quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Previsões e realidade


Semana de 17 a 23 de dezembro de 2012


Eric Gil Dantas [i]




Chegamos aos 45 minutos do segundo tempo. Esta é a última análise a ser publicada, em 2012, e já podemos tirar algumas conclusões sobre este ano tão difícil para a economia mundial e para o Brasil.
A primeira conclusão é sobre a confiabilidade das previsões do nosso governo acerca da economia. O Boletim Focus, do Banco Central do Brasil, faz a sua previsão final para o ano de 2012: o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) será apenas de 1%. No início do ano esta previsão era 3,3% (ainda bem abaixo dos 4,5% cantados pelo Ministério da Fazenda). Segundo a coluna do Clóvis Rossi, neste último domingo na Folha de São Paulo, a diferença de 2,3% de crescimento do PIB equivale a R$118 bilhões, em dinheiro. Um erro bastante considerável.
Mas o governo já começa a dizer que, em 2013, darão um jeito na economia. Em entrevista ao Valor Econômico, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, explica que o baixo crescimento do PIB, neste ano, foi consequência da “nova matriz macroeconômica”, que combina juro baixo, taxa de câmbio competitiva e uma consolidação fiscal “amigável ao investimento”. Ele ainda afirmou que o custo inicial desta nova matriz já passou, e que agora o país terá sólida base para o crescimento de longo prazo. Aguardemos.
Guido Mantega, em artigo no mesmo jornal, endossou o discurso sobre os bons tempos que estão por vir, neste ano de 2013. O ministro disse que “a era do ganho fácil e sem risco ficou para trás, apesar do choro e ranger de dentes dos poucos que se beneficiavam da situação”, mas que a “revolução” promovida pelo governo, se referindo à nova matriz, leva algum tempo para surtir efeito.
Para inverter a tendência de queda do PIB, em 2013, e desta vez garantir os prometidos 4% de crescimento, a Fazenda reforçou suas medidas de estímulo. Foi anunciada uma nova desoneração tributária, com um custo de R$6,8 bilhões. As medidas são: mais uma prorrogação do IPI reduzido para o setor automotivo, linha branca e móveis e do Reintegra (programa que devolve, sob a forma de crédito tributário ou dinheiro vivo, até 3% do faturamento de exportações de bens manufaturados, como compensação de impostos indiretos cobrados na cadeira produtiva) e a desoneração da folha de pagamento para um novo setor, o varejista.
A segunda conclusão é de que a crise atravessou 2012 e ainda não deu nenhum sinal de quando se encerrará.
De acordo com a ONU, o crescimento global do ano que vem será “medíocre”, de apenas 2,4%, o que será insuficiente para superar a atual crise do emprego. Para a entidade, serão necessários cinco anos até que a Europa e os EUA compensem as perdas de postos de trabalho causadas pela recessão de 2008 – 2009.
Um exemplo da ainda forte crise econômica, na Europa, são duas cidades do norte da Grécia. Por conta do corte de 60% da verba para aquecimento de escolas, todas as escolas destas cidades foram fechadas para evitar que as crianças congelassem. O país enfrentará o sexto ano consecutivo de recessão em 2013, quando a economia deverá encolher cerca de 4%, após uma contração de 6% projetada para 2012.
Mesmo na época de maiores festividades do ano, a crise não dá trégua. O consumo para este final de ano será baixo, principalmente no sul da Europa, de Lisboa a Atenas. A Comissão Europeia divulgou os dados sobre a disposição de consumo da população, que caiu nos 17 países que compõe a região do euro, de 26,9 pontos em novembro, para 26,6.
É dentro deste cenário que o Brasil terá de superar os baixos ritmos de crescimento e atingir o número pretendido pelo Ministério da Fazenda. No entanto, 2013 não parece prometer nenhuma boa surpresa para o país. A serem mantidos os prognósticos atuais, o crescimento permanecerá baixo e as economias do mundo continuarão a patinar.
            Que venha, pois, 2013!


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Novos sinais?


