imobiliário dos Estados Unidos, estatizada recentemente) registrou um prejuízo líquido de US$ 29 bilhões no terceiro trimestre deste ano. O resultado diz respeito à maior perda do ano dentre todas as empresas listadas no Índice Standard & Poor´s 500.
Na era da globalização, as complicações não se limitam à economia dos Estados Unidos; pelo contrário, se espalham de forma extremamente rápida por toda a economia mundial, deixando empresas e governos em pânico.
A Alemanha já declarou que está em recessão. O critério para estabelecer um quadro recessivo consiste numa contração do PIB por dois trimestres consecutivos. E foi isto o que sucedeu com a economia alemã, que se retraiu 0,4% e 0,5% no segundo e terceiro trimestres recentes.
Na China, o governo anunciou um pacote de US$ 586 bilhões em investimentos, para os próximos dois anos. Os recursos serão empregados em projetos de infra-estrutura, inovação tecnológica e reconstrução das regiões atingidas pelos recentes terremotos. O objetivo do plano é sustentar o crescimento chinês, previsto para 9,5% neste ano e 8,5% no ano que vem; isto é, expansões inferiores a dois dígitos desde 2002 (verificar o que ela quis dizer aqui).
As preocupações aumentaram desde que pesquisas do governo mostraram a ameaça de forte queda na atividade da indústria de transformação, indicando grandes possibilidades de a desaceleração econômica ser bem mais significativa do que o previsto.
O Governo deixou bem claro que entre crescimento econômico e controle inflacionário, fará a opção pela manutenção da atividade econômica e do nível de emprego. O valor do pacote equivale a 7% do PIB chinês (estimado em US$ 3,5 trilhões), o que, em termos relativos, equivale a um volume bem maior que o pacote, inicialmente anunciado pelo Governo dos Estados Unidos, de US$ 700 bilhões, levando em consideração seu PIB de US$ 14 trilhões em 2007.
No Brasil, a idéia de que a crise iria passar despercebida já não existe. A escassez de crédito e a interrupção da produção já são fenômenos generalizados na economia do país. A montadora Renault deu férias coletivas e a GM e a Ford já deram férias coletivas duas vezes. A interrupção da produção na indústria automobilística levou a indústria de autopeças a também interromper parcialmente suas atividades, empregando o mesmo recurso das montadoras.
As perspectivas para o comércio exterior brasileiro também não são otimistas, tendo em vista que os principais compradores estão em dificuldades.
Esta crise tem gerado fenômenos curiosos, senão esdrúxulos. Um levantamento da Gazeta Mercantil mostrou que 21 ações da carteira do Ibovespa, de um total de 66, têm apresentado cotação inferior ao valor patrimonial por ação (medido pelo índice preço da ação/valor patrimonial ajustado). Isto significa que a empresa vale menos que seu patrimônio!
No ano passado, na mesma época, apenas dois papéis estavam nesta situação, ambos da estatal Eletrobrás, que enfrentava uma série de dificuldades e estava em processo de privatização (que na ocasião não se concretizou por não ter surgido nenhum comprador). O mais cômico é saber que na nova lista estão papéis que eram considerados, antes da crise, verdadeiros portos seguros para aplicação na Bolsa, como Gerdau, Usiminas, JBS e Vivo.
Não bastando os absurdos, o mais inédito diz respeito à recusa do FED de identificar os bancos que receberam quase US$ 2 trilhões em empréstimos emergenciais de dinheiro público e também os ativos podres (sem nenhum valor de mercado) que está aceitando como garantia. Não há mais dúvida acerca de quem possui o controle e a propriedade do dinheiro denominado de “público”. Além de emprestar, sem identificação, dinheiro do povo aos bancos, o custo deste é quase zero, tendo em vista que a taxa de juros dos Estados Unidos vem em trajetória decrescente desde o início da crise, estando atualmente em 1% ao ano.
Diante do exposto, o senhor Malthus diria aos indivíduos que têm sua importância resumida à força-de-trabalho que podem ofertar no mercado: Quem manda nascer com um bilhete de loteria em branco? Azar o seu!

Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

No Brasil a crise começou

Semana de 03 a 09 de novembro de 2008


“O horizonte econômico se obscureceu significativamente. A União Européia (UE) foi atingida pela crise financeira e isso está afetando a confiança das empresas e dos consumidores”. Estas são afirmações de Joaquín Almunia, Comissário para Assuntos Econômicos da UE. A Comissão Européia, órgão executivo da EU, divulgou dados mostrando que o PIB da Eurozona (15 países), no segundo trimestre de 2008, caiu 0,2% e cairá 0,1% no terceiro e no quarto trimestre. A crise financeira mundial está levando toda a UE para uma recessão. Na China, as coisas não são melhores. No mês passado, a atividade industrial sofreu a maior contração já registrada. Os 400 maiores milionários chineses perderam quase 40% de sua riqueza devido à queda de 50% a 60% nas bolsas do continente chinês e de Hong Kong. Nos EUA, que já acumulam uma dívida pública em torno dos US$ 10 trilhões e onde a confiança do consumidor atingiu o mais baixo nível desde 1978, os pedidos de falência chegaram a 108,5 mil em outubro, com um aumento de 13% em relação a setembro. As encomendas à indústria, que já haviam caído 4,3%, em setembro, em relação a agosto, voltaram a cair 2,5%, em outubro, em relação à setembro. O índice da atividade industrial americana atingiu o mais baixo nível em 26 anos. Entre as montadoras, as vendas da Ford caíram 30% só em outubro, depois de ter caído em 23 dos últimos 24 meses. A Daimler informou que as vendas da divisão Mercedes Benz Car, nos EUA, caíram 24%, também em outubro. A General Motors e a Chrysler, que esperam uma ajuda do governo para efetuarem a fusão, caminham para a maior queda da produção nos últimos 15 anos. O braço financeiro da General Motors, a GMAC, apresentou um prejuízo de US$ 2,52 bilhões no terceiro trimestre e sua unidade hipotecária Residential Capital (ResCap) pode entrar em colapso.
Por todo o mundo as grandes multinacionais sofrem com o avanço da crise. A Nissan anunciou a demissão de 3.500 empregados, em suas fábricas na Espanha, Japão e Estados Unidos, até dezembro. A Tenneco, maior fabricante de sistemas de exaustão, perdeu US$ 136 bilhões no terceiro trimestre, devido à queda nas vendas de automóveis. Segundo seu principal executivo, Greg Sherril, “a crise econômica global está tendo um severo impacto na indústria automotiva”. As gigantes da indústria de papel tiveram quedas nos lucros no terceiro trimestre, comparado com o mesmo período do ano passado. A chilena Arauco teve uma redução de 25,7% nos lucros, a americana MeadWest-vaco Corporation (MWV), de 55.3% e a Internacional Paper (IP) perdeu 31,3%. A Tata Motors, indiana que adquiriu os modelos Jaguar e Land Rover, está em dificuldade para cumprir os compromissos assumidos, vai rever seus planos de investimentos e, este ano, suas ações caíram 76%. A ArcelorMittal, maior fabricante de aço no mundo, anunciou uma redução de 30% na sua produção. Até as empresas de cartões de crédito apresentam prejuízos. A Mastercard anunciou que, entre janeiro e setembro deste ano, teve um prejuízo de US$ 493,3 milhões. No terceiro trimestre do ano, a empresa perdeu US$ 193,5 milhões.
A situação se agrava em toda a União Européia, e o presidente do Banco Central Europeu, Jean-
Calude Trichet, depois de reduzir as suas taxas básicas de juros para 3,25% com um corte de 0,5%, declarou:”A intensificação e ampliação da crise financeira deverá reduzir a demanda mundial e na zona do euro por um período bastante dilatado.”
“A retração da atividade econômica global produz efeitos negativos em todas as cadeias produtivas, atingindo com forte intensidade as matérias-primas da produção industrial, como minérios e metais.” Agora quem está com a palavra é a Vale em uma nota de esclarecimento divulgada nos maiores jornais do país, onde se auto-intitula a segunda maior mineradora e a maior produtora de minério de ferro do mundo. Na mesma nota, a Vale informou que dará férias coletivas aos seus trabalhadores, fará paradas de manutenção nos equipamentos e ajustes na produção para adequá-la às encomendas de seus clientes. Com efeito, o Índice Reuters/Jefferies CRB, que envolve 19 matérias primas, caiu 24% em outubro, a maior retração de pelo menos meio século. O preço do petróleo teve uma queda mensal recorde e o cobre teve o maior declínio dos últimos 20 anos. Em outubro, as commodities tiveram o pior mês desde 1956.
Como havíamos previsto, a crise cíclica de superprodução se agrava a nível internacional. A economia brasileira, por seu lado, acelera o passo para recuperar o tempo perdido e alcançar o resto do batalhão na marcha para a crise, apesar de todo o palavrório do presidente Lula e dos discursos encomendados de seus ministros.
O Grupo Gerdau, do setor de aços especiais, já anunciou o reajuste da sua produção para adequá-la ao novo nível da demanda. Na petroquímica, a Brasken divulgou um prejuízo contábil de R$ 849 milhões no terceiro trimestre, contra um lucro de R$ 132 milhões no mesmo período do ano anterior. Entre as montadoras, a Scania anunciou 30 dias de férias coletivas a seus trabalhadores, para adequar a produção à demanda, diante da suspensão das exportações para a África, Ásia, Oriente Médio e Europa. A Ford antecipou as férias coletivas da fábrica de caminhões de São Bernardo do Campo, da unidade de automóveis de Camaçarí (BA) e de motores e transmissões de Taubaté (SP). A GM também anunciou férias coletivas para as unidades de Gravataí (RS), São Caetano do Sul (SP), Mogi das Cruses e São José dos Campos, o que está gerando conflitos com os sindicatos. A Aracruz, do setor de papel e papelão, assumiu um prejuízo de US$ 2,1 bilhões, o que a coloca em uma difícil situação. A Empresa Brasileira de Aeronáutica – Embraer – apresentou prejuízo de R$ 48,4 milhões no terceiro trimestre deste ano. A média diária das exportações de produtos manufaturados, em outubro, caiu 14.1%, em relação à media do mês anterior. A Comgás, apesar de continuar lucrativa, registrou a queda 3,7% no consumo de gás industrial no último trimestre. Em todo o ano de 2008, o consumo foi 0,9% menor que no ano passado. Segundo dados da Associação Brasileira de Bancos (Anbid), R$ 11,38 bilhões, correspondentes às dívidas da indústria brasileira que vencerão nos próximos seis meses, no mercado interno, não encontram novos financiamentos diante da restrição do crédito.
Neste quadro adverso, a saída de capitais do país em outubro foi a pior desde 1999, o que, somado à queda do saldo da balança comercial, tem provocado a valorização do dólar e obrigado o BC a sucessivas intervenções no mercado. Desde setembro até agora, o BC já injetou US$ 40 bilhões no mercado, apenas para conter a valorização do dólar.
Parece que a “marola” virou um tsunami e, ninguém se iluda, nenhuma política econômica será capaz de impedir o agravamento da crise no Brasil.
Apesar disso, o presidente Lula, acreditando que o pior da crise já passou e que o impacto sofrido
pelo país não foi tão forte, afirmou: “Quem está apostando em crescimento muito baixo em 2009 pode quebrar a cara, os analistas que tomem cuidado.” Mas, por via das dúvidas, anunciou a criação de uma espécie de gabinete de crise e, embora negue a existência do “pacotão”, a cada dia são tomadas novas medidas para conter a crise. Anuncia-se agora mais uma liberação de R$ 19 bilhões para o Banco do Brasil e R$ 10 bilhões para que o BNDES apóie a oferta de crédito, em retração. O BC, por seu lado, disponibilizará mais US$ 2 bilhões para financiar as exportações. A proposta de orçamento para o próximo ano sofrerá uma revisão, prevendo uma redução da taxa de crescimento do PIB, de 4,5% para 3,7% ou 3,8%, segundo o ministro do planejamento, o que acarretará uma perda de R$ 15 bilhões na arrecadação. Até o orçamento do PAC está sofrendo um processo de revisão, segundo a ministra Dilma Roussef.
O processo continua e, como afirmou a Professora Maria da Conceição Tavares, “a solução da crise está muito remota”. (...) “Já foram destruídos dezenas de trilhões de dólares, de capital fictício”, mas (...) “o fenômeno especulativo desvairado obviamente não terminou”. “O caos ainda não produziu os efeitos devastadores definitivos, e o ano que vem vai ser muito ruim ainda.”
As palavras da Professora são precisamente as nossas, como os leitores já conhecem.
Só o privilegiado setor bancário continua a se dar bem. Depois da aplaudida fusão entre o Itaú e o
Unibanco, a Caixa, que tinha a obrigação de financiar atividades ligadas à população de baixa renda, como a aquisição da casa própria, comemorou a elevação dos seus lucros em 1.156% no terceiro trimestre do ano. Em contrapartida, o BNDES, que financia as empresas e os grandes grupos econômicos, teve uma queda de quase 30% nos seus lucros, graças às baixas taxas de juros praticadas. Dinheiro caro para os pobres e dinheiro barato para os ricos. Isto é que é governo popular!

Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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sábado, 15 de novembro de 2008

Liquidez para quê ou para quem?

