sábado, 1 de novembro de 2025

NÃO HÁ FEITO ECONÔMICO QUE REMOVA O RANCOR SOCIAL ENRAIZADO

Semana de 20 de a 26 de outubro de 2025

    

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

Estimado leitor, em colunas anteriores já nos referimos ao uso do termo resiliência, utilizado frequentemente para evidenciar o crescimento do PIB brasileiro, apesar de todos os boicotes no âmbito da política partidária e da política econômica. A economia segue resiliente. Veja-se o exemplo do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) que é uma prévia do PIB: o indicador registrou um crescimento de 0,4% em agosto, após o recuo de 0,5% em julho. A tal resiliência tem incomodado o Banco Central. O purgante dos juros não produziu os resultados esperados, pois o horizonte relevante, tempo de resposta das ações da política monetária sobre a atividade econômica, que é de seis meses, tem falhado sistematicamente desde setembro de 2024, quando se iniciou o ciclo de alta dos juros.

Ao invés de assumir a limitação do sistema de metas de inflação e promover sua revisão, já que é possível a coexistência de crescimento mais elevado com um pouco mais de inflação, o Banco Central se esforça em justificar o porquê de ainda estarmos com a inflação fora da meta. Segundo Gabriel Galípolo, a autoridade monetária está “bastante incomodada” com a inflação acima da meta, mas espera “um processo de desinflação bastante acentuado e rápido.” Para encerrar, o presidente do Banco Central declarou em tom lastimoso que o “consumo vem crescendo acima do crescimento do PIB” e, por fim, quase foi às lágrimas: “A gente está na mínima histórica do desemprego e na máxima histórica da renda.” Por incrível que pareça caro leitor, baixo emprego e alta renda são os grandes problemas da nossa economia hoje.

E, ao que tudo indica, estes “problemas” persistirão em 2025. As projeções dão conta que ainda haverá crescimento econômico em torno de 2,5% este ano, número um pouco abaixo dos 3,4% registrados em 2024. Busca-se o culpado! E ligeiramente, o encontram! Julgado, o presidente do Brasil é logo condenado por “atrapalhar” o rumo “certo” da economia ao gastar demais e adotar políticas expansionistas para o emprego e consumo. Contudo, os gringos não estão preocupados com esta questão. Reunidos entre os dias 13 e 18 de outubro de 2025, representantes do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial avaliaram os cenários da economia mundial e de suas principais economias. As instituições não demonstraram preocupação com a situação fiscal do Brasil e projetaram crescimento interno de 2,4% e 2,2%, respectivamente. Em contrapartida, os nativos estavam ressabiados com o destino da política fiscal e ainda, com a evolução do cenário eleitoral do ano que vem.

Chegamos ao ponto, querido leitor! Não se trata de uma insatisfação com a situação fiscal. É apenas sobre rancor. A questão é essa: temos um presidente eleito e conhecido, que promove uma agenda econômica e social progressista. Por que deveríamos esperar outro plano de governo deste governo? Lula concorreu e foi eleito democraticamente pela maioria da população brasileira e tem o aval para implementar suas propostas, dentro das regras do jogo democrático. O fato é que, parte da elite brasileira não consegue domar o ranço e o ódio que alimentam suas entranhas raivosas. Esta parcela da sociedade com imenso poder político, não é capaz de suportar que o pobre seja contemplado no orçamento público. Além disso, ela é incapaz de eleger um candidato que a represente. Veja-se o caso de Henrique Meirelles em 2018. Concorreu à Presidência da República do Brasil pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e recebeu apenas 1,2% dos votos válidos. Diante do fracasso eleitoral retumbante, esta fração social apoiou o governo Bolsonaro, certa de que tinha debelado Lula e o Partido dos Trabalhadores da seara política brasileira.

Ledo engano.

Lula retornou e a nobreza econômica e financeira se viu novamente encurralada. Como o presidente dá pouco espaço para o desmantelamento estatal que ela tanto quer e chama pomposamente de reformas, o boicote à economia e a perseguição em âmbito social e político tornaram-se regra. Naquela reunião conjunta do FMI e Banco Mundial, o rancor dos representantes brasileiros foi exposto sem pudor. Querem um candidato de oposição que reduzam o déficit fiscal e adotem reformas liberais. A produtividade precisa aumentar para a economia crescer, disseram. Mas a economia está crescendo até mais do que o mundo desenvolvido! Isso não basta, pois, a agenda que defendem só tem coerência a partir da punição dos trabalhadores brasileiros considerados improdutivos, preguiçosos, dependentes e viciados em auxílios governamentais.

E voltando à resiliência, proponho que usemos o termo também para referir à resistência do presidente Lula. Nada o detém. Prestes a completar 80 anos de vida, o homem não se curvou às pressões de Trump, à oposição reacionária, nem aos grupos econômicos e financeiros que a todo custo tentam governar o país. Felizmente o Brasil tem um governante (e não um bufão). Os programas sociais foram restabelecidos. O câmbio está sob controle. A inflação está sob controle (embora digam que não). As contas públicas estão sob controle (embora afirmem que não). A economia cresce apesar do Banco Central. A renda aumentou. O consumo se elevou. O desemprego atingiu o menor nível já registrado. Pelo visto, nada disso importa. Não há feito econômico que remova o rancor social enraizado.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Antônio Queiroz, Jéssica Brito, Julia Bomfim, Nelson Rosas, Lara Souza e Camylla Martins.

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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

O ENCONTRO DE LULA COM TRUMP E A ASEAN

Semana de 13 a 19 de outubro de 2025

   

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Como o caro leitor certamente já viu nos noticiários, e contrariando a histeria tresloucada dos bolsonaristas, enfim acontecerá o encontro entre Lula e Donald Trump. Marcada para o próximo domingo, a conversa acontecerá em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a 47ª cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). O evento principal acontecerá entre os dias 26 e 28 de outubro, mas Lula já inicia suas conversas com líderes da região no dia 23, na Indonésia, seguindo para Malásia no dia 24.

Esta viagem, e o que nela vai acontecer, simboliza algumas coisas, das quais, duas se destacam e se conectam. A primeira é o baixo impacto do Tarifaço sobre a balança comercial brasileira. A segunda é a evolução da relação comercial entre o Brasil e os países da Asean nas últimas décadas. Vejamos em detalhe.

Antes de mais nada, é válido refletirmos sobre a mudança de atitude de Trump frente ao Brasil. Quase que do nada, como se um esbarrão no corredor da ONU fosse suficiente, ele resolveu abrir conversas com Lula. Na realidade, os dados das exportações brasileiras falam mais do que o próprio alaranjado.