Semana de 10 a 16 de dezembro de 2012


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Ao longo dos últimos meses, as notícias do cenário econômico não são muito promissoras. A crise continua a assolar a economia global. As medidas contra cíclicas já esgotaram o vocabulário economês: medidas macroprudenciais, afrouxamentos monetários, operações de swaps cambias reversos, isenção fiscal e política expansionista, dentre muitos outros termos. Este consistente pirão, que já deixou de ser uma mera sopa de letrinhas, vem sendo utilizado para reanimar a enferma produção e distribuição capitalista da riqueza. Os mestres-cucas, que se reúnem bimestralmente para jantar num “edifício cilíndrico com vista para o rio Reno”, são mais de dez presidentes dos Bancos Centrais de países que, juntos, representam 75% do PIB mundial. Esta refeição, que chega a durar mais de 3 horas (a comilança dura muito mais), serve para eles discutirem as futuras ações contra a crise.
            Mas a crise, apesar dos U$ 11 trilhões despejados no “mercado”, desde 2007, não acabou. Por incrível que pareça, nesta semana que passou, as “novas” notícias servem para diagnosticar o velho problema.
            O Japão, por exemplo, que, em 15 anos, havia sofrido quatro recessões, entrou em sua 5ª, com o PIB decrescendo a uma taxa anualizada de 3,5%, no terceiro trimestre de 2012. Junta-se, portanto, aos PIGS. Por falar nisso, após a tarraxada dada pelo governo, a Grécia conseguiu reduzir em 40% seu déficit orçamentário, ou seja, dos 21,5 bilhões de euros que o país gastava a mais do que arrecadava, entre janeiro e novembro de 2011, agora, no mesmo período de 2012, o governo gasta “apenas” 12,9 bilhões a mais. A toda poderosa Alemanha, que é a maior exportadora da Europa, reduziu seu superávit comercial em 9,5%, no último mês de setembro. Na Zona do Euro, a produção industrial caiu 1,4%, entre setembro e outubro de 2012. Na União Europeia o número foi menos ruim: 1%.
            Já na Itália, o que se aproxima são as eleições. O tecnocrata Mario Monti foi colocado como premiê há exatamente um ano. Na ocasião, prometeu curar as mazelas do país e deixar o poder assim que as coisas melhorassem. Não melhoraram tanto quanto queria, mas é hora de partir. Ou não? Até pouco tempo a intenção do atual primeiro-ministro era de sair do cargo após a votação do orçamento de 2013. O problema é que, talvez, ele se candidate ao pleito. O favorito nas pesquisas de intenção de votos é Luigi Bersani, da centro-esquerda. Ele já prometeu que irá manter o programa de austeridade e cumprir os acordos firmados por Monti. Além destes, pasmem, “corre por fora” aquele que tem todas as credenciais para ser um típico político brasileiro: Silvio Berlusconi.
            Os EUA, por sua vez, ainda discutem o que eles chamam de abismo fiscal: aumentar os impostos (receitas) e reduzir os gastos (despesas) de maneira drástica a partir de janeiro de 2013. Republicanos e Democratas ainda não entraram num consenso, se irão manter, ou não, esta proposta.
            Até os Tigres Asiáticos estão sofrendo. Diante da “reestruturação” que está sendo realizada pela empresa Avon, 1,5 mil funcionários, de todos os níveis hierárquicos, serão demitidos no mundo. Os mais prejudicados serão os da Coréia do Sul e do Vietnã, já que a empresa não tem mais planos de manter a produção nestes locais.
            Por outro lado, a China tem dado sinais controversos. O fato isolado de que o superávit comercial deste país tenha recuado 39% poderia causar pânico. Mas, olhando outros elementos, podemos ver que a política econômica chinesa está se voltando para o mercado interno, como tentativa de melhorar a distribuição de renda. Os meios para chegar a tal é que não são muito claros. Graças à antiga estrutura rural e a nova estrutura urbana, por exemplo, o país incluiu na sua pauta de importações, produtos como milho, cevada, arroz e trigo, além da soja. O novo premiê já começou a falar em abertura comercial, que, dependendo de como seja feita, pode acabar com boa parte da produção interna. O fato é que, em novembro de 2012, a produção industrial do país teve seu maior crescimento desde março.
            Até aqui tudo igual. A novidade, não tão nova assim, vem do Brasil. Primeiro, a aparente mudança na política econômica, que deverá dar mais prioridade ao setor produtivo do que ao financeiro. Segundo, o mal estar latente nos setores menos beneficiados pelos programas do governo. E, por fim, a redução dos dias de férias coletivas dados por algumas empresas dos setores beneficiados pelos estímulos. Estes sinais, porém, ainda não podem confirmar a chegada de novos tempos ou apenas inflexões de uma conjuntura.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O PROGEB envia os últimos exemplares de "O CAPITAL EM MOVIMENTO: Ciclos, Rotação e Reprodução" para a UFU- Universidade Federal de Uberlândia e já se prepara para lançar a 2ª edição. Os livros serão usados na disciplina de Economia Politica II.
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Economista não engana capitalista