Semana de 27 de outubro a 02 de novembro de 2008

Mostramos, na semana passada, que a crise internacional passou a causar estragos na economia brasileira. Foram notícias sobre prejuízos financeiros das empresas, restrições ao crédito e diminuição dos investimentos para o próximo ano.
O governo brasileiro, através de alguns ministros, admitiu o contágio da crise externa, mas não abandonou o eufemismo em seus discursos, tentando amenizar a situação presente. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, uma parte do impacto da crise econômica no Brasil é “psicológica”. Para Paulo Bernardo, da pasta do Planejamento, “a crise deve ser cozinhada em forno brando, a intenção é ir juntando água quente para amolecer e, depois, fazer um almoço”.
Contrariando estas declarações, a queda nos preços das ações nas últimas semanas ocasionou turbulência no mercado financeiro nacional. Na Bovespa, um terço das ações foi negociado abaixo de seu valor patrimonial. Isso significa que, na Bolsa, a empresa vale menos que a soma de todos os seus ativos reais. As ações da Eletrobrás, com valor patrimonial de R$ 72,25, por exemplo, no dia 31 de outubro, foram cotadas por R$ 26, 25.
No terceiro trimestre deste ano, várias empresas apresentaram prejuízos em seus balanços. A Sadia registrou prejuízo líquido de R$ 777,4 milhões. A Perdigão, principal concorrente da Sadia, teve prejuízo de R$ 25,4 milhões. Já a NET, a Suzano Papel e a Aracruz amargaram prejuízos de R$ 63,9 milhões, R$ 293,1 milhões e R$ 1.657,7 milhões, respectivamente. Para os especialistas, as razões para as perdas financeiras no último trimestre foram a forte alta do dólar e as “operações exóticas com derivativos cambiais”. Conforme a Economática, os ganhos ou as perdas com a alta do dólar consumiram 48% do lucro trimestral das companhias.
O Banco Central do Brasil (Bacen), embora procurando esconder a gravidade da situação, desde setembro, tem utilizado um arsenal de ferramentas para conter a disparada do dólar e oferecer liquidez aos mercados. Foram feitos vários leilões de dólares, diminuiram-se os empréstimos compulsórios realizados pelos bancos e, no último 30 de outubro, o Banco Central anunciou que receberá 30 bilhões de dólares do Fed (Banco Central dos Estados Unidos) por meio da operação de troca (swap) de dólares por reais. O que ainda não se modificou foi a taxa Selic, mantida em 13,75% na reunião do Copom no final de outubro.
Apesar das injeções de liquidez do Bacen, pesquisas afirmam que os empresários brasileiros estão sofrendo com as restrições ao crédito. A situação é bastante preocupante para os produtores de grãos, por exemplo, pois, além das dificuldades para conseguir crédito, com o estouro da bolha das commodities, sofrem com a queda dos preços e da perspectiva de ganho. A tonelada do trigo, cotada a R$ 750 antes da crise, agora não consegue ser vendida acima de R$ 430. A Cooppermota, cooperativa agrícola do interior paulista, conta que a grande maioria dos agricultores que renegociaram as suas dívidas não teve créditoliberado pelas agências do Banco do Brasil.
Os bancos de médio e pequeno porte do país diminuíram as operações de crédito e, por conseguinte, estão reduzindo o quadro de pessoal. Já anunciaram demissões os bancos Daycoval, Pine e Indusval. O Banco Sofisa não realizou demissões, porém decidiu paralizar a concessão de crédito. A instituição pretende encerrar o ano com o volume de crédito semelhante ao mês de setembro. Conforme o seu vice-presidente, Gilberto Meiches, “não temos produzido nada para o varejo e estamos bastante seletivos nas operações com empresas.”
Os grandes bancos, Bradesco, Santander, Itaú e Unibanco, anteciparam a divulgação dos seus balanços trimestrais para mostrar que andam muito bem das pernas, apesar do alastramento da crise financeira. Entre julho e setembro, o Itaú obteve o lucro não-auditado de R$ 1,8 bilhão, e o Bradesco de R$ 1,91 bilhão. Contudo, os analistas indicam que os demonstrativos que foram anunciados são referentes até setembro, quando a crise ainda dava os primeiros passos no país.
Segundo a agência de rating norte-americana Moody´s, a tendência para os países da América Latina é de prolongamento da escassez nas linhas de crédito. A agência projeta um crescimento, para o PIB do Brasil, inferior a 3% em 2009, e ainda considera baixa a probabilidade de conceder o grau de investimento ao país. Para a Moody´s, a queda na avaliação do Brasil deve-se à piora no perfil da dívida, com aumento de papéis atrelados à Selic, além de outros problemas sistêmicos.
A Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas em outubro, mostra que 33% das empresas pesquisadas consideram alto o grau de exigência dos bancos para a concessão de crédito.
Com a redução dos planos de investimentos, para o próximo ano, a previsão é de queda no nível do emprego. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP – mostrou que, em um universo de 658 indústrias, 42% delas planejam cortes no quadro de trabalhadores. Irritado com a situação, Paulo Skaf,presidente da Fiesp, declarou que é necessário que o Banco Central pressione os grandes bancos públicos e privados a “parar de dormir em cima do dinheiro”. Skaf disse, em várias reuniões com o Bacen, que não adiantava tomar medidas se os recursos não fossem repassados às empresas. “Só que a paciência se esgotou diante do agravamento da situação. Neste momento, eu diria que os grandes bancos só estão ganhando com a crise”.
Assim, a liquidez na economia brasileira está sendo aumentada para quê ou para quem?
O governo mostra-se preocupado com o problema. A Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória (MP) 442, que dá poderes ao Banco Central para socorrer o mercado interno. Além disso, gerou-se uma polêmica no Congresso Nacional acerca da edição de outra MP, a 443, que permite a compra direta de outros bancos pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil sem licitação. Considerada pela oposição como “MP da madrugada”, já que os parlamentares só tomaram conhecimento da mesma depois de publicada no Diário Oficial, a oposição espera editá-la após a discussão sobre os prazos e os montantes das compras.
Nos Estados Unidos, nos países europeus e na Ásia a política monetária adotada para gerar liquidez é a redução da taxa de juros. O banco central norte-americano, Fed, decidiu cortar a taxa de juros em 0,5 ponto percentual, deixando-a em 1%, o menor patamar desde junho de 2004. Além disso, anunciou um corte de meio por cento na taxa de redesconto, baixando-a para 1,25% a.a. O governo da China, preocupado com o impacto da crise global sobre a economia, anunciou que a sua autoridade monetária vai realizar a terceira redução das taxas de juros em seis semanas.
O movimento de cortes foi repetido pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelos bancos do Japão, Inglaterra e da Noruega. A única exceção veio do BC da Islândia, que elevou em seis pontos percentuais a taxa de juros referencial, fixando-a em 18%. O sistema financeiro islandês entrou em colapso nas últimas semanas, forçando o governo a tomar o controle dos maiores bancos. A iniciativa de alta da taxa de juros tem o intuito de sustentar a moeda e, principalmente, oferecer aos investidores altos retornos por aplicarem seus recursos no sistema financeiro da ilha.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), diante da situação, foi acionado para dar assistência financeira à Islândia, como também aos países Belarus, Ucrânia e Hungria. Só a Hungria receberá do FMI, do Banco Mundial (Bird) e da União Européia 25 bilhões de dólares. Os próximos candidatos a receber algum tipo de ajuda financeira são Romênia, Letônia, Bulgária e Eslováquia.
O que se verifica é que a crise apresenta-se como uma onda que vai atingindo outras nações a cada semana. Conforme a Reuters, governos ao redor do mundo já se comprometeram em injetar nas instituições financeiras quatro trilhões de dólares, para amenizar os efeitos da (já considerada) pior crise financeira dos últimos 80 anos.

Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br

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terça-feira, 4 de novembro de 2008

Quem realmente explica a crise?

