quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

O mundo começa a vacinação, já o Brasil...

Semana de 21 a 27 de dezembro de 2020

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

A vacinação em massa contra o coronavírus começou, mas não no Brasil. Até o presente momento, já foram vacinadas 4.665.501 pessoas pelo mundo (tomaram pelo menos uma dose). No Brasil, nenhuma! Em primeiro lugar estão os EUA, que vacinaram 2,13 milhões de pessoas. Em seguida vêm China (1 milhão) e Reino Unido (800 mil). Como proporção da população, quem mais vacinou foram Israel, Bahrein e Reino Unido. Mais de 40 países já iniciaram sua vacinação, incluindo alguns hermanos latino-americanos. Novamente, no Brasil ainda nada!

Em análise anterior, destaquei o fato de que a “tempestade” que enfrentamos no momento é a mesma, mas não temos todos o mesmo “barco” para enfrentá-la. Como era de se esperar, isto se reflete no acesso que os países têm à vacina.

Segundo o Duke Global Health Innovation Center, há estimativas de que apenas em 2023 ou 2024 teremos vacina suficiente para toda a população do planeta, incluindo o agente imunizante em si e os materiais para aplicá-lo (seringa, luva, máscara, etc.). Alheios a isso, e buscando garantir o retorno à normalidade em seus territórios, os governos dos países de alta renda já compraram mais de 4 bilhões de doses das diversas vacinas desenvolvidas (as testadas e as que estão em fase de testes). Isto corresponde a cerca de 50% do total de doses até aqui anunciado. Por exemplo, as doses já compradas pelo Canadá correspondem a 505% da população do país. No Reino Unido este percentual é de 290% e no Chile, de 244%. No Brasil, amargamos míseros 46% de doses em relação ao total da população, incluindo a CoronaVac, desenvolvida em parceria com o Instituto Butantã.

Quando questionado sobre o início da imunização no mundo e sobre a inqualificável situação do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro disse: “Ninguém me pressiona para nada”. No dia seguinte, disse que, “caso exercesse pressões pela vacina, seria acusado de interferência e irresponsabilidade”. Para finalizar, especialista que é em  economia, soltou: “O Brasil tem 210 milhões de habitantes, um mercado consumidor de qualquer coisa enorme. Os laboratórios não tinham que estar interessados em vender para a gente?”. O presidente acha o quê, que as inúmeras frases defecadas ao longo de 2020 seriam o meio mais eficaz de combater a pandemia?

Não é nenhuma novidade que o Brasil está muito longe de resolver seus problemas quanto a Covid-19, sejam os da saúde ou da economia. A esta altura do campeonato é difícil dizer se a situação atual é resultado de uma absoluta incompetência na gestão federal ou é algo piorado pelo terraplanismo nas diversas dimensões da realidade: ciência, saúde, economia, meio ambiente, assistência, etc. O que parece ser é um mix dos dois, uma incapacidade de compreender a realidade que é agravada pela cegueira ideológica.

Não são poucos os eleitores de Bolsonaro que, desde meados de 2019, se arrependeram de votar nele. Por sua vez, para rever sua opinião, outros precisaram passar por este que é o pior capítulo da nossa história recente. O último famoso a manifestar seu (agora) desapreço foi Pedro Bial, que em seu programa chamou Bolsonaro de “desgovernante”, “acéfalo” e “delirante”.

É ruim ver que só em situações extremas alguns compreendem o mal que fizeram ao votar em Bolsonaro. Mas é como dizem: antes tarde do que mais tarde ainda... Só espero que quando as próximas eleições chegarem, ao ver um candidato imbecil, não pensem que ele servirá para presidir a nossa República. Era óbvio que não poderíamos estar em situação diferente com esta liderança do Executivo.

Aquela que é a única solução para os problemas sanitários e econômicos, a vacinação em massa, está longe de se resolver. Não por uma questão de falta de recursos, como nos países de baixa renda. É graças à gestão Bolsonaro. Na verdade, não a ele, mas aos eleitores dele, arrependidos ou não.

Ah, quase me esquecia. Desejo ao caro leitor uma boa virada, sem aglomeração...


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Haverá luz no fim do túnel?

Semana de 14 a 20 de dezembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

A análise dos dados econômicos confirma o processo de recuperação da economia. Só a anunciada recuperação em V, do sinistro da economia Paulo Guedes, não pode ser verificada por mais que torçam os números. Mas, que história é essa de V? Já vimos várias vezes nesta coluna que a economia se move em ondas de crescimento e desaceleração. É um movimento cíclico conhecido como ciclo econômico ou crise cíclica de superprodução. Mesmo as teorias oficiais que negam este ciclo usam as expressões “políticas anticíclicas” ou “pro-cíclicas”. O próprio Guedes e seus fanáticos de vez em quando escorregam e fazem estas afirmações.

Há várias maneiras de verificar o ciclo com dados estatísticos, mas a mais usual é utilizar as taxas de crescimento do PIB ou da produção industrial. Estas taxas nos permitem construir um gráfico com o qual podemos verificar visualmente este movimento de sobe e desce. Quando a linha está descendo, em algum momento ela voltará a subir. É a reversão. A linha apresentará a forma de uma letra. Se a subida é rápida, teremos o vértice de um V. Se a subida é lenta, a forma será de um U. Se há uma sucessão de sobe e desce teremos um W ou mesmo o tal serrote (vários Ws emendados).

O que significa estarmos em recuperação? Significa que a economia voltou a crescer pois o volume da produção industrial começou a aumentar impulsionando o aumento do emprego embora os indicadores do desemprego continuem a mostrar crescimento por um problema de critério de mensuração usado pelo IBGE. Só é considerado desempregado quem procura emprego. Quem fica em casa (os desalentados) e os que fazem bicos (subempregados) não são contados.

A retomada da produção industrial pode ser observada pela falta de matérias-primas (aço, por exemplo) e pelo IBC-Br, índice calculado pelo Banco Central (BC), que mostra um crescimento de 0,85%, em outubro, em relação a setembro. Este crescimento está desacelerando. Com efeito, nos meses anteriores foi: junho 5,23%, julho 2,42%, agosto 1,62%, setembro 1,68% e agora outubro 0,85%. Não é crescimento em V. Esta desaceleração é confirmada pelo Índice de Confiança Empresarial (ICE) que caiu 1,7 pontos e pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC) que caiu 4,1 pontos, ambos em relação a novembro. Os dois Índices são calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que constatou também a existência, em outubro, de 13,8 milhões de desempregados. A economista da FGV Viviane Seda afirmou ainda que há “uma clara desaceleração da indústria” e que “até o momento não vemos cenário promissor, não vemos luz no fim do túnel”. Estamos assim em recuperação, mas esta não tem a forma de V e o futuro é muito incerto. Serão difíceis grandes melhoras em 2021.