Semana de 03 a 09 de dezembro de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Aproxima-se o fim do ano e os dados confirmam, mais uma vez, o grotesco erro do ministro Mantega. O Produto Interno Bruto (PIB) do país, que, segundo ele, deveria ter um crescimento de 4,5%, agora está sendo estimado em 1% ou menos. Os cálculos baseiam-se no desastroso terceiro trimestre do ano, que mostrou um crescimento de apenas 0,6%, em comparação com o trimestre anterior. No acumulado de janeiro a setembro, a taxa de crescimento foi de 0,7%, em comparação com o ano anterior. Diante dos dados de outubro e novembro, as perspectivas para 2012 são péssimas.
            E o pior não é isto. Do setor industrial, quem anda salvando a paróquia são os setores extrativos (que exportam as commodities), e o de automóveis, beneficiado pelos grandes estímulos concedidos pelo governo.
            Quando analisamos os investimentos e a indústria de máquinas (bens de capital), o quadro é desolador. Em outubro, a indústria de bens de capital teve a terceira queda consecutiva. Preocupada com a situação, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) preparou um documento “101 Propostas para Modernização Trabalhista”, entregue ao governo, onde se constata que a indústria de transformação, que, em 1985, respondia por 35,8% do PIB, em 2011, contribuiu com apenas 14,6%. A participação nas exportações, que era de 64,5%, foi reduzida para 36%, em 2011. Por outro lado, a situação dos investimentos continua preocupante, pois, em seis trimestres seguidos, eles vêm caindo.
            O debate continua se aquecendo na busca pelos culpados. Todos concordam que a situação internacional está na base de tudo. De fato, como temos demonstrado, a economia mundial se arrasta sem alternativa. O epicentro continua a ser a Europa, onde ninguém encontra uma saída e os prognósticos para uma possível recuperação foram empurrados para 2014. Para a zona do euro, espera-se uma contração de 0,5%, neste ano, e de 0,3%, em 2013, apesar da taxa básica de juros estar no nível mais baixo da história (0,75%).
            Os problemas não se limitam ao mundo desenvolvido. A inquietação social estende-se à Ásia. Em Bangladesh, um incêndio em uma indústria têxtil matou 112 operários, impedidos de fugir, pelos patrões, que fecharam as portas temendo roubo de produtos. O escândalo alertou o mundo para as condições desumanas de trabalho existentes nas empresas que operam sob encomendas de grandes multinacionais como a Wal-Mart, Sears Holdings Corp. e C&A. Como consequência do incêndio, os confrontos com a polícia envolveram 10.000 pessoas e obrigaram ao fechamento de 50 empresas. Na Tailândia, os protestos levaram ao aumento do salário mínimo em sete províncias. A Malásia está sendo obrigada a implementar o seu sistema de salário mínimo em janeiro do próximo ano e em Singapura, que teve a sua primeira greve em 26 anos, os aumentos salariais já inviabilizaram a produção de várias empresas. Na Indonésia, as pressões por aumento salariais provocam o temor da fuga dos investimentos que haviam sido atraídos pelas vantagens da mão de obra barata. Na China, a inquietação social está levando o governo a adotar medidas para melhorar a distribuição de renda interna nas cidades e mesmo no campo com a proibição do confisco de terras pelas autoridades locais, sem indenização aos agricultores.
            No Brasil, o nervosismo aumenta no mercado. A queda dos juros faz cair os lucros dos bancos e o preço das ações. Reduz também a remessa de capitais para as filiais das multinacionais no país, sob a forma de empréstimos, manobra usada para fugir do IOF cobrado sobre operações financeiras de curto prazo.
            Os temores do governo aumentam e novas medidas de estímulo são adotadas. A desoneração das folhas de pagamento é estendida para a construção civil, a TJLP é reduzida de 5,5% para 5,0% e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) foi prorrogado até 2013. A gravidade da situação faz surgir novos comentários sobre possíveis cortes da Selic até o nível de 6,5%.
            O governo está fazendo o impossível para provocar o “instinto animal” dos capitalistas a fim de retomar o crescimento. Conseguirá?


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

“Pró-mercado”?


Semana de 26 de novembro a 02 de dezembro de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Seria o governo Dilma, “pró-mercado”? Esta é a conjectura do momento. As últimas ações tomadas pela presidente têm desagradado alguns. A mão do governo na economia tem sido “pesada demais”.
            Empresários do setor privado e, em especial, os parasitas do mercado financeiro, estão insatisfeitos e comparam as ações de Dilma às de Cristina Kirchner. Vamos então a alguns fatos. O governo lançou, em agosto, um pacote para duplicar 5.700 quilômetros de rodovias e construir 10 mil quilômetros de ferrovias. O setor privado será o responsável pelas obras, através de concessões estimadas em R$ 133 bilhões, que se estenderão pelos próximos 30 anos. Será esta uma ação estatizante ou “pró-mercado”? “É um kit felicidade”, disse o empresário Eike Batista, autêntico representante do “mercado”. Aloizio Mercadante, atual ministro da Educação, declarou que o modelo de concessões é um “colesterol bom”, ou seja, aquele necessário ao organismo econômico.
            O governo irá, também, renovar as concessões do setor de energia elétrica, pagando indenização às empresas e promovendo uma redução na conta de luz dos consumidores (que irão deixar de pagar por ativos já amortizados). Será esta uma ação estatizante ou “pró-mercado”? Mas, o valor das indenizações não agradou às concessionárias. Ficou aquém do esperado. A Eletrobrás, que esperava receber R$ 30 bilhões, viu suas ações caírem vertiginosamente, logo depois do anúncio de indenização de R$ 14 bilhões. As negociações continuam e o governo já está revendo o valor das indenizações.
            A última ação do governo foi financiar a construção da hidrelétrica de Belo Monte. O BNDES emprestará R$ 22,5 bilhões, valor que equivale a 78% de todo o investimento. A Norte Energia, consócio responsável pela obra, é formado pela Eletrobras, Chesf, Eletronorte, Petros, Funcef, Grupo Neoenergia, Cemig, Light, J. Malucelli Energia, Vale e Sinobras. Todas estas empresas têm um aporte de R$ 6 bilhões para investir, número que representa apenas 21% de todo o investimento.
            É um negócio da China! Será a ação do BNDES, estatizante ou “pró-mercado”?
            O aporte do BNDES, segundo o diretor de Infra-estrutura da instituição, Roberto Zurli, também servirá para minimizar os impactos sociais e ambientais da construção da usina. Lembre-se, caro leitor, que além dos imensos problemas ligados às questões trabalhistas que já aconteceram no canteiro de obras da usina, a construção prevê um alagamento de uma área de 516 km² em locais próximos a comunidades indígenas. Os protestos contra Belo Monte se espalham no âmbito interno e também no exterior.
            Outro detalhe desta operação é que a maior parte dos financiamentos concedidos pelo BNDES advém de empréstimos feitos pelo Tesouro Nacional. Segundo o Valor Econômico, mais da metade dos empréstimos (51,4%) veio de recursos do Tesouro, liberados graças à Medida Provisória nº 453, de 22 de janeiro de 2009. Como o Tesouro capta recursos emitindo títulos da dívida pública, imaginem onde isto vai parar! O governo paga atualmente 7,25% de Selic e empresta, via BNDES, a 5,5%. Estas operações entre o Tesouro e o BNDES elevam consideravelmente a dívida pública. O IPEA mostra que, em 2007, apenas 0,7% dessa dívida eram representados por repasses ao BNDES. Só neste ano de 2012 (até setembro), o percentual é de 21,7% da dívida líquida. Será esta uma ação estatizante ou “pró-mercado”?
            As críticas crescem entre economistas e operadores do mercado financeiro (estes últimos porque tiveram seus interesses especulativos contrariados). A “mão pesada do Estado” é um problema. Questiona-se o porquê do governo abandonar o tripé macroeconômico, baixando a taxa de juros e intervindo no valor da taxa de câmbio. Por que não deixar o “mercado” trabalhar?
            Por outro lado, os colaboradores do governo insistem que Dilma é “pró-mercado”. Mas, por que será que mesmo tendo suas reivindicações amplamente atendidas, os empresários não investem?
            Também nos Estados Unidos onde já se prepara um novo afrouxamento monetário, o 4ºQE (Quantitative Easing) não se consegue retomar o crescimento.
            Ser estatizante ou “pró-mercado” traduz-se assim numa discussão estéril que levará a lugar nenhum.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Contradições na economia e nos economistas