Nos meses de agosto e setembro de 2025, em comparação com os mesmos meses de 2024, para 9 dos 20 produtos mais exportados pelo Brasil aos EUA, a receita com as vendas para o país caiu US$ 375,5 milhões. Em compensação, neste período, o Brasil aumentou as vendas desses 9 produtos em US$ 1,25 bi. Isto foi possível graças ao aumento dos preços e à ampliação das vendas para outros países. Dentre os produtos que se destacam estão o café e a carne.

Isto mostra que a política externa andarilha de Lula está surtindo efeito e o fortaleceu frente à ofensiva trumpista. Não foram poucos os críticos do presidente no início deste seu terceiro mandato. Falava-se que ele dava muita atenção à política externa e pouca à interna. Pois bem, graças a Lula, ao Itamarati e à consequente retomada do protagonismo brasileiro no cenário internacional, o Brasil pode buscar alternativas comerciais a determinados produtos. Outros, muito específicos de cadeias produtivas especializadas, como peças e partes de motores e produtos de madeira, ainda não tiveram a mesma sorte, já que suas vendas caíram aos EUA e as vendas ao resto do mundo não compensaram essa queda.

Isto nos leva ao segundo elemento que remete à viagem de Lula à Asean: quais negócios ele vai fazer por lá?

Em artigo recente (Araújo; Almeida; Leite, 2025), mostramos como as relações comerciais entre o Brasil e o conjunto dos países da Asean têm reproduzido um padrão desfavorável a nós. Em um primeiro momento, o texto mostra a mudança nos índices de complexidade econômica de cada país. Em 1995, por exemplo, Singapura ocupava a 20ª posição dentre os países com maior complexidade, sendo que o Brasil ficava em 25º e todos os demais países da Asean estavam abaixo de nós (Malásia em 36º e Tailândia em 49º). Em 2021, Singapura subiu para a 5ª posição e o Brasil caiu para 70ª (Malásia em 28º e Tailândia em 23º). Dos países da Asean, apenas Laos, Camboja e Mianmar estavam abaixo de nós em 2021.

Sobre a relação comercial, o texto mostra que, entre 1999 e 2003, cerca de 11,2% das nossas exportações para a Asean eram compostas por produtos primários (agropecuária e extrativa) e cerca de 33,6% eram de manufaturados de média e média-alta tecnologia. Entre 2019 e 2023, as vendas de produtos primários subiram para 45% do total e as desses manufaturados caíram para 6,3%. No caso das importações, daquilo que compramos dos países da Asean entre 2019 e 2023, 96,2% são produtos manufaturados, sendo 35,5% de alta, 44,1% de média (e média-alta) e 16,5% de baixa tecnologia. Mesmo assim, desde 2012 o Brasil apresenta sucessivos superávits comerciais com a Asean, graças à venda de produtos de baixo valor agregado (especialmente, combustíveis e lubrificantes).

Enfim, vemos que, apesar da situação externa brasileira não ser ruim, ainda estamos muito longe do ideal. A relação com a Asean simboliza muito bem a nossa realidade histórica: ainda somos um país primário-exportador que se insere nas camadas mais baixas da divisão internacional do trabalho e o interesse de Trump e também da Asean é manter este padrão. Entretando, certamente, isto não é um problema causado pelo presidente em si. Devemos atribuir a culpa a quem merece, à nossa burguesia. Mas isto é assunto para outro momento.

 

Silva Araújo, L., Almeida, L. M. de L., & Cunha Leite, A. C. (2025). Trade relations between Brazil and ASEAN: an analysis through the lenses of dependency and deindustrialization. Problemas Del Desarrollo. Revista Latinoamericana De Economía, 56(222), 27-58. https://doi.org/10.22201/iiec.20078951e.2025.222.70341


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antonio Fontes, Camylla Martins, Jéssica Brito, Julia Bomfim, Lara Souza, Maria Julia Alencar e Nelson Rosas.

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sábado, 18 de outubro de 2025

TIRIRIM TIRIRIM TIRIRIM, ALGUÉM LIGOU PRA MIM

Semana de 06 a 12 de outubro de 2025

   

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

Depois de meses de tensão e pressão econômica, o impensável aconteceu. Donald Trump, que havia declarado não haver “diálogo possível com o Brasil”, ligou pessoalmente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O gesto, mais do que diplomático, foi simbólico: marcou o reconhecimento de que o Brasil resistiu às sanções, manteve sua autonomia e mostrou capacidade de dialogar de igual para igual com a maior potência econômica do planeta.

Tudo começou nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro. Trump e Lula se cruzaram nos corredores, trocaram poucas palavras, mas o suficiente para reacender o canal diplomático. O ex-presidente americano surpreendeu ao declarar, nesse curto intervalo de tempo, ter sentido uma “boa química” com o líder brasileiro. Lula, com anos de experiência política na lida com os mais diversos perfis de governantes mundiais, aproveitou o gesto para reafirmar a disposição ao diálogo — sem concessões que comprometessem o interesse nacional.

O resultado veio logo: um telefonema, uma promessa de encontro em breve e uma “linha direta” entre os dois presidentes. Segundo o governo brasileiro, os presidentes trocaram telefones, para falar sem intermediações, e Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para tratar das negociações com Geraldo Alckmin, Mauro Vieira e Fernando Haddad — um reconhecimento tácito de que o Brasil voltou a ser ouvido.

Convém ressaltar ainda, caro leitor, que as tarifas impostas por Washington ao Brasil e a outros parceiros comerciais tiveram efeito mais brando que o esperado. O comércio global, longe de desacelerar, cresceu 2,4% em 2025. A explicação é quase poética: enquanto os Estados Unidos ergueram barreiras, o resto do mundo construiu novas pontes. E o Brasil foi um desses países.

A ausência de retaliação em cadeia, os investimentos bilionários em Inteligência Artificial e o fortalecimento das trocas entre países emergentes amorteceram o impacto do choque tarifário. O protecionismo americano soou alto, mas perdeu eco diante da vitalidade de uma economia global cada vez mais multipolar.

O restante do planeta cresceu rápido o bastante para compensar o isolamento americano. A inflação em queda e os salários em alta nos países desenvolvidos impulsionaram a demanda, e os países emergentes — com destaque para o Brasil — garantiram o fôlego do comércio internacional. Ademais, o alvo central da ofensiva americana, a China, saiu fortalecida. Suas exportações cresceram 12% no primeiro semestre. Mesmo após retaliar os EUA, Pequim manteve o motor econômico funcionando, convertendo o ataque em estímulo interno.

