Semana de 20 a 26 de dezembro de 2021
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
Em tom de retrospectiva e de esperança
(quem diria!?), a presente análise pode trazer náuseas para os seus leitores. O
motivo? Veremos frases proferidas por integrantes do Executivo Federal em 2021,
bem como dados da última semana de dezembro sobre a realidade brasileira. Aos
que têm o mínimo de juízo, fica claro que isso é mais do que suficiente para aproveitarmos
o ano que se aproxima para uma mudança de rumo, mesmo que liderada por velhos
conhecidos do passado.
Os ares de uma nova esperança não estão
distantes de nós, pelo contrário. Nossos vizinhos já iniciaram seus processos
de rejeição, seja a governos neoliberais ou a governos de cunho “neofascistas”
(apesar de ambos estarem bastante interligados). México, Argentina, Peru e
Chile elegeram presidentes que, a peso de hoje, são chamados de “esquerdistas”.
Claro, ainda longe de uma esquerda de facto, esses governos de centro
(talvez centro-esquerda) representam um conjunto de ideias progressistas e que
têm um caráter civilizatório muito maior do que os seus antecessores/opositores
de direita. Além desses, vale mencionar dois países onde há grande chance de
mais “esquerdistas” ganharem em 2022: a Colômbia e, claro, o Brasil.
Começando pelas estatísticas brasileiras,
algumas informações se destacam: a inflação dos últimos 12 meses está em
10,74%; o número de mortos por Covid-19 é de 619.000 pessoas; o desemprego
ainda atinge 12,9 milhões de pessoas; o rendimento médio real do trabalhador é
o menor em 10 anos; dos que estão ocupados, 40,7% estão na informalidade (são
38,2 milhões de trabalhadores); desses informais, 25,6 milhões são
trabalhadores por conta própria que vivem de bicos.
Narrando os fatos que levaram a estes
números, para além da titica externada nos anos anteriores, por aqui tivemos
que passar o ano ouvindo: “Chega de frescura, de mimimi, vão ficar chorando até
quando?”; “A Amazônia não pega fogo. Você pode jogar um galão de gasolina lá na
mata. A floresta é úmida”; “Imprensa de merda. É pra enfiar no rabo de vocês da
imprensa essas latas de leite condensado todas”; “Melhor perder a vida do que
perder a liberdade”; “A universidade, na verdade, deveria ser para poucos”; “Todo
mundo quer viver 100, 120, 130 anos. Todo mundo vai procurar serviço público”; “Deram
bolsa pra quem não tinha nenhuma capacidade de saber ler”; “Qual é o problema
de a energia ficar um pouco mais cara?”; “Não adianta ficar sentado chorando”.
Para piorar nossa situação, tempestades têm
atingido a Bahia desde novembro. São 72 municípios do estado em situação de
emergência devido às enchentes. São mais de 430 mil pessoas atingidas, sendo 31
mil desabrigados e outros 31 mil desalojados. O número de mortos chegou a 20.
Enquanto mais essa tragédia ocorre no país, o que faz o presidente? Nada,
continua suas férias em Santa Catarina. As férias do ano passado custaram R$
2,4 milhões. As desse ano, para além das cifras monetárias, vão custar as
perdas que os baianos até aqui abandonados terão de enfrentar sem o apoio da
pátria mãe.
No início do século, o Brasil ensaiou dar
um pequeno passo para frente. Hoje, estamos dois passos atrás (Lênin que me
perdoe). Para não darmos mais tantos outros, em 2022 é preciso derrotar
esmagadoramente aqueles que aglutinam e representam publicamente o pior da
sociedade, seja em âmbito nacional, estadual ou municipal. Para isso, é preciso
unir todas as forças em torno de candidatos que representem o pensamento
progressista.
No caso das eleições para presidente, as
pesquisas de hoje indicam que Lula venceria as eleições de outubro de 2022 no
primeiro turno. As de amanhã podem indicar Ciro (duvido, mas quem me dera).
Quem quer que seja, se representa um real enfrentamento ao fascismo e um
projeto decente de redução das desigualdades sociais, que seja feito o esforço
necessário para que seja eleito em primeiro turno.
Fascistas, já é hora de passar para o lixo da história! Feliz 2022!
[i] Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Carolina Nantua, Eduardo Oliveira, Maria Cecília Fernandes e Guilherme de Paula.