Há dois fatores que não são de ordem econômica e dificultam a marcha da economia e as análises e previsões. O primeiro deles é a covid-19. Estamos em plena segunda onda e a euforia das festas de final do ano e a irresponsabilidade das pessoas estimulada pela ação homicida do governo vão provocar o agravamento da situação com risco de colapso do sistema de saúde. Acrescentemos ainda a estupidez da política genocida do general intendente, executada pelo Ministério da Saúde, entupido de milicos, a mando do louco presidente. O agravamento da pandemia afetará a economia. O segundo fator é a política econômica do sinistro da Economia com sua cegueira ideológica que quer administrar um país como um agiota.

Estes dois fatores estão contribuindo para dificultar o natural movimento de recuperação e podem trazer consequências desastrosas.

 Se a situação interna é difícil e nebulosa externamente continuamos a colecionar dissabores. O Brasil foi excluído da cúpula da Ambição Climática da ONU que reúne os 77 estados mais importantes do mundo. Ficou fora também da cúpula da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) apesar de ter apoiado o candidato de Trump. Foi ainda classificado entre os 3 últimos lugares no relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF) entre os 37 países analisados, considerando os critérios de educação, princípios de governança, índice de corrupção e confiança no governo.

2021 promete ser mais um no difícil, infelizmente.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade e Monik H. Pinto.

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quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

A segunda onda, de negacionismo...

Semana de 07 a 13 de dezembro de 2020

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

No mesmo dia em que permaneceu dez minutos inteiros à beira de uma rodovia de Porto Alegre acenando para os que passavam, todos ouviram o que o Presidente Jair Bolsonaro anunciou: “estamos vivendo um finalzinho de pandemia”. Decretado foi, então, o fim da Covid-19 no país. Simples assim! O Messias disse, está feito. A imprensa que pare de mentir, dizendo que a média de novos casos diários está subindo. Mentiroso também é o dado que diz que no Brasil já morrem, novamente, mais de 600 pessoas por dia.

Talvez, o Presidente tenha afirmado isso tendo em conta um secreto Plano Nacional de Imunização. Este Plano, que deve ter sido elaborado pelos agentes secretos do Ministério da Logística (também conhecido como Ministério da Saúde) garantiria que dezembro de 2020 marcaria o fim da pandemia no Brasil. Ele é tão secreto que sequer se sabe a data para começar ou terminar. Mesmo que diversos países já estejam preparados para a vacinação da sua população.

Isso só pode ser verdade. Os fatos obscuros esclarecem... Tanto que o ministro da Logística (digo, da Saúde), general da ativa e cantor de karaokê, Eduardo Pazuello, foi a uma festa celebrar o fim da pandemia. Ela foi dada pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e contou até com Zezé Di Camargo, sem o Luciano. Todos sem máscara, mostrando à população brasileira que tudo faz parte de um Plano.

O Plano é tão eficiente que estão até sendo bonzinhos com o Instituto Butantã e com o Governo de São Paulo. Através da Anvisa, o governo federal tem feito o que pode para impedir o desenvolvimento e o uso da Coronavac. Já é uma quantidade de recursos que deixam de ser aplicados pelos paulistas, uma baita ajuda para garantir que não sejam despendidos à toa, já que o Messias tem um Plano. Quem sabe até o Governador de SP não siga os passos de Jair e Michelle Bolsonaro e use o dinheiro economizado numa cerimônia oficial de lançamento dos trajes de gala das festas de fim de ano...

Saindo um pouco do campo do delírio e das ironias, o Itaú fez projeções acerca do futuro da economia brasileira. Com o fim da pandemia, o PIB do Brasil cresceria cerca 4% em 2021, podendo chegar até a 5,7%. Caso o pior acontecesse e a segunda onda de mortes chegasse ao patamar da primeira, a economia cresceria apenas 1,4% em 2021. Por sua vez, se a média de mortes diárias ficar em 400 nos três primeiros meses do ano que vem, a projeção diz que o país cresceria 0,2% no primeiro trimestre de 2021. Caso a média de mortos fosse igual à que temos hoje, de 600 por dia, o PIB do Brasil cairia 1,2% no primeiro trimestre de 2021.

A situação parece não estar muito favorável à economia brasileira. Fora toda desgraça que nos acomete, o clima não está ajudando a lavoura. Apesar de ser um setor constantemente aclamado pelo Presidente, o campo está sofrendo com a seca e com as consequências da pandemia. Por exemplo, apesar de ainda ser esperado um recorde na colheita de 2020/21, a estimativa é de que sejam colhidas 3 milhões de toneladas de grãos a menos em relação às previsões iniciais. Isto porque “La Niña” afetou mais duramente o regime de chuvas, que prejudicou a produção de diversas culturas no Centro-Sul do país: milho e arroz no Rio Grande do Sul, soja em Mato Grosso, laranja em São Paulo e Minas Gerais, cana de açúcar em Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, além do café nas regiões do Triângulo Mineiro e Mogiana Paulista. Soma-se a isso o fato de que o abate de bovinos no terceiro trimestre de 2020 apresentou queda de 9,5% em relação ao mesmo período de 2019. Para finalizar, as exportações de soja e seus derivados recuaram em novembro a tal ponto de reduzir em 1,5% as exportações totais do campo em novembro de 2020, quando comparado com novembro de 2019.

Só um louco não percebe que nós brasileiros estamos completamente perdidos na solução dos problemas da pandemia. O nosso poder público é uma piada (literalmente) de mau gosto. Negou a pandemia na primeira onda. Está a negar na segunda. De fato, o brasileiro não tem um dia de paz mesmo...