Semana de 19 a 25 de novembro de 2012


Eric Gil Dantas [i]




O poeta Vinicius de Moraes, que no próximo ano terá seu centenário de nascimento celebrado por nós, meros mortais, dizia em um dos seus sambas que “sinceramente eu não vejo saída, como é, por exemplo, que dá pra entender, a gente mal nasce e começa a morrer”.
Bem, na economia é do mesmo jeito, não temos nada de eterno e nada que não seja contraditório. É assim que caminha a vida e a economia, ora. Os leitores assíduos da Análise & Conjuntura, já devem estar acostumados com a loucura do sobe e desce da economia em meio aos auges e crises dos ciclos econômicos.
O cenário mais contraditório hoje parece ser o dos EUA. Seu setor imobiliário, onde se iniciou a crise atual, continua dando sinais fracos de recuperação. As vendas de residências usadas tiveram alta de 2,1%, em relação ao mês anterior, e o índice de confiança das empresas de construção subiu pelo sétimo mês consecutivo. Em relação a outubro de 2011, as vendas cresceram 10,9%, 16º mês seguido de melhora.
Em sentido contrário, metade das 40 empresas de capital aberto que mais investem no país anunciaram a intenção de limitar despesas de capital neste ou no próximo ano. Pela primeira vez desde o início de 2009, o investimento de empresas em equipamentos e softwares não saiu do lugar no terceiro trimestre, já o investimento em novas instalações caiu.
O Brasil parece seguir um caminho diferente. Na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, que saiu há poucos dias, temos que a taxa de desemprego caiu para 5,3% em outubro, ante 5,4%, em setembro, e 5,8%, em outubro de 2011. Esse é o menor resultado para o mês desde o início da série histórica, em 2002. Além disto, a massa salarial cresceu 7,9% na comparação com outubro do ano passado.
Mas o Brasil não está em crise?
O melhor indicador para a retomada da economia é a produção de máquinas, já que este revela a realização de novos investimentos que levam as fábricas a aumentar a produção e, consequentemente, as vendas e os lucros. Nisto, o Brasil vai mal. A produção física de máquinas, segundo a Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), recuou 4,6% em relação aos nove primeiros meses de 2011. Já o de máquinas produzidas para a indústria de transformação especificamente – o núcleo deste nosso indicador – teve uma retração ainda maior, de 9,1%.
Mesmo com todos os incentivos para a indústria, com desonerações fiscais dadas pelo governo, o setor de máquinas e equipamentos não cresce. Isto pode ser explicado pelo já mencionado em análises anteriores “efeito ressaca do IPI”. Para Rodrigo Nishida, analista da LCA, “Mesmo com a melhora da economia, esperamos um ano de acomodação. Nossa perspectiva é que o mercado enfrentará uma ressaca, principalmente em virtude da antecipação de compras”.
Mas, o mais contraditório no Brasil parece ser a relação entre o discurso do nosso Ministério da Fazenda e a realidade. Nelson Barbosa, secretário-executivo do ministério e braço direito de Guido Mantega, insiste em dizer que o Brasil crescerá 4,5% em 2013. Bem, este discurso sempre é sustentado até que a realidade não mais o permita (vide a previsão de crescimento de 5% para este ano, por parte do ministro da fazenda). O boletim Focus, pesquisa de mercado feita pelo Banco Central, já diz que a previsão é de 1,5% para o crescimento deste ano, e 3,94%, para 2013.
A única certeza que parece haver para todo o mundo é a caminhada da Zona do Euro ao fundo do poço. O Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat) divulgou há alguns dias a confirmação de que os 17 países da Zona haviam entrado em recessão ao completar dois trimestres consecutivos de contração. O PIB da região encolheu 0,1% de julho a setembro, em relação ao trimestre anterior, quando já havia caído 0,2%. Em 12 meses, a queda é de 0,4%. Em quatro anos, a queda é de 2,5%.
            No entanto, em meio a subidas e descidas e contradições de índices econômicos, o que ainda podemos afirmar é que a crise econômica mundial continua em marcha.


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Massacre Árabe


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UE em crise


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VII Seminário Internacional de Direitos Humanos

Participação do professor Nelson Rosas no VII Seminário Internacional de Direitos Humanos como anistiado político da época da Ditadura Militar Brasileira. A cerimônia aconteceu dia 21 de novembro no Auditório do CCJ-UFPB. 




Veja mas fotos do Seminário no link: http://www.flickr.com/photos/90333507@N06/8206963224/
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Encontro Luso-Brasileiro sobre Globalização e Crise na Economia.