Semana de 20 a 26 de outubro de 2008


Apesar de todas as desculpas, as repercussões da crise internacional, na economia brasileira, são cada vez mais evidentes. A indústria de ferro-gusa em Minas Gerais desligou grande parte dos seus mais de 140 fornos que estavam em atividade, colocou 11 mil funcionários em férias coletivas e provocou demissões de cerca de 700 trabalhadores no município de Sete Lagoas. As duas principais montadoras instaladas no Paraná – a Volkswagen e a Renault - estão adotando medidas de restrição da produção para enfrentar a redução nas vendas, começando pelas férias coletivas, solução já adotada pela General Motors do Brasil, para ajustar os estoques. Já nos Estados Unidos, a GM resolveu antecipar em dois anos o fim das suas atividades em uma de suas fabricas. Os efeitos da crise afetam toda a cadeia produtiva do setor automobilístico. A Valeo, uma das principais fornecedoras de componentes para a indústria automobilística, que gasta cerca de R$ 700 milhões por ano com compras de materiais produtivos de 350 fornecedores globais, pediu para que todos se preparem para uma fase de menor volume de produção.
No Brasil, a Aurora, produtora de carne de frango, suspendeu investimentos de R$ 490 milhões em virtude das incertezas da crise global. Segundo a empresa, os bancos estão com os financiamentos engessados e as exportações de carne estão praticamente paradas. Por motivos semelhantes, os fabricantes de móveis do Rio Grande do Sul, que atuam fortemente no mercado externo, estão reduzindo o ritmo de produção e o número de empregados para compensar a falta de pedidos das ultimas três semanas.
As mesmas companhias de papel e celulose que, ha três meses, anunciaram investimentos que somava US$ 16 bilhões até 2015, agora voltam atrás e já revêem todas as suas posições. A Aracruz divulgou um prejuízo líquido de R$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre deste ano, ante o lucro líquido de R$ 260 milhões no ano passado. A Votorantim Celulose e Papel admitiu perdas de R$ 585 milhões no terceiro trimestre de 2008, ante o lucro de R$ 278 milhões registrado em igual período do ano passado.
Tentando amenizar a situação, o governo brasileiro acena com empréstimos para empresas que perderam dinheiro em apostas com derivativos, depois da maior queda do real já registrada em quase uma década. O governo também promete ampliar a oferta de crédito em R$ 5,5 bilhões, para a agricultura e a construção civil, para compensar a escassez de crédito internacional que afeta estes dois setores. E, através de medida provisória, na tentativa de melhorar a liquidez, autorizou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica a estatizarem empresas, pela compra parcial ou total, de outras instituições financeiras, fundos de pensão e empresas de capitalização e de securitização.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, apresentou a primeira parte da fatura, já paga pelos brasileiros, para estancar a crise: US$ 22,9 bilhões, na tentativa de segurar a alta do dólar e manter irrigadas as linhas de crédito para o comércio. “Estamos diante de uma crise internacional muito forte, provavelmente a mais forte que nossa geração pôde vivenciar que, do ponto de vista de sua repercussão, de sua intensidade, só pode ser comparada à crise de 1929”, disse Mantega a Câmara dos Deputados. E como de costume, cuidou de amenizar a sua declaração: “Não acredito que essa crise esteja acabando. Estamos diante de uma crise de longa duração, mas a fase aguda foi superada.”
Não confiantes nesta superação, a Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) e a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), duas das principais entidades de representação das instituições atuantes no mercado financeiro e de capitais brasileiro, por precaução, já anunciaram, na sexta-feira, a possibilidade de fusão de algumas das suas atividades, para melhor atuar diante da crise.
Outro fantasma que assombra a economia brasileira e que, segundo o governo, teria chegado ao fim, é a dívida externa. Utilizado como parâmetro para avaliar a aversão ao risco dos ativos brasileiros no mercado externo, o premio de risco-Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), dos papéis da divida externa brasileira de vencimento em cinco anos passou a ser divulgado diariamente. Desde setembro, com o agravamento da crise, o premio do risco-Brasil medido por este indicador apresentou um aumento de 153,81%.
No cenário internacional, as noticias também não são animadoras. A Northwest Airline divulgou um prejuízo no terceiro trimestre de US$ 317 milhões e está sendo adquirida pela Delta Air Lines. A UAL, controladora da United Airlines, informou prejuízo no terceiro trimestre de US$ 779 milhões. A General Motors, tentando levantar dinheiro, à medida que o colapso das vendas nos Estados Unidos aumenta as perdas, disse que pode vender sua fabrica voltada à substituição de peças, a ACDelco. A montadora japonesa Nissan Motor informou ontem que reduziu a produção em fabricas no Japão, Grã-Bretanha e Espanha em resposta a queda da demanda. A multinacional sueca Electrolux reduziu a força de trabalho nas fabricas de Motala e Mariestad, na Suécia, em virtude do desaquecimento do mercado. A Alpargatas do Uruguai suspendeu 98 funcionários. A decisão foi tomada após empresas argentinas comunicarem o cancelamento das compras da Alpargatas, pelo resto do ano, devido à queda nas vendas. A InBev, a cervejaria belgo-brasileira, cujo maior mercado é a América Latina, teve a maior queda desde 2001, na bolsa de Bruxelas, devido à preocupação de que a crise financeira, na Argentina, e uma moeda mais fraca, no Brasil, possam prejudicar os lucros.
Esse movimento de queda que tomou conta do mercado financeiro derrubou também as cotações
das principais commodities na Bolsa de Chicago (CBOT). Sem entender bem que se trata de especulação, o analista da AgRural, Benedito Oliveira comenta: “Não há motivo para tanta queda. A comida é o ultimo produto que o consumidor corta do orçamento. Essa volatilidade indica que os preços das commodities estão deslocados da questão de oferta e demanda mundial”.
Para piorar ainda mais as previsões, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alertou que a atual crise irá gerar 20 milhões de novos desempregados no mundo até o final de 2009, revertendo anos de avanço na área social e agravando a pobreza e a desigualdade. A OIT prevê demissões em massa diante da desaceleração das principais economias do mundo, como Estado Unidos, Europa e Japão. “Passaremos de 190 milhões de pessoas sem trabalho, no início de 2008, para cerca de 210 milhões. Essa é a primeira vez que a humanidade atinge essa marca”, afirmou um diretor da Organização.
Mas, nem todos perdem com a crise. Enquanto muitos tentam fugir das bolsas, o Megainvestidor