Enquanto os gigantes duelam, o Brasil também colhe resultados positivos. A desigualdade caiu, o desemprego permanece em baixa e o salário mínimo teve ganho real. Dados do Banco Mundial mostram que o índice de Gini atingiu 0,516 em 2023 — o menor da série histórica. A taxa de pobreza (renda inferior a US$ 30 por dia) caiu para 3,82% da população. A inflação, antigo fantasma do mercado, se mostrou mais comportada do que as previsões ortodoxas. O IPCA de setembro surpreendeu positivamente e pode encerrar o ano próximo do teto da meta (4,5%). O cenário desmonta a narrativa de que crescimento e estabilidade não podem coexistir.

Portanto, caro leitor, a ligação de Trump é mais do que um gesto político: é um símbolo da virada brasileira no cenário global. Depois de meses de sanções, pressões e tentativas de isolamento, o Brasil mostrou maturidade e serenidade diplomática. Falou com firmeza, sem hostilidade. Manteve a independência, sem se fechar. A diplomacia de Lula — firme, paciente e pragmática — reafirmou a capacidade do país de construir pontes, mesmo sob pressão. E, talvez, tenha demonstrado algo que o mundo parecia ter esquecido: que poder não é só sobre quem impõe, mas sobre quem permanece de pé.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Antonio Fontes, Camylla Martins, Julia Bomfim, Lara Souza, Maria Julia Alencar, Nelson Rosas.

  

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sábado, 11 de outubro de 2025

JUSTIÇA SOCIAL, AJUSTE FISCAL E INTERESSES ESCUSOS: QUE COMECE A QUEDA DE BRAÇOS!

Semana de 29 de setembro a 05 de outubro de 2025

    

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

Uma semana depois de o povo brasileiro ter ido às ruas contra a investida inconstitucional da Câmara dos Deputados, os desfechos daquela atrocidade pelo país continuam. Aprovada na Câmara com 344 votos favoráveis e 134 contrários, a PEC 03/2021 apelidada “carinhosamente” pela população brasileira de PEC da Impunidade, PEC da Blindagem e PEC da Bandidagem, foi enterrada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal por 26 votos a 0. O povo venceu. A Câmara dos Deputados está exposta. A repercussão negativa foi tão grande que alguns parlamentares vieram a público se desculpar pelo “equívoco” do voto em favor das suas próprias impunidades.

Sob pressão popular, o “Congresso, inimigo do povo” pautou o Projeto de Lei 1.087/2025. O texto, que prevê a isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas com renda mensal de até R$ 5 mil e descontos para quem recebe até R$ 7.350 mensais, foi a plenário e recebeu 493 votos favoráveis e nenhum contra. Desnudos e acuados, os deputados federais foram obrigados a se curvar à promessa de campanha do presidente da República de garantir uma tributação mais justa sobre a renda. Ao contrário da PEC da Bandidagem, que visava proteger previamente os crimes dos parlamentares, esta beneficiará cerca de 26,6 milhões de contribuintes a partir de 2026, trazendo alguma justiça tributária e estimulando a renda interna.

Mas não nos iludamos. Estejamos vigilantes. O Congresso Nacional mais reacionário que o Brasil já teve já demonstrou que não se envergonha das pautas que defende, e que, na primeira oportunidade investirá novamente contra o povo. O Centrão e a extrema-direita, que têm a maioria, por exemplo, continuam insistindo na impunidade dos golpistas condenados ao maquiar e ainda tentar pautar o projeto de anistia, agora camuflado de PL (Projeto de Lei) da dosimetria.

Em relação à conjuntura econômica, seu principal indicador foi divulgado esta semana. O PIB brasileiro cresceu 0,4% no segundo trimestre do ano, quando comparado ao primeiro. Os serviços apresentaram alta de 0,6%, a indústria crescimento de 0,5%, enquanto a agropecuária decresceu 0,1%. O indicador apresentou significativa desaceleração, frente ao 1,4% de alta do primeiro trimestre. O fato é que, como já demonstramos anteriormente nesta coluna, a desaceleração da economia é objetivo central da política monetária.

Estamos pagando um alto custo social e financeiro pela desaceleração econômica. A taxa de juros, ainda em 15%, impõe elevadíssimos gastos ao setor público. Em 12 meses, os gastos com juros já chegaram a R$ 941,2 bilhões até julho. O pagamento de juros inflará o déficit nominal de 2025, deixando-o na casa de 8,5% do PIB. Deste percentual, 8% do PIB referem-se ao pagamento de juros, e o restante e 0,5% apenas corresponde ao resultado primário, que não reúne as despesas financeiras. Mas, este resultado não parece impressionar a autoridade monetária e os parlamentares brasileiros, que se deleitam em propor medidas antipopulares com certo ar de responsabilidade, difíceis de digerir. Ambos acusam o governo de ser esbanjador, e recomendam o corte dos gastos públicos, velho remédio que só parece fazer efeito se for medicado aos pobres, lógico! Corte-se os programas sociais e a renda do povo, dizem eles.

Por fim, as estatísticas do mercado de força de trabalho, completam o cenário econômico semanal. Houve, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, abertura líquida de 147,4 mil vagas com carteira assinada em agosto. O número ficou aquém da estimativa mediana do “mercado”, que previa a criação de 184 mil vagas. Corajoso, Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), assumiu: “...isso é uma notícia boa, sugerindo que o necessário ajuste do mercado de trabalho já começou.” E completou: “Resta saber se a política não tentará conter esse processo.”

Tal declaração ilustra bem o jogo de forças existente no país. Enquanto o governo tenta executar políticas e programas públicos que reduzam os problemas sociais, a oposição, a autoridade monetária e o mercado financeiro, não se cansam de defender que não existe ajuste fiscal sem punição ao povo.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Jéssica Brito, Paola Arruda, Julia Bomfim, Nelson Rosas, Lara Souza e Raquel Lima.

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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

E O POVO FOI ÀS RUAS

Semana de 22 a 28 de setembro de 2025

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

O leitor certamente acompanhou – senão presencialmente, ao menos pelos meios de comunicação – as manifestações que tomaram conta das ruas brasileiras no dia 21 de setembro de 2025. Convocadas por partidos de esquerda, artistas populares e movimentos sociais, as mobilizações ocorreram em todas as capitais e no Distrito Federal, em resposta direta à aprovação da chamada “PEC da Blindagem” na Câmara dos Deputados. O teor da proposta, ao tentar alterar a Constituição para condicionar o início de processos criminais contra parlamentares à autorização prévia e secreta das Casas Legislativas, acendeu um alerta vermelho na sociedade civil.