O PROGEB realizou de 17 a 21 de setembro de 2012, o Encontro Luso Brasileiro Sobre Globalização e Crise na Economia.

O Encontro contou com palestrantes nacionais e estrangeiros para discutir os diversos aspectos da economia global. O encontro também contou com a presença de estudantes de economia e de outros diversos cursos e instituições, alem de servidores e demais interessados no assunto.

Abaixo estão algumas fotos do encontro:














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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Déjà vu europeu?


Semana de 12 a 18 de novembro de 2012


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Cientificamente, o déjà vu, a sensação de “já vimos isso antes”, ocorre quando levamos uma nova informação diretamente ao local do cérebro responsável pela memória de médio ou longo prazo.
            A impressão que temos com a Europa hoje, porém, não é esta. Há exatamente um ano, publicamos aqui uma análise de conjuntura intitulada “Para quem vai o novo presente de grego?”. Nesse texto nos perguntávamos o que aconteceria com a versão moderna do Cavalo de Tróia, a saber, a dívida grega. Na ocasião dissemos que não seriam os especuladores os ganhadores de tal presente, mas sim o povo, que, em meio às manifestações, o receberia a pau e pedra. Dito e feito. A conta grega está sendo paga pelas famílias gregas. Mas, as manifestações contra o governo não param de acontecer. O problema é que, não apenas a Grécia agraciou seu povo, os maiores países do sul da Europa também.
            Elevação dos impostos, redução dos salários, demissões de trabalhadores e redução dos gastos são alguns dos resultados dos planos de austeridade impostos pelos novos credores de Portugal, Itália, Espanha e Grécia (PIGS). Veja, leitor, que são novos credores, ou seja, os gastos e a dívida atuais, que não podem ser pagos, serão parcialmente quitados por meio de uma nova dívida, contraída, principalmente, por meio do Banco Central Europeu e do FMI. Como diz o provérbio português, é “abrir um buraco para tapar outro”.
            Diante disto, a Confederação dos Sindicatos Europeus (CSE) chamou a todos para, no dia 14 de novembro de 2012, participarem do “Dia Europeu de Ação e Solidariedade”, que levou trabalhadores de 23 países do continente a cruzarem os braços. É a primeira vez na história da União Europeia que uma greve tem a adesão de tantas nações. Segundo a secretária-geral da CSE, Bernadette Ségol, desse jeito “o que vai acontecer, entretanto, é o desmantelamento do modelo social, a capacidade negocial dos sindicados e o enfraquecimento da proteção social e dos serviços públicos. É isso que está em jogo hoje em dia”.
            O abandono da tese de que a riqueza é produzida no chão de fábrica, pelo trabalho, e a ascensão da tese de que o “mercado” (leia-se mercado financeiro especulativo) é o principal elemento da dinâmica capitalista trouxeram e trarão perniciosas mazelas para os países que, como os PIGS, levam esta teoria tão a sério. A imposição de medidas restritivas para, principalmente, satisfazer a sede de apropriação do capital fictício retira da população parte de uma renda que se torna insuficiente para a reprodução das condições normais de vida.
            Que sociedade é esta que retrocede nas conquistas obtidas pelo povo ao longo de décadas? Será que alguém merece, por decisão externa, ter seus direitos cerceados? E isto em detrimento da inquestionável “sagrada remuneração” dos “investidores” (especuladores)?
            Se ao menos houvesse algum alento nos números que mostram o resultado da política econômica, mas nem isso. No 3° trimestre de 2012, a Zona do Euro apresentou uma redução de 0,1% na sua atividade econômica. Isto quer dizer que ela está em recessão técnica, pois apresentou crescimento negativo também no segundo trimestre. Todos os PIGS apresentaram redução do PIB no trimestre passado, mantendo-se em recessão técnica. Já a França e a Alemanha, as duas maiores economias da união monetária, apresentaram resultados positivos, ambas crescendo 0,2%. Se por um lado os franceses frearam a tendência negativa do trimestre anterior, por outro, os alemães frearam a tendência positiva que apresentavam desde o começo do ano.
            Frente a este cenário internacional desolador, qualquer crescimento, mesmo que pequeno, se torna grande coisa. É o que está trombeteando o “Trombini”, digo, o Tombini, presidente do Banco Central do Brasil. De acordo com o IBC-Br, índice que faz uma prévia mensal do PIB, a atividade econômica do Brasil cresceu 1,15%, no terceiro trimestre. Mas, de agosto para setembro houve um decrescimento de 0,52%. A indústria contribuiu para esta queda. Na mesma comparação mensal, houve uma retração de 0,98% no total da produção física industrial. O comércio varejista ampliado (incluindo materiais de construção e veículos) também apresentou sinais ruins ao registrar uma retração de 9,2% nas vendas entre setembro e agosto. Mas, com as festas de fim de ano, espera-se uma melhora. Este é o motivo do trombone antecipado, que já clama pela elevação dos juros.
            De qualquer forma, olhando para além-mar e para cá, há alguma coisa que nos faz ter uma sensação dedéjà vu.
            E não é só impressão: nós realmente já vimos tudo isso antes.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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sábado, 17 de novembro de 2012