americano Warren Buffet está comprando ações norte-americanas. “Uma regra simples dita minhas compras: seja prudente quando os outros são vorazes e seja voraz quando os outros são prudentes.” Buffet reconheceu que as notícias econômicas são ruins, com o mundo financeiro numa confusão, desemprego em alta e atividade empresarial em queda. “O que é provável, no entanto, é que o mercado irá subir, talvez substancialmente, bem antes que a confiança ou a economia se recuperem.” Principalmente porque é de interesse dele que isso ocorra logo, e como se trata de um mercado onde reina a especulação, o que ele diz vira regra e pode realmente alavancar os preços de algumas ações.
Já outro mega investidor, Kirk Kerkorian, vendeu parte de sua participação na Ford Motor e pode vender suas ações remanescentes, demonstrando a falta de confiança na doente indústria de automóveis americana. Para o pequeno investidor, fica a duvida. Em quem acreditar? Só lhe resta cumprir o seu papel de bobo da corte e financiador de grandes fortunas comprando uma ilusão de grandes ganhos em curto espaço de tempo.
Na busca por respostas para a crise da economia mundial, os livros de Karl Marx voltaram à moda. Nunca se venderam tantas obras, afirma Jorn Schütrumpf, editor alemão especializado em literatura comunista. Em busca das verdadeiras respostas, os livros de Marx voltam a ser comprados. No momento em que o mundo está á beira da recessão, Schütrumpf diz que “uma sociedade que demonstra novamente a necessidade de ler Karl Marx é uma sociedade que se sente mal.” Isso porque a verdade dói.
Enquanto se especula na busca por uma explicação, a elevação da taxa de suicídios, nos Estados Unidos, mostra o agravamento da crise. Segundo um estudo divulgado, pela primeira vez, em 10 anos, a taxa está em alta, e os responsáveis por este aumento são as pessoas brancas de 40 a 64 anos, principalmente mulheres.

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br

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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os Primeiros Reflexos da Crise no Brasil

Semana de 13 a 19 de outubro de 2008


Quando a tese do descolamento da economia brasileira, em relação à crise econômica internacional, ainda era amplamente defendida, já tínhamos alertado que o Brasil não escaparia ileso, nem estaria imune aos efeitos globais desta crise. Também já havíamos chamado a atenção para os primeiros reflexos da turbulência internacional, na economia brasileira, que agora, estão bem mais visíveis, começando a preocupar empresários e consumidores e fazendo até mesmo o presidente Lula mudar de opinião. Ele que, até poucos dias atrás, insistia em dizer que a crise era um problema dos Estados Unidos, cabendo, portanto, a eles resolvê-la, foi obrigado a reconhecer que “ela é tão profunda que nós ainda não sabemos o que vai ser amanhã”.
Parece que a extensão e a profundidade da atual crise são realmente bem maiores do que todos imaginavam, e, no caso do Brasil, que parecia protegido, essa percepção é ainda mais notória. Alguns exemplos são bem ilustrativos: a) A fabricante de aviões Embraer anunciou recentemente que adiará a entrega de cinco jatos, encomendados por companhias americanas, européias e australianas, por não encontrar financiamento. Há riscos de que o negócio não seja realizado, o que significará uma perda de mais de US$ 160 milhões para a empresa; b) O crédito para o custeio dos produtores brasileiros de grãos foi fortemente reduzido, colocando em risco a próxima safra; c) Os bancos e as montadoras começaram a reduzir os prazos de financiamento, que, para automóveis, já baixaram de 99 para 72 meses; d) Fabricantes de autopeças, que estavam investindo no país para atender o mercado interno aquecido, já estão refazendo seus planos, preparando férias coletivas diante dos cortes de pedidos e da previsão de que a produção de veículos registrará uma queda de 10% a 15% este ano.
Neste quadro, a perspectiva é de que a situação ainda está longe de melhorar. De acordo com pesquisa elaborada pela Quorum Brasil, as empresas brasileiras e multinacionais instaladas no país acreditam que a crise irá durar dois anos e terá um impacto médio sobre a economia. Foram entrevistados 80 presidentes e diretores de companhias de capital nacional e estrangeiro.
No clima de incerteza, com relação à manutenção do nível de investimentos, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), considerado pela ministra Dilma Rousseff como um programa anticíclico capaz de assegurar o nível de investimentos no Brasil, se torna cada vez mais incerto – diga-se de passagem, que o programa já não andava bem das pernas, com projetos que nem saíram do papel – pois boa parte dos recursos depende da iniciativa privada, que já não encontra mais fontes de financiamento como antes.
Para responder à falta de crédito que começa a ser observada, o Banco Central informou que vai liberar mais de R$ 100 bilhões do depósito compulsório para “irrigar o mercado”. Permanece, porém, a seguinte dúvida: com essa medida os bancos vão voltar a conceder crédito para as empresas e os consumidores, ou vão aplicar esses recursos no próprio mercado interbancário, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos, onde o governo teve de conceder crédito diretamente para as empresas?
Enquanto aguardamos essa resposta, na Europa, a intervenção dos governos já está ocorrendo de
forma conjunta. Numa operação global de resgate, na segunda-feira (13 de outubro), os governos dos principais países europeus anunciaram que irão comprar ativos e conceder empréstimos multimilionários, para os bancos em dificuldades, no valor de US$ 2,2 trilhões. Somente para citar alguns exemplos, no Reino Unido, o governo anunciou um pacote de US$ 64 bilhões; na França, de US$ 487 bilhões; na Espanha, de US$ 135 bilhões e na Alemanha, de US$ 650 bilhões.
Ou seja, já não se tem mais a noção de qual é o tamanho real do rombo financeiro existente na economia global, e o governo brasileiro, que iniciou a sua intervenção apenas recentemente, parece ainda ter muito a enfrentar. Que se preparem, então, as robustas reservas internacionais.
A Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), já prevê que a atividade econômica da região será significativamente afetada pela escassez de crédito e instrumentos de financiamento. Segundo Osvaldo Luis Kacef, diretor da divisão de desenvolvimento econômico do órgão, a América do Sul tende a ser menos afetada que os países da América Central, pois estes, além da falta de crédito, sofrerão devido à proximidade física com os Estados Unidos e a maior dependência comercial.
E os reflexos da crise já se fazem presentes também no plano político: é o que se observa com a volta a evidencia do Partido Comunista dos Estados Unidos. Cada vez mais pessoas buscam informações sobre o Partido, graças à crise econômica, que sempre acaba por colocar em dúvida a capacidade da economia de mercado em alocar, de forma racional e eficiente, os recursos sociais. Assistimos, portanto, o ressurgimento da tese de “crise do capitalismo”, tal como ocorreu em 1929. Mas não se deve concluir, a partir daí, que esse será o fim do sistema, pois, se trata apenas, de mais uma de suas etapas.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira.
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Depois da crise do “subprime”, a Grande Depressão de 1929 deixará saudade...