A forte reação popular não foi ignorada pelo Senado. Já na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a PEC foi rejeitada, refletindo não apenas a pressão das ruas, mas também o desgaste institucional que o tema produziu. É preciso lembrar que o ordenamento jurídico brasileiro já prevê garantias suficientes ao exercício do mandato parlamentar, com a imunidade material para opiniões, palavras e votos, além da prerrogativa das Casas Legislativas de sustar processos que considerem abusivos. Nesse sentido, a tentativa de ampliar ainda mais a blindagem soou como um mecanismo de autoproteção da classe política contra crimes graves como corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa, abrindo brechas inclusive para a infiltração de milícias e facções na política.

Fato interessante, caro leitor, é o de que esse episódio conecta-se diretamente a uma discussão global sobre confiança nas instituições. O mais recente relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), amparado na Pesquisa Mundial sobre Valores (WVS), indica que a confiança nos parlamentos foi a que mais se deteriorou em quase quatro décadas. Entre 1984 e 2022, o índice mundial caiu de 55,2% para 31,3%, praticamente pela metade. A confiança nos governos também apresentou retração, passando de 50% para 39% no mesmo período. Ainda que os dados não detalhem países específicos, o diagnóstico ajuda a compreender o que se passa no Brasil.

De fato, a “PEC da Blindagem” simboliza, para muitos brasileiros, a institucionalização da impunidade. A percepção de que o sistema político cria mecanismos para proteger os seus próprios representantes alimenta um sentimento de injustiça e desigualdade, corroendo o chamado contrato social. A OIT alerta que, sem o fortalecimento desse contrato, a erosão da confiança ameaça a legitimidade das democracias e enfraquece a cooperação internacional. Em outras palavras, quando as pessoas percebem que seus esforços individuais não resultam em recompensas justas, a disposição para colaborar com a coletividade diminui. Esse quadro, no longo prazo, compromete a capacidade de adaptação às transformações sociais e torna o progresso em justiça social ainda mais difícil de ser alcançado.

Por outro lado, as manifestações de setembro de 2025 revelam a vitalidade da democracia brasileira. A mobilização popular mostrou-se capaz de influenciar decisões institucionais e de frear uma proposta que, se aprovada, agravaria a crise de confiança entre sociedade e parlamento. O Senado, ao rejeitar a PEC já na CCJ, sinalizou sensibilidade ao clamor social, reconhecendo que a desconexão entre representantes e representados tem custos políticos cada vez mais altos.

Em síntese, a conjuntura atual traduz a tensão entre duas forças: de um lado, a persistência de práticas políticas que reforçam o distanciamento da sociedade; de outro, a pressão popular que busca resgatar a centralidade do interesse público nas decisões do Estado. O episódio da “PEC da Blindagem” deve, portanto, ser entendido não apenas como uma disputa pontual entre Congresso e sociedade, mas como um marco de inflexão: ou o Brasil enfrenta sua crise de representatividade com reformas institucionais que resgatem a legitimidade democrática, ou continuará aprisionado em ciclos de descrença e instabilidade.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Antonio Queirós, Bruno Lins, Camylla Martins, Maria Júlia, Nelson Rosas, Icaro Moisés e Victoria Rodrigues.

   

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sábado, 20 de setembro de 2025

POLÍTICA MONETÁRIA CONDENA O BRASIL AO BAIXO CRESCIMENTO

Semana de 08 a 14 de setembro de 2025

      

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

Caro leitor, na coluna anterior já prenunciávamos a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e os asseclas militares que constituíram uma organização criminosa que visava, por meio de um golpe, pôr fim à democracia brasileira. O bando, segundo os autos do processo, conspirou para que o ex-presidente permanecesse no poder, mesmo após a derrota nas eleições presidenciais de 2022. Finalizado o julgamento em 11 de setembro, 7 dos 8 dos integrantes do núcleo golpista principal foram condenados à prisão em regime fechado, pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Parafraseando a fala da ministra Cármen Lúcia, o julgamento é um marco, pois representa o “...encontro do Brasil com seu passado, presente e futuro.” O líder da organização criminosa foi condenado a 27 anos e 3 meses de reclusão; o ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto, foi sentenciado a 26 anos; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, foram condenados a 24 anos cada; o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, recebeu 21 anos; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, foi sentenciado a 19 anos; o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, que escapou dos crimes contra o patrimônio, pois já exercia o mandato de deputado, foi condenado a 16 anos, um mês e 15 dias e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, cumprirá dois anos em regime aberto, por ter celebrado acordo de colaboração premiada.

Em relação ao tarifaço os desafios permanecem. Apesar de o governo ter aprovado um pacote para minimizar os efeitos sobre os setores atingidos, a ameaça de imposição de novas sanções, em virtude de a Justiça Brasileira estar cumprindo o seu dever constitucional julgando criminosos, é constante. Um dia depois da condenação da quadrilha golpista, o subsecretário da Diplomacia Pública dos Estados Unidos, Darren Beattie, declarou que a decisão que era um “acontecimento sombrio com a máxima seriedade.” O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, disse que seu país “condena o uso da lei como arma política.” E por fim, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou, do alto de sua característica arrogância, que o governo dos EUA dará “resposta à altura”.

Enquanto se empenha em salvar a economia interna, o governo enfrenta duros embates no Congresso Nacional, ao tentar aprovar projetos que lhe são caros, como o que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e a proposta que muda a previdência dos militares estabelecendo idade mínima de 55 anos para aposentadoria, além de 35 anos de serviço.

Em relação à conjuntura, o indicador do varejo mostra que o volume de vendas do setor caiu 0,3% em julho em relação a junho, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. Mas, diante de todas as dificuldades, a economia brasileira resiste, e mesmo desacelerando por causa dos juros altos, ainda cresceu 0,4% no segundo trimestre do ano quando comparada ao primeiro.

Já o IPCA de agosto, indicador oficial da inflação, caiu 0,11% e registrou a primeira deflação mensal desde julho de 2023. É uma boa notícia. Temos um crescimento moderado com queda do nível de preços. Mas ainda não basta, dizem os analistas. Ao invés de celebrar o ganho no poder de compra dos brasileiros, mostram preocupação com os preços dos serviços. O combate à inflação no Brasil regrado por metas de inflação extremamente rígidas, faz soar naturalmente absurdos como o proferido por um especialista da AZ Quest. Questionado sobre os valores apresentados pelo IPCA de agosto ele nos tranquiliza afirmando que os efeitos da política de juros altos “...deve chegar ao mercado de trabalho e, consequentemente, ajudar a inflação de serviços a arrefecer para níveis mais próximos compatíveis com a meta.” Desempregar pessoas propositadamente não é um problema. Esta é a visão do Banco Central, amplamente corroborada pelo mercado financeiro.

Portanto, enquanto o sistema judiciário brasileiro aprisiona em regime fechado, o chefe da organização criminosa golpista e seus comparsas, o sistema de metas de inflação adotado pela autoridade monetária, condena a economia brasileira ao cárcere do baixo crescimento e do desemprego.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.comrospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram:  Antônio Queiroz, Paola Arruda, Lara Souza, Julia Dayane, Ícaro Moisés, Nelson Rosas e Bruno Lins.