Com Obama e o PC Chinês a crise continua


Semana de 05 a 11 de novembro de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Felizmente os resultados das eleições dos EUA, com a vitória de Obama, fez o mundo respirar aliviado. Todos temiam o retorno da intransigência belicista dos republicanos, com a cara bonita e racista do Romney. Quase ao mesmo tempo, o congresso do PC Chinês, que é chinês, mas nada tem de comunista, arrasta-se sem grandes novidades (mas muitos segredos), na mesma direção do seu capitalismo selvagem associado aos novos mandarins da burocracia partidária. O pior é que, com o pretexto da arenga territorial com os japoneses, o gigante amarelo ameaça tornar-se uma potência marítima.
            Essas mudanças na direção política das duas maiores potências mundiais, certamente, terão consequências no conturbado cenário econômico mundial. Obama continua diante do desafio do que se chama “abismo fiscal” e sendo obrigado a remendar o tremendo buraco de US$ 600 bilhões, com a elevação de impostos e corte de gastos, em uma economia que se arrasta na ladeira da recuperação. Os chineses, enfrentando a sua desaceleração e jurando fidelidade aos princípios do controle do estado e do partido sobre a economia, são obrigados a controlar uma crescente inquietação social, provocada pelas duras condições de trabalho que impõem a seus operários, para a felicidade e proveito dos capitalistas internacionais comodamente instalados em seu território.
Enquanto isso, as coisas, na Europa, continuam a se arrastar. No reino Unido, o Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Social (NIESR) publica, em um relatório, que a economia britânica continuará em depressão por mais dois anos. O PIB do país ficará 2,8% abaixo dos níveis de 2008, o que é considerado a maior depressão desde 1920.
            Na Alemanha, Angela Merkel admite que a crise da dívida soberana da União Européia (UE) deve durar, pelo menos, mais 5 anos e apela para maior austeridade. Na Itália, o instituto oficial de estatística (Instat) admite, para este ano, uma contração de 2,3% do PIB. A França, mesmo sob o governo “socialista”, anuncia uma elevação dos impostos (IVA) e cortes nos gastos. A Grécia continua oscilando entre sair da zona do euro ou ter parte de suas dívidas perdoadas e os juros reduzidos, enquanto se afoga em greves e manifestações violentas.
            Todo este ambiente depressivo é analisado pelas autoridades brasileiras que admitem que há ameaças concretas de uma onda de deterioração da economia mundial e, apesar de todas as medidas de estímulos adotadas internamente, a economia brasileira apresenta fracos sinais de recuperação. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, o quarto trimestre de 2012 não promete muito e, para 2013, não há boas expectativas. Apesar de haverem sinais de crescimento “não dá para descartar a hipótese de que este se revele mais lento do que muitos imaginam”.
            A Confederação Nacional de Indústria (CNI) reconhece o fraco desempenho da indústria, em setembro, e está revendo para baixo a sua previsão de 1,5%, de crescimento do PIB. A balança comercial não reage aos estímulos dados pelo governo com as taxas de importação e o controle do câmbio. Em outubro, as exportações caíram 10,6% e as importações 7,6%, em relação ao mesmo período do ano passado.
            Segundo a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, do IBGE, em setembro, a produção industrial caiu 1%, em relação à agosto, e 3,8%, em relação ao mesmo período de 2011. Dos 27 setores pesquisados, 16 tiveram queda na produção.
            A situação é de tal forma desanimadora que obrigou o otimista ministro Mantega a reconhecer que, não conseguirá cumprir a meta do superávit primário de 3,1% do PIB, ou seja, de R$ 139,8 bilhões, como uma consequência da frustração das receitas.
            Mas, apesar de tudo isto, há quem esteja muito feliz: os condôminos dos “fly in communities”. São condomínios residenciais de luxo, que estão sendo construídos no país, onde se pode parar o avião ao lado da casa e contar com hípica, campo de golfe, de tênis, etc., nas áreas de lazer.
            Isto é que é Brasil!


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Em épocas de crise, bom é ser banqueiro