Semana de 06 a 12 de outubro de 2008


O Modo Capitalista de Produção tem como característica principal a divisão da sociedade em duas classes sociais: proprietários dos meios de produção (denominados de capitalistas ou “empresários”) e aqueles que, por não possuírem os meios de produção, são obrigados a vender sua força de trabalho por um salário, para garantir sua sobrevivência (os trabalhadores).
A decisão do que vai ser produzido é tomada por aqueles que detêm os meios de produção. Assim, quem possui dinheiro para aplicar como capital (comprando máquinas, matérias-primas e contratando trabalhadores) decide não só o que se vai produzir, como em que quantidade. Esta é uma das várias contradições do capitalismo, pois, se a decisão de produzir é individual, do empresário, a realização dos lucros necessita do mercado, já que, se não houver compradores para as mercadorias, o objetivo da produção (a obtenção de lucros) não é alcançado.
O desenvolvimento do capitalismo aprofundou ainda mais esta contradição com o surgimento dos      
sistemas financeiros, cuja função primordial era gerar meios para financiar os investimentos, libertando-os das limitações da acumulação dos lucros obtidos por cada empresa. As instituições financeiras, porém, adquiriram o poder de criar meios de pagamento, independentemente das decisões dos Bancos Centrais. Surgiu com elas uma nova camada social, denominada de capitalistas financeiros.
A questão é que o surgimento de sistemas financeiros gerou uma ilusão nos agentes, já que o processo no sistema financeiro figura aparentemente como compra e venda de papéis que “tem o poder de aumentarem de valor” sem que nenhum esforço tenha sido feito para tanto (parece mágico!). Este mecanismo leva muitos a acreditarem que, para acumular, não é mais necessário comprar máquinas, contratar trabalhadores, administrar um complexo processo de produção e depois ir ao mercado vender os produtos. É mais simples: basta apenas aplicar em mercados financeiros, que inclusive são “líquidos”, ou seja, no momento em que se desejar ter o dinheiro de volta, vende-se os papéis, o que é diferente de uma fábrica.
Em virtude disto, o sistema financeiro afastou-se da função que lhe deu origem, que era a de financiar a produção (fruto da dissociação do capital função x capital propriedade ), e passou a gerar um volume de riqueza fictícia (com as operações no sistema financeiro) que tende a ser muito maior que a soma da riqueza real resultante dos processos produtivos.
Contudo, a questão não é tão simples como parece, tendo em vista que a riqueza fictícia, como não possui valor intrínseco, precisa de algo que lhe confira valor, isto é, a riqueza real, material. Além disso, ela não pode crescer numa proporção muito maior do que a capacidade produtiva do país (já que é valorada por esta), caso contrário provoca o que está ocorrendo agora, uma crise.
Muito mais grave é saber que a decisão de produzir é tomada por agentes que comparam se é mais rentável investir na “produção de arroz”, por exemplo, comprar “ações do Banco Bradesco” ou “comprar títulos de dívida do governo”, ou seja, o surgimento e desenvolvimento dos sistemas financeiros e dos mecanismos de especulação desvincularam a geração do excedente do processo de produção, uma vez que se pode ter “lucro” comprando uma ação, um título ou investindo na produção de arroz, etc. Quando a crise chega, mostra que isto é uma tremenda ilusão, e todos entram em desespero por não entenderem por que os mesmos papéis, que hoje representam a riqueza, amanhã valem tanto quanto as notas de dinheiro do famoso jogo infantil “Banco Imobiliário”.
O economista John Maynard Keynes, em sua análise (que não faz qualquer menção, nem ao conflito das classes sociais existentes, nem ao caráter histórico dos sistemas econômicos), destacou o grau de irracionalidade que norteia as transações nos mercados financeiros. Keynes afirmou, em sua Teoria Geral, que “os especuladores podem não causar dano quando são apenas bolhas num fluxo constante de empreendimento; mas a situação torna-se séria quando o empreendimento se converte em bolhas no turbilhão especulativo. Quando o desenvolvimento do capital em um país se converte em subproduto das atividades de um cassino, o trabalho tende a ser mal feito”.
Na Teoria Geral, são várias as passagens em que Keynes descreve o comportamento dos agentes no mercado financeiro e, o que impressiona, é o grau de irracionalidade que ele confere a estes. Keynes diz que a ilusão de que o mercado financeiro é líquido tende a criar um comportamento especulativo nos agentes. Destaca que, para que o mercado financeiro funcione “normalmente”, é necessário que haja divergência de pensamentos, isto é, é necessário que alguns achem que a taxa de juros irá subir (ou o preço dos títulos cair) e que outros agentes achem que a taxa de juros irá cair (ou o preço dos títulos subir), de modo que os primeiros desejarão vender títulos e os segundos comprar. Quando este comportamento não se concretiza, ocorre o que Keynes denominou de efeito manada ou psicologia das massas (exatamente o que vem ocorrendo nas Bolsas do mundo todo), isto é, como há uma idéia quase unânime de que o preço dos ativos financeiros irá cair, todos querem vender ao mesmo tempo, e aí, neste momento, todos descobrem que a “liquidez” não existe de forma absoluta, mas apenas relativa.
É a partir deste comportamento irracional que o investimento de uma economia é determinado. Em outra passagem da Teoria Geral, onde Keynes descreve o comportamento dos agentes no mercado financeiro, ele diz: “Tratam-se, por assim dizer, de brincadeiras como o jogo do anel, a cabra-cega, as cadeiras musicais. É preciso passar o anel ao vizinho antes do jogo acabar, agarrar o outro para ser por este substituído, encontrar uma cadeira vaga antes que a música pare. Estes passatempos podem constituir agradáveis distrações e despertar muito entusiasmo, embora todos os participantes saibam que é a cabra-cega que está dando voltas a esmo ou que, quando a música pára, alguém ficará sem assento.”
É impressionante, em um momento como este, como os discursos e as previsões mais otimistas e
tranqüilizadoras viram piada em questão de horas ou dias. Seis dias antes do Lehman Brothers (o quarto maior banco de investimento do mundo) ir à falência e duas semanas antes do Wachovia (quarto maior banco de varejo dos Estados Unidos) ser vendido ao Citi, o presidente deste último, Robert K. Steel, numa palestra na Conferência Lehman Brothers de Finanças Globais, afirmou: “estou tremendamente confiante de que estamos indo na direção certa porque temos a força necessária para seguir progredindo”. Quanta decepção e frustração não sentiram aqueles que saíram confiantes desta conferência por acreditarem nas previsões de todos aqueles que discursaram seguindo as previsões do senhor Robert!
Nos EUA, o pacote de US$ 850 bilhões para a salvação dos bancos já foi aprovado e posto em prática. Os principais Bancos Centrais do mundo continuam a baixar as taxas de juros (inclusive fizeram uma operação conjunta, nesta semana) e a garantir liquidez do sistema financeiro (emprestando sem limites, a custo quase zero, e aceitando como garantia os títulos que não possuem nenhum valor de mercado). Os governos têm estatizado uma série de empresas, e o que se tem visto é só a piora do cenário. O lado real da economia já está claramente contaminado pela crise financeira, basta observar os dados de emprego e produção. As 15 economias, que adotam o euro como moeda, ficaram estagnadas no terceiro trimestre, e a expectativa é de que, nos próximos meses, elas se contraiam. Os empréstimos tomados por empresas norte-americanas caíram 60%, no segundo trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado.
As justificativas para o fracasso das intervenções estatais são diversas: alguns acham que não houve tempo suficiente para que elas surtam o devido efeito, outros afirmam que as medidas tomadas ainda não são suficientes, os neoliberais atribuem a catástrofe à própria intervenção (já que, segundo eles, o mercado é eficiente e autoregulável, pois os agentes são racionais e trabalham com expectativas racionais). Em nossa opinião as medidas não surtem o efeito esperado, porque elas não são capazes de salvar o sistema desta crise, isto é, a crise é necessária para restabelecer a dinâmica de acumulação capitalista e o quadro não será revertido antes que ela tenha cumprido o seu papel saneador.
Diferentemente de crises anteriores, o que tem impressionado são a forma como a atual se tem espalhado pelo mundo e a rapidez dos acontecimentos. A Europa é um exemplo. Ela vinha se mantendo razoavelmente à margem dos problemas e, de repente, se viu mergulhada na crise. O banco Dexia, com sede em Bruxelas, recebeu uma injeção de US$ 9 bilhões de dólares de dinheiro público; o maior banco da Bélgica, o Fortis, foi socorrido às pressas, com US$ 16 bilhões, pelos governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo; e, na Alemanha, um consórcio de bancos e o governo salvaram da falência o Hypo Real Estate Group (voltado à concessão de crédito imobiliário).
Segundo o professor de economia da Universidade da Califórnia, Roger Farmer, “a magnitude do
colapso só é comparável ao que se seguiu à crise de 1929”.
No Brasil, a tese de descolamento não tem sido mais mencionada, e o presidente Lula, que vinha insistindo que a crise era dos Estados Unidos, agora admite que ela é séria e torna o amanhã totalmente imprevisto. A crise de liquidez já chegou ao país: o teto de prazo para a compra de carros caiu de 84 para 72 meses e se espera que chegará a 60 meses; as empresas que financiam a safra (denominadas tradings) devem reduzir sua participação no financiamento, de 30% para 20%, na safra que começa a ser plantada agora; as linhas de antecipação de contrato de câmbio de 90 dias, que financiam as exportações, subiram de 3,5% ao ano, no começo de setembro, para 9% no começo de outubro, além de terem se tornado raras no mercado; os mercados de capitais se fecharam nas últimas semanas e as companhias que ainda desejam investir estão buscando outras fontes de financiamento (agências de crédito à exportação e os organismos multilaterais); e, por fim, as taxas de juros para capital de giro subiram, de 20%, para 25%.
A Bovespa, que já chegou a operar próxima dos 70.000 mil pontos, está derretendo e tendo que interromper as atividades no meio dos pregões para não quebrar de uma vez, tendo chegado próximo dos 35.000 pontos. A Embraer, produtora de aviões, já adiou a entrega de jatos, com receio de que o negócio não se concretize (o que geraria uma perda de US$ 160 milhões), tendo em vista que as companhias devedoras, americanas, européias e australianas, não encontraram liquidez no mercado para honrar o pagamento.
O dólar tem disparado em função do grande aumento da procura para enviar capitais ao exterior
como remessa de lucros e dividendos ou como repatriamento. Até agosto, as multinacionais instaladas no país já haviam enviado US$ 24,7 bilhões para suas matrizes, conforme dados do Banco Central. Este valor já supera o valor enviado durante todo o ano de 2007. Os investidores estrangeiros, responsáveis por 35% da movimentação da Bovespa, sacaram US$ 9,1 bilhões de dólares do mercado acionário até o final de setembro.
Esta disparada do dólar levou empresas, que especulam com o câmbio, a registrarem prejuízos milionários. A valorização do dólar gerou um prejuízo de US$ 760 milhões à Sadia (mais do que o seu lucro líquido de todo o ano passado) e de US$ 300 milhões à Aracruz. Sobrou para os diretores financeiros, que foram afastados, e para as ações, que despencaram.
O governo está fazendo o que pode para manter a liquidez da economia, pois não se pode esquecer que o presidente Lula tem pretensões de eleger um sucessor em 2010, e sabe ele que, se o país estiver em crise, se tornará muito mais difícil alcançar esta meta. Várias medidas têm sido tomadas neste sentido. Foi retomada a venda de dólares, por meio de leilões, fato que não ocorria desde 2003. No final de setembro passado, o montante leiloado já tinha alcançado US$ 1 bilhão. Foi reduzido o nível de depósito compulsório dos bancos no BC, o que representou mais R$ 5,2 bilhões em circulação na economia até o final de setembro. Até o final do ano, o ministro Guido Mantega promete disponibilizar, para as empresas exportadoras, R$ 15 bilhões, por meio do BNDES, para atender a demanda de financiamento. Apenas nos últimos 12 meses, o volume de empréstimos para estas empresas caiu 19,6% e as taxas médias subiram, de 11,1%, para 17,4%. No caso de um agravamento da crise internacional, já está em debate a utilização de uma parte das reservas cambiais para criar fundos de emergência de financiamento às empresas.
Diante do exposto, o que se pode concluir é que uma crise muito maior do que a temida Grande Depressão de 1929 está em cena e que a duração e os danos que ela pode provocar ainda não são dimensionáveis. Se o capitalismo foi capaz de produzir crises terríveis, com grandes dimensões e longos períodos de duração, sem que a irracional dinâmica do sistema financeiro existisse (ou existisse em pequena escala), que dirá agora, numa situação onde as operações financeiras deram origem a um volume de riqueza fictícia tão grande que nem o Estado indo à falência conseguiria absorver.
Depois desta crise, o capitalismo nunca mais será o mesmo! Viva e confira!

Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br

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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O mundo à beira do abismo