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domingo, 14 de setembro de 2025

ENFIM CONDENADOS... E O QUE ISTO SIGNIFICA?

Semana de 01 a 07 de setembro de 2025

   

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Em condições normais de temperatura e pressão, esta análise seria focada nos dados do PIB brasileiro no segundo trimestre de 2025. As informações dão conta de uma já esperada desaceleração da atividade econômica, com destaque negativo para a queda de 2,2% nos investimentos. Atribui-se esta redução à política monetária fortemente contracionista, que mantém a taxa real de juros no Brasil em torno de 10%. No total, o PIB brasileiro cresceu 0,4% em relação ao primeiro trimestre de 2025 e 2,2% em relação ao segundo trimestre do ano passado.

Contudo, a semana que passou ficou merecidamente marcada pelo início do “julgamento do século”. Pela primeira vez na nossa história, o país colocou no banco dos réus um ex-presidente da República, responsável por tentar realizar um golpe de Estado. E o condenou. Diante da nossa história, isto não é nada trivial.

Ainda no Brasil Colônia, toda a estrutura econômico-social do território recém invadido tinha como alicerce a repressão máxima das liberdades da população. Partindo do genocídio dos povos originários, passando pela vinda de portugueses proprietários, até chegar à escravização de africanos, o sistema colonial impediu qualquer tipo de organização espontânea dos que viviam no Brasil à época. Sequer aqueles que atuavam como classe dominante tinham liberdade para desenvolver-se plenamente no país. Por exemplo, a Coroa Portuguesa impôs leis que proibiam a criação de atividades manufatureiras que concorressem com os negócios da metrópole.

Por conta desta imposição, o Brasil passou mais de 300 anos sem constituir, de fato, uma estrutura social diversa e ampla. As pessoas que não fossem ligadas ao funcionamento da capitania ou ao comércio externo, eram meras figurantes. Por isso, mal foram constituídas classes sociais baseadas em interesses próprios e verdadeiramente “nacionais”, sobretudo nos anseios que emanavam da parte subalterna da sociedade. Sempre que surgiram, as revoltas populares foram sanguinariamente massacradas pelas forças militares vigentes.

O sintoma mais evidente desta aberração foi nossa Independência. Em tese, as grandes transformações sociais acontecem quando classes ascendentes se fortalecem a ponto de derrubar a velha estrutura de poder e construir outra em seu lugar. Porém, no caso do Brasil, o “grito de independência” limitou-se a quebrar as amarras que nos ligavam à Portugal, mantendo quase toda a base colonial. O país continuava sob uma realeza de origem portuguesa, com economia monocultora, latifundiária, escravista e exportadora. Esta foi a sustentação da economia cafeeira durante o Brasil Império.

Neste período, o país, de fato, iniciou um processo de transformação mais profundo, porém, de forma lenta, gradual e conciliatória. Em essência, nunca houve uma efetiva derrubada das velhas ações coloniais, mas sua adaptação aos novos costumes e práticas que surgiam. Por sua vez, assim como na colônia, as revoltas populares foram, uma a uma, exemplarmente esmagadas pelo exército imperial. Inclusive, foi neste período que Luís Alves de Lima e Silva se tornou o Duque de Caxias, que lutou em contra estrangeiros, mas também contra provincianos brasileiros revoltados com o Império.

As duas maiores transformações na política do Brasil aconteceram com a Proclamação da República e com a Revolução de 1930, quando novas frações da classe dominante surgiram e reivindicaram seu espaço no comando do Estado (mas sem retirar a tradicional aristocracia agrária dele). Nos dois casos, os militares foram essenciais para essa transformação, pois, seguindo a tradição, foram “o braço forte” e “a mão amiga” dos ocupantes do poder. Desde então, em muitos anos, a vontade da maioria foi absolutamente desrespeitada. Explicitamente, para além dos 15 anos de regime de exceção entre 1930 e 1945, tivemos mais 21 anos de ditadura após o Golpe de 1964.

Enfim, o julgamento que deve se encerrar no dia 12 de setembro de 2025 é um importante marco. Os militares, que sempre se reconheceram como moderadores do poder no Brasil, estão sendo julgados por civis, por atentarem contra a vontade das urnas pela primeira vez. Os mais otimistas acreditam que isto pode representar uma transformação na institucionalidade brasileira.

Contudo, na opinião do humilde redator desta análise, não podemos esperar muito da classe dominante brasileira. Afinal, sua essência violenta (e subalterna) ainda não foi eliminada por nenhuma outra classe que surgiu desde a colonização. Apenas mudou a forma, mas o conteúdo se mantém. Quando for preciso, tenha certeza, caro leitor, que a força militar será usada contra aqueles que se revoltarem contra as verdadeiras injustiças do país. Enquanto este momento não chega, apreciemos com satisfação e prazer este solene momento que antecede a condenação de Bolsonaro e sua gangue.


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Camylla Martins, Julia Bomfim, Lara Souza, Maria Julia Alencar, Nelson Rosas, Rubens Cunha e Victoria Rodrigues.

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sábado, 6 de setembro de 2025

O MERCADO DO CRIME

Semana de 25 a 31 de agosto de 2025

   

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

As últimas notícias brasileiras têm exposto algo maior que um caso policial: um “choque de real” sobre como fluxos ilícitos vêm atravessando setores-chave da economia formal. O esquema, revelado na semana passada, em uma das maiores operações já realizadas contra o crime organizado no Brasil, mobilizou 1,4 mil agentes da Polícia Federal, do Ministério Público de São Paulo e da Receita Federal, em oito estados, refletindo a dimensão da rede criminosa. Segundo as investigações, a estrutura de lavagem de dinheiro do PCC envolvia 1,2 mil postos de combustível, 42 fundos de investimento, fintechs e usinas de etanol. Assim, a nova “indústria do crime” movimentou cerca de 140 bilhões de reais em cinco anos, conferindo aparência de legalidade aos recursos obtidos com o tráfico e outras atividades ilícitas.

Esse movimento revela, em verdade, um fio condutor baseado na financeirização e na busca por escala, cuja lógica empresarial é apropriada para dar aparência de legalidade ao capital do crime, afetando a concorrência, elevando riscos institucionais e contaminando mecanismos de intermediação financeira e produtiva. O esquema demonstra método, sofisticação e normalização do dinheiro do crime dentro de engrenagens reguladas, operando com eficiência mercadológica e aproveitando brechas de governança e fiscalização. O efeito macroeconômico? Aumento do risco institucional, elevação dos prêmios de risco setoriais, contaminação de preços e erosão da confiança nos mecanismos de intermediação financeira e produtiva.