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O PIB “fantástico” da recuperação em “V”

Semana de 30 de novembro a 06 de dezembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Os dados divulgados na semana, pelo IBGE e FGV, levaram a “equipe dos pesadelos” do sinistro Paulo Guedes (o da Economia), a dar pulos histéricos de euforia. “O sinal de recuperação cíclica é evidente, o Brasil está decolando de novo”, declarou o sinistro. O curioso é ele usar o conceito “recuperação cíclica”. Então o movimento cíclico da economia existe? Ele referiu a retomada dos serviços com o fim do distanciamento social, ignorando a segunda onda e a burrice ideológica do pançudo da Saúde que dificulta a vacinação. Afirmou ainda que vai retirar os estímulos fiscais, acabar o Auxílio Emergencial e chamou de “negacionista” os que negam a chamada “recuperação em V”.          O tosco presidente, mesmo sendo analfabeto, seguiu os conselhos do seu “posto Ipiranga” e fez coro com o tal “V”, e considerando os dados da recuperação como “fantásticos”. Aproveitou a oportunidade para acrescentar que vai privatizar a Eletrobrás.

Com efeito, estão sendo anunciados bons números, na economia, para o terceiro trimestre. O PIB cresceu 7,7% (o mercado esperava 8,8%). O consumo das famílias cresceu 7,6%, o do governo 3,5%. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) cresceu 11%, o setor de máquinas 52%, o PIB industrial 14,8% (No segundo trimestre havia caído -13%) e a construção civil 5,6% (abaixo do esperado). A Indústria e o Comércio foram os motores da recuperação.

Mas há outros números não tão favoráveis. As empresas da construção civil tiveram uma queda de -7,9% e o setor vinha caindo desde o 1º trimestre de 2015, daí a decepção com o crescimento observado de 5,6% agora. O PIB industrial havia caído 13% no segundo trimestre e, portanto, o crescimento atual não repôs as perdas. Além disso a queda do PIB do segundo trimestre foi corrigida de -12,7% para -14,1%.

O desemprego continua a atingir 14,4% com 13,8 milhões de desempregados. A indústria vinha em expansão, mas a taxas decrescentes: junho 9,6%, julho 8,6%, agosto 3,4%, setembro 2,8% e outubro 1,1%. Os bens intermediários, em outubro caíram -0,2% e os duráveis e não duráveis cresceram apenas 0,1%. Das 26 atividades analisadas pelo IBGE, 11 recuaram, entre as quais alimentos, -2,8% e extrativos, -2,4%.

Outro dado preocupante foi o IPCA, índice de preços que mede a inflação. O Banco Central (BC) projeta para 2021 o IPCA de 3,4%, mas já há estimativas de valores maiores que 4%. Os preços têm sido impulsionados pelos alimentos e pelos preços administrados que tinham aumento de zero e passaram a subir 2,5%. A energia é o grande vilão além do gás e dos combustíveis. Mais algumas matérias primas aumentam a pressão. O minério de ferro teve a maior elevação em 6 anos subindo 12% bem como o petróleo 27%. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) elevou o preço do aço em 12% para os aços planos e longos, mas para o setor automotivo o aumento foi entre 30% e 35%.

O BC mostra-se preocupado com a aceleração dos preços, mas acredita que o repique vai passar. O pior é que todos os analistas reconhecem que a epidemia é deflacionária. Estamos, portanto, mais uma vez, na contramão.

Para 2021 o panorama mostra o crescimento das incertezas. Aliás, isto já é visto no Indicador da Incerteza da Economia (IIE-Br) calculado pela FGV que subiu 2 pontos de outubro para novembro. As causas apontadas são a pandemia e o equilíbrio fiscal.

Mas o problema não para aí. A comissão do FMI que analisou o Brasil entre setembro e outubro recomendou, em seu relatório, cautela na retirada dos estímulos pois a recuperação da economia é frágil. Segundo o FMI, o Brasil está entre as “10% retomadas mais fracas no mundo nos últimos 50 anos”. Daí a necessidade de cautela.

Mas a equipe econômica, cega pela sua fidelidade à crença fanática no equilíbrio fiscal, promete acabar com os estímulos. Para muitos analistas a situação é instável, pois a segunda onda do covid-19, com o fim do Auxílio Emergencial e a inflação farão cair o consumo e aumentar o desemprego. E enquanto a Amazônia tem o maior desmatamento em 12 anos, o clã Bolsonaro ameaça os dois países mais poderosos do mundo: os EUA com pólvora e o gigante chinês com sanções comerciais. Os que escaparem do covid-19 verão o resultado da ousadia e da recuperação em “V”.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade e Monik H. Pinto.

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quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Autonomia política no BC... E nas Universidades?

Semana de 23 a 29 de novembro de 2020

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

No começo de novembro, foi comemorada a aprovação, no Senado, do Projeto de Lei Complementar n° 19, de 2019, que trata da garantia legal da Autonomia do Banco Central do Brasil. Com isso, espera-se que a condução da Política Monetária deixe de sofrer influências diretas ao sabor do chefe do Executivo. Para o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), é “blindar a política monetária do governo federal”.

Mas isto não é nenhuma novidade, na prática. Desde o Plano Real, o BC tem atuado de forma autônoma em relação ao governo federal, com exceção do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Lá se vão mais de 25 anos. Mesmo sem uma regra legal absolutamente clara, tornou-se legítima, perante a sociedade civil brasileira, a atuação autônoma do BC. Tanto que, quando Dilma tentou alinhar a Política Monetária à Política Fiscal que queria implementar, saltaram dos mais diversos buracos os defensores da autonomia da instituição.

Com o projeto de lei a direção do Banco Central terá autonomia na sua ação, mas não a independência. Caso esta existisse, haveria um quarto poder na República, igual ao Executivo, Legislativo e Judiciário, tomando todas as decisões que entendesse quanto à Política Monetária. Tal como ocorre hoje, será mantida a indicação do Presidente e dos Diretores do BC pelo Presidente da República. Eles devem ser sabatinados e aprovados pelo Senado. Caso passem, assumem para um mandato de 4 anos não coincidentes com o do Chefe do Executivo. Da mesma forma que hoje, devem executar as metas da Política Monetária estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) através dos meios que, autonomamente, julgarem adequados.

Isso mostra que será dada legalidade a uma relação que já é legitimada pela sociedade civil: a autonomia do Banco Central na condução da Política Monetária. Não vou discutir a Economia Política por trás disto, coisa que já foi feita anteriormente. Quero comparar com o que está sendo feito em outras instituições que já gozam de autonomia constitucionalmente garantida e têm legitimidade em sua ação perante a sociedade civil, mas que estão sofrendo com uma brecha na legislação atualmente vigente: as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).