Semana de 29 de setembro a 05 de outubro de 2008



“O mundo está à beira do abismo.” Esta foi a declaração do premiê francês François Fillon antes da reunião dos presidentes dos principais países da União Européia (UE). Afinal, a máscara cai, e o capitalismo apresenta a sua verdadeira face de crise. Já ninguém duvida (exceto Mantega e Meirelles), e todos se apressam em afirmar que a crise se estende à economia real (com todas as características já há muito conhecidas dos economistas) e que o pior ainda está por vir: falências, desemprego, queda no consumo, fome, etc. Fábricas fecham ou reduzem a produção, o crédito some, os bancos, sem dinheiro, vão à falência, os pedidos de seguro desemprego crescem com o aumento das demissões e, agora, característica do capitalismo atual, os poderosos empresários e banqueiros, de sacola na mão, exigem os recursos bilionários, muitas vezes superiores aos que antes eram reservados, sob protestos, à caixa dos pobres.
Ao passar à economia real, a crise não abandona a esfera financeira. Pelo contrário, ela se expande cada vez mais, levando os governos a proporem operações desesperadas de salvamento. O Wachovia, quinto maior banco em ativos dos EUA, foi comprado pelo Citigroup, que passou a assumir a posição de segundo maior banco, logo a seguir ao Bank of América, que conquistou a primeira posição depois de comprar o Merrill Lynch. O JP Morgan ficou com o terceiro lugar, mesmo depois de ter comprado o Bear Stearn e o Washington Mutual. Quando não se encontram compradores, os governos nacionalizam os bancos. Este é o caso do Bradford and Bingley, cujos ativos saudáveis serão vendidos ao Santander e a parte podre ficará com o tesouro britânico. Os espanhóis do Santander também comprarão o Alliance and Leicester. O belgo-holandes Fortis foi nacionalizado pelos governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo, e o alemão Hypo Real Estate (HRE) foi salvo da falência pela intervenção do governo deste país que lhe garantiu 25 bilhões de euros. O maior banco japonês, o Mitsubishi UFJ, comprou 21% de participação no Morgan Stanley por US$ 9 bilhões. E os bancos centrais da Europa prometem continuar a intervir ainda mais. O Banco da Inglaterra, o Banco Nacional da Suíça e o BC europeu, juntos, destinaram mais US$ 74 bilhões para isto, e as notícias se multiplicam. O desemprego aumenta no setor bancário e, aos 80 já demitidos na economia americana, juntaram-se agora mais 1.100 novos desempregados do setor de investimentos do HSBC. Comentando a situação, o diretor de pesquisa e estudos econômicos do Bradesco, Otavio de Barros, afirmou: “É uma crise sistêmica e a pior desde os anos 1930.”
Mas, contrariando a opinião geral de que a crise é financeira, a economia real teima em pedir passagem na passarela. A Bill Heard Enterprises, a maior revendedora de veículos Chevrolet nos EUA, pediu concordata, tendo fechado 14 lojas e demitido 3.200 empregados. Além disso, 23 de suas filiadas também entraram com o mesmo pedido. As vendas no varejo, nos EUA, em novembro e dezembro, serão as piores nos últimos 30 anos, segundo o consultor norte-americano Britt Beemer, do Américas Research Group, que há 16 anos acerta as suas previsões. As montadoras do mundo inteiro contabilizam os prejuízos e reduzem a produção. Concorrendo com as americanas, que obtiveram uma ajuda de US$ 25 bilhões, as européias, argumentando que são maiores, candidatam-se a 40 bilhões de euros, enquanto os preços das commodities caem, incluindo os preços do petróleo, diante da queda da procura. A Pilgrim’s Pride, empresa que trabalha com ovos e carne de frango e emprega 53.000 pessoas, informou que se encontra em dificuldades e romperá contratos. O Hard Rock Park, parque temático, entrou com um pedido de concordata. Dezenas de restaurantes e lojas de pequeno e médio portes encontram-se em situação semelhante. Até o império da Playboy, a conhecida revista erótica, teve suas ações desvalorizadas em 60%, encontrando-se em situação financeira difícil e sendo obrigada a cortar gastos com suas tão apreciadas coelhinhas.
Os governos e seus prepostos rebolam a procura de explicações capazes de enganar seus cidadãos na tentativa de manutenção dos seus bem remunerados empregos.
Este é o quadro presente onde começa a surgir novo tipo de decreto: o “decreto de recessão”. O ministro do orçamento francês, Eric Woerth, já reconheceu que “houve dois trimestres de crescimento negativo, isso se chama recessão técnica”. A Irlanda, porém, foi o primeiro país a considerar-se oficialmente em recessão, para não falar na Dinamarca, Letônia e Estônia. A Inglaterra, embora não tenha publicado o reconhecimento oficial, já afirma que o setor produtivo está tendo o pior desempenho nos últimos 17 anos, seguida de perto pela poderosa Alemanha.
É o salve-se quem puder, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, pela boca de seu assessor Henri Guaino, já confirmou sua preferência: “A prioridade é salvar o sistema bancário.” Aliás, este está sendo o objetivo geral. Na UE, a reunião dos presidentes dos principais países aprovou a ação conjunta resumida na frase: “não deixaremos nenhum banco ir à falência.” O ponto alto da semana foi, porém, o pacotão de 700 bilhões proposto pelo governo Bush ao parlamento dos EUA. Depois de alguns dias de terrível tensão e entendimentos, finalmente, chegou-se a um precário acordo que não foi suficiente para aplacar a sede insaciável do mercado e não trouxe paz às bolsas de valores. O desabamento foi geral, atingindo em cheio a Bovespa.
No Brasil, o presidente Lula, revoltado, conclamou o governo Bush a assumir sua responsabilidade pela crise: “Eles criaram este rombo no sistema financeiro e agora têm de tapá-lo, para poder deixar o mundo tranqüilo.” E, manifestando-se sobre a situação, bem assessorado pelo Presidente do BC, Henrique Meirelles, e pelos ministros Guido Mantega e Miguel Jorge (Indústria e Comércio), para quem a crise não chegou ao Brasil, ele completou: “Sobre a situação brasileira, posso dizer que nós estamos tranqüilos”.
Enquanto o presidente desfila sua tranqüilidade, a economia brasileira acelera sua marcha para a
crise com a ajuda do próprio Banco Central, o que já é reconhecido por muitos. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) afirmou: “o alastramento da crise financeira pode paralisar parte dos investimentos brasileiros.” O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) alertou: “a economia brasileira vai sofrer os impactos.” As ações da Sadia desabaram 43%, e os analistas do Santander prevêem que ela poderá ter prejuízos de US$ 267 milhões no terceiro trimestre. As ações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) perderam R$ 3 bilhões devido à queda de 15,36% de seu valor. A produção industrial caiu 1,3% em agosto, afirma o IBGE, e as vendas da indústria fluminense, neste mês, caíram 32,25% em relação a julho, segundo dados da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Altamente endividados, os grupos sucroalcooleiros estão com dificuldades para renegociar suas dívidas diante das restrições do crédito. As vendas de veículos já estão caindo diante da redução dos prazos, do aumento das taxas de juros e da suspensão de vendas sem entrada. As montadoras já programam redução da produção. A produção industrial desacelera e, segundo a economista do Banco Real Tatiana Pinheiro “a produção industrial deverá piorar também nos próximos meses do ano.” O setor imobiliário começa a rever os planos de novos lançamentos, suspendendo-os. As incorporadoras estão encontrando crédito mais caro, e os que têm ações na bolsa sofrem perdas que chegam a 20%.
A explicação para tamanha catástrofe que se pretende impingir às pessoas pode ser resumida na
estória que me contou um amigo português e que passo a reproduzir.
“O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Ao decidir vender a crédito, ele aumenta um pouquinho o preço da dose da branquinha (para compensar os juros que os pinguços terão de pagar pelo crédito).
O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um activo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, tendo o pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exactamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu).
Esses derivativos passam a ser negociados, como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países, até que alguém descobre que os bêbados da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifu!”
Viu...? É muito simples...!!!
Por traz da comicidade, se esconde a ignorância ou a má fé, quando, no noticiário de uma certa rede de televisão, entrevistam um engravatado economista em conversa com sua engravatada família, durante quase 3 minutos, e a explicação é exatamente deste tipo.
Como é difícil a tarefa de justificar o sistema nos momentos em que ele se apresenta em total ruptura?
Preparemo-nos para sofrer os anos das vacas magras e curtir o capitalismo em crise, porque o presidente Bush, apesar de todos os apelos, é inteiramente impotente diante dela.


Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na EconomiaBrasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)

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sábado, 11 de outubro de 2008

Fundamentalismo de Mercado: naufrágios e fim de festa

Semana de 22 a 28 de setembro de 2007

Acerca de um mês, em uma de nossas análises, divulgamos as falas “proféticas” do ex-economistachefe do FMI, Kenneth Rogoff, afirmando que a crise financeira estaria apenas no meio do caminho, já que o pior ainda estaria por vir. Conforme Rogoff, não apenas bancos de médio porte afundariam, mas também os grandes bancos, especialmente os de investimentos. O que vimos nos últimos dias foi exatamente a concretização de tais previsões, com o naufrágio dos titanics Merrill Linch e Lehman Brothers (dia 15 de setembro, a segunda-feira maldita), a liberação de 200 milhões de dólares para salvar a vida das maiores companhias hipotecárias dos Estados Unidos, os famosos Fannie Mae e Freddie Mac, e o socorro do Fed (banco central norte-americano) à seguradora AIG.
A tábua de salvação, anunciada pelo Tesouro dos Estados Unidos, foi o pacote de ajuda de US$ 700 bilhões às instituições bancárias. Instantaneamente, os agentes financeiros tentaram passar a idéia de que o pior já havia acontecido. No Brasil, o diretor de gestão de recursos do HSBC, Pedro Bastos, por exemplo, afirmou que a recuperação da Bovespa seria “robusta e rápida”. Mas com a negação, pelo Congresso, da aprovação do pacote, na primeira votação, realizada na segunda-feira, 29, a reação em cadeia, das bolsas de valores mundo a fora também foi instantânea. Na bolsa de Nova York, por exemplo, o índice Daw Jones sofreu uma queda histórica de 770.078 pontos, a maior desde o ataque às torres gêmeas em 2001. A recuperação robusta e rápida da Bovespa transformou-se na interrupção das atividades do pregão, após atingir uma variação negativa de 10 pontos percentuais, algo que não ocorria há 10 anos.
Para tentar matar “a sede monetária que parece não ter fim”, foi realizada uma ação conjunta dos bancos centrais, que injetaram 630 bilhões de dólares. Foi a segunda injeção de liquidez em menos de uma semana, já que, em 18 de setembro, os mesmo bancos centrais haviam liberado, juntamente com a Rússia, 380 bilhões de dólares para as instituições bancárias.
Além dos volumes inimagináveis de recursos despendidos, os Bancos Centrais, das economias desenvolvidas, têm recorrido à estatização de instituições bancárias. Foi exatamente o que o Reino Unido fez ao comprar o principal banco do país, o Bradford and Bringley, e Bélgica, Luxembugo e Holanda fizeram, conjuntamente, ao adquirirem (por ironia, quem sabe) o banco Fortis.
Concomitantemente, tentando assegurar a sua sobrevivência, os grandes bancos fundem-se. Só para citar os principais casos, o banco alemão Deutsche Bank vai assumir o controle do seu rival Deutsche Postbank, e o Wachovia (quarto maior banco norte-americano) foi comprado pelo Citigroup. Entre osbancos de investimentos, os sobreviventes Morgan Stanley e Goldman Sachs irão se tornar um holding bancário.
Com o aprofundamento da crise, os economistas, tentando ensinar padre nosso à vigário, isto é, dar normas de comportamento aos capitalistas, em vez de aprender com eles, tentam encontrar as razões e os “culpados” pela situação. O megainvestidor George Soros, não se deixa iludir e afirma que não foi só a bolha imobiliária que estourou, pois o mundo vive com uma “superbolha” há 25 anos. Além de considerar os ciclos econômicos inevitáveis, Soros afirma que esta “superbolha” foi criada durante os governos de Thatcher-Reagan, quando se iniciou o “fundamentalismo de mercado”. Segundo ele, trata-se de um dogma ideológico, o qual prega que os mercados devem ser deixados aos seus próprios cuidados e que quanto menos regulações, melhor. Para Soros, a crise atual demonstra que as premissas deste fundamentalismo não funcionam e devem ser abandonadas. Eis uma sábia lição que os economistas ainda não aprenderam.
Quanto ao plano de socorro do Tesouro para as instituições bancárias falidas, as negociações devem continuar, pelos próximos dias, sob grande tensão. A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelozi, já declarou, com grande irritação, que: “The party is over!” (A festa acabou). Formadores de opinião como Paul Krugman concordam que o plano de resgate para o sistema financeiro é dar “dinheiro em troca de lixo”. O que se espera é que o plano, mesmo que aprovado, não tenha o mesmo formato original proposto por Henry Paulson, Secretário do Tesouro dos EUA, e que sofra profundas alterações. Preparemo-nos para uma semana de tensão e nervosismo nos mercados financeiros, enquanto a crise se expande.
De fato, as turbulências econômicas internacionais já afetam setores comerciais, como o da aviação comercial, e causam apreensão aos “descolados” países em desenvolvimento. Conforme a Organização Internacional da Aviação Civil (Icao), os prejuízos para as companhias aéreas neste ano giram em torno 5,2 bilhões de dólares e a previsão para 2009 é de que as perdas alcancem 4,1 bilhões de dólares. Para o ex-presidente da Icao, o consultor Assad Kotaite, a situação das empresas é desafiadora, porque haverá restrição de crédito e as pessoas passarão a voar menos. O consultor ainda argumenta que os governos terão de regular a atual desregulamentação existente no setor. Enquanto isso, a terceira e a sexta maiores companhias aéreas norte-americanas, a Delta Air Lines e Northwest Airlines, se preparam para uma fusão até o final do ano.
Na China, a pressão aumenta sobre os bancos. Uma multidão de depositantes do Bank of East Asia, terceiro maior banco do país, formaram filas para sacar o seu dinheiro. Tal fato pode indicar que as dificuldades passadas em Wall Sstreet podem atravessar o oceano Pacífico. O Banco afirmou que rumores maliciosos foram divulgados, via mensagens eletrônicas, e que a polícia de Hong Kong investigará o caso.
No Brasil, já se reconhece que a imunidade da economia brasileira ao turbilhão econômico mundial não é tão absoluta. Henrique Meireles, presidente do Banco Central, comentou que a crise vai desacelerar o crescimento da economia mundial, e a economia brasileira acompanhará esta desaceleração.Provavelmente o pronunciamento de Meireles já é conseqüência do conhecimento dos dados do déficit em conta corrente. Conforme o próprio BC, no acumulado entre janeiro e agosto, o déficit já soma US$ 20,602 bilhões, um recorde em sua série histórica. Entre os motivos causadores deste déficit estão a redução da entrada de recursos e, principalmente, a expansão da remessa de rendas para o exterior. Segundo a Gazeta Mercantil, nos sete primeiros meses de 2008, as montadoras e os bancos enviaram, respectivamente, 240% e 144% a mais de recursos que no mesmo período do ano passado.
E a “solidez dos fundamentos da economia brasileira” parece estar sendo corroída pelos acontecimentos dos últimos dias:
1 - A balança comercial apresentou, no acumulado do ano, até a terceira semana de setembro, um saldo positivo de 19,298 bilhões de dólares, o que corresponde a uma queda de 65,3% em relação ao mesmo período no ano passado. Um dos motivos para explicar tal queda é a redução dos preços das commodities, após do estouro da bolha dos alimentos;
2 - A dívida pública federal apresentou aumento de 1,6%, atingindo, no mês de agosto, o valor de R$ 1,391 trilhão. Já a dívida pública federal externa chegou à marca dos R$ 96,32 bilhões no final de agosto, segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda. O Tesouro informou que a elevação de 3% no estoque da dívida externa deu-se pela valorização do dólar em relação ao real;
3 - A projeção de crescimento da economia, porém, foi mantida em 3,60%, para 2009, apesar do aumento em 6,1% do PIB nos últimos 12 meses.
Apesar disto, o governo continua a proclamar a solidez da economia do país, orgulhando-se inclusive da redução dos índices de desigualdade. Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou sua pesquisa Pobreza e Mudança Social que mostra o aumento da população considerada classe média e a redução da extrema pobreza e da desigualdade no Brasil. Conforme esta pesquisa, entre 2001 e 2007, a população que vivia com renda per capita inferior a 87 reais caiu, de 17,3%, para 10,2% da população total, e o índice de Gini (que mede o grau de desigualdade de renda) caiu 7% no mesmo período.
Para o pesquisador do IPEA, Ricardo Paes de Barros, embora, nos últimos tempos, haja uma redução dos níveis de desigualdade de renda no país, seriam necessários, aos ritmos atuais, mais 18 anos para o Brasil se alinhar à média da desigualdade mundial. Conforme Barros, para se reduzir a desigualdade social é preciso elevar a renda obtida pelos mais pobres por meio do trabalho, pois “programas assistenciais como o Bolsa Família, além dos benefícios da Previdência, não são saídas capazes de dar fim ao problema.”


Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda de economia e pesquisadora do Progeb.
progeb@ccsa.ufpb.br

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