A grosso modo, caro leitor, é a “mão invisível” do livre mercado auxiliando a institucionalização e a complexificação de facções como o PCC no Brasil. Há quem diga, em momentos de loucura, ignorância ou desonestidade, que é a esquerda a maior apoiadora da criminalidade no país. Pois bem, não foi o que revelou a investigação da Polícia Federal. Muito pelo contrário, toda essa situação demonstrou como a própria estrutura do crime se ampara nos mecanismos de mercado para florescer.

Foi assim que o crime organizado conseguiu se infiltrar no coração do sistema financeiro brasileiro. Dos 350 alvos, 42 mantinham escritórios na Avenida Faria Lima, epicentro do mercado de capitais do país, sinalizando a sofisticação e o alcance da rede criminosa. De acordo com a PF, o esquema era liderado por Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco, e Mohamad Hussein Mourad, o Primo, empresários do setor de combustíveis em São Paulo, tendo como peça central a BK Instituição de Pagamento, conhecida como BK Bank, que servia como principal canal de bancarização e circulação dos recursos ilícitos. As investigações também apontam que a facção adquiriu usinas de etanol e teria envolvimento em incêndios criminosos em canaviais, que causaram prejuízos milionários a concorrentes, ampliando ainda mais seu controle sobre a cadeia sucroenergética.

Para o terror da extrema direita, a atuação do governo federal, sob a liderança de Lula, mostra que o crime organizado deve ser combatido de forma coletiva e coordenada. Sem slogans megalomaníacos, sem discurso violento, sem instrumentalização do ódio, o governo combate o cérebro do crime como ele deve ser combatido: com estratégia. Ao conduzir uma operação de grande escala, o Planalto demonstrou compromisso sério e estruturado no combate ao PCC e a outros ilícitos, reforçando a presença do Estado em setores estratégicos da economia.

Além disso, a ação envia um recado claro ao cenário internacional, sinalizando ao governo americano que o Brasil não é omisso diante das organizações criminosas e que está preparado para enfrentar os desafios da segurança nacional. A combinação de medidas firmes e visibilidade estratégica fortalece a credibilidade do país no combate ao crime e reafirma a centralidade do governo federal na proteção das instituições e da ordem econômica, sem abertura de margem para ingerências externas. Com determinação e ação coordenada, o Brasil mostra que é possível vencer o crime organizado e construir um futuro mais seguro e justo para todos.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduada em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram:  Antonio Queirós, Bruno Lins, Julia Dayane, Lara Souza, Nelson Rosas e Ryann Félix .

  

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domingo, 31 de agosto de 2025

O CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO (E SUA INCÔMODA “RESILIÊNCIA”)

Semana de 18 a 24 de agosto de 2025

   

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

Estimado leitor, nossas últimas análises tiveram como foco a guerra tarifária que os Estados Unidos declararam ao Brasil, seus interesses, desdobramentos e possíveis consequências sobre nossa economia. O governo reagiu e lançou o Plano Brasil Soberano. As medidas paliativas que o integram visam proteger o emprego dos trabalhadores nos setores afetados pela elevação tributária, em virtude da recusa do governo americano em dialogar.

Enquanto Lula busca amenizar os problemas internos gerados pelas tarifas trumpianas, a gang bolsonarista e seu líder, alimentam, no Congresso Nacional e nas redes sociais, a ideia de que é possível uma intervenção americana na justiça brasileira. Na dimensão quimérica que habitam, o Judiciário do país cederia à chantagem tarifária dos Estados Unidos e simplesmente sustaria todos os processos contra Jair Bolsonaro. A lorota sustenta a ilusão de cegos seguidores, golpistas e falsos patriotas. Felizmente, o líder da tentativa de golpe de Estado segue em prisão domiciliar e fazendo uso de tornozeleira. Agora, terá que explicar a movimentação de R$ 30,6 milhões, acontecida entre 01/03/2023 e 07/02/2024, conforme apuração da Polícia Federal. O fluxo milionário traz à luz um novo delito para o currículo de Jair: a lavagem de dinheiro, motivo de nova investigação.

Estes assuntos dominaram as manchetes dos noticiários desta semana. No âmbito da economia, levantamentos importantes foram publicados. A atividade econômica recuou 0,1% em junho, quando comparada a maio, conforme resultado apresentado pelo IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). A composição setorial do indicador foi a seguinte: alta de 0,1% da agropecuária e dos serviços e queda de 0,1% da indústria. Láureas sejam dadas ao Comitê de Política Monetária (Copom), que tem se esforçado para superar a “resiliência” da economia brasileira, dando-lhe o purgante dos juros. A inflação também caiu. O IPCA-15, em prévia do índice mensal de agosto, registrou deflação de 0,14%.

Mesmo com as quedas simultâneas do crescimento e dos preços, o discurso predominante dos economistas, dos analistas oriundos do mercado financeiro e do Banco Central é o de que ainda não é possível abandonar a política monetária restritiva. Todos os especialistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico concordam que a economia ainda não arrefeceu o suficiente. E por quê? Economista do BNP Paribas concorda que “o dado ainda revela perda de ritmo da atividade muito lenta, que não dá força à tese de antecipação do afrouxamento monetário.” Já uma economista da FGV indica que o problema está no mercado de trabalho, que insiste em “não dar sinais de desaceleração mais firme, ao passo que questões como o pagamento de precatórios no meio do ano podem dar algum fôlego adicional para o consumo das famílias.”

O que de fato incomoda os analistas econômicos, já que a inflação que está sob controle e não apresenta sinais de aceleração? A queda do desemprego! A taxa média geral de desemprego brasileira caiu de 7% para 5,8% entre o primeiro e o segundo trimestres. É o menor nível da série histórica apurado pela Pnad Contínua. No dogma econômico estabelecido, desemprego baixo significa crescimento econômico, mais renda em circulação, que leva a mais consumo e... à inflação! A queda dos preços em agosto também não impactou o presidente do Banco Central. Em suas últimas declarações, Gabriel Galípolo deixou claro que “a taxa de juros permanecerá alta por um longo tempo, pois a “convergência para a meta inflacionária está acontecendo de forma muito lenta.”

Portanto, ao invés de reestruturar o sistema de metas, tornando-o compatível com o crescimento do país, a autoridade monetária escolhe lançar parte dos trabalhadores brasileiros na fila do desemprego, sob o pretexto de controlar uma inflação que está sob controle. O curioso é que ao acessar a página eletrônica do Banco Central consta que sua missão é: “Garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, zelar por um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo, e fomentar o bem-estar econômico da sociedade.” Entretanto, o texto esconde que a busca pela estabilidade se dará sempre pelo sacrifício do bem-estar econômico dos trabalhadores da sociedade.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Camylla Martins, Rubens Gabriel, Victória Rodrigues, Nelson Rosas, Júlia Bomfim e Maria Júlia Alencar.