Semana de 29 de outubro a 04 de novembro de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Você, leitor, que acompanha a nossa coluna, deve ter percebido que as nossas últimas análises têm abordado a expectativa da economia mundial e brasileira acerca da recuperação da atividade econômica, que permanece incerta.
            A passagem da supertempestade Sandy pelos Estados Unidos provocou uma destruição tão violenta que o pífio crescimento já observado deve ficar menor no quarto trimestre. Segundo a empresa de consultoria IHS Global Insigth, com a tempestade, a economia norte-americana perderá, em crescimento, 0,6 ponto percentual.
            Na Europa, destaca-se novamente a situação crítica da Grécia, com um problema que parece não ter solução. A Grécia vê negada, pela Alemanha, qualquer possibilidade de ajuda na reestruturação da sua dívida. A Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) estuda uma recompra da dívida grega e, ao mesmo tempo, uma redução das taxas de juros pagas sobre os empréstimos de emergência, o que reduziria a dívida. Mas, o acordo só sairá em 12 de novembro, data em que se reunirão os ministros das Finanças da zona do euro.
            No Brasil, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, declarou que o país está dando uma lição ao mundo de como enfrentar a crise mundial sem impor sacrifícios à população. O ministro garantiu que a economia brasileira crescerá 4% no quarto trimestre e que o vôo de 2013 não será de galinha. Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como sempre otimista, estima um crescimento, no ano que vem, entre 4% e 4,5%.
Enquanto isso, a crise continua a derrubar os lucros. Referimo-nos aos lucros das empresas produtivas, porque o setor financeiro, e em especial o bancário, vai muito bem, obrigado. Os balanços trimestrais dos bancos do mundo inteiro continuam a registrar ganhos. Apesar da crise, o lucro líquido do Deustche Bank da Alemanha, no terceiro trimestre, cresceu 3% comparado ao mesmo período do ano anterior.
            O lucro líquido do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), segundo maior banco da Espanha, caiu 82% no terceiro trimestre. A princípio o número assusta, mas o banco tem seus portos seguros nos mercados emergentes, é claro. O lucro do BBVA no México, no terceiro trimestre, cresceu 7,4% e, na América do Sul, aumentou 23%.
            O Barclays, que declarou um juro mais baixo do que aquele que realmente pagava para demonstrar “boa saúde financeira”, há um mês, virou alvo de investigação pelos órgãos britânicos por tentar manipular a taxa Libor, taxa que referencia todos os tipos de crédito às pessoas físicas e empresas. Mesmo com esta intempérie e com suas ações caindo em torno de 5%, lucrou 17% no terceiro trimestre.
            O banco suíço UBS anunciou um lucro líquido de 15,5%, mas também anunciou que vai demitir 10 mil trabalhadores, o que representa 15% do seu pessoal. A medida, segundo a instituição, visa poupar 3,6 bilhões de dólares e reflete também o prejuízo que o banco teve com a redução dos negócios com títulos. O negócio do momento para a instituição é o gerenciamento de grandes fortunas, que deverá trazer um retorno de 26%, em 2013. O UBS é o segundo, no ranking mundial, dos que mais lucraram com este tipo de operação. Socorrido no início da crise em 2008 pelo governo suíço, vai continuar lucrando se depender do governo brasileiro.
            O UBS vendeu a totalidade de suas operações brasileiras em 2009. Denominado de UBS Pactual, o banco saiu do país para voltar a operar na Europa, diante das dificuldades enfrentadas com a crise.      Mas, o governo brasileiro vai pedir brevemente, por meio de um decreto, que o UBS volte a operar como banco múltiplo no país. A volta da instituição financeira é considerada uma questão de “interesse nacional”, pois, segundo o governo, o ingresso do UBS no sistema financeiro brasileiro traria benefícios sociais, já que elevaria a concorrência do setor.
            Bem, foi por meio de um decreto que a presidente Dilma assassinou o português e passou a exigir que a chamem de “presidenta”. Agora, é também através de decreto, que se determinam os interesses nacionais?
            A verdade é que, em época de crise, o bom mesmo é ser banqueiro!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Retomada, quando?


Semana de 22 a 28 de outubro de 2012


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Quando, em 2008, no Brasil se falava em “marolinha”, o conjunto das sete economias mais desenvolvidas do mundo apresentava uma redução de 0,3% no PIB. Em 2012, agora com todos atingidos pelo tsunami, espera-se que o PIB dos países avançados não cresça mais do que 1,4% e o do Brasil, menos de 1,5%. Apesar da situação não estar tão ruim quanto no início da crise, não podemos falar em recuperação mundial e, muito menos, em recuperação brasileira.
            Vamos começar pela Europa, cujo crescimento, apesar das intensas e controversas medidas de política econômica, ainda não deslanchou. A fraca procura por mercadorias, o desemprego elevado e a impagável dívida de alguns países mostram que a recessão, na Zona do Euro, se aprofunda. As atividades industriais e de serviços, em outubro, reduziram-se ao mais baixo ritmo de crescimento desde junho de 2009. Para piorar, os empresários do setor manufatureiro reduziram suas expectativas de crescimento, visto que houve uma contração na atividade também nos EUA e na Ásia.
            Mesmo a maior economia do Bloco, a Alemanha, desacelerou, mas foi ultrapassada pela França, país que sofreu uma queda na produção ainda maior. A Bélgica, onde a Ford anunciou o fechamento de uma fábrica, demitindo 4.500 trabalhadores, também sofreu uma baixa. Já a Espanha, que viu o desemprego em seu território ir acima dos 25%, teve uma retração no PIB do 3° trimestre de 2012 de 1,7%, quando comparado com o mesmo período de 2011. A situação chegou a tal ponto que resolveram criar o “Bad Bank”, que reunirá vários ativos “tóxicos” de instituições financeiras. O problema, porém, é operacionalizar esta brilhante ideia, pois quem se responsabilizará por ele?
            O Japão, por sua vez, como se não bastassem os problemas econômicos que já atingem a Ásia, arrumou outro: o problema diplomático causado pela compra de uma parte das ilhas que formam um arquipélago no Mar da China Oriental. Há anos, Taiwan, China e Japão travam uma disputa pela soberania do território. Não é por menos: estima-se que existam entre 1 e 2 trilhões de pés cúbicos de gás natural e até 100 bilhões de barris de petróleo na região. Com a aquisição da ilha, pelos japoneses, por R$ 52 milhões, os chineses decidiram boicotar as empresas nipônicas. O resultado é uma possível perda de 0,8% no crescimento do PIB do Japão em 2012, só por causa disto.
            Para completar o quadro internacional, as empresas estadunidenses apresentaram fracos resultados trimestrais. Desde 2009, havia uma tendência de fraco crescimento. Mas, apesar de ainda haver crescimento, segundo a Thomson Reuters, espera-se que ocorra uma queda de 1,8% no lucro das maiores empresas do país no terceiro trimestre de 2012.
            Com o mundo apresentando tais indicadores, é natural que o fluxo internacional de capitais diminua. Em relação ao primeiro semestre de 2011, a queda, nos seis primeiros meses de 2012, foi de 8%, uma cifra de US$ 668 bilhões. A China, porém, ultrapassou os EUA como maior receptor, com US$ 59,1 bi contra US$ 57,4 bi dos americanos.
            No Brasil, a situação não é muito diferente. Apesar de ter tido um fluxo positivo de Investimento Estrangeiro Direto no acumulado de 2012, a economia do país ainda não decolou. Isto se reflete nos três maiores bancos privados que atuam por aqui. Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, juntos, apresentaram um lucro líquido, no terceiro trimestre, 8,8% inferior ao mesmo período de 2011, ganhando apenas R$ 6,82 bilhões em três meses. As causas foram os atrasos nos pagamentos de empréstimos e a redução da expansão do crédito. A esperança é de que, no fim do ano, com as compras natalinas, isto não se repita.
            Em meio a este cenário, o Ministro Mantega escancarou o que todos já sabem: arrancou um pé (o câmbio flutuante) do tripé macroeconômico, ou seja, sempre que o dólar se aproximar de R$2,00, o governo intervirá para que ele suba. Todavia, segundo Delfim Netto, “O câmbio flexível nunca existiu. É uma ideia de economistas”.
            A Fecomercio, por outro lado, pede maiores desonerações fiscais, especialmente a redução generalizada do IPI. O governo manteve esta redução para os automóveis até o fim do ano. Este incentivo foi um dos principais motivos para a moderada melhora nas encomendas de aço brasileiro, já que os setores de construção civil e bens de capital não estão respondendo aos estímulos.
            Como um todo, há uma expectativa de melhora por parte da indústria, porém, diante dos fatos, a CNI afirma: “é cedo para falar em retomada”.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Efeito ressaca do IPI