A Constituição de 1988, em seu Art. 207, garante que as IFES têm o legítimo direito de, por exemplo, escolher seus dirigentes máximos. Contudo, o Decreto nº 1.916/1996 afirma que o Presidente da República pode não indicar o primeiro lugar da lista tríplice (dos três mais votados em consulta prévia) para Reitor e Vice-Reitor. Ou seja, legalmente, apesar de ter como base uma norma inferior à Carta Magna brasileira, as IFES podem sofrer interferência de ordem política em sua direção. Isto significa que elas podem deixar de tocar o projeto que a sua Comunidade Acadêmica legitimou (primeiro colocado na lista tríplice) e ter que engolir um projeto que foi rejeitado pela maioria dos Professores, Técnicos e Estudantes (qualquer um que não o primeiro da lista). Ou seja, nas IFES é perfeitamente possível que haja interferência política do presidente do momento, coisa que no Banco Central, como vimos, não pode...

Apesar da previsão legal, tem sido uma tradição de décadas a indicação do primeiro colocado na lista tríplice para Reitor. Ou seja, havia legitimidade (reconhecimento e aceitação social) na forma como se procedia a escolha dos dirigentes máximos das IFES, até 2018. Sob o comando de Jair Bolsonaro, contudo, isto deixou de acontecer. Desde que assumiu, o presidente olavista, negacionista, antivacinista, terraplanista e tudo o mais que seja anticientificista não respeitou em 18 ocasiões a autonomia universitária, indicando Reitores que, inclusive, não receberam sequer um voto no Conselho Universitário. É o caso de Valdiney Veloso Gouveia, da UFPB.

Ninguém aqui está defendendo a falácia da independência das IFES quanto ao poder Executivo, tal como a Advocacia-Geral da União (AGU) argumentou em parecer recente. Na realidade, já existe um conjunto de leis, instituições e outras relações estabelecidas dentro do próprio serviço público que impõe às IFES os limites de sua ação, tais como a Lei de Diretrizes e Bases, o Conselho Nacional de Educação, o Tribunal de Contas da União, etc.

O que se pede, já que aqui é uma coluna de economia, é que se dê às IFES o mesmo tratamento que alguns dão à questão da interferência política do poder Executivo na condução da Política Monetária pelo Banco Central. É pedir muito?


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Aposta no cavalo errado

Semana de 16 a 22 de novembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

            

O sinistro da economia Paulo Guedes continua fazendo das suas. Desta vez foi em um congresso da Abrapp, Associação que reúne os fundos de pensão. Depois de afirmar que o Brasil caminha para uma sociedade de mercado e que as eleições foram ganhas pela coalizão da centro direita prometeu fazer a reforma tributária e “transformar a recuperação cíclica em sustentável”. Além disso estimou o crescimento do PIB no próximo ano em até 4,5%. O ministério da economia vinha negando a existência da segunda onda do Covid-19 e o consequente fim do auxílio emergencial em dezembro. Mas previa uma injeção de R$110 bilhões na economia, antes do final do ano com a liberação do FGTS e dos auxílios emergenciais represados além das poupanças feitas pela população. Apesar de poucos, os dados divulgados na semana continuam a mostrar o processo de lenta recuperação nas vendas e na produção. A agroindústria apresenta uma recuperação mais forte. O Índice de Produção Agroindustrial Brasileira (PIMAgro) calculado pelo Centro de Estudos em Agronegócios da FGV (FGVAgro) apontou, em setembro, um crescimento de 7,2% em relação a 2019. No entanto o crescimento da produção agrícola não acompanhou o aumento da demanda por conta do auxílio emergencial e ocasionou a subida dos preços dos alimentos. O aumento dos preços estendeu-se aos bens industriais pressionando os índices da inflação. O fim do auxílio emergencial vem aumentando o temor de que 25% das famílias voltem à situação de pobreza e o desemprego suba para 20%.

Toda a ação do ministério da economia tem por base o seu plano A que supõe não existir a segunda onda do Covid-19. Enquanto eles não conseguem ver, a segunda onda já se espalha pelo país atropelando o Ministério da Saúde que deixa caducar milhões de testes em depósitos. Por seu lado o presidente continua com o discurso anti-vacina e contra as medidas de isolamento social, internamente e, para nossa vergonha, nos fóruns internacionais nas reuniões dos BRICS e do G-20.

No mundo a segunda onda torna-se devastadora. O pânico começa a espalhar-se exigindo a intervenção de organismos internacionais. A reunião do G-20 realiza-se sob tensão. Para o FMI a atividade econômica, que vinha se acelerando desde junho, perdeu força. O seguro-desemprego nos EUA cresceu em 720 mil pessoas, na semana. A Unctad, (Agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento) avisou que o otimismo acabou e o empobrecimento retornou. Onze grandes ONGs pediram ações contra a fome e a má nutrição e que as medidas dos juros baixos e aumento da liquidez não devem ser retiradas. O Banco Mundial calculou que, em 2021, 150 milhões de pessoas cairão na extrema pobreza. Na União Europeia o Banco Central Europeu calcula que a inadimplência pode chegar a 1,4 trilhão de Euros segundo a presidente Christine Lagarde e propõe novas medidas contra um novo mergulho recessivo para manter a economia viva até a chegada da vacina. Anuncia que o BCE comprará títulos de emergência e fornecerá empréstimos de longo prazo. Apelou ainda para que os governos criem estímulos fiscais sem demora.

Depois da derrota do Trump nas eleições dos EUA a estratégia internacional dos americanos sofreu novas derrotas. A China e mais 14 países da zona do Pacífica firmaram o maior pacto comercial do mundo a Parceria Regional Abrangente (RCEP) que reúne 30% do PIB mundial. Além de China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia são mais 10 do Sudeste Asiático entre os quais Indonésia, Vietnã, Tailândia e Singapura. Os EUA pretendiam criar o TPP, Parcerias Trans Pacífico deixando a China fora. Ficaram isolados. Além disso, a China anunciou que encerrará o ano com um crescimento de 2% e com forte aceleração. Para completar o Banco dos BRICS que reúne Brasil, Rússia, Índia e África do Sul pretende ampliar sua ação admitindo novos membros como Uruguai, Filipinas, Emirados Árabes Unidos e no futuro Bangladesh, Nigéria, Egito e Botswana. Este panorama internacional mostra a difícil situação em que se meteu o governo Bolsonaro. Apostou no cavalo errado ao jogar todas as suas fichas no Trump e sua política. Com suas declarações idiotas transforma-se no bufão da humanidade.

Como poderá o gigante levantar-se com tanta incompetência e estupidez juntas?


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade, Monik H. Pinto e Raissa Toca.