 

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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

É POSSÍVEL GANHAR ALGO COM O TARIFAÇO?

Semana de 04 a 10 de agosto de 2025

   

Lucas Milanez de Lima Almeida [1]

 

Certamente, o caro leitor já deve ter visto inúmeras análises sobre o tarifaço (ou tarifinho, a depender do analista) imposto por Trump ao Brasil. Apesar de ter se aproveitado dos sabujos que são a família Bolsonaro e a extrema direita do país, a real motivação para ele foi a tentativa ianque de reconfigurar o comércio internacional a seu favor. Dentre as análises mais divulgadas, destaco aquela que, apesar dos pesares, vê o tarifaço como uma oportunidade para o Brasil.

Seria quase uma versão minimizada dos choques externos que vivemos no início do século passado, com a 1ª e a 2ª Guerras Mundiais e com a Grande Depressão da década de 1930. À época, o Brasil tinha uma economia fundamentalmente agrária, que dependia das exportações de bens primários (principalmente o café) para ser dinamizada. Com as Guerras e a crise iniciada em 1929, a economia internacional reduziu suas compras de produtos brasileiros e o país teve que se virar para manter sua economia funcionando. Nos primeiros momentos, o óbvio aconteceu: nossa economia refletiu o movimento da economia mundial e desacelerou.

Porém, como havia espaço para o desenvolvimento doméstico, isto rapidamente se transformou em oportunidade. Indústrias logo começaram a produzir os bens que estavam faltando no mercado mundial e a produção local foi substituindo a entrada desses produtos que se exauriam. O resultado foi um intenso, mas limitado, início de industrialização por substituição de importações (que foi um processo histórico muito mais complexo do que apenas isto).

Por outro lado, os produtos que o país exportava ficaram pouco rentáveis, porque a demanda mundial também arrefeceu para os produtos nacionais. Algumas atividades, como a cafeicultura, se beneficiaram de políticas estatais de manutenção de produção, emprego e renda. Contudo, para manter a lucratividade, outros exportadores foram obrigados a diversificar seus investimentos. A médio e longo prazos, isto colaborou com criação de novos setores produtivos e, consequentemente, novas dinâmicas econômicas.

Logicamente, há diferenças cavalares entre o Brasil de hoje e o da primeira metade do século passado. Contudo, há elementos que permanecem iguais. Por exemplo, a economia brasileira ainda tem nas exportações de produtos primários sua principal fonte de dólares. Além disso, apesar da mudança de paradigma tecnológico, temos fontes abundantes dos principais insumos consumidos pelas tecnologias mais avançadas, como as terras raras.

É neste contexto que muitos analistas consideram que esta poderia ser uma janela de oportunidade para o país. Porém, diferentemente do que ocorreu no século passado, agora não seria apenas voltar nossas atenções para simplesmente atender o mercado doméstico. Dessa vez poderíamos fomentar uma dinâmica interna, por um lado, a partir do beneficiamento e transformação daquilo que exportamos com baixo valor agregado e, por outro, buscando novos parceiros ao redor do planeta. Por exemplo, ao invés de exportar o silício para Taiwan, produzir o chip e vender à Europa; ao invés de só vender o európio, desenvolver TVs e monitores de alta resolução.

Bem, no pacote das coisas que não mudaram entre o Brasil de ontem e o de hoje, infelizmente, temos o fato de o país não deter infraestrutura técnico-científica necessária para o desenvolvimento de novas forças produtivas. Nossos parques industrial e de P&D continuam consideravelmente atrasados em relação aos países que estão na ponta de lança do desenvolvimento tecnológico. Ainda é gritante esse hiato e isto, paradoxalmente, seria nossa janela de oportunidade. Como diriam os mais esperançosos: capacidades produtiva e tecnológica se constroem.

Quem sabe, com muita atuação estatal e esforço social talvez seja possível dar o salto adiante no desenvolvimento. Contudo, o país precisa de classes dominantes interessadas nisto. E é aí que vem a questão: quem disse que as frações dessa classe dominante de hoje estão dispostas a bancar este projeto? No passado, ao que parece, o desenvolvimentismo nacionalista era propagado e apoiado pelas “elites”, em especial, a industrial. Mas, o caro leito realmente acha que a elite atual, dentre os quais banqueiros, agroexportadores e grande mídia, está disposta a encampar um projeto desses?

A pergunta é retórica...


[1] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Bruno Lins, Camylla Martins, Julia Bomfim, Mateus Eufrásio, Maria Julia Alencar e Nelson Rosas.


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sábado, 9 de agosto de 2025

ENTRE TARIFAS E ALGEMAS, BRASIL RESPONDE

Semana de 28 de julho a 03 de agosto de 2025

  

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

Em mais uma demonstração de instabilidade política e econômica, Donald Trump decidiu amenizar o chamado “tarifaço” contra o Brasil, retirando da lista de produtos taxados cerca de 700 itens – aproximadamente 40% do total exportado pelo país aos Estados Unidos. Entre os beneficiados estão tecnologias da Embraer, minerais estratégicos e alguns produtos alimentícios, como o suco de laranja, que havia se tornado um símbolo nas discussões sobre a medida. Vale lembrar que Trump prometeu iniciar a cobrança em 1º de agosto, mas também recuou nesse aspecto e adiou seu início para o dia 6 de agosto, num típico movimento “morde e assopra”. O recado, caro leitor, é claro: Trump não mantém posições estáveis, e essa volatilidade mina previsibilidade nas relações comerciais.

Mais grave que o vaivém é o discurso usado para justificar a sobretaxa. Os Estados Unidos decidiram colocar o Brasil como uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança, política externa e economia nacionais. Fica a pergunta: que ameaça real representa o Brasil para os EUA? O Brasil, tão subestimado pelos Estados Unidos ao longo das décadas, “agora” é motivo de terror?

A verdade, caro leitor, é que essa retórica revela uma contradição gritante. O mesmo país que, por décadas, pregou e impôs o livre comércio mundo afora agora parece convenientemente esquecê-lo. Quando os ventos não sopram a seu favor, os EUA abandonam os princípios que diziam defender e recorrem a um protecionismo disfarçado de medida de segurança. No fim, essa é apenas mais uma mostra de que não são valores econômicos universais que movem a decisão norte-americana, mas sim interesses domésticos e conjunturais.