Semana de 15 a 21 de outubro de 2012


Eric Gil Dantas [i]




A economia capitalista funciona em ciclos. Esta afirmação poderia ser bastante polêmica se fosse colocada há décadas atrás. No entanto, hoje, ninguém pode esconder esta tendência, já que estamos vivendo em meio a uma grande crise econômica mundial. Há altos e baixos, e nenhum governo mudará isto.
Em artigos anteriores, já falamos que as isenções do IPI dadas pelo governo a diversos setores da economia não seriam suficientes para salvar o Brasil da crise. Agora chegou o momento de verificarmos isto na prática.
No mês de setembro, a venda de carros caiu 31,5% em relação ao mês anterior. Para Fabio Ramos, da Quest Investimentos, os estímulos concedidos pelo governo à economia “vão cobrar seu preço” neste quarto trimestre. Ele explica que “a expansão será menor, não porque o governo vai remover o IPI, mas sim porque, quando os preços foram reduzidos com um prazo determinado, a demanda foi ‘empurrada’ para o terceiro trimestre”. Este movimento está sendo chamado de “efeito ressaca” do IPI. A queda nas vendas é preocupante para a economia em geral, pois o setor automobilístico representa, diretamente, cerca de 30% das vendas no varejo e 13% da produção industrial do país.
Além da queda na produção e nas vendas, o “efeito ressaca” inclui o aumento do endividamento das famílias. Estimuladas pela redução dos impostos, também para outros bens duráveis, elas correram para aproveitar a ocasião, agravando a situação.
Mas, há outros setores sofrendo com a crise. O de mineração, por exemplo. Este ano, a Vale já planeja reduzir a remuneração dos seus acionistas a 66% do ano anterior e, em 2013, provavelmente será pior. Isto decorre da queda nos preços dos minérios. Para se ter uma ideia, em 2011, o minério de ferro foi vendido em média por U$136 a tonelada. Em 2012, a média deverá ser em torno de U$75. Em relação ao aço, a Vale interrompeu a produção em três das dez usinas de pelotização. Philip Hopwood, líder para o setor de mineração da Deloitte, disse que as mineradoras já estão sofrendo com margens pequenas e, por isso, buscam redução de custos.
A China é apontada como a grande responsável pelos problemas do setor. Com a queda da sua demanda, o volume de minério de ferro exportado para lá caiu 1,68%. A queda da demanda chinesa pelo petróleo foi ainda pior: atingiu 15,37%.
Mesmo com esta retração da demanda, os economistas conservadores, supostamente preocupados com uma possível inflação, intensificam as suas críticas ao corte da taxa básica de juros pelo Banco Central do Brasil. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, já declarou, no editorial de sua revista “Conjuntura Econômica”, que, em pouco tempo, as taxas de juros deverão subir para conter a inflação. Já o Armínio Fraga, ex-presidente do BC e agora principal acionista da Gávea Investimentos, em entrevista à Folha de São Paulo, endossou o discurso, dizendo que “mais um corte neste momento requer uma explicação do Banco Central”.
No Velho Continente, as coisas ainda continuam complicadas. Portugal já anunciou fortes aumentos de impostos e cortes de gastos no orçamento de 2013, o que fará a população sofrer ainda mais para garantir as condições impostas para o resgate de €78 bilhões. A situação chegou ao ponto do megainvestidor George Soros, presidente da Soros Fund Management, dizer que a solução da crise europeia era a Alemanha deixar a Zona do Euro.
            A curiosidade da semana ficou para o Prêmio Nobel de Economia. Este nada teve a ver com o tema da grande crise econômica mundial, com os inúmeros protestos diários de massas, os suicídios em locais públicos, as taxas de desemprego que chegam a 25%. O Nobel (para variar) dado aos estadunidenses Alvin Roth e Lloyd Shapley foi atribuído por um trabalho que serviu de base teórica para eventos que visam facilitar a escolha de um par amoroso, ou para a distribuição de vagas em escolas de ensino médio. Além disto, para vergonha dos economistas, Shapley declarou-se surpreso: “Eu me considero um matemático, e o prêmio é de economia. [...] Nunca, nunca na minha vida fiz um curso de economia.”


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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