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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O gigante adormece, de novo...

Semana de 09 a 15 de novembro de 2020

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Os mais antigos já ouviram falar em diversas ocasiões que o Brasil é um gigante. A depender da conjuntura de cada época, dizia-se que ele estava ora adormecido, ora acordado. Os mais novos, claro, podem recorrer aos livros (físicos ou digitais) para confirmar e ver que vez ou outra alguém afirma: “O Brasil é o país do futuro”.

Há exatamente uma década, em 2010, uma empresa de uísque veiculou uma inspiradora peça comercial onde os morros do Pão de Açúcar, na Enseada de Botafogo no Rio de Janeiro, se transformavam em um gigante de pedra, que se levantava e começava a caminhar. Belos arranjos audiovisuais dão ares colossais ao reclame. Por fim, o vídeo traz a seguinte frase: “O gigante não está mais adormecido”.

Para entender essa história recente do país, é preciso ter em mente que as economias oscilam entre momentos de maior e menor intensidade de crescimento, irremediavelmente. Ou seja, as economias capitalistas se desenvolvem sob um movimento cíclico e recorrentemente são acometidas por crises. Isto é algo que já foi tratado por nós em textos passados. Dissemos que, apesar das intervenções através das políticas econômicas, o Estado não é capaz de impedir a crise de se manifestar. Contudo, se a forma como o Estado atua na economia não impede uma virada para baixo, quero destacar três coisas que a política econômica pode fazer: 1) intensificar/prolongar a fase de bonança da economia; 2) intensificar/prolongar a fase de crise, ou seja, pode piorar a situação que já é ruim; e 3) perder o crescimento que seria puxado pela economia mundial.

Nos últimos 30 anos, tivemos os três casos na economia brasileira. O exemplo onde a intervenção estatal piorou a crise ocorreu entre 1990 e 1992, quando, ainda sob as consequências da chamada “Crise da Dívida Externa”, veio o Plano Collor e iniciou-se um conjunto de reformas de orientação neoliberal. Como consequência, a economia que já vinha mal desde 1987 apresentou queda de 4,2% em 1990 e de 0,5% em 1992. Nos anos seguintes, quando o mundo passou a crescer de forma consistente, a economia brasileira foi junto, pero no mucho...

Entre os anos de 1994 e 2000, as economias avançadas apresentaram crescimento consistente. Contudo, o crescimento do Brasil só foi relevante até 1997, quando cresceu 3,4%. Nos anos de 1998 e 1999 a economia brasileira cresceu apenas 0,3% e 0,5%, respectivamente. Já as economias avançadas cresceram 2,9% e 3,6% nos mesmo anos. A principal responsável por isso foi a desastrosa política econômica implementada por Fernando Henrique Cardoso, como continuidade do Plano Real. Ou seja, o Brasil perdeu dois anos de crescimento da economia mundial como resultado da política implementada.

O único caso onde a expansão da economia mundial foi aproveitada com políticas econômicas que intensificaram o crescimento foi no Governo Lula, sobretudo a partir de 2006. Por outro lado, a política econômica foi utilizada para amenizar a crise. Tanto que em setembro de 2009, mesmo com um PIB de -0,1% ao fim do ano, a revista britânica The Economist disse que o Brasil tinha “decolado”. Eles até trouxeram uma imagem de capa onde o Cristo Redentor ascendia igual um foguete. Em 2010, a taxa de crescimento do PIB brasileiro foi de 7,5%, maior do que os 3,1% dos países avançados e os 7,4% das economias emergentes. Nesse mesmo ano, a economia mundial cresceu 5,4%.

Essa foi a última vez que o gigante andou para frente. Entre 2011 e 2013 andou de lado, mas, ainda assim, oscilamos entre 6ª e 7ª maior economia do mundo. Já de 2014 para frente, foi só para trás. O motivo fundamental é que as políticas econômicas implementadas no Brasil a partir de 2015, por um lado, aprofundaram a crise e, por outro, impediram o país de seguir a fragilíssima recuperação da economia mundial. Como resultado, se as estimativas do FMI estiverem certas, o Brasil sairá da lista das 10 maiores economias do mundo já em 2020, caindo da 9ª para a 12ª posição.

A sina se repete, o gigante se deita em seu berço esplêndido e agoniza sem saída diante de dirigentes tão medíocres e de uma política econômica neoliberal caduca.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Raissa Tôca, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

A difícil recuperação

Semana de 02 a 08 de novembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Como referimos em Análise anterior, a economia global está enfrentando uma “longa covid econômica”. Quanto à covid-19, a segunda onda propaga-se pelo mundo favorecida pelo inverno no hemisfério norte que obriga as pessoas a viverem em ambientes fechados. A pandemia voltou a se espalhar e crescem novamente as restrições ao contato social e movimento das pessoas com o agravamento da paralização das empresas e negócios. A União Europeia decrescerá -7,4% este ano e para 2021 os números foram reduzidos de 6,1% de crescimento para 4,1%. Outras previsões para este ano mostram decrescimento para todos os países do bloco. Como exemplo citamos a Espanha -12,4%, a Itália -9,9%, a Croácia -9,6%, a França -9,4% a Alemanha -5,6% e a Irlanda -2,3%. Nos EUA o covid-19 espalha-se atingindo novos recordes de mortos e contaminados. A situação é ainda mais grave pelas posições do troglodita Trump, considerado o pior presidente de todos os tempos, que, além de desrespeitar as medidas de prevenção à doença, teima em não reconhecer sua derrota, com o apoio de alguns conservadores do Partido Republicano. A judicialização dos resultados eleitorais, que pode se arrastar por meses, aumenta a instabilidade e paralisa os investimentos. As previsões para a queda do PIB, para este ano, já estão em -3,7%. O desemprego deverá subir para 7,6% e o déficit fiscal aumentará para 15,2%.

Apesar do agravamento da situação internacional, a economia brasileira continua seu processo de recuperação. Já tínhamos visto que por volta de março/abril atingimos o fundo do poço. A partir daí, assistimos aos tropeços de uma lenta recuperação. Prometida que teria a forma de V, pelo sinistro da economia Paulo Guedes, outras letras foram sendo sugeridas. Agora um importante dirigente de uma instituição bancária lança uma nova ideia: recuperação em K. Alguns setores se recuperam e outros continuam a afundar.