No campo interno, a tarifa de 50% que se manteve sobre produtos-chave como café, carne bovina, têxteis e calçados certamente vai afetar a rentabilidade dos produtores brasileiros. No entanto, para o consumidor, pode haver um efeito imediato de queda de preços, já que parte da produção que iria para os EUA ficará no mercado interno. Estimativas indicam um impacto pontual de até -0,24 ponto porcentual no IPCA, puxado pela maior oferta de carnes, café e etanol. Ainda assim, há riscos de desestímulo à produção, o que pode afetar o emprego e a renda no país.

Ciente dos desafios, o governo brasileiro preparou um plano de contingência para minimizar o impacto econômico. A estratégia inclui crédito subsidiado, medidas de manutenção de empregos e foco especial em micro, pequenas e médias empresas, que representam uma fatia relevante das exportações para os EUA. Não é a primeira vez que o país adota uma reação rápida: em 2024, diante das enchentes no Rio Grande do Sul, um pacote emergencial de apoio às empresas e reconstrução de infraestrutura evitou um impacto maior sobre o PIB e o emprego, sendo reconhecido como uma ação bem-sucedida. A expectativa agora é que a nova rodada de medidas consiga amortecer os danos do tarifaço, especialmente em setores estratégicos.

Enquanto o Brasil enfrenta turbulências externas, no front interno um acontecimento histórico marca a política nacional: a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes. A medida foi tomada após Bolsonaro descumprir reiteradamente determinações judiciais, reforçando a ideia de que ninguém, por mais popular ou poderoso que seja, está acima da lei. Alvo também de ataques dos EUA, Moraes resiste e reafirma o compromisso do país com o Estado de Direito.

Entre a instabilidade comercial vinda de fora e a reafirmação democrática dentro de casa, o Brasil se encontra num ponto decisivo. A reação ao protecionismo de Trump exigirá habilidade diplomática e diversificação de mercados; a prisão de Bolsonaro, por sua vez, reforça que a democracia brasileira, apesar de todos os desafios, permanece viva e combativa. O que vem pela frente será um teste de resistência — tanto para nossa economia quanto para nossas instituições.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduada em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram:  Ícaro Formiga, Icaro Moisés, Jéssica Brito, Lara Souza, Nelson Rosas e Raquel Lima .

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quinta-feira, 31 de julho de 2025

DEMOCRACIA E ECONOMIA BRASILEIRA RESISTEM; NO GOLPISTA, TORNOZELEIRA ELETRÔNICA...

Semana de 21 a 27 de julho de 2025

    

Rosângela Palhano Ramalho[1]

  

Estimado leitor, os ânimos continuam exaltados no país. O anúncio da tarifação de 50% dos produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos, que vigorará a partir de 01 de agosto, e a colocação da tornozeleira eletrônica no criminoso reincidente Jair Bolsonaro, dominaram os assuntos da semana.

Enquanto isso, a economia resiste. A inflação está sob controle, e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo apurou que a Intenção de Consumo das Famílias subiu 0,6% em julho comparada a junho, em virtude do maior acesso ao crédito e de perspectivas profissionais ainda favoráveis. No mercado de força de trabalho o arrefecimento esperado ainda não aconteceu. Um estudo da LCA 4intelligence concluiu que os salários são responsáveis por 2/3 da inflação dos serviços, o que significa que os ganhos salariais continuam a alimentar a economia.

No âmbito externo, desde que Donald Trump passou a ameaçar o mundo com a guerra tarifária, o Brasil vem se preparando para negociar ou retaliar, a depender das condições oferecidas pelo governo americano. A questão é que os Estados Unidos vêm deixando claro em declarações públicas, que seus interesses ultrapassam as singelas questões comerciais, até porque é o Brasil quem arca com déficit nestas transações. Trump utiliza os instrumentos de política comercial para chantagear parceiros e obter ganhos nas negociações internacionais. Além disso, o aumento aleatório das tarifas está servindo para camuflar a sua cobiça pelo Pix, sistema de pagamentos brasileiro que frusta a usura das instituições de crédito americanas, sua insatisfação no regramento interno das poderosas big techs americanas e sua avidez pelos minerais de terras raras disponíveis no território brasileiro.

Por mais incrível que pareça, Trump tem o apoio de políticos e empresários brasileiros que à luz do dia tentam responsabilizar o presidente Lula pelo ataque leviano. Ao lado de Eduardo Bolsonaro – que, claramente, está precisando de tratamento médico e judicial –, os potenciais candidatos à presidência em 2026 a saber, Romeu Zema, Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior, jogaram os interesses e a soberania do país no esgoto, esperando herdar os votos do inelegível Jair e derrubar o governo Lula.

Enquanto os termos da negociação envolverem a perda da soberania brasileira, através da intervenção nas decisões do Poder Judiciário, não haverá conversa, diz o Brasil. Até agora, todas as tentativas de intimidação à Justiça brasileira não surtiram efeito. Após 8 dias do anúncio da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, o ministro Alexandre de Moraes não hesitou em enfeitar o tornozelo do ex-presidente Jair Bolsonaro com um acessório eletrônico de controle. De forma descarada, o réu-mor da trama golpista cometeu novos crimes, e agora o golpista vai responder por coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e atentado à soberania brasileira. Além disso, a revogação dos vistos americanos de 8 dos 11 ministros juízes do Supremo Tribunal Federal, embora tenha sido motivo de reclamação do governo brasileiro, que cumpre seu papel institucional, foi solenemente ignorada pela Suprema Corte. Com isso, a democracia brasileira continua de pé, embora os golpistas tentem destruí-la a partir da subserviência externa.

Vivenciamos tempos sombrios. Patriotas autointitulados atentam contra sua pátria e políticos eleitos democraticamente declaram livremente que vivem numa ditadura. Os amargos acontecimentos estão sendo registrados em nossa história. E como o PROGEB é longevo, nossos leitores têm a possibilidade de acompanhar em nossas análises, eventos importantes acontecidos há pelo menos 17 anos. No momento, esta coluna registra o início da punição dos inúmeros crimes que foram cometidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a partir da finalização dos processos abertos contra ele.

Após participar de uma reunião com líderes e parlamentares do Partido Liberal, o delinquente exibiu seu adorno aos repórteres e lançou a seguinte lorota: “Não roubei os cofres públicos. Não desviei recurso público. Não matei ninguém, não trafiquei ninguém. Isso daqui é o símbolo da máxima humilhação.” Felizmente, no Brasil não é o meliante quem define o crime e a punição. Este senhor será preso pelos seguintes delitos: organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. E irá para o lixo da história. A política e a democracia brasileira agradecem.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Bruno Lins, Victória Rodrigues, Mateus Eufrásio, Nelson Rosas, Antônio Queiroz e Julia Dayane.


 

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