Alguns dados mostram a continuação da recuperação. O Boletim da Receita Federal destaca que a média diária de vendas, em setembro, em relação a agosto, aumentou 10,2%. Mostra também que setores como supermercados, farmacêuticos e construção civil não foram afetados. Segundo o Ipea, os investimentos também cresceram em agosto. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) que havia crescido 4,3% em julho, embora com redução, cresceu, 2,2% em agosto. Alguns setores importantes como Construção Civil (3,2%) e Máquinas e Equipamentos (1,3%) também cresceram. O IBGE informou que a indústria, em setembro, cresceu pelo quinto mês consecutivo, com uma taxa de 2,6%. Contribuíram para isto 22 dos 26 setores estudados. Diz o IBGE que tal crescimento foi ajudado pelo auxílio emergencial, pelos recursos do FGTS e pelas políticas contra o desemprego, mas a recuperação em V não vem se dando em todos os setores. Afirmou ainda que há fortes dúvidas em relação a 2021 diante das incertezas. Empresários também reconhecem a contribuição dos auxílios do governo. As empresas de materiais de construção afirmam que estes auxílios garantiram a expansão do setor. 89% das empresas afirmam que 75% do seu crescimento se deveu ao auxílio, e 44% delas operam no limite de suas capacidades. Os 4 maiores bancos Itaú-Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander também comemoram o crescimento de 29% dos lucros, no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior. 

Apesar desses dados a confiança empresarial teve a primeira queda desde o fundo do poço, diz a FGV. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) caiu 0,4 pontos em setembro e outubro. Temem o fim do auxílio emergencial e a instabilidade do governo.

Enquanto isso o país prepara-se para as eleições municipais. A derrota de Trump nas eleições dos EUA deixa o governo órfão. O vice-presidente Mourão organiza uma viagem ao Amazonas com uma comitiva de embaixadores para mostrar que não está pegando fogo, e lamenta não ter conseguido um resultado melhor com o seu Conselho Nacional da Amazônia. A equipe econômica continua a sua busca desesperada dos R$20 bilhões necessários para o programa Renda Cidadã que deve substituir o auxílio emergencial. Mas o governo, enquanto teme os resultados eleitorais, é obrigado ainda a enfrentar a denúncia feita pelo Ministério Público contra o Flávio Bolsonaro, o Queiroz e outros. Até que enfim!


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

A autonomia do BC

Semana de 26 de outubro a 01 de novembro de 2020

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

O debate sobre a atuação do Banco Central não é nenhuma novidade. Desde que o neoliberalismo emergiu, as discussões sobre a atuação do BC assumiram um papel de destaque. Contudo, não iremos fazer uma reconstituição histórica do tema. O que queremos é entender o porquê dele ser tão recorrente. Afirma a teoria que a luta de classes se dá em três níveis: econômico, político e ideológico. No debate sobre o BC encontramos os três elementos o que justifica sua importância.

A luta econômica se manifesta no fato de que o BC é uma instituição que interfere na atividade econômica de uma fração bem específica da burguesia: aquela que ganha dinheiro através da negociação de capitais em suas diversas formas. Assim, o BC tem o poder de balizar os ganhos das instituições bancárias e financeiras na hora de emprestar ou usar o dinheiro que tomam emprestado das pessoas, de outras empresas ou do Estado. Em outras palavras, o BC tem o poder de interferir no “ganha pão” desta fração da burguesia. A luta política no BC se manifesta na forma de atuação e, consequentemente, na institucionalização das regras que regulamentam a atividade econômica das instituições bancárias e financeiras. Além disso, o BC é a instituição responsável pela condução das políticas monetária e cambial. Já a luta ideológica no BC se traveste de argumento técnico-científico. Em texto recente, pesquisadores mostraram que, entre 1994 e 2016, não é possível afirmar que o BC foi dirigido apenas por membros do setor financeiro privado ou servidores públicos (link). Três faculdades de economia também foram importantes fornecedores de quadros ao BC: USP, FGV-RJ e PUC-RJ.

De uma forma geral, o que parece ocorrer no Brasil é o seguinte. Há uma luta científica, onde o melhor argumento “técnico” justifica a atuação do BC e suas regras. A partir disso, estabelece-se o jogo no campo político. Como consequência, há resultados econômicos que, por acaso, beneficiam A ou B. Contudo, o mesmo trabalho já citado mostra como houve uma espécie de recrutamento preferencial em determinadas instituições públicas e privadas. Isto significa que há pouca variabilidade de ideias na hora de se escolher a direção do BC. Não coincidentemente, há recorrente unanimidade nas decisões dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom), por exemplo. Em 2005, Paulo Nogueira Batista Jr. já chamava a atenção para a unânime decisão de elevar a Selic para 19,75%. Por sua vez, segundo Ricardo Barboza e Bráulio Borges, nos últimos 9 anos, houve unanimidade nas decisões do Copom em 91% das reuniões.

O debate de ideias, de fato, não está havendo. Há o completo predomínio das concepções que se coadunam com o receituário neoliberal. No âmbito econômico, por sua vez, não há claros sinais de que esteja ocorrendo alguma transformação que possa ameaçar o tamanho da fatia que o setor financeiro abocanha da renda nacional. Poderíamos especular que o PIX e o Open Banking pudessem significar isso. Mas é improvável. Ao invés de implodir o setor, isso representa uma redistribuição dos ganhos entre a burguesias bancária e financeira.

Há, contudo, a constante ameaça de que a luta no plano político possa se impor e tomar as rédeas da atuação do BC. Recentemente aconteceu no Governo Dilma. A reação contrária de grande parte do setor financeiro foi categórica. Claro, ela usou as instituições públicas para forçar uma queda dos juros bancários. Também ordenou que caísse a taxa Selic. Influenciou, assim, o “ganha pão” do setor. Isto é que está por trás dos projetos que visam garantir a autonomia/independência dos BCs: livrar os dirigentes da instituição, (pseudo) cientificamente escolhidos, da influência política de um presidente qualquer que possa atrapalhar os ganhos econômicos do setor.

O problema é que se esse presidente for eleito com um projeto referendado pela população, mas que desagrada a direção do BC, quem deve ter mais poder, o presidente da República ou do Banco Central? Aliás, o que deve prevalecer: os interesses gerais da população ou os interesses das burguesias bancária e financeira?


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Uma retomada econômica consistente

Semana de 19 a 25 de outubro de 2020

  

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Mal começa o movimento de recuperação das economias capitalistas desenvolvidas e estoura a segunda onda do covid-19. Está lançado o novo pânico. Os governos se reúnem e tomam novas decisões de isolamento social o que vem provocando violentas manifestações populares. Teme-se novo caos na saúde e nos hospitais. O problema está criado. A segunda onda já se levanta em países como a Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha e Holanda. A Bélgica e a Suíça já decretaram restrições. O Banco Central Europeu anunciou que nova recessão é possível e determinou a liberação de mais 500 bilhões de euros para compra de bônus. Christine Lagarde, presidente do BCE, apelou para que os governos trabalhem em conjunto com o banco para manter os estímulos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para uma recessão profunda no mundo e apelou para que os governos não retirem as medidas de apoio às economias. Da mesma maneira que o covid-19 deixa sequelas nos seres humanos também as deixa na economia. Fala-se na ameaça de “longa covid econômica” de recuperação difícil. O monitor Fiscal do FMI calculou em US$11,7 trilhões o custo da crise do covid-19, o que corresponde a 12% do PIB global. mas considera que esta ajuda deve continuar.

 Internamente, embora com certa dificuldade, a economia continua a sua lenta e frágil recuperação. Um sinal desta fragilidade é o aumento do número de empregos no setor de serviços. Dos 45,4 mil empregos criados em agosto, com carteira assinada, neste setor, deveu-se ao aluguel de mão de obra. A insegurança e a incerteza dos empresários impedem a contratação de trabalhadores definitivos e apelam-se para terceirizados. Este setor é o primeiro a desempregar, no período de crise e o primeiro a contratar, na recuperação. Em relação ao emprego outro dado a ser contestado é o crescimento mostrado pela Caged. Daniel Duque do Ibre/FGV verificou que há discrepâncias entre os dados desta pesquisa e os divulgados pelo IBGE na PNAD Contínua e PNAD Covid-19. Afirma Duque que os dados da Caged, que apresentam um maior número de empregados, podem estar errados devido a subnotificação das demissões.

No entanto, alguns dados confirmam a recuperação. A FGV divulgou que o Índice de Confiança Industrial (ICI) cresceu 4 pontos na prévia de outubro puxado pelas indústrias de Plásticos e Metalurgia. O Nuci, índice que mostra o grau de utilização da capacidade instalada, mostrou que 79,9% desta capacidade estava sendo utilizado, no mesmo mês. Apesar destes indicadores, segundo a FGV, há sinais preocupantes dentro da indústria. Para o PIB agropecuário, o Ipea elevou suas estimativas de alta de 1,6% (em setembro), para 1,9%. A Receita Federal divulgou a arrecadação de R$119,825 bilhões no mês de setembro. Mostrou um crescimento de 1,97% em relação a 2019, o melhor para o mês em 6 anos, embora o acumulado do ano seja o mais baixo desde 2010. A mineração cresceu 29% puxada pelo ferro, com 37% de crescimento e pelo ouro com 22%.

Apesar desses sinais, o capital estrangeiro mantém sua desconfiança com a recuperação. O estoque de investimentos estrangeiros (IDP) desabou 20% em 2020. As aplicações em ações caíram 39% e em títulos 17,5%. No ano a fuga de capitais atingiu R$85,2 bilhões e no mercado de câmbio foram retirados US$1,15 bilhões.

No meio de todas estas dificuldades o governo continua as suas ações insensatas. O presidente fez declarações contra as recomendações de prevenção do covid-19, desmoralizou seu ministro da Saúde, rasgando o protocolo de intenções assinado para a compra da vacina produzida pelo Butantã, levantou dúvidas sobre a vacina chinesa, insinuando sua ineficácia e declarando que não a compraria e opôs-se a obrigatoriedade da vacinação. Enquanto isso, o líder do governo na Câmara, dizendo-se porta voz do presidente, declarou-se contra todas as medidas de prevenção ao covid-19 e defendeu a volta imediata as aulas e abertura de todas as atividades. Declarou ser contra as soluções europeias de prevenção e defendeu a imunidade de rebanho afirmando que “Assim teríamos o fim da crise e uma retomada econômica consistente”. Esqueceu de acrescentar: sobre uma montanha de cadáveres e milhões de cidadãos sequelados.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade e Monik H. Pinto.

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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A Economia Política por trás do PIX

Semana de 12 a 18 de outubro de 2020

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

No final dos anos 2000, o BC, junto com duas secretarias de Governo, uma do Ministério da Justiça e outra do Ministério da Fazenda, divulgou o Relatório sobre a Indústria de Cartões de Pagamentos. A partir dos problemas identificados, de forma simplificada, a solução proposta foi o fim da exclusividade de match entre a maquininha e a bandeira do cartão. Quem não se lembra da época em que cartão Visa só passava na maquininha da Visa e Mastercard só na maquininha da Master? Em 2011 houve a quebra dessa barreia, mas isso só pegou, de fato, em 2016, quando o BC interviu e pressionou as empresas a liberarem geral suas maquinhas para (quase) todas as bandeiras de cartão. Em 2013, por sua vez, o BC publicou o Relatório de Vigilância do Sistema de Pagamentos Brasileiro. A partir deste momento, uma série de mudanças foi sendo implementada na regulamentação do setor. Contudo, apesar da melhora, a “revolução” não aconteceu como o esperado. A mão invisível, novamente, não foi capaz de transformar o mercado. Claro, porque não interessava à mão invisível das grandes instituições mudar o que era bom para elas. Com isto, em 2018, iniciaram-se as discussões para a criação do PIX (clique aqui).

Tudo isto significa que, ao invés de promover a concorrência por meio da ultrapassada tese de que se deveria tirar o Estado do “mercado” (tese ainda defendida pelo anacrônico ministro da Economia, Paulo Guedes), o BC, instrumento de poder do Estado, está sendo utilizado para promover o desenvolvimento do próprio “mercado”.

Porém, seria ingenuidade acreditar que o bom uso da capacidade técnica de alguns quadros do BC está sendo feito por exclusiva benevolência para com os consumidores ou por uma racionalidade do “agente” Estado. Toda reestruturação de um mercado tem, obrigatoriamente, uma intenção e um interesse econômico. Na realidade, essa mudança política no BC mostra que já há, no Brasil, um grupo com poder suficiente para abalar um mercado financeiro tão bem estabelecido e, até bem pouco tempo, dominado por três das maiores empresas privadas que atuam no Brasil: Itaú, Bradesco e Santander.

Desde a década de 1970 o capitalismo mundial passou por uma profunda transformação na forma como se dá sua dinamização. No Brasil, tais mudanças só começaram na década de 1990. A que interessa para entender o atual momento é a maior participação da esfera de valorização baseada no que Marx chamou de Capital Fictício. Superficialmente, essa é aquela parte da economia que cresce com base na aposta de que o resto da economia vai crescer. Em outras palavras, funciona na base da especulação sobre o futuro. Se a aposta acerta, o capital fictício se torna real. Caso contrário, se dissipa no ar da mesma forma como surgiu.

Pois bem, no Brasil o setor esteve, até pouco tempo, controlado pelos grandes bancos nacionais (até meados dos anos 2000). Contudo, a multiplicidade de empresas querendo transformar qualquer um em milionário mostra que a situação, a partir dos anos 2010, não é mais essa (quem não conhece Betina?). Aliás, já há inúmeras empresas estritamente ligadas ao capital fictício que se transformaram em gigantes que incomodam outras gigantes tradicionais (o Itaú vive dando alfinetada na XP Investimentos, apesar de deter 49% do capital dela).

Assim, naquilo que chamamos genericamente de Burguesia Financeira no Brasil, podemos identificar duas frações que têm interesses, até certo ponto, conflitantes: o setor bancário tradicional e o setor estritamente ligado ao capital fictício. Isto porque disputam os recursos monetários da população para que os transforme em ativos financeiros, cada um ao seu modo. Claro, os bancos tradicionais já estão a buscar este novo espaço. Mas só como reação ao papel que as novas instituições passaram a ocupar no mercado financeiro nacional. Por outro lado, essas novas instituições estão buscando ocupar-se não só com os novos, mas com os velhos produtos oferecidos pelas instituições já consolidadas. Afinal, a rentabilidade é tanta e tão concentrada que cabem mais empresas para socializar esses ganhos.

Novamente, peguemos a pipoca e vejamos o que vai acontecer. Só espero que ela não estoure no nosso colo...


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves

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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Austeridade ou reeleição?

Semana de 05 a 11 de outubro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

            

Façamos inicialmente algumas considerações sobre o panorama mundial. As notícias não são muitas. O mundo arrasta-se no “stop and go” das restrições sociais por conta da Covid-19. É grande a pressão pela liberalização da movimentação das pessoas e os governos cedem antes do tempo. Os contágios pela Covid-19 crescem e as restrições retornam. Com isto, além das pessoas, a economia sofre. A recuperação torna-se lenta e difícil. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC) as trocas comerciais caíram 9,2% este ano, agravado pela guerra EUA x China que parece ter consequências piores para os americanos. As exportações dos EUA caíram 14,7% e o déficit comercial, até agosto, atingiu US$67,1 bilhões. Só com a China o déficit foi de US$26,5 bilhões. Com a União Europeia foi de US$15,7 bilhões e com o México, US$12,5 bilhões.

Além do comércio o desemprego dificulta a recuperação. Na zona do euro e nos EUA são 20 milhões de desempregados oficialmente reconhecidos. Segundo estudos, não foram contados na OCDE e nos emergentes mais de 30 milhões. Na Zona do Euro, em fevereiro, eram 6,5% os desempregados. Já em agosto a taxa subiu para 8,1% com um total de 13,2 milhões. No entanto, calcula-se que esta taxa dever ser 4% a 4,5% maior. Diante das dificuldades o Fundo Monetário Internacional (FMI) sugere apoio dos Bancos Centrais (BCs) e dos governos. O Federal Reserve (Fed) americano promete manter as taxas de juros negativas, mas o governo Trump reluta em dar qualquer apoio na política fiscal o que, segundo o FMI, dificultará a recuperação. No entanto o desemprego continua a crescer. Ocorrem 800 mil demissões por semana. Segundo o Departamento do Trabalho americano só na semana passada foram 840 mil pedidos de seguro-desemprego. Enquanto isso o déficit orçamentário, até o fim do ano fiscal em 30 de setembro, já atingiu US$3,1 trilhões. (Imaginem se o Paulo Guedes fosse ministro lá!)

Por seu lado, o Banco Mundial (BM) calcula que a pandemia jogará na pobreza extrema 150 milhões de pessoas no mundo. Só em 2020 serão entre 88 e 115 milhões e em 2021 outros 33 a 35 milhões. Assim se arrasta o mundo.

Sobre o Brasil, o FMI enviou uma missão para fazer o raio X do país e preparou um documento a ser divulgado. Nele aponta “riscos excepcionalmente altos” para o país decorrentes da ameaça de uma segunda onda, de uma recessão prolonga, da rigidez orçamentária e de um choque de confiança. Corrigiu, porém, sua estimativa para a queda do PIB de -9,1% para -5,8% e considera o “Brasil um dos países mais atingidos no mundo” pelo Coronavirus. Acrescentou ainda que “o investimento público tem um papel central a desempenhar” na recuperação. Calcula que o investimento público de 1% do PIB contribui com 2,7% para o crescimento deste, para elevar o investimento privado em 10% e aumentar o emprego em 1,2%.

Lamentavelmente, longe de ouvir os bons conselhos do FMI, o sinistro Guedes, fiel à sua crença na austeridade fiscal, agarra-se ao “teto dos gastos” para, a qualquer custo, atingir o equilíbrio orçamental.

Como já temos apontado a economia continua apresentando vários sinais de recuperação. A construção civil atinge o maior nível desde o final de 2017. O consumo aparente de máquinas e equipamentos cresceu 10,9%, em junho, e a produção cresceu 21,5%, em julho. Em agosto, a indústria cresceu na maior parte do país. Ainda em agosto o varejo restrito cresceu 3,4% e o varejo ampliado, 4,6% e o consumo de energia foi 1,4% maior que em 2019. Mas, apesar da criação de postos de trabalho o desemprego ainda deve crescer. Os desentendimentos dentro do governo e a estupidez da política externa e ambiental, com resultados desastrosos na Amazônia e Pantanal, criam a insegurança que afasta os capitais e os investimentos estrangeiros. Em setembro saíram R$2,39 bilhões e em 2020, R$87,75 bilhões. Enquanto isso o governo dá cabeçadas a procurar maneira de financiar seus dois programas, o Renda Brasil e o Renda Cidadã, muito importantes para suas pretensões eleitorais. Com a manutenção do teto não há dinheiro e o Guedes continua tentando tirar dos pobres para os miseráveis insistindo com o seu programa 3 D: Desvincular, Desindexar e Desobrigar. A decisão ficará para depois das eleições.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade e Monik H. Pinto.

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